sábado, 1 de outubro de 2011

Um terço (ou menos... ou mais... ou quem sabe?) da crítica de "A Árvore da Vida"


Levando-se em conta que eu demoro super pra escrever os meus textos, e que hoje é sábado, e que eu já tô bêbado pra burro, e que eu provavelmente ficarei ainda mais bêbado durante o decorrer da noite/madrugada, e que eu poderei entrar num período de ressaca bastante longo, inclusive, postei um pouco (tipo, muito, relativamente falando, mas pra quem costuma escrever 2.500 palavras por texto, é pouco mesmo) da minha crítica de “A Árvore da Vida” aí embaixo. Assim que terminar o resto, completo aqui.

Por Daniel Esteves de Barros.

Crítica:

Mostrando-se altamente filosófico desde o seu princípio, “A Árvore da Vida” logo trata de nos reduzir a nada. Sim, a nada mesmo. “Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra?” é a frase contundente que abre o filme, realçando-se ainda mais ao ser reproduzida somente sobre uma tela integralmente escurecida. Afinal, quem somos nós pra nos considerarmos os senhores do universo? Quem somos nós pra acharmos que a nova crise do sistema econômico merece ser retratada em duas ou três páginas do jornal nosso de cada dia, enquanto explosões milhares de vezes maior do que o nosso sistema solar inteirinho acarretam na criação de outros novos sistemas? Quem somos nós pra passarmos horas falando sobre a Primavera Árabe (apesar de a grande maioria da população sequer fazer ideia do que seja isso, o que é uma pena), enquanto uma simples, aos olhos da imensidão azul deste nosso planeta, “pedrinha celestial” choca-se e acaba com a farra de uma raça inteira de seres que perduraram milhões de anos a mais do que a nossa própria espécie? Quem somos nós pra querermos “vencer na vida” (seja lá o que for isso), enquanto galáxias inteiras são engolidas por buracos negros em frações de um único segundinho mal contado que seja?

E o modo como Malick, junto de seus demais colaboradores, retrata essa relação de inferioridade humana é, em alguns momentos, digna de se fazer inveja à maestria com a qual Stanley Kubrick “passeia pelo universo” com a sua câmera em “2001 – Uma Odisséia no Espaço” (que afirmo ser “apenas” o meu segundo filme favorito). Filmando o espaço sideral de forma irrepreensivelmente linda, mas sem jamais deixar de realçar a fúria inexorável e irrefreável das transformações estelares, o experiente cineasta (de apenas cinco longas, sendo este “A Árvore da Vida” o melhor de todos) ainda dá as mãos pro quase-oscarizado-compositor (pelo seu belo trabalho no super bom, mas superestimado, “O Discurso do Rei”) Alexandre Desplat e deixa que a trilha-sonora do rapaz (de meia idade) complete aquilo que está sendo divinamente explicitado em tela. E é através das músicas majestosas de Desplat que sentimos que o que nos vai sendo retratado ali, apesar de indiscutível e objetivamente lindo, é o surgimento de uma série de sinfonias confusamente sensoriais que ilustram os mais diversificados sentimentos da forma mais paradoxal o possível, contrastando diretamente a alegria daquele maravilhoso festival de explosões coloridas, com a melancolia de nossa visível incapacidade de reação, diante daquele fenômeno tão naturalmente violento.

Aliás, essa direção voluntariamente ambígua de Malick merece tanta atenção aqui quanto às fotos da Scarlett Johansson – bem à vontade, diga-se – que vazaram pela net na semana retrasada, devendo-se destacar, acima de tudo, a cena da já citada “pedrinha celestial” que põe fim à era dos lagartões com complexo de grandeza. Um diretor mais exagerado, e menos capacitado (e aí, Emmerich?! Beleza?!), é claro, aproveitar-se-ia daquela situação toda pra fazer uma destruição em massa carregada de CGI e, na certa, esgotaria todo o orçamento direcionado ao longa em questão só pra filmar esse disaster movie de uma sequência só. Malick, logicamente, já prefere investir em simbolismos inteligentes e extrair, da sutileza – que não é nada sutil – daquele sublime – que não é nada sublime – momento, uma metáfora para o “nascimento” da espécie humana. Logo, não é difícil de fazermos uma analogia comparando o meteoro que atinge a Terra com um sêmen que atinge um ovário, principalmente se notarmos que, poucos segundos após o ocorrido, nos deparamos com a personagem de Jessica Chastain em período de evoluída gestação (e o solo de violino que acompanha tais cenas até o nascimento do filho do casal, não só é um dos momentos mais arrepiantes de todo o longa, como também parece querer nos sussurrar a todo o instante: “a vida é um milagre, não é nada diante do universo, mas é um milagre”).

Malick destaca-se super também no posicionamento de câmeras. E pode-se dizer que é justamente através de tal posicionamento que o cineasta conta a estória toda sem ter que recorrer a uma trama necessariamente mirabolante, mas marcada por um roteiro recheado de diálogos magistrais (citarei alguns mais para frente). Se a grandeza do universo e a superioridade da natureza são retratadas pelas lentes do diretor através de grandes planos gerais que captam cada mínimo detalhe do ambiente filmado, Malick acerta ainda mais quando filma a família O’Brien, que protagoniza a trama principal (mas nem tão principal assim, se é que me entendem), e achega a câmera deles, fazendo com que a seleção de planos aproximados, primeiros e primeiríssimos planos e, eventualmente, alguns planos detalhes, tornem-nos mais íntimos daquela patota toda, mostrando então que, por mais pífios que sejamos aos olhos do universo, somos nós mesmos que protagonizamos a nossa própria existência, por menor que esta seja.

Claro, a natureza está sempre ali, nos esnobando a todo o instante, mas ainda assim, temos todo o direito de nos colocar à frente de todas as coisas em nossa própria vida. E é justamente nesse ponto que a já citada direção ambígua de Malick atinge o seu momento máximo. Ao mesmo tempo em que o diretor filma os personagens principais com planos fechados, dando total importância a eles, a mixagem de som puxa o tapete da moçada e equaliza os ruídos do cenário de forma desfavorável à raça humana. Notem que, por mais barulhentas que naturalmente seriam as ações dos personagens, os ruídos emitidos pelo vento ou pela água corrente (que, na certa, foram acrescentados pela edição de som) SEMPRE ficam em primeiro plano durante o decorrer da narrativa.

domingo, 25 de setembro de 2011

Da série-que-não-é-bem-uma-série: "caras que fizeram os caras do Nirvana fazer o que fizeram há exatamente um ano e um dia"

Por Daniel Esteves de Barros.


Bom, "Nevermind" vinte aninhos, lindão, maravilha, passou da deprê pós-adolescência pra entrar na deprê pré-adultescênc... digo... pré-adulta. O bebê bonitinho da capa cresceu, virou um caboclo feio pra p*rra (assim como aconteceu comigo, com você (a não ser que você seja uma garota linda e voluptuosa... a propósito, se você for mesmo uma garota linda e voluptuosa, o número de meu celular é... enfim... foco, Daniel! Foco!) e com todo o homem), Kurt Cobain ficou milionário, famoso, casou-se com Courtney Love, foi pai de Frances Bean Cobain e meteu uma bala na própria cabeça, enquanto que Krist Novoselic virou ativista e comentarista político num jornal de certo respeito e Dave Grohl se tornou "só" o frontman de uma banda que é considerada uma das mais importantes do final dos anos '90 e da atualidade, uma tal de Foo Fighters aí... manjam (ah, e o ex-baterista Chad Channing foi... ah, sei lá o que aconteceu com ele)?

Durante os últimos dias (e até mesmo hoje, já que passei a mão no controle remoto agora há pouco, botei na MTV e lá tava o "Nevermind" sendo "homenageado" através de seu líder aloirado engatinhando pra fora do palco do malhado show no Rio, uma das piores apresentações dos caras), muito se falou do então álbum musical mais importante dos anos '90 e do que aconteceu com a moçada que tava envolvida diretamente com ele (a gente (eu nem tanto, pois tinha apenas sete anos, naquela ocasião), que tava envolvido de maneira indireta, acabou se tornando um bando de frustrados, vagabundos, melancólicos e voluntariamente losers, algo que a negada do Nirvana era antes do "Nevermind"). Justo, afinal, ontem, 24 de setembro de 2011, o álbum completou 20 anos... sendo o primeiro aniversário redondo digno e livre pra se comemorar, já que, em 2001, quando o álbum fez exatos 10 anos, a comemoração foi ofuscada um pouquinho (um pouquinho tipo, bastantinho) pelo famigerado "11 de setembro de 2001".

Enfim, tá tudo muito lindo, tá tudo muito belo, tá tudo muito certinho, mas e a galera que inspirou o Nirvana? Como fica? Quando o "Nevermind" estourou, não foi só o conjunto musical mais importante dos últimos 20 anos que estourou. Direta ou indiretamente, voluntaria ou involuntariamente, Kurt & CIA. hypearam ainda mais uma série de bandas indie dos anos '80 que, segundo os próprios caras do Nirvana, influenciaram super nas composições do "Bleach", do "Nevermind" e até mesmo do "In Utero". Tô falando da galera do Dinosaur Jr., do Sonic Youth e, principalmente, dos Pixies (Novoselic afirma até hoje que "Smells Like Teen Spirit" é mais Pixies do que Nirvana, propriamente dito), que ascenderam um pouco com o "Nevermind", atingindo proporções mainstream, e que, depois da febre toda, voltaram um pouqinho à exclusividade da música independente.

Enfim, o "Nevermind" foi merecidíssimamente coroado, mas vou aproveitar a deixa pra postar aqui uns clipes dos maiores inspiradores do Nirvana (além dos Beatles e do Velvet Underground, que inspiraram todo mundo, inclusive os próprios "caras que inspiraram os caras que inspiraram os caras que inspiraram os caras que inspiraram o Nirvana"):

Dinosaur Jr., em Sampa, na Paulista, em plena terça à tarde (!!!!!!!!) e "de grátis": 

 

Dinosaur Jr., no Reading Festival (sim, palco do "eleito melhor show da carreira do Nirvana"): 

 

Pixies - "Here Comes Your Man", lá no Eurockeenes Festival, em Belfort, França:

* Uma das músicas mais hypeadas (se não "a mais hypeada") desta vibe pós-new-wave-pré-grunge, composta pelos maiores inspiradores de Kurt Cobain:

 

Pra dar aquela contrastada esperta com o vídeo acima, "Here Comes Your Man" numa época em que o sucesso dos caras era consideravelmente menor (apesar dos gritos da plateia, que geralmente era formada por um público bem mais alternativo) do que na cola do "Nevermind": 

 

O Sonic Youth, então, nem se fala. Na estrada desde 1981, só foram chamar a atenção da mídia pra valer no começo dos anos 1990, com a clássica "100%" (considerada, por muitos (ou seria só por alguns?), o hino do indie-rock), embalada... adivinhem... pelo sucesso do "Nevermind".

Vamos fazer a distinção da recepção dos caras (e da, ainda guria, Kim) com um vídeo de 1983 (ano em que eu nasci, por sinal) e outro dos tempos do "Nevermind":

Poiters, França, em 1983 (show em um espaço que abrigaria muito bem um circo de quinta categoria):

 

9 anos depois, em pleno Central Park lotado, com direito a alguns gritinhos de histeria, nego dando mosh, Moore literalmente destruindo a guitarra e recebendo aplausos da galera, ao invés de algo mais usual como: "Que é que esse babaca quer pagar pau pro Jimmy Hendrix?", e Kim Gordon já loiraça e gostosa, e tudo mais: 



Fazendo a mesma brincadeira com o Dinosaur Jr., dá uma sacada no espaço apertadérrimo do show dos caras durante o final dos anos '80...

...e no espaço arranjado pela MTV, num show produzido pela mesma emissora, algo que seria raro (pra não dizer humanamente impossível) de se acontecer na era pré-"Nevermind":


Agora dá uma sacada aí embaixo, bem no auge da fama do "Nevermind", toda essa galera tocando rock alternativo no Letterman, pr'alguns milhões de espectadores... e naquela época o Letterman não tocava qualquer hypezinho recém-criado na Inglaterra (sim, tô falando do ótimo Vaccines), não.

Vídeo de época (da época que Letterman e J. Mascis - frontman do Dinosaur - não tinham cabelo branco), a clássica indie "The Wagon" sendo reproduzida no programa noturno estadunidense: 

 

Tem também os Pixies que, dos três, foi sempre o "menos nem-tão-famoso-assim" na era pré-Nirvana. Depois do Nirvana, então, nem se fala no flerte que os caras tiveram com o mainstream

 

E, claro, o Sonic Youth, um dos mais apagados nos anos 1980 e mais glorificados pela mídia no início dos anos 1990. Aqui, o hino noventista que Cobain, Novoselic e Grohl indireta e involuntariamente (ou não) ajudaram a consagrar:



Bom, era mais ou menos isso. Queria pagar de "diferente" mais uma vez e, ao invés de ficar homenageando somente o Nirvana, como tem sido feito na última semana (por coincidência, acabei de ligar a TV e botar na MTV, mais uma vez, e agora estão homenageando o Sonic Youth, com o clipe de "Teenage Riot", e o Dinosaur Jr., com uma versão ao vivo de "Freak Scene", bem  na programação especial dedicada ao Nirvana... acabaram com a minha tentativa de "originalidade"), ou então ilustrar o que mudou na música depois do "Nevermind", preferi mostrar os grupos que colaboraram musicalmente com o segundo álbum oficial da galera mais famosa de Seattle e ressaltar o fato de o disco aniversariante ter retribuído o favor, colocando esse pessoal que, sim, já era muito conhecido no meio alternativo, mas que, até então, mantinha total distância do mainstream e da mídia, de uma forma geral.

Abaixo, dois presentes pra quem aguentou ler isso aqui até o final: show completo dos Pixies, no SWU do ano passado, e do Sonic Youth, em Paris, e que vai botar pra ferver (assim espero) a coisa no SWU deste ano.
Sonic Youth, no Rock em Scéine Festival, em Paris, 27 de agosto de 2004:


Pixies, na primeira edição do Starts With You (vulgo, SWU 2010), em Itu, 11 de outubro de 2010:

sábado, 24 de setembro de 2011

Planeta dos Macacos: A Origem, e o Complexo de Édipo, Marx, Bakunin, A Revolução dos Bichos, A Classe Operária Vai ao Paraíso, a lenda dos feiches e a minha internet zicada... ah, e tem também a (nada) incrível volta temporária (assim espero) ao Blogspot


 Por Daniel Esteves de Barros.

Avaliação: **** (Ótimo Filme).



Título Original: Rise of the Planet of the Apes.
Gênero: Ficção-Científica.
Tempo de Duração: 105 minutos.
Ano de Lançamento: 2011.
Site Oficial: http://www.apeswillrise.com
Países de Origem: Estados Unidos da América.
Direção: Rupert Wyatt.
Roteiro: Ricky Jaffa e Amanda Silver, baseados em personagens criados por Pierre Boulle.
Elenco: Andy Serkis (Cesar), James Franco (Will Rodman), Freida Pinto (Caroline Aranha), John Lithgow (Charles Rodman), Tom Felton (Dodge Landon), Brian Cox (John Landon), Tom Felton (Draco Malfoy), Tyler Labine (Franklin), Jamie Harris (Roy), Leah Gibson (Alyssa Williams), David Oyelowo (Steve Jacobs), Chelah Horsdal (Irena), Karin Konoval (Maurice), Richard Ridings (Buck), Terry Notary (Alfa / Olhos Brilhantes), Jesse Reid (Donnie), Mattie Hawkinson (Linda), Christopher Gordon (Koba) e Devyn Dalton (Cornelia).

Sinopse: San Francisco. Will Rodman (James Franco) é um cientista que trabalha em um laboratório onde são realizadas experiências com macacos. Ele está interessado em descobrir novos medicamentos para a cura do mal de Alzheimer, já que seu pai, Charles (John Lithgow), sofre da doença. Após um dos macacos escapar e provocar vários estragos, sua pesquisa é cancelada. Will não desiste e leva para casa algumas amostras do medicamento, aplicando-as no próprio pai, e também um filhote de macaco de uma das cobaias do laboratório. Logo Charles não apenas se recupera como tem a memória melhorada, graças ao medicamento. Já o filhote, que recebe o nome de César, demonstra ter inteligência fora do comum, já que recebeu geneticamente os medicamentos aplicados na mãe. O trio leva uma vida tranquila, até que, anos mais tarde, o remédio para de funcionar em Charles e, em uma tentativa de defendê-lo, César ataca um vizinho. O macaco é então engaiolado, onde passa a ter contato com outros símios e, cada vez mais, se revolta com a situação (Adoro Cinema).

Rise of the Planet of the Apes – Trailer:


Crítica:

* Primeiro: já assisti a “Planeta dos Macacos” (a versão original, com o Charlton “Ben-Hur” Heston e tal...), “De Volta ao Planeta dos Macacos” e ao malhado “Planeta dos Macacos”, comandado pelo doidão excêntrico do Tim Burton.

* Segundo: isso foi há muiiiiiiiito tempo (tipo, há uns quatro ou cinco pares de anos, não me recordo ao certo), portanto, quase que não me lembro de nadica de nothing das versões anteriores.

* Terceiro: não, o fato de eu não me lembrar de quase que nadica de nothing das versões anteriores em nada me influenciou na apreciação quase que completa desta obra em questão.

* Quarto: sim, se você não assistiu a nenhum dos “Planeta dos Macacos” anteriores, pode correr pro cinema sem medo de ver este “...A Origem”, que você vai curti-lo do mesmo jeito... ou não.

* Quinto: tsc... não tem quinto, vamos parar de enrolar e bora começar a trabalhar logo...

Bom, soltei essa no Twitter e, claro, reproduzo por aqui também: “fazia muito tempo que não via um filme construir tão bem o fenômeno de identificação público/ personagem, sobre os alicerces do Complexo de Édipo, quanto este “Planeta dos Macacos: A Origem” constrói”.

O quê?! Não entenderam p*rra nenhuma?! Oras, e desde quando a crítica de cinema tem a função de explicar, ao invés de complicar? Tamos aqui é pra gerar dúvidas mesmo, e não respostas. Respostas tornam tudo muito óbvio. Querem uma prova? Ok, tornemos a coisa toda bastante óbvia a partir de agora (e, se você não se interessa por teorias malucas envolvendo a linguagem cinematográfica, pule logo pro próximo parágrafo do próximo parágrafo... não, não pro próximo do próximo... mas sim pro próximo do próximo do próximo... isso, pula pra esse aí que começa com “Se essa birutice toda escrita aí...”).

Uma teoria que comento até que bastante por aqui (o que não quer dizer que eu concorde super com ela, mas vá lá...), é a tal da teoria do fenômeno de identificação personagem/público. Como isso ocorre? Bom, tentarei ser breve (tentarei p*rra nenhuma, vocês que leiam tudo, seus folgados!). Começa com o Complexo de Édipo, quando temos uma “paixonite” pela nossa mãe (não, a coisa não vai descambar pro incesto, prometo). Nascemos desprotegidos, em um mundo, até então, desconhecido. Choramos, queremos voltar pro útero, mas isso não rola. Vamos então pros braços da nossa mãe e somos amamentados, resultando no primeiro contato diretamente físico (quer dizer: sem luvas cirúrgicas envolvendo as mãos que nos seguram, ou coisas do tipo) com um ser humano e que nos oferece uma primeira recompensa (o alimento). Como não sentirmos um apreço todo especial por nossa mãe, logo após ela nos envolver nos braços e nos dar um presente de “feliz primeiro dia de vida”? Mas aí chega o pai, todo barbado, soado, fedidão, troglodita, peludo, e o malandrão vai e arranca o nosso “primeiro amor”, passando, involuntariamente, a dividi-la conosco. Cria-se então um embate psicológico escondidinho bem ali, no subconsciente do bebê. O pai não se manca da situação toda, é claro, mas o recém-nascido fica com o “sangue no olho”.

O problema, porém, é a diferença abissal entre os dois pólos dessa “batalha” afetuosa. De um lado, o projenitor, gigante diante de nós, e também detentor dos afetos da signora nostra madre. De outro lado, o bebê, minúsculo, frágil, e com cara de joelho, que malemá sabe fazer outra coisa, senão chorar (e sujar a fralda também... enfim... eu tava falando do Complexo de Édipo e tal... né? Voltemos). Sentiram o drama? Por mais que cresçamos e nos tornemos uns cavalos insensíveis, essa pequena grande “injustiça”, “imposta” pelo nosso “velho”, pra sempre martelará o nosso subconsciente. E é justamente (ou não) por este motivo que nos relacionamos com o lado mais fraco de uma disputa, afinal, sem nem perceber, nos espelhamos sempre nos mais fracos e oprimidos (e você achando que era todo bonzinho porque ficava com dó quando o Seu Madruga batia no Chaves, né?). É justamente (ou não) por este motivo que torcemos pro São Caetano bater o Vasco (a não ser que você seja vascaíno, é claro), na final da pseudo-copa alcunhada João Avelange, em 2001, mesmo não tendo nada (ou não) contra o time carioca da faixa preta diagonal. Por fim, é justamente (ou não) por este motivo que torcemos pra que os mocinhos triunfem nos filmes. Não é uma simples questão moral, mas sim de identificação com a ponta mais fraca da corda (ou alguma vez você já torceu pr’um mocinho derrotar um vilão que impõe desafios relativamente menores à sua capacidade de resolvê-los?).

Se essa birutice toda escrita aí em cima é válida, não me arrisco a dizer (confesso que, apesar de respeitá-la pra burro, considero-a um pouquinho fatalista demais, digamos assim), mas a verdade é que em “Planeta dos Macacos: A Origem” ela parece fazer todo o sentido. Mesmo, essa teoria aparentemente sumariada é posta em prática aqui e funciona toda lindona.

Mesmo! Afinal, por que torceríamos pr’um bando de macacos que se opõem tão conflitantemente à nossa própria raça? A resposta é que, tanto o roteiro, de Amanda Silver e Rick Jaffa, quanto à direção, de Rupert Wyatt, investem satisfatoriamente nas situações às quais o protagonista-chimpanzé Cesar (e também os seus comparsas de jaula) acaba sendo submetido, sofrendo humilhações, sentindo-se excluído, levando surras e, por um tantinhozinho assim, não chega a ficar parecido comigo, em meu ambiente de trabalho.

Mas e quando a macacada começa a botar pra quebrar e kick some asses da moçada comedora de x-burgers e bebedora de milk shakes? Aí, meu amigo, por mais que apoiemos super a causa dessa galerinha peludaça, e com ideais inspirados na contracultura punk (ainda que eles nem façam ideia do que seja isso), o Complexo de Édipo, escondido lá no cantinho do nosso armário cerebral, nos dá mais um puxãozinho de orelha e passamos a torcer pra que a cowboyzada de terno, por mais canalha que se apresente no filme, consiga, ao menos, sair ilesa dos ataques dos símios.

Não é exagero nenhum, por sinal, afirmar que “Planeta dos Macacos: A Origem” é desses filmes em que a gente fica perdidão, decidindo pra quem devemos, de fato, torcer pra vencer o conflito. E isso, é claro, é um ponto extremamente positivo do longa, uma vez que percebemos o quão visível é o poder de redenção do cinema, que utiliza um método tão simples (e tão complexo, ao mesmo tempo) pra fazer com que deixemos um pouco de lado os nossos posicionamentos morais pra nos identificar integralmente com o protagonista anti-herói, o chimpanzé esperto Cesar.

E o pouco conhecido Rupert Wyatt (dirigiu apenas três longas e um curta) parece ter as manhas e dá o tom da coisa toda por aqui. Abrindo o filme com uma perseguição que ganha muita dinâmica através de ângulos que filmam a floresta, palco da ação, em 90º e com a câmera na mão, Wyatt logo utiliza alguns recursos da montagem de Conrad Buff IV e Mark Goldblatt  pra dar agilidade narrativa pra “Planeta... A Origem” já em seu início, quando ilustra uma elipse com um close no olho castanho de uma chimpanzé e a encerra com um zoom out no mesmo olho – mas agora com uma tonalidade mais brilhante (e o nome dado ao bicho, “Olhos Brilhantes”, logo se revela uma clara homenagem ao também ótimo longa original) – resultando quase que num raccord.

Os planos-sequências (que, por sinal, também assumem a função de elipse) que ilustram a evolução etária de Cesar, também são amostras da competência de Wyatt, que, de forma rápida e dinâmica, percorrem longos períodos de três ou cinco anos enquanto mostra o excêntrico “bichinho de estimação” (que o personagem de Franco jura não ser bicho de estimação, mas sim uma espécie de filho pra ele) brincando na casa de seu “proprietário” ou pulando de galho em galho em uma floresta que passa a ser um cenário pra lá de importante pro filme.

E se engana quem pensa que o jovem diretor pára de utilizar certas convenções da linguagem cinematográfica por aí. Wyatt ainda captura o início da farra que a macacada começa a tocar através de tomadas aéreas que ilustram perfeitamente uma área verde sendo dominada por diversos pontinhos negros que começam a se organizar. Há também o emprego de um travelling rotatório de 360º, que torna uma sequência envolvendo um helicóptero ainda mais eletrizante e, pra botar de vez a cereja no bolo (e, se você ainda não assistiu a esse longa, ou ao longa original ou ao do Tim Burton, que seja, pule pro próximo parágrafo, ou dará com os burros n’água, ou melhor, no spoiler que vem a seguir), o modo como o plano final é conduzido, com os chimpanzés no topo de árvores que são filmadas sob uma perspectiva superior à mais alta torre de San Francisco, indicando que, apesar de terem  vencido uma única batalha, os símios já atingiram uma posição que passou a colocá-los num patamar acima de nossa própria civilização, o que viria a resultar no domínio daquela espécie sobre a nossa, tema da produção sessentista.

Falando em tema, se o filme estrelado por Heston dava um ar meio que parecido com o final do ótimo cult italiano “A Classe Operária Vai ao Paraíso” pra coisa toda, neste “Planeta ... A Origem” a tal da “classe operária” acaba sendo mais destacada aqui (no orignal, a “classe operária” daqui assume uma outra função, que não revelarei qual é pra não cometer mais spoilers), começando pelas relações de domínio/submissão. Logo, pequenos grandes detalhes que ilustram tal “embate social” passam a fazer toda a diferença, como a coleira colocada em Cesar, o dedo do vizinho de William apontando pro pai do rapaz, o primeiro beijo que o personagem de Franco tasca na personagem de Freida Pinto (ia botar só o sobrenome da moça, mas ia pegar mal pra burro) e desperta o Complexo de Édipo – ainda que com uma inversão quanto ao sexo – no bicho (mas dessa vez o “Complexo de Édipo” aqui é mais direto, e não tão viajadaço como eu citei lá em cima, no começo do texto). Todos estes detalhes aparentemente corriqueiros colaboram, em maior ou menor grau, pra formação bakunista/marxista (mais marxista do que bakunista, conforme constatamos na máxima “a união faz a força”, representada na estória do graveto entre Cesar e Maurice, extraída da cRássica fábula do fazendeiro e dos quatro filhos...  isso... aquela mesma que você aprendeu no primário) do protagonista literalmente animal.

Outra teoria bacana que se pode sacar assistindo ao filme é a do criador e da cria, ou, de certa forma, do pai e do filho. Assim como nossos pais, Will é a pessoa na qual Cesar se espelha durante a sua infância. Provavelmente, por estar iniciando a sua vida social aos poucos e não ter opinião formada sobre nada, Will (assim como o progenitor de cada um de nós) é a base de Cesar pra tudo, porém, ao abandonar a infância e atingir a pré-adolescência, o chimpanzé (bem como nós mesmos) começa a sentir-se deslocado do mundo o qual foi inserido e nem sempre os dizeres de seu “pai” se encaixam tão bem quanto ele gostaria. A cria passa então a agir de um modo adverso aos ensinamentos do criador, e o último, visando a segurança do primeiro, adota algumas medidas repressoras que não são muito bem compreendidas pelo “filho”, que passa a questionar a sua submissão perante o “pai”.

Porém, a teoria envolvendo uma luta de classes acaba realmente sendo mais plausível aqui e... o quê?! Tá, tá bom, chega de teorias malucas sobre o embate entre homens e animais (que lembra muito um “A Revolução dos Bichos”, do George Orwell, e... tá... tá... parei...) e voltemos ao filme.

Suplementado ainda por efeitos visuais que, longe de serem blasters-mega-powers, como os de um “Avatar” ou os de um “Piratas do Caribe – O Baú da Morte”, conseguem, ao menos, dar vivacidade e movimentos naturais aos chimpanzés digitalmente criados (simplificando: são criados por um processo semelhante ao que deu vida ao Gollum e ao Davy Jones) e por cenas de ação que, apesar de serem poucas, empolgam super quando bem realizadas por Wyatt e engrandecidas pela marcante e poderosa trilha-sonora de Patrick Doyle, “Planeta... A Origem” dá lá as suas pisadas no tomate, principalmente no tocante ao desenvolvimento de seus personagens.

O Will, do recém-indicado ao Oscar: James Franco, é até que interessante, mas tá longe de ser original. É, no final das contas, um cientista bonzinho e politicamente correto que ama o seu macaquinho-cobaia-de-estimação e é impulsionado pela possibilidade de curar o Alzheimer do pai. Já a Caroline, de Freida Pinto, é tão dispensável pra trama que parece ter sido colocada aqui apenas pra mostrar o eficiente clareamento de dentes que a atriz (e vale frisar que a atuação da moça não tá tão longe assim de uma Megan Fox, em “Transformers”, só que menos vulgar e menos (tipo, bemmmm menos) canastrona) fez após a fama alcançada com o apenas passável “Quem Quer Ser um Milionário?”. O Draco Mal... digo... o Tom Felton então, xiiiiii, nem se fala. O cara parece fazer questão de reinterpretar o seu personagem de “Harry Potter” e o roteiro cria uma caricatura insuportável de bad ass em cima do moço, tornando-o ainda mais insuportavelmente exagerado do que já era na saga fílmica inspirada na saga literária de J. K. Rowling. A diferença é que lá ele incomodava bem menos, já que aparecia bem menos.

Há também uma série de absurdos do tipo que nos fazem chamar “truco!” dentro da sala de projeção (ou, como dizem uns amigos meus: “paia!”... embora eu nunca tenha me ligado direito na relação dessa gíria com uma situação mentirosa que nos é apresentada), como o fato de chimpanzés desenvolverem inteligência o bastante para conseguirem falar (????????????????????... é... eu sei...), mas o ponto fraco do longa fica realmente por conta dos personagens unidimensionais e das atuações nada convincentes que o roteiro e seus personagens capengas rendem (salvam-se Franco, com o seu carisma e a sua expressividade habituais, e Serkis, que mesmo mais contido do que na pele do Gollum, ou do próprio “King Kong”, expressa-se bem o bastante pra dar muita vida a seu Cesar, que delineia certinho os momentos de pura empolgação e de pura frustração).

Ainda que não crie um momento tão surpreendentemente marcante como o plano final da produção original, “Planeta dos Macacos: A Origem” é indispensável por revisar de maneira bastante interessante temas que ficaram marcados em clássicos literários, e até mesmo cinematográficos, por conter uma das melhores direções do ano e, principalmente, por colocar em conflito a nossa torcida alternada entre os dois pólos da ação. Afinal: torcemos pelos “mocinhos” rebeldes e idealistas ou pelos vilões conservadores e que, em muitos momentos, utilizam as suas respectivas armas apenas como autodefesa (embora a primeira opção seja sempre a mais coerente e racional, naturalmente)?

Obs.: fiquei sem acesso à net por muito tempo, portanto, é mais do que provável que todo mundo que tá lendo esse artigo ultra-atrasado aqui (que foi publicado umas quatro ou cinco semanas após ser escrito) já saiba que rola uma cena pós-créditos que indica uma possível continuação da obra em questão, né?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

De volta à antiga nova casa

Sou indelicado pra burro.

Nem mencionei por aqui que o domínio próprio do Cine-Phylum voltou a funcionar. Foi quando vi, no Alexa, que este domínio no Blogspot ainda vem recebendo visitantes, que me toquei de que deveria avisar-lhes que voltamos à antiga nova casa, sob o domínio http://www.cinephylum.com.br.

Aguardo vocês lá.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Globo de Ouro 2011 ou: Como Eu Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a P**ra da Previsibilidade da P**ra do Oscar


Ano passado postei uma matéria rápida sobre o Globo de Ouro, afirmando não ter entendido ao certo a vibe deste, já que, pra ir na contra-mão do Oscar, e seus principais termômetros pré-Globo de Ouro, escolheu “Avatar”, um filme extremamente comercial (algo atípico para premiações até mesmo mainstream como é o caso do Golden Globe), pra ser o grande destaque da noite, no lugar de “Guerra ao Terror”.
Neste ano encontro-me numa situação parecidíssima. Não entendi p**ra nenhuma a vibe do Globo de Ouro 2011.
P**ra, por que um prêmio tão do contra, tão fanfarrão, e tão difícil de ser levado a sério (algo que o Oscar também é) foi junto com a maré neste ano?
Sim, teve lá as suas exceções. O compatriota do Chaves (e, falando nisso, Florinda Meza morreu faz algumas horas, hein? Nossa infância vai, aos poucos, se esfacelando), “Biutiful”, por exemplo, perdeu Melhor Filme Estrangeiro pro dinamarquês até então desconhecidérrimo “Em Um Mundo Melhor” (que tem um título bacana e teve parecer totalmente favorável de Pablo Villaça, o que significa que eu preciso assisti-lo o quanto antes). Melissa Leo venceu por “O Lutador”, o que talvez tenha sido a grande (e uma das poucas) surpresa da noite, já que as chances disso acontecer de novo em alguma outra premiação pós-Globo de Ouro são menores do que as chances de Amy Winehouse (que é cantora POP, viu! Cantora POP, não cantora Soul/Jazz/R&B ou qualquer outra bos** que a imprensa julgue/invente ser e os senhores alienadamente possam acreditar) fazer um show com no mínimo 90 minutos de duração.
Ah, a vitória de Paul Giamatti, ao menos pra mim, também foi inesperada pra burro. O Globo de Ouro, comercial do jeito que é, tendia a dar o prêmio a um ator mais in (Johnny Depp) interpretando um personagem mais in (Chapeleiro Louco) em um filme mais in (“Alice no País das Maravilhas”... é, eu sei... não precisava nem ter mencionado o filme... dããããããããã).
No mais, o Globo de Ouro 2011 foi sim junto com a maré e representou tudo o que deverá representar o Oscar deste ano: previsibilidade.
A Rede Social” levou os principais prêmios (Filme Drama, Direção, Roteiro... e até mesmo o inesperado, e injusto, Trilha-Sonora. E, na moral, só não levou Halle Berry, Natalie Portman... ou qualquer outro símbolo sexual que estivesse presente na ocasião... pra cama porque se trata de um filme, e não de um ser humano do sexo masculino e... tá, eu sei, eu sei... a piadinha foi constrangedora). O longa indie cool so fucking stylish do momento, “Minhas Mães e Meu Pai”, levou Melhor Filme Comédia ou Musical e Annette Bening, que na certa deve ter escondido uma bazuca dentro do bisonho cabelo que utilizou durante a cerimônia (e, no lugar dela, e de Helena Bob Dylan Bonham Carter também, eu processaria o cabeleireiro) levou Melhor Atriz Comédia ou Musical.
O quê?! Ah, é claro, como pude me esquecer?! “Toy Story 3” levou Melhor Animação. Colin Firth levou Melhor Ator. Natalie Portman levou Melhor Atriz. Surpreendente, não? Pois é, f*da que, pra pagar de cool, resolvi apostar (de última hora, diga-se, já que levo o Globo de Ouro tão a sério que só fiquei sabendo no último sábado que ele iria ocorrer neste último domingo) em uma vitória de James Franco (e também apostei em uma vitória dele no Oscar em um post que fiz no final de 2010, mas mudei de ideia recentemente após perceber realmente a força que Firth vem ganhando) e Jennifer Lawrence, além de comentar na possibilidade de “Como Treinar o Seu Dragão” vencer a categoria Melhor Animação, mesmo tendo apostado na mais nova produção da Pixar.
Estranho pra c***lho! Só assim pra definir o Globo de Ouro desse ano. Aliás, não só o desse ano, como também os dos demais anos que se passaram e até mesmo os dos que estão por vir.
Globo de Ouro é um porre, viu! É mais previsivelmente imprevisível (ou seria imprevisivelmente previsível? Eis a questão Tostines do momento) que mulher naqueles dias.
Em todo o caso, que venha logo essa p**ra desse Oscar e que David Fincher comemore logo o seu primeiro careca dourado.
O quê?! Ah, é... moral da estória: nunca aposte no não-óbvio achando que ele será o sim-óbvio... hããã?!?! Deixa pra lá, vai... preciso ir dormir... são três da matina e amanhã hoje acordo às sete.
Obs.: Aproveito pra mandar um abraço pra quem é de abraço e um beijo pra quem é de beijo pra galera do Twitter, que acompanhou essa minha transmissão mais do que apagada (ano passado fiz mais piadinhas), em especial pra @maribonfim, pro @peliculatweets e pra moçada do chat do http://totalmentecinefilos.blogspot.com/.
Obs 2.: Não comentei o prêmio especial Cecil B. De Mille em homenagem mais do que justa a Robert Fucking De Niro, pois sou pobre e não tenho TV por assinatura. Logo, fiquei a mercê de um link que, às vezes funcionava, às vezes dava os canos em mim, sendo que, justamente durante a aparição do eterno Touro Indomável, resolveu dar os canos... eita linquezinho filho de uma vaca complicado, sô!
Obs. 3: clique aqui para ver a relação completa dos vencedores desta última edição do Globo de Ouro

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sobre a importância de "De Volta Para o Futuro", várias piadas sem graça e uma resenha que não é resenha

Obs.: Pois é, uma observação logo no início da matéria para que não digam depois que eu não avisei. O texto abaixo (que não tem quaisquer pretensões críticas, ou até mesmo racionais de minha parte) tá lotado de spoilers de toda a natureza, ou seja, se você ainda não assistiu aos três filmes que formam a série cinematográfica “De Volta Para o Futuro”, aconselho que largue a mão de ser um mané sem noção e corra pra locadora mais próxima, cumprindo assim o seu dever cívico como cinéfilo pare de ler este artigo aqui mesmo.
Esses dias assisti à trilogia “De Volta Para o Futuro”.
Sempre começo o meu ano cinematográfico com uma trilogia. Ano passado foi “O Poderoso Chefão”, minha predileta, e neste ano resolvi conferir, pela milésima vez na vida, a porra-louquice do Dr. Brown e a insegurança segura adolescente de Martin Seamus McFly, ou simplesmente Marty McFly (que, para Michael J. Fox, soa como um tipo de one hit wonder, já que o rapaz, até mesmo por problemas de saúde, não conseguiu fazer mais nada que tenha emplacado pra valer).
E por mais que eu prefira “O Poderoso Chefão” e “O Senhor dos Anéis”, não tem jeito, a tríade cinematográfica com direção assinada por Robert Zemeckis foi a que mais marcou a minha vida.
Eu era molecão e tal. Tinha os meus oito, nove anos, sendo que, seis ou sete deles, passei nos anos 1980. A parte II, a predileta da galera na época (e mais pra frente explicarei o porquê), iria passar em uma segunda-feira qualquer de 1993, na Tela Quente. Meu pai fez questão que eu assistisse com ele e beleza, fomos lá nós dois pra frente da TV. Duro que, para o velho (bem menos velho na época... não que ele esteja muito velho agora, mas enfim...) aquilo era como uma honra, tipo pro pai que torce pro XV de Jahu (time da cidade onde moro) levar o coitado do filho pra ver, pela primeira vez, o time jogar uma partida qualquer do campeonato paulista da série Z39, ou sei lá a divisão a qual o XV tá jogando atualmente.
Bom, mas aí eu assisti ao filme e, precisa ver, o meu pai ficava contente ao sacar que eu acompanhava a trama e ia meique auto-explicando os pontos desta, conforme ela se desenrolava. Sabe como é, né? Pai vê o filho fazendo qualquer coisa que ele julgue inteligente e fica contente pra burro... é como se ele perdesse a virgindade pela segunda vez (quê?! Putz, essa foi podre).
Só sei que aí cheguei à escola no dia seguinte e a molecada (aí sim explicando o porquê deles preferirem a segunda parte) toda doida... empolgadaça: “___ Você viu que massa – na época, era uma gíria bem utilizada – o filme de ontem?! Os caras vão pro futuro!”, e o outro aumentava o papo ainda mais exaltado: “___ Ô, e os carros que voavam, hein meu?! E o tubarão que morde o carinha lá e depois desaparece (eles não sabiam o que era um holofote, o que é muito mais do que normal praquela idade)?!”.
Oras, qual outro filme produzido pelo Cinema até então havia nos apresentado a um futuro tão bacana – ainda que brega, com características dos anos 1980, e implausível – quanto “De Volta Para o Futuro – Parte II”? Qual criança, ou pré-adolescente (e por que não dizer: adulto?), não ficaria malucaça diante de skates flutuantes, carros voadores, anúncios de filmes que “saltam” em sua direção, televisores do tamanho de janelas (isso sim é pertinente aos dias atuais, mas não é tão financeiramente acessível assim a ponto de uma família da periferia poder adquiri-lo, conforme sugere o filme) e coleiras automáticas que levam os cachorros pra darem um rolê pelas ruas?
Aí não teve jeito. Eu, mais uma legião de novos fãs, ficamos doidões pela produção de Steven Spilberg. Corri atrás dos outros dois filmes e amei todos. Na época, eu era alienadaço pra Dedéu (pra se ter uma ideia, após assistir ao filme pela 1ª vez passei a tomar somente Pepsi dietética por um bom tempo, sempre influenciado por Marty McFly, é claro) e tinha o péssimo hábito de sempre achar o último episódio de uma cinessérie o melhor de todos (hoje em dia, geralmente (e isso também diz respeito à trilogia em questão), é o contrário). Aliado isso ao fato de eu sempre ter sido fissuradão no mundialmente folclórico oeste longínquo estadunidense, é claro que o terceiro, e último, episódio tornou-se o meu franco favorito dentre os demais. Naquele tempo, era o meu filme predileto; o meu top 1; o meu “The God Fucking Father”; a minha razão de viver; a minha... bom, acho melhor parar por aqui mesmo.
Mas a verdade é que, com essa minha iniciação na saga através do segundo capítulo, e com a minha babação de ovo geral pelo terceiro, tornei-me um jovem cinéfilo. Bitolado no último, assistia a “De Volta Para o Futuro – Parte III” fim de semana sim, noutro fim de semana também (e precisava ver como o dono da locadora ficava feliz da vida com isso). Não deixava, no entanto, de assistir a vários outros filmes, na expectativa de encontrar um parceiro para a trilogia definitiva sobre viagem no tempo, mas não tinha jeito. Marty, Doc. Brown e o cão Einstein (e o cão Copérnico também) – e a Lorraine, versão anos 1950, que fez com que Lea Thompson viesse a ser o primeiro amor platônico cinematográfico de minha vida (e quem diria que eu acabaria virando celibatário... pois é, é a vida, ou melhor... é a razão... ou não), já que ela fazia o meu tipo de mulher preferida: a meiguinha com carinha de santa, mas safadinha... conhecida como meigalinha (Sacaram? Meiga/galinha. Hã? Hã? É, eu sei, eu sei... foi péssima) – eram incomparáveis para mim.
E prum moleque que, naquela época, havia passado mais da metade de seus dias de existência na década tida como a mais dispensável da história da humanidade, era praticamente impossível não amar incondicionalmente todos os três “De Volta Para o Futuro”, já que os filmes eram a cara daqueles tempos. Era como ser adepto do Islamismo e não viajar pra Meca, era como curtir Iron Maiden (também anos 1980) sem chacoalhar a cabeça, era como jogar Atari (pois é, também anos 1980 puríssimo) e não se irritar, e ao mesmo tempo se amarrar, com os sonzinhos típicos dos games 8 bits (parecidíssimos com os solinhos de teclado do novo álbum do Belle & Sebastian), era como... enfim... era como qualquer outra analogia besta que eu possa sugerir por aqui.
Mas fazia um tempão que eu não assistia aos filmes estrelados por J. Fox. Dei uma passada então nas Americanas (e não estou fazendo merchan), vi um Box da trilogia por R$ 19,90 (!!!) e saquei o cartão de crédito na hora. Enrolei um bom tempo para assisti-los e pensei que, com o semi-feriadão de virada do ano, era hora de botar o DVD velho da sala pra funcionar mais uma vez.
E mais uma vez pirei com a trilogia! Só que, dessa vez, inverti totalmente a minha ordem de preferência, passando a considerar o primeiro filme o melhor, e o terceiro o “menos melhor” (é... eu sei... não precisam dar-me aulas de gramática). However, desde o plano-sequência – que, após registrar, através de travellings, vários relógios despertando ao mesmo tempo, nos dá uma prévia do que será a figura excêntrica de Emett Brown e do quão fissurado pelo tempo o velhote nerdão é – que abre o episódio inicial, até a tomada que mostra o trem de Doc. Brown voando em direção à câmera, encerrando assim o terceiro filme, somos presenteados com uma infinidade de cenas que automaticamente viriam a entrar pra história do Cinema.
O que dizer da hilária cena em que, após contar aos filhos como conheceu o marido, Lorraine McFly frustra-se ao ver o esposo rindo feito um idiota ao assistir, pela milésima vez em sua vida, uma comédia antiga pra burro? E os sujeitos pirados que “matam” Doc. Brown guiando uma Kombi (veículo tipicamente ocidental) e usando turbantes (vestimenta tipicamente oriental)? E (minha predileta) o susto que Marty dá em uma típica família rural estadunidense dos anos 1950 após “invadir” o celeiro desta e ser confundido com um E.T.? E o modo como o protagonista usa uma fita do Van Halen pra assustar o pai – dos anos 1950 – e depois se identifica como Darth Vader? E o modo como a mãe – também dos anos 1950 – dá ao garoto o apelido de Calvin Klein? E a cena do esterco envolvendo o brutamontes Biff (que viria a ser sabiamente repetida nos dois últimos episódios)? E o modo como Marty “ensina” Chuck Berry a compor e a tocar “Jhonny B. Good” (Zemeckis, aliás, é especialista neste tipo de incidentes hilários que abalam a história da humanidade e funcionam organicamente, como a gente pode ver em maior grau, mas em menor qualidade, no ótimo “Forrest Gump”)? E (a cena mais conhecida da trilogia) quando Doc. Brown, ao segurar as duas pontas de dois fios, quase é eletrocutado por um raio? E... ah, chega de “E...”!
No mais, é isso. O primeiro episódio tem tudo isso que eu falei aí em cima e muitíssimo mais (muitíssimo mais mesmo). O segundo já segue uma linha mais loucaça (e é impressionante constatarmos a engenhosidade do roteiro, que cria uma p*ta trama em cima de um singelo livro), cheia de suas idas e vindas que se amarram mais do que naturalmente (sem contar o momento mais tenso de toda a saga – Marty, Biff, o Cadilac vermelho, o skate voador, o túnel, o livro e, é claro, o caminhão de estrume – daqueles que, quando acaba, você grita “gol” e corre medir a sua pressão arterial pra ver se tá tudo ok... e, é claro, a já comentada visão futurista otimista e nerdística de Spilberg, Zemeckis e Cia.), enquanto que o terceiro, se comparado aos anteriores, conta com uma estória bacana, mas que fica devendo (é tipo quando você toma uma Heineken, aí depois toma uma Bohemia e, no final, toma uma Bhrama, que é muito boa, mas fica devendo pras outras duas, principalmente pra primeira) e, é claro, o romance entre Doc. Christopher Loiyd Brown e Clara Clayton, que não emplaca nem f****do. Ainda assim, as homenagens a clássicos excepcionais como: “Por um Punhado de Dólares”, “Era Uma Vez no Oeste”, “Matar ou Morrer” e (quem diria, hein?) “Taxi Driver”, o senso de humor impagável (Clint Eastwood), o raccord que “transforma” o Marty McFly que vai de encontro a uma gravura de um grupo de nativos estadunidenses lutando, no Marty McFly que vai realmente de encontro a um grupo de nativos estadunidenses lutando pra valer, a recriação do velho oeste, a cena do trem (que, em termos de tensão, deve muito pouco, mesmo, à cena do túnel no segundo filme) e a destruição do DeLorean (um dos momentos mais tristes da história do Cinema... e aqui confesso que, sem o meu pai (que assistiu ao filme comigo novamente) notar, virei o rosto para enxugar as poucas (foram poucas mesmo, antes que alguém venha me zoar) lágrimas que escorriam dos meus olhos), fazem o filme levar a sua câmera de prata (leia-se: quatro estrelas).
Engraçada, diferente, inteligente, inovadora, revolucionária e, mais importante, divertida, a saga “De Volta Para o Futuro” é a cara dos anos 1980 (note a calça de cintura baixa usada por Marty e a sua jaqueta com cara de colete salva-vidas) e o resumo de uma década que, apesar de bastante falha do ponto de vista artístico, ao menos botava a família toda pra comer pipoca e se entreter na frente da TV.