terça-feira, 31 de março de 2009

Che – O Argentino – **** de *****

Sou muito... ou melhor... muitíssimo... ou melhor ainda... exageradamente suspeito para falar de Ernesto “Che” Guevara de La Serna. Ao contrário do que o Ricardo comentou quando escreveu sobre o encantador “Diários de Motocicleta”, sou fã incondicional não apenas da pessoa Che Guevara, mas também do mito Che Guevara e do idealista Che Guevara. Li muito (muito mesmo) sobre a vida do guerrilheiro argentino e talvez ele tenha sido um dos principais impulsos que tive em minha infância para que pudesse me autointitular de “pseudo-intelectual de esquerda”, uma vez que carreguei comigo ideais marxistas dos 8 aos 16 anos de idade (e antes que alguém pense que estou sendo pedante, admito que os meus conhecimentos sobre marxismo aos 8 anos de idade resumiam-se apenas ao que o meu pai, que na época também era de extrema esquerda, me falava a respeito). Logo, era mais do que comum que Guevara fosse para mim o que Superman era para as pessoas normais (sim, já que, felizmente, eu sou um anormal neurótico e alucinado): um herói, um verdadeiro modelo a ser seguido. Passaram-se os anos, caí na real de que o marxismo, leninismo e trotskismo eram pura utopia e perdi a fé na raça humana contraindo um ódio mortal pela mesma, optando então por aderir à anarquia bakuniana e proudhoniana e, mais para frente, tornei-me ainda mais extremista e passei a adotar o niilismo passivo de Schopenhauer como doutrina filosófica. Atualmente, como os(as) senhores(as) devem saber, abandonei Schopenhauer e passei a seguir o niilismo ativo de Nieztsche, algo que faço desde os 21 (ou seria 22?) anos de idade (encontro-me com 25 neste exato momento). Contudo, mesmo relegando Marx, Engels, Lenin e Trotski a um terceiro plano, jamais o fiz com Che Guevara e, até hoje, leio tudo o que vejo pela frente e refere-se ao líder guerrilheiro argentino (e falem o que falar da Argentina, mas dez mil brasileiros não equivalem a um argentino, ou vocês acham que Marechal Deodoro da Fonseca e Joaquim José da Silva Xavier fazem frente a General José Francisco de San Martín y Matorras e Ernesto “Che” Guevara de La Serna?). Tendo tudo isso em vista, será que eu consigo criticar um filme sobre o maior ídolo revolucionário da Argentina no século XX sem ser parcial? Vamos ao desafio.


Ficha Técnica:
Título Original: Che: Part One.
Gênero: Drama.
Tempo de Duração: 126 minutos.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.che-movie.co.uk/
Nacionalidade: EUA / França / Espanha.
Direção: Steven Soderbergh.
Roteiro: Peter Buchman, baseado em livro de memórias de Ernesto "Che" Guevara.
Elenco: Benicio Del Toro (Ernesto "Che" Guevara), Demián Bichir (Fidel Castro), Julia Ormond (Lisa Howard), Rodrigo Santoro (Raul Castro), Maria Isabel Díaz (Maria Antonia), Ramon Fernandez (Hector), Yul Vazquez (Alejandro Ramirez), Jose Caro (Esteban), Pedro Adorno (Epifanio Díaz), Jsu Garcia (Jorge Sotus), Santiago Cabrera (Camilo Cienfuegos), Roberto Santana (Juan Almeida), Vladimir Cruz (Ramiro Valdés Menéndez), Marisé Alvarez (Vilma Espín), Elvira Mínguez (Celia Sánchez), Andres Munar (Joel Iglesias Leyva), Liddy Paioli Lopez (Quike Escalona), Pedro Telémaco (Eligio Mendoza), Eugenio Monclova (Emilio Cabrera), Luis Gonzaga Hernandez (Lalo Sardiñas), Jose A. Nieves (Dr. Julio Martinez Paez), Catalina Sandino Moreno (Aleida March) e Armando Riesco (Benigno Ramirez).

Sinopse: Ernesto Guevara de La Serna, mais conhecido como “Che” (Benício Del Toro), foi um guerrilheiro que, ao lado de Fidel (Demián Bichir) e Raul Castro (Rodrigo Santoro), organizou uma revolução sangrenta em Cuba expulsando da ilha toda a massa burguesa que explorava o proletariado. A partir desta revolução, Guevara e seus companheiros de guerra implantaram, pela primeira vez em um país americano, o sistema econômico conhecido como socialismo. O filme dirigido por Steven Soderbergh a Revolução Cubana e a mais importante fase da vida de “Che”.

Che – Part One – Trailer:


Crítica:

Já disse que sou fã incondicional de Che Guevara? Ah sim, já disse, escrevi a maior pré-crítica da história do Cine-Phylum apenas para dizer o quanto o revolucionário argentino influenciou o meu intelecto. Pois então torno-me extremamente suspeito para escrever um texto sobre um filme que traga o revolucionário argentino como protagonista, não é mesmo? Sim, é mesmo, mas de qualquer forma, não custa tentar.

Em primeiro lugar, gostaria de iniciar esta análise discordando de muitos colegas que reclamaram do longa alegando que o cineasta Steven Soderbergh (do ótimo “Traffic”) não realizou uma abordagem necessariamente imparcial em cima do líder revolucionário. Sinceramente falando, sou totalmente avesso a essa opinião. Creio que a abordagem feita sobre Che Guevara neste “O Argentino” poderia ter sido realizada de um modo menos frio e mais humano e detalhista, e não da forma semi-documental como o longa fez.

Para se ter uma idéia, quando o filme se inicia somos diretamente introduzidos ao histórico encontro onde “Che” e Fidel Castro se conheceram. Tudo é exibido de um modo muito frio, muito distante, e, francamente, não fosse o carisma que o líder militar possui por si só, aposto que muita gente teria sentido antipatia pelo mesmo. Em momento algum o longa parece se importar em citar, ainda que de soslaio, a juventude de “Che”, os motivos que o levaram a adotar a luta de classes como estilo de vida, a conturbada, embora breve, carreira política pré-guerrilha deste, ou a sua famosíssima passagem pela Guatemala. Por outro lado, devo reconhecer que a abordagem fria que o roteiro confere ao personagem-título é uma característica, de certa forma, inerente a uma obra que adota uma postura semi-documental. Afinal de contas, uma cine biografia, a fim de fugir do piegas e de sentimentalismos fajutos, deve adotar uma posição imparcial, e isso é fato.

Todavia, convenhamos, ser imparcial é uma coisa, ser extremamente frio e desprovido de emoção, é outra. E é justamente aí que reside o (provavelmente) único erro da película. O roteiro, é claro, deveria abordar “Che” de modo frio, mas ainda assim deveria deixar brechas que fizessem com que nos cativássemos com o protagonista mais rapidamente. Quer um exemplo de cine biografia fria e imparcial, embora cativante? O próprio “Diários de Motocicleta”. Você não terminará de assistir ao filme de Walter Salles e sairá pelas ruas berrando: “___ Viva la revolución! Viva Che!”, mas não deixará também de refletir sobre o modo como Guevara debate a miséria na América Latina.

“___ Mas em “Che - O Argentino” não refletimos sobre a miséria na América Latina, sobretudo em Cuba?” ___ Pergunta-me o leitor. Refletimos sim, só que não de um modo realmente satisfatório, como o longa protagonizado por Gael Garcia Bernal conseguira fazer. Na produção dirigida por Soderbergh, vemos dois lados de Guevara: o Che Guerrilheiro e o Che Idealista. E isso é ruim? Claro que não, principalmente se levarmos em conta o modo como o roteiro o aborda. E é aí que discordo amplamente de outros críticos de Cinema que alegaram que o “script” joga confetes no líder argentino. Pura balela. Oras, vemos Che esbravejando com seus soldados, vemos Che punindo fria e impiedosamente desertores, vemos Che atirando para matar, vemos Che defendendo que a única e verdadeira revolução que poderia funcionar em Cuba seria a revolução sangrenta e, mesmo com tudo isso, ainda insistem em dizer que Soderbergh não é imparcial e joga confetes no revolucionário? Ora bolas, me poupem!

Por outro lado, não se deixem levar pelo final do parágrafo acima. O filme não faz com Che o que a Revista Veja fez com o mesmo, transformando-o em um monstro assassino. O Guevara que mata pessoas em “Che – O Argentino” é o mesmo Guevara que sofre com as causas trabalhistas. O Guevara que é a favor de uma revolução sangrenta em “Che – O Argentino” é o mesmo Guevara que defende que a principal característica de um revolucionário deve ser o amor (calma, não se assuste, quando assistir ao filme verá que não há nada de piegas nesta declaração). Enfim, conforme podemos notar, a produção ganha muitos pontos por não pender para lado algum, já que ela aponta o seu protagonista como um sujeito de grande caráter, mas com sérios desvirtuamentos morais durante muitos momentos.

A produção ganha pontos também pela atitude que toma a fim de quebrar uma possível narrativa linear e episódica (algo que “Milk – A Voz da Igualdade” raramente faz, e quando o faz, realiza de modo artificial), algo que a tornaria muito mais falha. Trata-se da inteligente idéia do roteiro em narrar, paralelamente à tomada de Cuba, uma entrevista que Guevara cedeu a uma rede de televisão estadunidense e a celebre visita dele à ONU. Aliás, é nesta “subtrama” (se é que posso a chamar assim) que vemos o protagonista soltar uma das frases mais marcantes e impactantes do longa: “É muito fácil dizer que, no capitalismo, o indivíduo tem a opção de satisfazer ou expressar-se através da natureza humana. Um menino tem um brinquedo e quer dois, tem dois e quer quatro, essa é a natureza humana, não é assim? Entretanto, o que acontece quando a sociedade comporta-se da mesma forma, ou quando se converte em um monopólio, oprimindo aos menos afortunados? É essa a natureza humana?”.

E quanto aos demais elementos do filme? Bem, diria que a direção de Steven Soderbergh é contida, mas, ao mesmo tempo, madura. O diretor evita cometer infantilidades, tais como idolatrar Guevara ou transformar esta obra em uma mera película de ação. Também se esforça bastante para distanciar o drama da pieguice e do melodrama barato, criando aqui uma estória bastante satisfatória a ponto de “segurar” as mais de duas horas de projeção.

O elenco então, dispensa comentários. Não restam dúvidas de que o filme é, definitivamente, de Benício Del Toro. Aparentemente, anos de laboratório estudando a vida de Che fizeram bem ao ator, que o encarna com um talento fora do comum. Del Toro está para Che Guevara assim como Tom Hulce está para Wolfgang Amadeus Mozart, ou Val Kilmer está para Jim Morrinson, Renée Maria Falconetti está para Joana d’Arc, Ben Kingsley está para Mohandas Karamchand Gandhi, Liam Neeson está para Oskar Schindler e David Strathairn está para Edward Roscoe Murrow. Demián Bichir também surpreende como Fidel Castro. Além de ter a aparência física semelhante a do ditador cubano antes da revolução, conta com os mesmos trejeitos dele e nos brinda com uma atuação repleta de verborragia. Rodrigo Santoro também se sai bem como Raul Castro e, embora a sua participação no longa seja consideravelmente curta, ele se destaca muito nos poucos minutos em que aparece (lembra-se de Jhonny Depp no excelente “Platoon”? Pois é, trata-se de um trabalho bastante semelhante).

Falhando ligeiramente no pouco carisma com o qual aborda o personagem-título, “Che – O Argentino” prima pela sua imparcialidade e ganha muita força com a atuação magistral do sempre excelente Benício Del Toro.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Filmes de Estréia, Sexta-Feira, 27 de março de 2009

Sim, este é outro tópico oportunista onde este crítico de Cinema que vos escreve aproveitará para indicar críticas de filmes que estrearam hoje e que eu já tive a oportunidade de assistir e criticar aqui no Cine-Phylum. Vamos a eles:

O Casamento de Rachel - **** de *****:

Direção excessivamente confusa de Demme no início do filme, mas que torna-se muito boa conforme o "andar da carruagem". Contém muitíssimas cenas desnecessárias, embora o modo como explora um “fantasma” do passado da família de Kym e a abordagem que o roteiro realiza em cima de sua protagonista tornem o filme muitíssimo atraente. O Oscar® foi muito injusto em não indicar Rosemarie DeWitt a Melhor Atriz Coadjuvante e não dar o prêmio de Melhor Atriz a Anne Hathaway, mas o ano era de Kate Winslet, não é mesmo (e não estou tirando o mérito da atriz, mas nunca escondi que torcia por Hathaway no Oscar® deste ano)?

Clique aqui para ler a crítica completa.

Simplesmente Feliz - ** de *****:

Está aí uma comédia extremamente imbecil, mas que sabe-se lá o porquê foi altamente enaltecida por meio mundo (ou talvez até mesmo mais do que meio mundo). Poppy nada mais é do que uma garota alienada e idiota, que dá risadinha de tudo o que acontece na vida. Oras, uma coisa é você encarar a existência de um modo positivo e com imenso alto astral (e isso, em hipótese alguma pode ser chamado de alienação), outra coisa é ser um perfeito débil mental que acha tudo engraçado. Mas o filme conta com um terceiro ato interessante, e que tenta dar a volta por cima, mas fica apenas na tentativa. Sally Hawkins e Eddie Marsan realizam grandes atuações, apesar dos papéis caricatos.

Clique aqui para ler a crítica completa.

Ah, assisti a “Che - O Argentino” hoje, amanhã à noite posto a crítica no Cine-Phylum.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Pagando Bem, Que Mal Tem? - * de *****

Estive pensando um pouco e juro que gostei bastante do título nacional conferido a este lixo da comédia estadunidense. O título original, ao pé da letra, é bastante previsível e ridículo (bem como o filme em questão). Oras, “Zack e Miri Fazem um Pornô”? E eu com isso? Por outro lado, “Pagando Bem, Que Mal Tem?”, mesmo sendo oportunista e se aproveitando de um clássico jargão, se mostra extremamente sarcástico. Pena que o filme não está à altura de seu título brasileiro, conforme veremos mais abaixo.

Ficha Técnica:
Título Original: Zack and Miri Make a Porno.
Gênero: Comédia.
Tempo de Duração: 102 minutos.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://zackandmiri.com/
Nacionalidade: EUA.
Direção: Kevin Smith.
Roteiro: Kevin Smith.
Elenco: Seth Rogen (Zack Brown), Elizabeth Banks (Miriam "Miri" Linky), Jason Mewes (Lester), Gerry Bednob (Sr. Surya), Jennifer Schwalbach Smith (Betsy), Kenny Hotz (Zack II), Brandon Routh (Bobby Long), Anne Wade (Roxanne), Justin Long (Brandon), Tom Savini (Jenkins), Jeff Anderson (Deacon), Ricky Mabe (Barry), Katie Morgan (Stacey), Craig Robinson (Delaney), Traci Lords (Bubbles) e Edward Janda.

Sinopse: Zack (Seth Rogen) e Miri (Elisabeth Banks) são amigos desde o primário e ambos moram juntos. O casal parece se entender bem ao seu modo, mas as coisas começam a complicar quando ambos se veem endividados. Para saírem desta incômoda situação, eles decidem fazer um filme pornô para arrecadar dinheiro. Há um problema, no entanto, será que depois que ambos tiverem a primeira relação sexual, continuarão mantendo a mesma amizade que veem mantendo há anos?

Zack and Miri Make a Porno – Trailer:


Crítica:

Um casal de amigos, que se conhecem desde o ginásio, moram juntos há algum tempo e encontram-se endividados até o pescoço. Um deles tem uma solução para quitar as contas: fazer um filme pornô e lucrar com o mesmo. A princípio, a “produção” seria um remake de “Star Wars”, mas com cenas de sexo explícito. Soma-se essa estranha idéia à presença do sempre ótimo Seth Rogen e o que temos? Um filme bizarramente divertido, tal como “Superbad – É Hoje!”, correto? Errado, demasiado errado.

Pois é, a premissa tinha tudo para gerar mais um besteirol estadunidense de qualidade, assim como foi o já citado “Superbad...”, mas o filme erra na mão, e erra feio. Mas onde ele falha? Sinceramente? Em tudo, tudo mesmo, principalmente no humor excessivamente artificial. Logo no início percebemos isso. Bem na cena que abre o filme, vemos um entregador de jornal arremessar um tablóide na casa de um assinante, o garoto, no entanto, perde o equilíbrio, entra na contra mão com a bicicleta e faz com que um carro, que vinha de encontro com ele, se jogue contra um poste para não atropela-lo. Além da cena não ter a mínima graça e soar exageradamente desconexa com o restante do que viria pela frente (já que não é esse tipo de humor o alvo principal da produção), é artificial demais.

Aliás, o filme todo é artificial demais. A todo o momento o roteiro investe em situações absurdas para arrancar risos dos espectadores, mas falha terrivelmente. Vemos então tentativas frustradas de nos divertir com cenas patéticas como a que uma “animadora” de despedidas de solteiro faz uma bolha de sabão flatuleando em um brinquedo infantil (sim, é isso mesmo que você leu), ou uma outra cena onde o cameraman se aproxima demais de um casal fazendo sexo anal e quando, inesperadamente, o rapaz retira o pênis do anus da moça, um jato de fezes o atinge no rosto. Pois é, ambas são cenas desagradáveis não? Mas isso é tudo o que se pode esperar de “Pagando Bem, Que Mal Tem?”. E não bastasse o fato de o filme ser gritantemente artificial, vulgar e asqueroso, ele também é completamente sem graça.

A falta de conexão dramática entre os dois primeiros atos e o desfecho da trama, então, é algo fora do comum. À primo, temos um filme assumidamente prosaico e repugnante, que parece fazer questão absoluta de mandar os bons costumes para o quinto dos infernos. Concluímos que o filme se esforça, mas não consegue ter a mínima graça. Rumamos ao final da trama e, repentinamente, nos vemos diante de uma frustrante tentativa de conferir ao filme um desfecho com uma lição de moral das mais patéticas o possível. Oras, que espécie de comédia seria essa, então? Uma comédia com crise de identidade? Ora ela é exageradamente amoral, ora ela é extremamente conservadora? Estaríamos diante de uma nova versão de “Show de Vizinha”? Não, acredite, esta bomba aqui é bem pior do que o lixo protagonizado pela gostosona da Elisha Cuthbert.

Mesmo com tantas falhas “Pagando Bem, Que Mal Tem?” conta com alguns poucos acertos. Diálogos como: “___ Se fazer filme pornô é tão fácil e dá tanto dinheiro, por que todas as pessoas não passam a fazer isso?”, “___ Ora, porque elas tem dignidade, e nós não.”, ou, “___ As pessoas ganham muito dinheiro com isso, veja a Paris Hilton, está vendendo perfumes para a garotada e ela é uma perfeita imbecil!” tiram um pouco o longa do óbvio status de ridículo e sem graça o qual realmente merece ser rotulado.

Vale citar também o carisma de Seth Rogen. A propósito, Rogen, como sempre, esbanja carisma, talento e, o mais importante de tudo (já que estamos tratando de uma comédia), “timming” cômico. E o restante do elenco? Não. Além de todos os personagens (salvo o protagonista, encarnado por Rogen) serem amplamente sem graça e mal explorados pelo roteiro, são ridicularizados ainda mais pelas fracas atuações daqueles que os compõem, sobretudo Elizabeth Banks que passa o filme todo fazendo a mesma expressão (e note o quão patética e canastra é a expressão dela enquanto discute com Zack no terceiro ato da trama).

Em suma, “Pagando Bem, Que Mal Tem?” pára na ótima atuação de Seth Rogen e na intenção de se fazer um filme de comédia escatologicamente divertido, pois de resto, nos deparamos com uma trama previsível e com um humor repugnante, artificial e, o que é pior, sem a mínima graça.

Avaliação Final: 3,5 na escala de 10,0.

terça-feira, 24 de março de 2009

"Meu" Oscar® 2009

Passou-se um mês desde a cerimônia do Oscar® 2009 e decidi “brincar” um pouquinho de “Meu Oscar®”. Como vem a ser tal brincadeira? Primeiramente, imagine-me como dono do mundo. Onde você vê claramente edificações, passe a ver destroços e ruínas, sob uma gargalhada “luciferiana” oriunda de um psicopata ultra-niilista que acabara de conquistar o poder supremo da raça humana e está decidido a exterminá-la de uma vez por todas. Imagine um mundo devastado sob minha batuta. Imaginou? Agora imagine como seria a cerimônia do Oscar® sob a minha batuta. Imaginou? Pois imaginou errado. Veja como seria logo mais abaixo (obs.: não deixe de ler as várias observações contidas no final do texto).



PS: Espero que gostem da montagem acima que o Seu Tóinho do boteco da esquina fez para mim, pois caso eu domine o mundo, ele será o meu tesoureiro, e não seria muito inteligente ridicularizar a foto feita pelo tesoureiro do Imperador da Terra.


Melhor Montagem:

* Chris Dickens por Quem Quer Ser um Milionário?

* Lee Smith por Batman - O Cavaleiro das Trevas

* Ayhan Ergürse, Bora Gökşingöl e Nuri Bilge Ceylan por Três Macacos

* Daniel Rezende por Tropa de Elite

* Joel Cox e Gary Roach por A Troca


Melhor Atriz Coadjuvante:

* Viola Davis por Dúvida

* Rosemarie DeWitt por O Casamento de Rachel

* Francis McDermond por Queime Depois de Ler

* Penelope Cruz por Vicky Cristina Barcelona

* Tilda Swinton por O Curioso Caso de Benjamin Button


Melhor Ator Coadjuvante:

* Heath Ledger por Batman - O Cavaleiro das Trevas

* Carlo Del Sorbo por Gomorra

* Milhem Cortaz por Tropa de Elite

* Brad Pitt por Queime Depois de Ler

* John Malkovich por A Troca


Melhor Atriz:

* Anne Hathaway por O Casamento de Rachel

* Meryl Streep por Dúvida

* Kate Winslet por O Leitor

* Scarlett Johansson por Vicky Cristina Barcelona

* Angelina Jolie por A Troca


Melhor Ator:

* Wagner Moura por Tropa de Elite

* Mickey Rourke por O Lutador

* Frank Langella por Frost/Nixon

* John Malkovich por Queime Depois de Ler

* Sean Penn por Milk - A Voz da Igualdade


Melhor Roteiro Adaptado:

* Jonathan Nolan e Christopher Nolan por Batman - O Cavaleiro das Trevas

* Maurizio Braucci, Ugo Chiti, Gianni di Gregorio, Matteo Garrone, Massimo Gaudioso e Roberto Saviano por Gomorra

* David Hare por O Leitor

* Peter Morgan por Frost/Nixon

* John Patrick Shanley por Dúvida


Melhor Roteiro Original:

* Rodrigo Pimentel, Bráulio Mantovani e José Padilha por Tropa de Elite

* Ebru Ceylan, Nuri Bilge Ceylan e Ercan Kesal por Três Macacos

* Andrew Stanton por Wall-E

* J. Michael Straczynski por A Troca

* Woody Allen por Vicky Cristina Barcelona


Melhor Diretor:

* Danny Boyle por Quem Quer Ser um Milionário?

* Nuri Bilge Ceylan por Três Macacos

* Darren Aronofsky por O Lutador

* David Fincher por O Curioso Caso de Benjamin Button

* Christopher Nolan por Batman - O Cavaleiro das Trevas


Melhor Filme:

* Tropa de Elite

* Batman - O Cavaleiro das Trevas

* Três Macacos

* Wall-E

* A Troca


Obs. 1: Por mais cruel e ditador que eu seja, não segui os tradicionalismos da Academia e selecionei TODOS os filmes que estrearam nos Estados Unidos no ano de 2008 (e que eu tive a oportunidade de assistir, naturalmente). O que inclui, é claro, o nosso subestimado “Tropa de Elite”, que fora equivocadamente chamado de fascista lá fora, o que o difamou a ponto de nem chegar perto do Oscar que, inquestionavelmente, merecia levar para casa (principalmente em um ano tão pífio para o Cinema como foi este).

Osb. 2: Falando em filmes estrangeiros lançados comercialmente nos EUA em 2008, não sei se o terror espanhol “[REC]” foi lançado por lá no ano passado, mas caso tenha sido, considere-o em terceiro lugar em Melhor Direção, em quarto lugar em Melhor Atriz e em quinto lugar em Melhor Montagem (ou Edição, caso prefira).

Obs. 3: A propósito, já que mencionei acima as possíveis colocações de “[REC]” (caso o mesmo pudesse ser selecionado) em cada categoria, gostaria de mencionar que selecionei os filmes de acordo com a minha ordem de preferência, ou seja, em Melhor Montagem, por exemplo, o Oscar® ficaria com “Quem Quer Ser um Milionário?” (como realmente aconteceu fora do “mundo” deste altista megalomaníaco que vos escreve), o 2° lugar ficaria com “Batman – O Cavaleiro das Trevas” e o 3°, 4° e 5° ficariam, respectivamente, com “Três Macacos”, “Tropa de Elite” e “A Troca”.

Obs. 4: Está sentindo falta das categorias Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte, Melhores Efeitos Visuais e etc...? Pois é, mas o bem da verdade é que assumo que fui preguiçoso e não queria queimar os poucos neurônios que me restam, portanto, selecionei apenas as categorias que mais me atraem.

Obs. 5: Quer dizer que se formos seguir a lógica do parágrafo acima, podemos concluir que Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Animação não me atraem? De forma alguma, em um mundo manipulado por mim, todos os filmes seriam iguais e mereceriam concorrer a Melhor Filme, sejam eles estrangeiros ou não (tanto que três dentre os cinco indicados não são necessariamente filmes estadunidenses e/ou com personagens em carne e osso), quebrando-se definitivamente paradigmas como as categorias: Melhor Animação e Filme Estrangeiro.

Obs. 6: Antes que alguém me questione, eu respondo. Não assisti a filmes como “Che – O Argentino”, “Che – A Guerrilha”, Nova York, “Sinedoche” e muitas outras produções que estrearam no circuito estadunidense em 2008. Assim sendo, não os considerei nesta “premiação”. É claro que, caso os assista posteriormente e conclua que tais obras são dignas de figurar em tal relação, alterarei a mesma e a postarei aqui no Cine-Phylum.

Obs. 7: Como seria a cerimônia? Bem, os prêmios seriam entregues sem “viadagem” (sem ofensas aos homessexuais) e sem “embramação”. Colocaria Scarlett Johansson e Keira Knightley nuas juntas anunciando os vencedores (sem fírulas, conforme já disse) e, entre um anunciado e outro, faria com que as moças recitassem uma frase escrita por Friedrich Wilhelm Nieztsche. Isso, é claro, antes de ambas aplicarem uma ligeira sessão de sexo oral recíproco. Gostaram do modo como a apresentação se desenrolaria? Não? Azar o seus, porque quem manda, sou eu, e quem questiona, eu mato!

Voltemos ao mundo real agora (tentando, ao menos)!

Um grande abraço a todos!
Daniel Esteves de Barros – Editor do Cine-Phylum.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Gran Torino - ** de *****

Conforme prometido no texto de “Watchmen – O Filme” estarei aderindo agora a textos mais dinâmicos e sucintos, embora, nem tão aprofundados quanto os que escrevia antes. Comecei, ou melhor, voltei a utilizar esta técnica de escrita no momento oportuno, haja visto que voltei a lhe empregar justamente ao comentar sobre “Gran Torino”, o filme mais vazio de Clint Eastwood que já tive o desprazer de assistir. E francamente, o que se pode dizer de um filme tão vazio quanto este, em um texto enorme de 1.500 (este aqui teve apenas 879, ou seja, pouco mais da metade) palavras? Creio que ficaria enrolando até eu mesmo dizer: “chega”. Enfim, antes que eu comece a enrolar nesta pré-crítica, vamos ao texto (e aproveite bem, porque agora você poderá lê-lo sem perder mais do que cinco minutos de seu atribulado cotidiano).


Ficha Técnica:
Título Original: Gran Torino.
Gênero: Drama.Tempo de Duração: 116 minutos.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.grantorino.com.br/
Nacionalidade: EUA / Austrália.
Direção: Clint Eastwood.
Roteiro: Nick Schenk, baseado em estória de Dave Johannson e Nick Schenk.
Elenco: Clint Eastwood (Walt Kowalski), Bee Vang (Thao Vang Lor), Ahney Her (Sue Lor), Christopher Carley (Padre Janovich), Brian Haley (Mitch Kowalski), Geraldine Hughes (Karen Kowalski), Dreama Walker (Ashley Kowalski), Brian Howe (Steve Kowalski), William Hill (Tim Kennedy), John Carroll Lynch (Martin), Brooke Chia Thao (Vu), Scott Eastwood (Trey) e Doua Moua (Spider).

Sinopse: Walt Kowalski (Clint Eastwood) é um veterano de guerra que lutou na Coréia e agora se tornou um velho ranzinza e solitário, graças ao seu gênio difícil, sua visão extremamente conservadora e o preconceito que nutre pelos vizinhos, estrangeiros em geral. Tal preconceito aumenta ainda mais quando vê Thao (Bee Vang) tentando furtar o seu carro, um Gran Torino modelo 1972. Com o passar do tempo, no entanto, o velho vai notando o quão agradáveis e gentis os seus vizinhos podem ser e, na tentativa de quitar a desonra que tem para com Walt, Sue (Ahney Her) avisa ao ex-militar que o irmão está disposto a ajudá-lo em seus serviços de reparador. A partir daí o jovem garoto aprende um ofício e passa a ter alguma perspectiva na vida, tomando Walt como modelo. A calmaria acaba quando uma gangue passa a ameaçar a vida dos vizinhos e Walt decide interferir de modo direto na situação.

Gran Torino – Trailer:


Crítica:

Não há nada mais previsível do que uma releitura cinematográfica (e é importante mencionar, apesar de ser bastante evidente, que releitura não é a mesma coisa que refilmagem, como é o caso de “Conflitos Internos” e “Os Infiltrados” ou “Yojimbo, o Guarda Costas” e “Por um Punhado de Dólares”), sendo que o resultado óbvio é que o filme atual raramente conseguirá alcançar as qualidades de sua fonte de inspiração. Foi assim que aconteceu com “Beleza Americana” e “Foi Apenas um Sonho”, “Rocky – Um Lutador” e “Falcão – O Campeão dos Campeões” (e estabeleço esta relação aqui tendo em vista os protagonistas de ambos os filmes, e não as obras em si), “Os Bons Companheiros” e “Profissão de Risco” (o segundo, na verdade, está mais para um plágio descarado do filme Scorsesiano), e até mesmo “Crimes e Pecados” e “Match Point” (que é um ótimo filme, mas perde bastante força se comparado ao primeiro). Agora Clint Eastwood chega aos cinemas com este “Gran Torino”, que nada mais é do que uma clara releitura do ótimo “Menina de Ouro”. O resultado? Fracasso.

O leitor certamente se lembra do velho fastidioso Frankie Dunn do vencedor do Oscar® de 2005, não? Pois é, ele praticamente está de volta em “Gran Torino”, só que sob o nome de Walt Kowalski e ainda mais caricato do que o treinador de boxe. Além de acordar de mau humor e ir dormir da mesma forma, o personagem de Eastwood é um veterano extremamente conservador que lutou na Guerra da Coréia e, para anunciar a sua “ranhetice”, acredite, chega a rosnar durante boa parte do filme. Mas o estereótipo não pára por aí, não. Kowalski, além de abrir a boca apenas para murmurar, é extremamente preconceituoso, jamais altera a expressão carrancuda e o olhar ameaçador, cospe no chão a todo o instante e cumprimenta os seus amigos íntimos mediante a insultos. Ou seja, ele nada mais é do que uma versão extremamente amadurecida de Dirty Harry, só que muito (e ponha muito nisso) mais caricato.

O filme começa com uma trama que envolve violência e ameaça entre membros de gangue. O drama então se desenvolve e passamos a testemunhar tentativas de furto de carro, preconceitos vindo à tona e, por fim, redenção por parte de todos os personagens. Aqueles que se odiavam agora se amam e tentam viver em harmonia, ajudando uns aos outros, de um modo que você já viu em muitos outros filmes do gênero. E é claro que a falta de originalidade não consistiria necessariamente em uma grave falha caso o longa conseguisse, ao menos, nos envolver com a sua trama, mas a verdade é que esta é muito rasa, bem como a química estabelecida entre os seus protagonistas. Eastwood está novamente no papel de “mestre”, um velho rabugento tentando passar, a uma pessoa bem mais jovem do que ele, tudo o que sabe sobre uma determinada profissão, trazendo assim esperança a quem não a via durante muito tempo. Lembrou-se do filme protagonizado por Hillary Swank? Pois é, é inevitável a alegoria. “Gran Torino”, por sinal, é uma produção que conta com quase tantos clichês quanto “Menina de Ouro”, com a diferença de que este último envolvia e emocionava o espectador, e o segundo não.

Não bastasse tudo isso, a direção de Eastwood é burocrática demais (nunca pensei que diria isso algum dia em toda a minha vida) e confere à trama um ritmo excessivamente lento e cansativo. O roteiro inicia investindo demais em personagens que serão simplesmente abandonados na trama, durante o desenrolar desta (o Padre Janovich é um exemplo disso, já que ele aparece muito no começo do filme, mas simplesmente some durante o segundo ato inteiro, voltando apenas no terceiro ato, e para ser sincero, ele nem diz ao certo a que veio, salvo, é claro, para proferir filosofias baratas e dispensáveis sobre a vida e a morte), e a intenção do longa em apresentar críticas ferrenhas ao preconceito racial é discrepante ao extremo, já que o filme cai na própria armadilha ao sugerir que as gangues estadunidenses são, em sua maioria, compostas por negros e asiáticos (ou teria o leitor notado a presença de algum caucasiano fazendo parte de tais grupos criminosos?).

Ao menos o filme tem um terceiro ato extremamente satisfatório. O anticlímax criado pelo roteiro é mais do que justificado, uma vez que o sacrifício do protagonista e a sua postura passiva são mais do que convenientes, tratam-se de uma atitude deveras arguciosa por parte do roteiro, que foge do convencional e dá um “chega pra lá” nas fitas de ação que mostram o protagonista realizando uma carnificina inteira, sozinho, sem quaisquer tipos de auxílio (ao menos, é claro, que você acredite que partir pra porrada resolva tudo na vida). Talvez isso justifique alguns dos clichês empregados pelo longa durante os seus dois primeiros atos, mas ainda assim, não é o suficiente para emergir o filme do visível e gigantesco oceano de insignificância no qual ele mergulhou e permanecerá mergulhado pelo resto de sua existência.

Pena, vindo de um cineasta responsável por “Cartas de Iwo Jima”, “A Troca”, “Sobre Meninos e Lobos” e, até mesmo, “Menina de Ouro” (que lhe conferiu um Oscar), era de se esperar algo muito mais profundo do que uma obra da densidade de um pires.

Avaliação Final: 4,0 na escala de 10,0.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Watchmen - O Filme - **** de *****

Enfim, o dramalhão mexicano “Missão: Watchmen - O Filme” teve o seu fim, e adivinhem só, como em um grande chavão da teledramaturgia da terra da tequila (ahhhh, a tequila, que saudades da tequila!), teve um final feliz. Sim, um “happy end”. Por que? Oras, porque adorei o filme, achei-o muito, muito bom, com uma ressalva ou outra. Enfim, o leitor poderá conhecer a minha opinião lendo a crítica abaixo, que ficou imensa diga-se. A propósito, preciso reduzir o tamanho de meus textos, não? Sim, e tenham certeza de que a próxima crítica que eu escrever (provavelmente será a de “Gran Torino”, que deverá sair amanhã ou no domingo), será consideravelmente menor que esta. Agora, um aviso aos chatos de plantão (e até mesmo amigos pessoais meus que convivem comigo dia a dia, fisicamente): se vocês acham meus textos longos demais e é difícil arrumar tempo e, acima de tudo, paciência para lê-los inteiramente, façam o seguinte: leiam apenas o último parágrafo. Lá faço um resumo do texto inteiro (e não só deste texto, mas de todos os outros que publico por aqui). Dado o recado, vamos à crítica.

Ficha Técnica:
Título Original: Watchmen.
Gênero: Drama / Ficção Científica.
Tempo de Duração: 163 minutos.
Ano de Lançamento: 2009.
Site Oficial: http://www.watchmenofilme.com.br/
Nacionalidade: EUA / Inglaterra / Canadá.
Direção: Zack Snyder.
Roteiro: Alex Tse e David Hayter, baseado em graphic novel de Alan Moore e Dave Gibbons.
Elenco: Malin Akerman (Laurie Juspeczyk / Espectral), Billy Crudup (Jon Osterman / Dr. Manhattan), Matthew Goode (Adrian Veidt / Ozymandias), Jackie Earle Haley (Walter Kovacs / Rorschach), Jeffrey Dean Morgan (Edward Morgan Blake / Comediante), Patrick Wilson (Dan Dreiberg / Coruja), Carla Gugino (Sally Jupiter / Espectral), Matt Frewer (Edgar Jacobi / Moloch), Stephen McHattie (Hollis Mason / Coruja), Laura Mennell (Janey Slater), Rob LaBelle (Wally Weaver), Gary Houston (John McLaughlin), James M. Connor (Pat Buchanan), Mary Ann Burger (Eleanor Clift), John Saw (Doug Roth), Robert Wisden (Richard Nixon), Jerry Wasserman (Detetive Fine), Don Thompson (Detetive Gallagher), Frank Novak (Henry Kissinger), Ron Fassler (Ted Koppel), Greg Armstrong-Morris (Truman Capote), J.R. Killigrew (David Bowie), John Kobylka (Fidel Castro), Glenn Ennis (Justiceiro Encapuzado), Dan Payne (Dollar Bill), Salli Saffioti (Annie Leibovitz), Darryl Scheelar (Capitão Metrópolis), Brett Stimely (John F. Kennedy), Carrie Genzel (Jackie Kennedy), Chris Gauthier (Seymour), Steven Stojkovic (Mick Jagger), Greg Travis (Andy Warhol), Apollonia Vanova (Silhouette), Chris Weber (Oficial O'Brien), Lori Watt (Mãe de Rorschach), Frank Cassini (Marido de Sally Jupiter), Clint Carleton (Hollis Mason - jovem), Haley Guiel (Laurie Jupiter - 13 anos), Jaryd Heidrick (Jon Osterman - jovem), Mike Carpenter (Moloch - jovem) e Eli Snyder (Rorschach - jovem).

Sinopse: Com a aprovação de uma lei em 1977, que determina que o combate ao crime organizado não poderá mais ser realizado através de pessoas mascaradas nomeadas de “Watchmen”, vários super-heróis perdem o emprego e o prestígio que possuíam há pouco tempo atrás. Alguns deles ficam loucos, outros tornam-se marginais foragidos da justiça, outros passam a trabalhar para o governo e, a maioria, simplesmente se aposenta e passa a levar uma vida normal. A calmaria é quebrada, contudo, quando um destes ex-super-heróis, o Comediante (Jeffrey Dean Morgan), é assassinado. Seu antigo colega, Rorschach (Jackie Earle Haley) entra em cena e passa a investigar o ocorrido. As investigações, a princípio, não são levadas a sério pelos outros ex-membros da equipe: Espectral (Malin Akerman), Coruja (Patrick Wilson), Dr. Manhattan (Billy Crudup) e Ozzymandias (Matthew Goode), mas após uma tentativa de assassinato deste último, todos optam por dar mais atenção a Rorschach. Todos, exceto os próprios Manhattan e Ozzymandias, que encontram-se extremamente ocupados trabalhando para o governo estadunidense na defesa do país contra possíveis ataques nucleares russos.

Watchmen – Trailer:


Crítica:

Quem for ao cinema esperando de “Watchmen – O Filme” uma adaptação de HQ convencional certamente dará com os burros n’água. O filme, felizmente, vai muito além disso, mas muito além mesmo. Não espere encontrar aqui situações como as que a mocinha indefesa, que passa a metade da projeção berrando “help!”, é salva no final pelo aguerrido herói que utiliza os seus super poderes para tal. Também não espere encontrar por aqui heróis altruístas, de caráter ilibado e moral inquestionável que se unem para salvar o mundo. Ops... esperem um pouco... em “Watchmen” os protagonistas se unem, de uma forma ou de outra, para salvar o mundo, não é mesmo? Bem, em parte sim, em parte não, e é aí que residem as maiores qualidades do filme. Os questionamentos de certos personagens sobre o porquê de salvar uma raça tão execrável e pútrida quanto a raça humana dá um tom extremamente distanciado entre a obra de Zack Snyder e os demais filmes de heróis convencionais.

Abrindo o longa com uma batalha mortal entre o super-herói alcunhado de “O Comediante” e um indivíduo mascarado, logo vemos o primeiro sendo derrotado e, consequentemente, morto pelo segundo. A seguir, o filme parte para os créditos iniciais e acompanhamos a projeção dos mesmos sob o som mais do que conveniente de “The Times They Are A-Changing” de Bob Dylan. Ao fundo, vemos uma sequência de imagens mostrando os tempos gloriosos de uma trupe de super-heróis que passaram por momentos marcantes na história dos EUA, variando desde a Segunda Grande Guerra até o início dos anos 1980, marcado pela mais execrável era da humanidade: a era “yuppie”. E é justamente quando nos lembramos da morte do Comediante (recentemente projetada na telona) que percebemos o quão sincronizada é a sucessão de imagens com a música de Dylan, que anuncia que os tempos estão mudando. E de fato, estão mesmo, afinal de contas, onde está o poder dos super-heróis que, outrora, eram imbatíveis e, agora, passam a ser exterminados um a um?

Este é o primeiro questionamento que “Watchmen” levanta acerca de seus personagens e, já de cara, nos anuncia que não será mais uma, dentre tantas outras, adaptações de HQ. “Watchmen” não é apenas um filme de super-heróis, mas sim um filme de super-heróis que amargam a aposentadoria. E se para muitos (inclusive para este que vos escreve, que não vê a hora de encerrar a sua carreira convencional e dedicar-se apenas à crítica cinematográfica, mas até lá restam mais de quarenta anos) este período da vida se revela o melhor dentre os demais, para outros este período se revela o fim de sua glória profissional. Quantos filmes, principalmente adaptações de HQ, você já assistiu que o levaram a tais questionamentos? Pouquíssimos, não? Pois é. Mas o longa não pára por aí. De forma alguma, ele vai muito além.

Quando os créditos se encerram e o filme toma a sua continuidade a partir da morte do Comediante, passa a entrar em cena então a averiguação do assassinato deste. Surge então um personagem extremamente fascinante e misterioso. Seu nome é Rorschach. Ele tem como uma de suas principais habilidades a capacidade de passar pelas pessoas sem nem ao menos ser notado. Rorschach utiliza estes dons para investigar a morte do ex-colega. Neste momento, o longa adota uma deliciosa estrutura de filme noir, tomando por base a fotografia extremamente escura, a narração “in off” e a falta de perspectiva com a qual o personagem encara a vida. Ele não admite o fato de ter sido simplesmente “desligado”, assim como os outros “Watchmen”, do governo estadunidense. Sua aposentadoria forçada e o seu “exílio” são por ele encaradas como uma ingratidão por parte das pessoas pelas quais se esforçou tanto para auxiliar no passado. Isso pode ser muito bem testemunhado por nós na cena onde narra: “A imundice acumulada de todo o sexo e homicídio subirá até as cinturas, e todas as prostitutas e políticos olharão para cima e gritarão: “salve-nos!”, e eu vou sussurrar: “não!”.”

Aliás, frases de impacto, como a supracitada, é o que não falta no filme. Muito pelo contrário, diria que até sobram. Vide o diálogo entre o próprio Rorschach e o Coruja, por exemplo. O segundo diz: “Você deveria tentar levar uma vida normal.” e o primeiro retruca: “É isso o que você tem agora? Uma vida normal? Quando você anda pelas ruas de uma cidade morrendo de hidrofobia e passa pelas baratas humanas falando de heroína e pornografia infantil, você realmente se sente normal?”, o interlocutor ainda insiste: “Pelo menos eu não estou me escondendo atrás de uma máscara.” e Rorschach encerra: “Não, você está se escondendo abertamente.”. E não pára por aí não. Outro diálogo de forte impacto é um onde o mesmo Coruja protagoniza com o Comediante: “Onde está o sonho americano?”, pergunta o primeiro, e o segundo responde enquanto atira em um grupo de manifestantes desarmados: “Você está olhando para ele!”.

Hum, espere aí! Citei o Comediante novamente, não? Sim, e sabem o que isso prova? Que ele não é apenas um recurso dramático adotado pelo filme a fim de iniciar uma investigação sobre o seu homicídio. Muito pelo contrário, o Comediante é um verdadeiro “Watchmen” e o desenvolvimento dele se revela tão imprescindível à trama como o de seus ex-colegas. Quando vemos o monstro que o alter-ego de Edward Morgan Blake era, logo deixamos de sentir pena pela morte do mesmo. O herói, que está mais para anti-herói, era um sujeito reacionário, cruel, impulsivo, e que via no emprego da violência um preenchimento para a sua vida. Blake estupra colegas de trabalho, se embriaga com frequência e atira em mulheres que carregam consigo um filho dele mesmo. E sabem o que é o melhor disso tudo? Ele o faz sem soar caricato (e muito disso deve-se à fenomenal atuação de Jeffrey Dean Morgan), pois sempre age de modo natural, e não almejando anunciar a sua crueldade através dos atos mais abomináveis o possível. O Comediante nos inspira ódio, nos inspira repulsas. Ele não é um herói, mas sim um inimigo da liberdade, assim como a grande maioria dos policiais e militares também o são, meros “porcos fardados”.

Tendo em vista o parágrafo supra, o que seriam então os Watchmen, haja visto que quase todos eles possuem um caráter quase tão reacionário quanto o de Blake? Os Watchmen não são heróis, mas sim a imagem xerocada do sistema político estadunidense. Representam a hipocrisia que permeia a Terra do Tio Sam, o uso de violência para combater a violência. São conservadores de extrema direita que fingem defender o povo, quando, na verdade, atacam ferozmente o mesmo (a mesmíssima coisa que policiais e militares o fazem). E aí o filme nos levanta outra questão: será que se as pessoas tivessem super poderes elas os utilizariam para o bem, conforme mostram a grande maioria das HQs? Ou se uniriam ao governo e, sem nem ao menos se darem conta, os utilizariam de forma repressora e anti-libertária, assim como policiais e militares o fazem (no caso, os super poderes destas classes escravagistas... digo... trabalhistas, são resumidos à autoridade delas)?

Inclusive um dos personagens mais sensatos da trama revela-se extremamente cruel diante de toda a sua racionalidade. Refiro-me ao mais complexo membro dos Watchmen: o poderoso Dr. Manhattan, cujo excesso de razão o transforma em uma pessoa insensível e sem o menor senso de piedade para com os seres humanos (vide a sequência no Vietnã onde o excelente “Apocalypse Now” é homenageado sob o som de “A Cavalgada das Valquírias” de Richard Wagner (que é tão adorada por mim que a coloco no celular para despertar-me todas as manhãs), por exemplo). E até mesmo com os amigos mais próximos a frieza emocional de Manhattan soa assombrosa, como vemos na cena onde ele não faz nada para impedir que uma garrafa rasgue a face do Comediante (e nesta mesma cena ele se mostra passivamente cruel ao não impedir que o anti-herói atire em seu desafeto) ou quando toma uma terrível atitude contra o amigo Rorschach no final do filme.

E o vilão, faz jus aos demais personagens? Sim, e ratificamos isto em uma frase dita por ele mesmo: “___ Não sou um simples vilão de gibi”. E, de fato, não é mesmo. O seu plano é fascinante, instigante, maravilhoso. Ao mesmo tempo em que se embasa em ideais altruístas, se revela um tanto o quanto desumano. Contudo, o que ele acaba realizando é, na verdade, um mal necessário. A propósito, o final da trama pode ser bastante anticlimático aos espectadores que estão acostumados com um filme mais redondinho (e volto a bater na tecla, se você não gosta de filmes de super-heróis que fogem bastante do convencional, talvez não nutra a mesma paixão que eu nutri por “Watchmen – O Filme”), já que está longe de ser um “happy end” (mas também está longe de ser um “unhappy end”).

Enfim, falei muito bem do filme até o momento (utilizei 1500 palavras para tal!!! Preciso reduzir meus textos.) o que significa que ele é uma produção “nota 10,0” ou um longa “cinco estrelas”, correto? Errado. Como de praxe, deixei as falhas para o final. Dediquei noventa por cento desta crítica para descrever os personagens do filme e o leitor, a essa altura, já sabe que os considero o grande trunfo da obra de Snyder, correto? Sim. Contudo, é extremamente irônico que, se por um lado as maiores qualidades de “Watchmen” residam na grande maioria de seus personagens, por outro lado os maiores defeitos do filme possam ser encontrados na minoria deles. Dois deles, para ser mais exato. Quais são? Coruja e Espectral.

Poderia começar mencionando que o romance entre ambos é exacerbadamente previsível, mas não o farei. Há outras características contidas nos dois que incomodam muito mais do que o singelo relacionamento amoroso deles: a falta de profundidade na caracterização de ambos. Se Comediante, Rorschach e Manhattan são fortes o bastante para “segurarem” o filme tranquilamente, Coruja e Espectral não são. Ambos são rasos demais e não contam com características realmente fortes a ponto de nos cativar, assim como vem a ser o caso dos outros três previamente citados. Quando estão juntos então, a situação piora. E sabe quando as coisas conseguem piorar ainda mais? Quando o roteiro opta por conferir importância demais a ambos. Seja franco, tirando o corpo maravilhoso da heroína (que fica de bunda de fora durante uma cena! Aêêê! Ops, sou assexuado, deixe-me conter.), o belo rosto da mesma, sua bela voz, ou quaisquer outros atributos diretamente ligados à beleza de Espectral, você conseguiu guardar (caso já tenha assistido ao filme, é claro) alguma outra característica da moça ao término da sessão (exceto, é claro, se levarmos em conta a surpreendente ligação dela com o Comediante, que é revelada ao final da trama)? E, sinceramente, acredito que a caracterização da personagem só não consegue ser mais insossa do que a péssima atuação da lindíssima Malin Akerman.

O que dizer do Coruja, então? Tirando os óculos de visão noturna e o resto da aparelhagem (que perde feio para os equipamentos do Batman e, principalmente, dos X-Men) dele, o que sobra (e não entrarei no mérito da beleza do ator pois homens não me atraem nem um pouco, ou seja, mesmo sendo assexuado, ainda tenho uma “salvação”, seja lá o que venha a significar tal “salvação”)? Ele é o típico super-herói bonzinho, que aproveita a aposentadoria para viver um estilo de vida que ele julga normal e, quando sente-se ameaçado, automaticamente volta à ativa para proteger os companheiros e a si mesmo, e não vai nada além disso. Nem mesmo a carismática presença de Patrick Wilson consegue fazer o personagem decolar.

Um dos motivos, no entanto, que mais me fizeram sentir vontade de assistir a este “Watchmen – O Filme” era o fato do mesmo ser dirigido por Zack Snyder. Ao contrário de boa parte da população terrestre, adorei a direção do jovem cineasta em “Madrugada dos Mortos” e, principalmente, no ótimo “300”. E sabem do que mais? Sou fã incondicional do modo como ele aplica “slow motion” durante as cenas de ação. Parece que a técnica, que é muito utilizada no excelente “Matrix” confere um toque especial às sequências de ação, pois à medida que podemos acompanhar minuciosamente as coreografias das batalhas corporais, elas se tornam mais atraentes. Em “300” Snyder utilizava tal recurso de modo fantástico e totalmente favorável à obra, já em “Watchmen – O Filme”, isto está longe de acontecer. E não bastasse o mal emprego do “slow motion”, o diretor parece ligar a câmera no piloto automático e apenas filma o que está acontecendo, nada além disso. Não há um único movimento realmente satisfatório realizado com a câmera, não há nada que consiga nos atrair definitivamente, nos cativar, nos sentir dentro da estória, e isso, é claro, conta muitos pontos negativos ao resultado final do filme.

E quanto à trilha-sonora, ela é tão desconexa com as cenas, como estão dizendo por aí? Não, não acho. “The Times They Are A-Changing”, por exemplo, nos transmite toda uma reflexão acerca dos personagens que o filme irá abordar. As outras músicas também são muito convenientes a meu ver, como “Unforgettable” que confere um contraste muito bacana com o violento combate pré-crédito que resulta na morte do Comediante, ou “The Sound of Silence” que ilustra o enterro do personagem (e que música poderia se encaixar melhor na tristeza e melancolia que tal cena transmite?). É claro que algumas músicas como “Hallelujah” são empregadas do modo mais desastroso que se possa imaginar (e a cena só se salva de ser terrivelmente desastrosa devido a bunda Malin Akerman), mas no mais, está longe de ser o desastre ambiental que as pessoas vem anunciando.

“Watchmen – O Filme” tinha todas as cartas na manga para ser uma superprodução excepcional, bastava apenas dirigir o seu foco aos personagens Rorschach, Comediante, Dr. Manhattan e, até mesmo, Ozymandias, e relegar Coruja e Espectral completamente ao segundo plano, mas, infelizmente, não é exatamente isso o que acontece. O roteiro disponibiliza tempo demais ao casal insosso e quebra o ritmo que os demais personagens, todos eles interessantíssimos, vinham conferindo até então. A estrutura narrativa do filme, por sua vez, é extremamente interessante e alterna constantemente entre subtramas existenciais, uma investigação à lá filme noir e uma aventura interessantíssima alicerçada por um magistral e perturbador “plano diabólico” do vilão da estória. As atuações são muito boas e só tem a acrescentar nos interessantes dramas vivenciados pelos seus personagens. É triste, no entanto, notarmos o quão pouco ousa Zack Snyder e, diferentemente de “Madrugada dos Mortos” ou “300”, realiza uma direção apenas razoável, entrando em total contraste com um roteiro repleto de personagens interessantes, diálogos bem construídos e uma estória bastante envolvente.

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Missão: Watchmen - O Filme - Episódio Final - Tomada # 9.517


Depois de muita enrolação, chega ao fim a novela “Missão: Watchmen - O Filme”, roteirizada, dirigida e atuada por mim mesmo, Daniel Esteves de Barros. A novela, que está mais para um dramalhão mexicano, teve início aos 15 de março do corrente ano e terá seu desfecho hoje, quatro capítulos depois, no dia 18 de março de 2009.
Daqui a 25 minutos (19:15hs) embarcarei no ônibus com destino a Bauru e assistirei ao filme que se dará início na sessão das 20:30h e irá se encerrar por volta das 23:00h. Depois disso, pego um táxi, tomo um ônibus intermunicipal e retorno ao meu lar por volta das 00:30h. A crítica? Escreverei utilizando o meu notebook, na viagem de volta e pretendo publicá-la amanhã de manhã ou, no máximo, à noite.
E se acontecer o que aconteceu da outra vez e o projetor do cinema entrar em pane? ___ Me pergunta o leitor. Aí eu termino de assistir ao filme em casa, já que, por precaução, fiz o “download” de “Watchmen”. Ohhhhhhhhhhh, que crime, baixando filmes na internet. Pois é, mas fazer o quê? Quem não tem cão caça com gato (apesar de que hoje tenho quase certeza absoluta de que caçarei com cão).
Peço ao leitor que faça todo o tipo de simpatia que conhece e que torça para tudo dar certo. Quem sabe este não é mesmo o último capítulo da novela: “Missão: Watchmen - O Filme”?

Daniel Esteves de Barros.
Editor do Cine-Phylum.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Missão: Watchmen - O Filme

sei que estou devendo a crítica de "Watchmen" há um booooooooom tempo, mas prometo que amanhã ou, no máximo, domingo, o leitor poderá acessar o Cine-Phylum e se deparar com o texto da mais recente adaptação de HQs

Pois é, ontem, domingo, 15 de março de 2009, tornei-me o maior quebrador de promessas da história da humanidade. Mas a culpa, juro, não foi minha. “Watchmen” não está passando nos cinemas de minha cidade, o que fiz então? Fui a cidade vizinha conferir o mesmo. Cheguei lá, entrei na sessão e assisti ao filme, ou melhor, metade dele.
Agora faço uma pergunta: “espelho, espelho meu, há alguém mais azarado do que eu?”. Bem, ao menos no jornalismo cinematográfico duvido que exista.
Adivinhe, caro leitor, o que me ocorreu? Chegamos à metade da sessão, na cena em que Ozymandias discute com os empresários e, quando menos podia se imaginar, o projetor me entra em pane, e com ele, eu também entro em pane. Os responsáveis pelo cinema queriam pagar pela próxima sessão, mas eu tinha um compromisso inadiável à noite e não podia ficar até mais tarde (a próxima sessão seria só duas horas e meia após o incidente). Optei então por utilizar o “ingresso gratuito” para assistir pela segunda vez a “Quem Quer Ser um Milionário?” e continuei com a mesmíssima opinião de antes: é um filme bom, e só.
Mas voltando a “Watchmen”, querem saber a impressão inicial que tive do filme? Sensacional, um cinco estrelas fácil, fácil. Tirando os personagens Coruja e Espectral, o filme é fantástico. É uma adaptação de HQ extremamente dessemelhante do convencional. Ao invés de heróis altruístas e de caráter ilibado, temos personagens extremamente imorais, beirando o cúmulo do reacionário e do egoísmo. O comediante é o maior exemplo disso e, disparado, o personagem mais interessante do longa. Rorschach também é excepcional, e sua narrativa “in off” acrescenta bastante à trama. Sempre que o mascarado entra em cena, a produção ganha ares de filme noir. Dr. Manhattan também é bastante interessante e, do ponto de vista dramático, talvez seja o mais interessante dentre todos os personagens. Um filme nota 9,0, até o presente momento (dizem que piora bastante em sua segunda metade). Ah, e a trilha sonora é magistral.
Enfim, talvez eu volte a Bauru para assistir ao filme na próxima quarta, quem sabe? Só sei que, caso eu realmente vá, assistirei a primeira metade do filme novamente e com um largo sorriso entre as orelhas.
Por favor, façam todas as simpatias que conhecerem para que, dá próxima vez, ocorra tudo bem durante a sessão, ok? Muito obrigado.

Daniel Esteves de Barros.
Editor do Cine-Phylum.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Filmes de Estréia, Sexta-Feira, 13 de março de 2009

Outro tópico inútil cuja função é apenas direcionar o leitor a outros dois filmes que estréiam hoje, nos cinemas do Brasil inteiro, e que eu já assisti e critiquei aqui no Cine-Phylum:



O quê? Ah sim, sei que estou devendo a crítica de "Watchmen" há um booooooooom tempo, mas prometo que amanhã ou, no máximo, domingo, o leitor poderá acessar o Cine-Phylum e se deparar com o texto da mais recente adaptação de HQs. Até lá, aconselho que assistam aos ótimos "Dúvida" e "O Visitante". As chances de vocês se decepcionarem são pouquíssimas.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Diário de um Pároco de Aldeia - **** de *****

Já assisti a quase todos (ou seria todos?) os filmes de Robert Bresson durante a minha adolescência e na época não era lá um grande fã de filmes de Arte, logo, não posso arriscar que nota daria a tais produções neste exato momento. Resolvi então reassistir a todas estas obras novamente, começando pelo que menos havia me chamado a atenção na época. Refiro-me a este “Diário de um Pároco de Aldeia”. Nessa segunda “visitada” ao longa, adorei-o incondicionalmente, mas ainda assim encontrei bastantes falhas que me incomodaram muito durante a projeção. Vamos conferí-las mais abaixo?


Crítica:

Se você nunca assistiu a “Dogville” e pensa o fazer em algum dia de sua vida, aconselho que antes assista a este ótimo “Diário de um Pároco de Aldeia”. Por que? Porque há muitas semelhanças entre um e outro. Assim como em “Dogville”, no filme de Robert Bresson (um dos cineastas franceses mais influentes de todos os tempos) o protagonista é um recém chegado em um vilarejo que passa a ser maltratado pela população local. Assim como em “Dogville”, o protagonista de “Diário...” é um homem com uma forte ligação divina (vale lembrar que muitos cinéfilos e críticos de Cinema, inclusive este que vos escreve, encaram a protagonista Grace do longa de Lars von Trier uma espécie de reencarnação de Jesus Cristo). Entretanto, há uma diferença muito grande entre “Dogville” e “Diário”: o primeiro critica a crueldade humana, mas em doses milimetricamente medidas, o segundo faz o mesmo apelando a exageros altamente dispensáveis.

No longa em questão, todas as pessoas são inexplicavelmente cruéis e fazem o possível e o impossível para destruir a vida do jovem padre (uma cidade onde padres não são bemvindos? Onde fica?! Onde fica?! Quero me mudar para lá!), transformando-a em um verdadeiro inferno (não almejo fazer trocadilhos aqui). O protagonista, por sua vez, revela-se o cumulo do indivíduo “coitadinho”. O cara que veio ao mundo para sofrer. Parece até que estamos diante de um dramalhão mexicano, onde o caráter estoicista de seu personagem principal chega a nos causar nauseas. Ele sofre de uma terrível doença, seu estomago não suporta refeições mais pesadas do que pão e vinho e, para complicar ainda mais, tem uma fascinação por adorar pessoas que o odeiam e tentar muda-las através da palavra de Deus.

Aí o filme se desenvolve e muda de figura. O pároco, que tanto falava de Deus, passa a questionar a existência Dele. A partir deste momento a obra ganha uma força incrível e deposita nos diálogos o seu principal atrativo. “Diário de um Pároco de Aldeia” passa então a ser mais do que um mero filme, revela-se uma sucessão de diálogos magistrais e filosóficos que tecem personagens altamente complexos com fortíssimas opiniões formuladas sobre a existência de Deus, resignação (o dialogo do protagonista com a Condessa é um dos momentos máximos do Cinema Francês), culpa, morte, felicidade (preste atenção na conversa que o pároco tem com o jovem motoqueiro próximo ao desfecho da trama) e muito (mas muito mesmo) mais. Como se não bastasse, tais diálogos, além de profundos, são proferidos de um modo ríspido, seco e imprevisível.

Robert Bresson também é um dos grandes responsáveis pelo sucesso de “Diário...”. Pode-se dizer que o diretor falha apenas quando emprega várias vezes a trilha-sonora que, individualmente analisada, se mostra belíssima, mas no contexto geral da obra se mostra extremamente maniqueísta. No mais, o mestre francês, auxiliado pela fotografia bela e, ao mesmo tempo, sorumbática quando utilizada em campos abertos, e angustiante quando empregada em lugares fechados, confere um grau de sensibilidade incrível ao filme, como raramente temos a oportunidade de ver nas produções atuais.

A criação de ângulos também conta muitíssimos pontos a favor de Bresson. Vide o modo como ele posiciona a câmera em um campo aberto e, ao mesmo tempo em que capta a beleza natural do local, dá ênfase também ao enorme vazio emocional presente no mesmo, algo que acaba representando o vilarejo de uma forma geral. Os “close ins” que o diretor realiza no rosto do protagonista também aumenta a carga dramática da trama, uma vez que a tristeza e as expressões pesadas e amarguradas do mesmo passam a condizer com o local onde a trama se passa, o que confere um clima mais pesado ao filme.

E falando em expressões, que grande atuação a de Claude Laydu, não? Contudo, não é a expressividade do ator que realmente conta pontos para o seu trabalho, mas sim o olhar do mesmo (que é muito mencionado durante o filme). Lembram de Al Pacino em “O Poderoso Chefão – Parte II”, cujo personagem era extremamente inexpressivo, mas armazenava todas as suas emoções (sobretudo a raiva e a cobiça) em seu olhar? Pois é, aqui Laydu faz a mesma coisa, mas os sentimentos demonstrados através de seus olhos são a ingenuidade e a autopiedade. Os demais atores também se saem muito bem e merecem destaque, bem como a direção de arte que cria os ambientes internos na medida certa, dando um toque a mais ao filme.

Não é necessariamente uma obra-prima, faltou pouco para tal, mas revela-se um filme muito acima da média.

Obs.: Se este é o filme de Bresson de que menos gostei em minha adolescência e, conferindo-o pela segunda vez, adorei-o com tanta intensidade, imagine então quando assistir a longas de que realmente gostei anteriormente, como é o caso de “O Batedor de Carteiras”, “O Dinheiro”, “Ladies of the Bois de Bologne”, “Four Nights of a Dreamer”, “Trial of Joan of Arc”, “A Gentle Woman”, entre muitas outras produções cujo título nacional já nem me recordo mais?

Obs. 2: Para o cineasta soviético Andrei Tarkovski, este é o melhor filme a que ele já assistiu. Exagerado, é verdade, mas enfim...

Avaliação Final: 8,3 na escala de 10,0.

sábado, 7 de março de 2009

Oscar 2009 – Melhores Curtas de Animação

Sei muito bem que o Oscar 2009 já aconteceu há duas semanas e, conforme previ, seria esquecido logo em seguida (afinal de contas, “Quem Quer Ser um Milionário?” está passando nos cinemas neste exato momento e, merecidamente, está sendo pouco comentado), mas prometi a mim mesmo que ia assistir a todas as produções que passaram pela cerimônia deste ano e, em seguida, comenta-las aqui no Cine-Phylum. Hoje optei pela categoria “Melhores Curtas de Animação”. Seguem abaixo os comentários das pequeninas animações e os vídeos completos de cada uma delas (salvo "This Way Up" que só consta no site da BBC).

Oktapodi, de Emud Mokhberi e Thierry Marchand (FRA) - ***** de *****

Comentário: Simplesmente sensacional! A qualidade gráfica é satisfatória, apesar de ficar bem aquém de muitas produções atuais, e em menos de três minutos o curta nos cativa, nos emociona, nos confere tensão e, acima de tudo, nos faz rir. A, literalmente, pequena odisséia da lula lutando para salvar a sua companheira de aquário é magistral. Nos cativamos quando vemos ambos dançando no aquário, nos emocionamos quando notamos a tristeza da protagonista do filme ao ver a sua parceira sendo levada, ficamos tensos quando vemos a fuga destas e rimos durante a curtíssima projeção inteira, embalados pela fantástica trilha-sonora. O final é imprevisível e divertido. Excelente curta.

Oktapodi – Filme Completo:


Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

This Way Up, de Alan Smith e Adam Foulkes (ING) - ***** de *****

Antes do comentário sobre "This Way Up", farei um "mea culpa": peço mil desculpas ao leitor pelo erro crasso que cometi há pouco. Acontece que o "This Way Up" que eu havia assistido no Youtube e postado aqui era, nada mais nada menos, que o trailer da animação que concorreu ao prêmio da Academia. Pois é, eu sei, foi uma idiotice muito grande de minha parte realizar tal confusão e conforme eu mesmo havia dito, o curta era, de fato, curto demais. Contudo, temos que levar em conta algumas coisinhas. Primeiramente: custava a pessoa que postou o vídeo no Youtube ter descrito que o mesmo tratava-se de um trailer? Em segundo lugar, por que cargas d'água um micro filme de apenas oito minutos teria que ter um trailer de um minuto? Seria o mesmo que cortar um pão francês em dez fatias minusculas, pegar uma delas e cortar um pedaço ainda mais minúsculo e oferecer para que o consumidor pudesse provar se o pão está bom ou não (perdão pela analogia ridícula). Em último lugar, custava a BBC liberar o vídeo inteiro para o Youtube? Creio que ela nada teria a perder, muito pelo contrário, "This Way Up" teria sido muito mais divulgado e, quem sabe, faria sucesso o bastante a ponto de conseguir financiar um longa metragem tomando por base a mesma estória. Enfim, vamos ao comentário.

Comentário: Visivelmente inspirados por Tim Burton, Alan Smith e Adam Foulkes criam uma animação magistral com o melhor que pode se esperar do humor negro. O curta narra a bizarra estória de dois agentes funerários, pai e filho, que tem de atrevessar um longo caminho para pegar o caixão de uma falecida senhora e levá-lo ao cemitério. A animação é extremamente bem-feita, lembrando muito a parte gráfica do curta "Presto", que será comentado mais abaixo. A direção também é excelente e tem o maior cuidado ao mostrar todos os mínimos detalhes inerentes ao funcionamento cômico da animação (vide o modo eficaz como a câmera acompanha o longo caminho que resultará em um grande estrago causado apenas por uma pétala de lírio - hilário), mas o que mais conta pontos para o resultado final de "This Way Up" é, inquestionavelmente, as situações bizarras e desastrosas pelas quais os seus protagonistas passam até chegar ao local desejado (e, fracamente, creio que pessoa alguma desejaria ser enterrada por sujeitos tão atrapalhados). O curta peca, no entanto, por se inspirar demais em Tim Burton, importando das obras deste até mesmo os números musicais (só que aqui não temos música, mas sim coreografia), resultando em uma desnecessária, embora bem feita, sequência no inferno.

This Way Up – Trailer:


This Way Up - Filme Completo: Clique Aqui

Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

Lavatory - Lovestory, de Konstantin Bronzit (RUS) - ***** de *****

Comentário: À primeira vista, aparenta ser um trabalho mais audacioso que os dois filmes supra. Não no que diz respeito à qualidade gráfica, que opta por vários contornos propositadamente sem cor, mas sim no que diz respeito à direção. Quando vemos um homem adentrando o banheiro, a câmera realiza um rápido “close in” e o segue até chegarmos à protagonista da estória. Notamos que ela é uma pessoa triste, vazia, e que sente falta de um grande amor. A estória dela nos cativa, mas demoramos um pouco para nos envolvermos com a mesma. O curta se revela longo demais (“Curta”? “Longo”? Pois é, da série: “antíteses da vida”). Se “This Way Up” precisava de uns minutos a mais para nos cativar definitivamente, “Lavatory – Lovestory” precisa de uns minutos a menos para fazê-lo. No mais é um filme emocionante, engraçadinho (sinônimo de “espirituoso” e não de “jocoso”), muito interessante, e com uma trilha-sonora das mais envolventes. A personagem se revela muito interessante em virtude de sua profissão (alguém já imaginou ver uma “bilheteira de sanitários masculinos” no Cinema, ainda que por alguns poucos minutos?) e o desfecho, apesar de previsível, é ótimo.

Lavatory - Lovestory – Filme Completo:

Avaliação Final: 8,8 na escala de 10,0.

Presto, de Doug Sweetland (EUA) - ***** de *****

Comentário: “Presto” era, para muitos (inclusive para mim), considerado o grande favorito para vencer este prêmio. Mas o longa da Disney-Pixar contava com um pequeno “probleminha”: sua trama não conta com uma grande mensagem nas entrelinhas, assim como acontece com “La Maison em Petits Cubes”, “Lavatory – Lovestory” e “Oktapodi”. Já assisti a “Presto” uma vez e já comentei sobre o mesmo utilizando a pré-crítica do longa “Wall-E” para tal, mas não custa nada fazê-lo novamente aqui. Na ocasião disse que o mesmo era um curta “...cuja criatividade, simplicidade e sagacidade das piadinhas embutidas no roteiro, nos remete aos bons tempos de “Tom & Jerry”, “Pica-Pau” e é claro, “Mickey & Donald”...”. Hoje só tenho a ratificar o que disse outrora e, apesar de o filme não ter uma trama muito bem elaborada em seu contexto, revela-se muito fecundo no que diz respeito à criação das situações que envolvem os dois protagonistas. O curta se revela ainda mais interessante quando nos damos conta de que o confronto entre o coelho e o ilusionista, apesar de extremamente direto, ocorre há uma certa distância, o que exige dos roteiristas ainda mais criatividade. E eles dão conta do recado? Claro que sim. Comprove você mesmo assistindo ao vídeo abaixo.

Presto – Filme Completo:


Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

La Maison en Petits Cubes, de Kunio Kato (FRA) - ***** de *****

Comentários: Enfim, o pequeno grande vencedor da noite. Era o segundo favorito, e acabou passando a perna no excelente curta da Disney-Pixar. Mereceu? Sim. O filme demora um pouco para nos cativar e o seu visual pós-impressionista com uma temática surrealista não faz muito sentido durante os primeiros minutos. Contudo, o curta nos surpreende e ganha ritmo a partir do momento em que o protagonista mergulha na água e vai atrás de seu velho e estimado cachimbo. É aí que o visual triste e depressivo do filme, unido à música igualmente triste e depressiva, passa a fazer sentido. Nos vemos diante de um mundo que sofrera um desastre ambiental e ficara imergido nas águas de um oceano. Os habitantes se veem então obrigados a construir um cubículo em cima das casas onde moram, e conforme o nível do mar vai aumentando, mais cubículos vão sendo construídos, o que dá à produção o excelente título de “A Casa dos Pequenos Cubos”. Mas como já havia dito, o filme, aparentemente, trata da estória de um homem velho que mergulha no oceano para procurar um cachimbo perdido. A trama parece ser simples, mas está longe disso. Conforme o protagonista vai mergulhando por entre os cubículos, sua vida vai sendo narrada de modo episodicamente invertido, até chegarmos à infância do mesmo, quando a paisagem predominante era constituída por belas árvores e pastos cobertos com grama bem verde. O curta se revela então um alerta quanto à poluição e o aquecimento global terrestre, algo que pode vir a destruir tudo o que temos de mais belo: a natureza que nos cerca. Um filme introspectivo e belo. O melhor dos cinco, logo, mereceu o Oscar, de fato.

La Maison en Petits Cubes – Parte 1:

La Maison en Petits Cubes – Parte 2:


Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

Conclusão: Todos os curtas de animação mereceram concorrer, e a vitória de "La Maison en Petits Cubes" foi bastante justa. Em minha lista, o segundo lugar ficaria com "Oktapodi", e "Presto" ocuparia a terceira posição, seguido de "This Way Up", em quarto lugar e "Lavatory - Lovestory", em último (e que último lugar de luxo, não? Afinal de contas, o curta russo é excelente, apesar de ser o menos forte dentre todos). No mais, a Academia revelou ser muito mais congruente nesta categoria que na de Melhor Filme, por exemplo, uma vez que mostrou ser muito mais seletiva e democrática (filmes de vários lugares do mundo concorreram) aqui.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Filmes de Estréia - 06/03/2009

Este é um tópico extremamente inútil, mas ainda assim farei-o. Dois dos vários filmes que estreiam hoje nos cinemas nacionais já foram assistidos e criticados por mim. As críticas de ambos foram publicadas há algum tempo e podem ser encontradas a seguir:




O primeiro é um filme apenas bom e nada mais. Seus oito Oscar foi um dos maiores engodos da história da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, sendo que os únicos realmente merecidos foram os de "Melhor Diretor" e "Melhor Montagem".

O segundo já é um filme bem melhor, mas ainda assim carregado de falhas. Em um Oscar tão fraco quanto fora o de 2009, "Frost/Nixon" acaba se destacando, contanto que o nivelemos por baixo, pois se o compararmos com filmes do naipe de "Tropa de Elite" (que estreou nos Estados Unidos somente em 2008), "Batman - O Cavaleiro das Trevas", "Três Macacos", "Wall-E", "A Troca", e até mesmo, "Vicky Cristina Barcelona", "O Lutador" e "Valsa Com Bashir", a produção dirigida por Ron Howard se revela miserável.

quinta-feira, 5 de março de 2009

M – O Vampiro de Dusseldorf – **** de *****

O Oscar acabou e a partir de então volto, com muitíssima satisfação (e os(as) senhores(as) nem imaginam o quão gigantesca vem a ser tal satisfação), a assistir, analisar e publicar análises de filmes clássicos, sobretudo, clássicos de origem não-estadunidense. Recomeço com este "M - O Vampiro de Dusseldorf ", clássico absoluto de um dos meus cineastas prediletos, o magistral Fritz Lang. A minha intenção era recomeçar com "O Diário de um Pároco de uma Aldeia", de Robert Bresson, cujo trabalho não confiro a um bom tempo (vergonha!), mas não encontrei este filme para locar em lugar algum. Fiquei com "M...", que revelou-se um ótimo filme, sem dúvidas, mas se não fosse por todo o glamour que possui (afinal de contas, é o "pai" dos filmes noir e dos suspenses com assassinos seriais) certamente sua fama seria bem menor. Ah, boa notícia, consegui o VHS de "O Diário de..." com um amigo meu, terça ou quarta-feira que vem o assisto e o comento.

M - O Vampiro de Dusseldorf (M, 1.931, dirigido por Fritz Lang) - **** de *****

Crítica:

O leitor já deve ter assistido a algum(ns) filme(s) de suspense onde o assassino da trama nos é apresentado através de uma sinistra sombra projetada na parede, não? Também já deve ter assistido a algum(ns) outro(s) filme(s) de suspense onde o diretor realiza uma tomada aérea para filmar várias escadas que formam diversos quadrados simetricamente alinhados, não? Certamente já deve ter assistido a algum(ns) outro(s) filme(s) em que observamos um grupo de policiais sentados em uma mesa, discutindo um caso intrincado, enquanto soltam fumaças de cigarros e charutos com a mesmíssima frequência que fazem as chaminés de uma indústria, não? Se a resposta para todas as três perguntas (ou duas delas que seja... ou uma... tanto faz) for: sim (o que é bem provável), seria interessante que o leitor soubesse que todas as cenas previamente citadas são oriundas do clássico de Fritz Lang: "M - O Vampiro de Dusseldorf". Aliás, não só estas cenas são originárias do filme em questão, como também o subgênero suspense serial-killer também o é. Logo, filmes como "O Silêncio dos Inocentes", "Se7en - Os Sete Crimes Capitais", e é claro, os clássicos de Hitchcock, nem sequer existiriam se não fosse pela obra de Lang.

E falando no maior gênio da história do Cinema alemão, não restam dúvidas de que o trunfo de "M..." reside justamente em seu trabalho como diretor. Lang capta a alma do filme, confere suspense na dose certa ao mesmo, realiza enquadramentos mais do que excelentes (vide a sequência em que o cineasta realiza uma tomada aérea e filma um grupo de pessoas cercando o assassino, antes deste enconder-se em um prédio), utiliza a técnica dos "closes in" e "closes out" magistralmente (note o modo como ele "passeia" pelo esconderijo de um grupo de bandidos enquanto estes encontram-se sentados à mesa), enfim, o filme é dois terços de Lang, ou melhor, do diretor Lang. E o outro terço? O outro terço pertence ao próprio Lang, mas o Lang roteirista, que junto de sua esposa Thea von Harbou realiza um complexo estudo sobre a mente psicótica de seu protagonista, o serial-killer alcunhado de M (aliás, a dramaticidade envolvida na cena do julgamento é algo fora do comum).

O longa falha, no entanto, por ser frio demais durante os seus dois primeiros atos. E tal frieza não seria necessariamente ruim caso "M..." mantivesse este ritmo até o final, mas não é o que acontece. Infelizmente, ao chegar em seu desfecho, o pai dos filmes noir se amedronta e tenta nos trazer um final humanista e sensibilizado demais, algo que não soa bem em uma película que demonstrou-se extremamente racional até então. Um final muito simples (coloque-se no lugar das mães e pense se você realmente tomaria tal atitude), para um filme muito complexo. De qualquer forma, "M - O Vampiro de Dusseldorf" é uma obra obrigatória na "bagagem" de qualquer pessoa que se diga cinéfila, não apenas por ser um dos principais filmes da brilhante carreira de Fritz Lang, ou por apresentar um interessantíssimo debate sobre a pena de morte, mas também por ser a grande fonte de inspiração dos suspenses sobre assassinos em série e, é claro, o berço do Cinema noir.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Valsa Com Bashir - **** de *****

Outro filme do Oscar que não tinha tido tempo de assistir até então. Contudo, “Valsa com Bashir” faz parte do ciclo de filmes “undergrounds” que passaram pelo Teatro Kodak, contudo, este continha algo em especial: era uma animação que vinha como a grande favorita para a conquista do Prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira. A derrota do mesmo foi o acontecimento mais inesperado da noite. Muitos (inclusive o Radamés (que vez ou outra posta alguma coisa por aqui) e eu) apontaram a crise no Oriente Médio como a principal agravante, outros já apontaram o fato do filme “The Class” estar ganhando muito ritmo e, na disputa de votos com “...Bashir”, ambos acabaram abrindo espaço para “Departures” faturar o prêmio. Há quem diga também que o preconceito da Academia para com os gêneros: animação e documentários, prevaleceu, e por isso o filme israelense ficou de mãos abanando. Enfim, não assisti aos demais filmes que concorriam a essa categoria, mas digo sem medo de errar foi um ótimo filme e se revelou melhor do que a grande maioria dos filmes que concorreram a quaisquer outras categorias no Oscar.


Crítica:

Muito provavelmente a “carta na manga” de “Valsa Com Bashir” seja o fato desta ser uma produção israelense que critica a própria política israelense. Quando acompanhamos o noticiário, por mais imparcial que este tente ser, sempre assistimos a matérias que apontem o povo do Estado de Israel como os “mocinhos” da estória. Eles são judeus e por isso são perseguidos, por isso são esnobados pelos países árabes, por isso estão sempre envolvidos em conflito bélicos. Isso é o que muitas pessoas pensam sobre Israel: eles também estão errados, mas os outros, ah, os outros estão muito mais. Tanto é que a própria Terra do Tio Sam, juntamente com outros países ocidentais e organizações como a Freedom House, oferecem apoio direto a Israel. Tendo em vista tudo o que mencionei no parágrafo acima, não restam dúvidas de que assistir a uma produção que vá de encontro às opiniões da grande maioria da população mundial é, na pior das hipóteses, interessante, não? Melhor ainda é ver que esta mesma produção é proveniente do berço de tais discussões. Aí, o filme torna-se imperdível. E é isso mesmo o que “...Bashir” é, um filme imperdível.

Polêmica, cruel e realista, a animação deve ser conferida por todos, sobretudo atualmente, onde o Oriente Médio passa por uma complicadíssima crise diplomática. Só isso já faria com que “...Bashir” valesse uma bela de uma espiada. A direção de Ari Folman, por sua vez, consegue reduzir ainda mais os empecilhos entre o espectador e o valor do ingresso. Cada centavo gasto para assistir ao longa israelense é válido, e não apenas pelos motivos que supracitei, mas também pelo modo como o diretor “brinca” com a câmera. Logo na sequência de abertura do filme, vemos o mesmo realizar “close outs” de uma cidade suja. Em seguida, dezenas de cachorros saem de uma rua congruente à que a câmera está posicionada e começam a correr acompanhando a mesma, que filma magistralmente as expressões raivosas dos animais. A cena é muito bem dirigida e Folman já de cara nos dá uma amostra do que viria fazer mais para a frente.

A cena se encerra, descobrimos que tudo aquilo era, na verdade, um sonho do protagonista. Em seguida nos é revelado que o mesmo era um ex-combatente do exército israelense e, a fim de curar este trauma, procura um amigo, que também já servira às forças armadas de Israel e agora é cineasta (e, por sinal, este amigo é o próprio diretor e roteirista do filme: Ari Folman). O amigo aconselha que o protagonista Ron Ben-Yishai procure algumas outras pessoas que combateram ao seu lado e peça os relatos das mesmas, a fim de esclarecer mais a sua memória, uma vez que, inexplicavelmente, Yishai esqueceu-se de muitas lembranças que tinha da guerra.

O filme então torna-se deveras atraente e passa a alternar entre passado e presente. Conforme Yishai vai entrevistando os seus ex-colegas, ele vai reconstruindo em sua mente aquele período terrível de sua vida. Algumas subtramas extremamente interessantes vão sendo relatadas, como a cena em que o sobrevivente de um conflito no Líbano se vê obrigado a nadar vários quilômetros para escapar com vida, ou a própria sequência que dá título ao filme, quando um personagem pega uma metralhadora e começa a disparar tiros para todos os lados, rodopiando em ângulos de trezentos e sessenta graus, dando a impressão de estar dançando uma valsa bem em frente a um gigantesco pôster de Bashir Gemayel (mais adiante realizarei um breve comentário sobre o mesmo). Outra sequência que merece ser comentada neste parágrafo é uma perto do início, quando soldados, dentro de tanques de guerra, passam a disparar tiros para todos os lados, mesmo não havendo inimigos para serem atingidos. Eis que um sujeito questiona “___ Por que você não está atirando? Comece a atirar!” e o outro pergunta: “___ Atirar em quem?”, “___ Não sei, apenas atire!”, responde o interlocutor. É a neurose das guerras tomando conta de seus participantes ativos.

E quanto a Bashir Gemayel? Quem seria ele? O filme peca por não explorar mais o personagem que lhe deu o título, bem como peca por não explorar os fatores que levaram Israel a interferir na Guerra Civil Libanesa. Bashir foi um dos mais renomados e importantes comandantes das Falanges Libanesas (e isso podemos constatar em uma das poucas cenas do filme que realmente exploram-no, quando um soldado israelense diz: “___ Ele representava para eles (os Falangistas) o quê David Bowie representava para mim”). Se elegeu presidente do Líbano em 1.982 (um ano antes de meu nascimento), apoiado pelo Estado de Israel, mas fora morto em um atentado terrorista palestino antes mesmo de assumir o cargo. O resultado? Um massacre total por parte do exército israelense, com o auxílio dos Falangistas (até então liderados por Bashir Gemayel) em cima dos palestinos. Aproximadamente 3.500 pessoas faleceram, sendo a maioria, como não poderia deixar de ser, pessoas inocentes. O longa, por sua vez, consegue captar toda a crueldade presente naquele massacre, e não há como negar que este revela-se o clímax do mesmo.

É estranho, no entanto, que o filme encontre as suas maiores falhas logo em sua segunda metade, que é justamente quando encontra os seus maiores acertos. Se é nessa parte do longa que podemos conferir o supracitado massacre e uma entrevista para lá de polêmica onde um dos entrevistados afirmam que Ariel Sharon tinha ciência do massacre e não se incomodou muito com o mesmo, é nela também que o filme imerge de vez em uma estrutura inteiramente documental. O que eu tenho contra documentários? Nada, pelo contrário, os adoro, mas em “... Bashir” a jogada definitivamente não funciona. Em primeiro lugar, do ponto de vista técnico a animação se mostra muito falha nas cenas em que exibem os personagens falando. A movimentação labial destes é extremamente artificial e não convencem. Em segundo lugar, analisando agora do ponto de vista artístico, a carga dramática do filme cai um pouco a partir do momento em que adota a estrutura documental. Um documentário tende sempre a ser bastante realista e, em uma animação, este grau de realismo não consegue ser atingido em sua plenitude. Faltam expressões por parte dos entrevistados que realmente nos cativem, nos convençam de que eles sentem pelo o que realmente aconteceu.

De qualquer forma, “...Bashir” é um ótimo filme (melhor do que 90% das produções lançadas comercialmente em 2008), mas longe de ser intocável como muitos dizem.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.