segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Globo de Ouro 2011 ou: Como Eu Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a P**ra da Previsibilidade da P**ra do Oscar


Ano passado postei uma matéria rápida sobre o Globo de Ouro, afirmando não ter entendido ao certo a vibe deste, já que, pra ir na contra-mão do Oscar, e seus principais termômetros pré-Globo de Ouro, escolheu “Avatar”, um filme extremamente comercial (algo atípico para premiações até mesmo mainstream como é o caso do Golden Globe), pra ser o grande destaque da noite, no lugar de “Guerra ao Terror”.
Neste ano encontro-me numa situação parecidíssima. Não entendi p**ra nenhuma a vibe do Globo de Ouro 2011.
P**ra, por que um prêmio tão do contra, tão fanfarrão, e tão difícil de ser levado a sério (algo que o Oscar também é) foi junto com a maré neste ano?
Sim, teve lá as suas exceções. O compatriota do Chaves (e, falando nisso, Florinda Meza morreu faz algumas horas, hein? Nossa infância vai, aos poucos, se esfacelando), “Biutiful”, por exemplo, perdeu Melhor Filme Estrangeiro pro dinamarquês até então desconhecidérrimo “Em Um Mundo Melhor” (que tem um título bacana e teve parecer totalmente favorável de Pablo Villaça, o que significa que eu preciso assisti-lo o quanto antes). Melissa Leo venceu por “O Lutador”, o que talvez tenha sido a grande (e uma das poucas) surpresa da noite, já que as chances disso acontecer de novo em alguma outra premiação pós-Globo de Ouro são menores do que as chances de Amy Winehouse (que é cantora POP, viu! Cantora POP, não cantora Soul/Jazz/R&B ou qualquer outra bos** que a imprensa julgue/invente ser e os senhores alienadamente possam acreditar) fazer um show com no mínimo 90 minutos de duração.
Ah, a vitória de Paul Giamatti, ao menos pra mim, também foi inesperada pra burro. O Globo de Ouro, comercial do jeito que é, tendia a dar o prêmio a um ator mais in (Johnny Depp) interpretando um personagem mais in (Chapeleiro Louco) em um filme mais in (“Alice no País das Maravilhas”... é, eu sei... não precisava nem ter mencionado o filme... dããããããããã).
No mais, o Globo de Ouro 2011 foi sim junto com a maré e representou tudo o que deverá representar o Oscar deste ano: previsibilidade.
A Rede Social” levou os principais prêmios (Filme Drama, Direção, Roteiro... e até mesmo o inesperado, e injusto, Trilha-Sonora. E, na moral, só não levou Halle Berry, Natalie Portman... ou qualquer outro símbolo sexual que estivesse presente na ocasião... pra cama porque se trata de um filme, e não de um ser humano do sexo masculino e... tá, eu sei, eu sei... a piadinha foi constrangedora). O longa indie cool so fucking stylish do momento, “Minhas Mães e Meu Pai”, levou Melhor Filme Comédia ou Musical e Annette Bening, que na certa deve ter escondido uma bazuca dentro do bisonho cabelo que utilizou durante a cerimônia (e, no lugar dela, e de Helena Bob Dylan Bonham Carter também, eu processaria o cabeleireiro) levou Melhor Atriz Comédia ou Musical.
O quê?! Ah, é claro, como pude me esquecer?! “Toy Story 3” levou Melhor Animação. Colin Firth levou Melhor Ator. Natalie Portman levou Melhor Atriz. Surpreendente, não? Pois é, f*da que, pra pagar de cool, resolvi apostar (de última hora, diga-se, já que levo o Globo de Ouro tão a sério que só fiquei sabendo no último sábado que ele iria ocorrer neste último domingo) em uma vitória de James Franco (e também apostei em uma vitória dele no Oscar em um post que fiz no final de 2010, mas mudei de ideia recentemente após perceber realmente a força que Firth vem ganhando) e Jennifer Lawrence, além de comentar na possibilidade de “Como Treinar o Seu Dragão” vencer a categoria Melhor Animação, mesmo tendo apostado na mais nova produção da Pixar.
Estranho pra c***lho! Só assim pra definir o Globo de Ouro desse ano. Aliás, não só o desse ano, como também os dos demais anos que se passaram e até mesmo os dos que estão por vir.
Globo de Ouro é um porre, viu! É mais previsivelmente imprevisível (ou seria imprevisivelmente previsível? Eis a questão Tostines do momento) que mulher naqueles dias.
Em todo o caso, que venha logo essa p**ra desse Oscar e que David Fincher comemore logo o seu primeiro careca dourado.
O quê?! Ah, é... moral da estória: nunca aposte no não-óbvio achando que ele será o sim-óbvio... hããã?!?! Deixa pra lá, vai... preciso ir dormir... são três da matina e amanhã hoje acordo às sete.
Obs.: Aproveito pra mandar um abraço pra quem é de abraço e um beijo pra quem é de beijo pra galera do Twitter, que acompanhou essa minha transmissão mais do que apagada (ano passado fiz mais piadinhas), em especial pra @maribonfim, pro @peliculatweets e pra moçada do chat do http://totalmentecinefilos.blogspot.com/.
Obs 2.: Não comentei o prêmio especial Cecil B. De Mille em homenagem mais do que justa a Robert Fucking De Niro, pois sou pobre e não tenho TV por assinatura. Logo, fiquei a mercê de um link que, às vezes funcionava, às vezes dava os canos em mim, sendo que, justamente durante a aparição do eterno Touro Indomável, resolveu dar os canos... eita linquezinho filho de uma vaca complicado, sô!
Obs. 3: clique aqui para ver a relação completa dos vencedores desta última edição do Globo de Ouro

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sobre a importância de "De Volta Para o Futuro", várias piadas sem graça e uma resenha que não é resenha

Obs.: Pois é, uma observação logo no início da matéria para que não digam depois que eu não avisei. O texto abaixo (que não tem quaisquer pretensões críticas, ou até mesmo racionais de minha parte) tá lotado de spoilers de toda a natureza, ou seja, se você ainda não assistiu aos três filmes que formam a série cinematográfica “De Volta Para o Futuro”, aconselho que largue a mão de ser um mané sem noção e corra pra locadora mais próxima, cumprindo assim o seu dever cívico como cinéfilo pare de ler este artigo aqui mesmo.
Esses dias assisti à trilogia “De Volta Para o Futuro”.
Sempre começo o meu ano cinematográfico com uma trilogia. Ano passado foi “O Poderoso Chefão”, minha predileta, e neste ano resolvi conferir, pela milésima vez na vida, a porra-louquice do Dr. Brown e a insegurança segura adolescente de Martin Seamus McFly, ou simplesmente Marty McFly (que, para Michael J. Fox, soa como um tipo de one hit wonder, já que o rapaz, até mesmo por problemas de saúde, não conseguiu fazer mais nada que tenha emplacado pra valer).
E por mais que eu prefira “O Poderoso Chefão” e “O Senhor dos Anéis”, não tem jeito, a tríade cinematográfica com direção assinada por Robert Zemeckis foi a que mais marcou a minha vida.
Eu era molecão e tal. Tinha os meus oito, nove anos, sendo que, seis ou sete deles, passei nos anos 1980. A parte II, a predileta da galera na época (e mais pra frente explicarei o porquê), iria passar em uma segunda-feira qualquer de 1993, na Tela Quente. Meu pai fez questão que eu assistisse com ele e beleza, fomos lá nós dois pra frente da TV. Duro que, para o velho (bem menos velho na época... não que ele esteja muito velho agora, mas enfim...) aquilo era como uma honra, tipo pro pai que torce pro XV de Jahu (time da cidade onde moro) levar o coitado do filho pra ver, pela primeira vez, o time jogar uma partida qualquer do campeonato paulista da série Z39, ou sei lá a divisão a qual o XV tá jogando atualmente.
Bom, mas aí eu assisti ao filme e, precisa ver, o meu pai ficava contente ao sacar que eu acompanhava a trama e ia meique auto-explicando os pontos desta, conforme ela se desenrolava. Sabe como é, né? Pai vê o filho fazendo qualquer coisa que ele julgue inteligente e fica contente pra burro... é como se ele perdesse a virgindade pela segunda vez (quê?! Putz, essa foi podre).
Só sei que aí cheguei à escola no dia seguinte e a molecada (aí sim explicando o porquê deles preferirem a segunda parte) toda doida... empolgadaça: “___ Você viu que massa – na época, era uma gíria bem utilizada – o filme de ontem?! Os caras vão pro futuro!”, e o outro aumentava o papo ainda mais exaltado: “___ Ô, e os carros que voavam, hein meu?! E o tubarão que morde o carinha lá e depois desaparece (eles não sabiam o que era um holofote, o que é muito mais do que normal praquela idade)?!”.
Oras, qual outro filme produzido pelo Cinema até então havia nos apresentado a um futuro tão bacana – ainda que brega, com características dos anos 1980, e implausível – quanto “De Volta Para o Futuro – Parte II”? Qual criança, ou pré-adolescente (e por que não dizer: adulto?), não ficaria malucaça diante de skates flutuantes, carros voadores, anúncios de filmes que “saltam” em sua direção, televisores do tamanho de janelas (isso sim é pertinente aos dias atuais, mas não é tão financeiramente acessível assim a ponto de uma família da periferia poder adquiri-lo, conforme sugere o filme) e coleiras automáticas que levam os cachorros pra darem um rolê pelas ruas?
Aí não teve jeito. Eu, mais uma legião de novos fãs, ficamos doidões pela produção de Steven Spilberg. Corri atrás dos outros dois filmes e amei todos. Na época, eu era alienadaço pra Dedéu (pra se ter uma ideia, após assistir ao filme pela 1ª vez passei a tomar somente Pepsi dietética por um bom tempo, sempre influenciado por Marty McFly, é claro) e tinha o péssimo hábito de sempre achar o último episódio de uma cinessérie o melhor de todos (hoje em dia, geralmente (e isso também diz respeito à trilogia em questão), é o contrário). Aliado isso ao fato de eu sempre ter sido fissuradão no mundialmente folclórico oeste longínquo estadunidense, é claro que o terceiro, e último, episódio tornou-se o meu franco favorito dentre os demais. Naquele tempo, era o meu filme predileto; o meu top 1; o meu “The God Fucking Father”; a minha razão de viver; a minha... bom, acho melhor parar por aqui mesmo.
Mas a verdade é que, com essa minha iniciação na saga através do segundo capítulo, e com a minha babação de ovo geral pelo terceiro, tornei-me um jovem cinéfilo. Bitolado no último, assistia a “De Volta Para o Futuro – Parte III” fim de semana sim, noutro fim de semana também (e precisava ver como o dono da locadora ficava feliz da vida com isso). Não deixava, no entanto, de assistir a vários outros filmes, na expectativa de encontrar um parceiro para a trilogia definitiva sobre viagem no tempo, mas não tinha jeito. Marty, Doc. Brown e o cão Einstein (e o cão Copérnico também) – e a Lorraine, versão anos 1950, que fez com que Lea Thompson viesse a ser o primeiro amor platônico cinematográfico de minha vida (e quem diria que eu acabaria virando celibatário... pois é, é a vida, ou melhor... é a razão... ou não), já que ela fazia o meu tipo de mulher preferida: a meiguinha com carinha de santa, mas safadinha... conhecida como meigalinha (Sacaram? Meiga/galinha. Hã? Hã? É, eu sei, eu sei... foi péssima) – eram incomparáveis para mim.
E prum moleque que, naquela época, havia passado mais da metade de seus dias de existência na década tida como a mais dispensável da história da humanidade, era praticamente impossível não amar incondicionalmente todos os três “De Volta Para o Futuro”, já que os filmes eram a cara daqueles tempos. Era como ser adepto do Islamismo e não viajar pra Meca, era como curtir Iron Maiden (também anos 1980) sem chacoalhar a cabeça, era como jogar Atari (pois é, também anos 1980 puríssimo) e não se irritar, e ao mesmo tempo se amarrar, com os sonzinhos típicos dos games 8 bits (parecidíssimos com os solinhos de teclado do novo álbum do Belle & Sebastian), era como... enfim... era como qualquer outra analogia besta que eu possa sugerir por aqui.
Mas fazia um tempão que eu não assistia aos filmes estrelados por J. Fox. Dei uma passada então nas Americanas (e não estou fazendo merchan), vi um Box da trilogia por R$ 19,90 (!!!) e saquei o cartão de crédito na hora. Enrolei um bom tempo para assisti-los e pensei que, com o semi-feriadão de virada do ano, era hora de botar o DVD velho da sala pra funcionar mais uma vez.
E mais uma vez pirei com a trilogia! Só que, dessa vez, inverti totalmente a minha ordem de preferência, passando a considerar o primeiro filme o melhor, e o terceiro o “menos melhor” (é... eu sei... não precisam dar-me aulas de gramática). However, desde o plano-sequência – que, após registrar, através de travellings, vários relógios despertando ao mesmo tempo, nos dá uma prévia do que será a figura excêntrica de Emett Brown e do quão fissurado pelo tempo o velhote nerdão é – que abre o episódio inicial, até a tomada que mostra o trem de Doc. Brown voando em direção à câmera, encerrando assim o terceiro filme, somos presenteados com uma infinidade de cenas que automaticamente viriam a entrar pra história do Cinema.
O que dizer da hilária cena em que, após contar aos filhos como conheceu o marido, Lorraine McFly frustra-se ao ver o esposo rindo feito um idiota ao assistir, pela milésima vez em sua vida, uma comédia antiga pra burro? E os sujeitos pirados que “matam” Doc. Brown guiando uma Kombi (veículo tipicamente ocidental) e usando turbantes (vestimenta tipicamente oriental)? E (minha predileta) o susto que Marty dá em uma típica família rural estadunidense dos anos 1950 após “invadir” o celeiro desta e ser confundido com um E.T.? E o modo como o protagonista usa uma fita do Van Halen pra assustar o pai – dos anos 1950 – e depois se identifica como Darth Vader? E o modo como a mãe – também dos anos 1950 – dá ao garoto o apelido de Calvin Klein? E a cena do esterco envolvendo o brutamontes Biff (que viria a ser sabiamente repetida nos dois últimos episódios)? E o modo como Marty “ensina” Chuck Berry a compor e a tocar “Jhonny B. Good” (Zemeckis, aliás, é especialista neste tipo de incidentes hilários que abalam a história da humanidade e funcionam organicamente, como a gente pode ver em maior grau, mas em menor qualidade, no ótimo “Forrest Gump”)? E (a cena mais conhecida da trilogia) quando Doc. Brown, ao segurar as duas pontas de dois fios, quase é eletrocutado por um raio? E... ah, chega de “E...”!
No mais, é isso. O primeiro episódio tem tudo isso que eu falei aí em cima e muitíssimo mais (muitíssimo mais mesmo). O segundo já segue uma linha mais loucaça (e é impressionante constatarmos a engenhosidade do roteiro, que cria uma p*ta trama em cima de um singelo livro), cheia de suas idas e vindas que se amarram mais do que naturalmente (sem contar o momento mais tenso de toda a saga – Marty, Biff, o Cadilac vermelho, o skate voador, o túnel, o livro e, é claro, o caminhão de estrume – daqueles que, quando acaba, você grita “gol” e corre medir a sua pressão arterial pra ver se tá tudo ok... e, é claro, a já comentada visão futurista otimista e nerdística de Spilberg, Zemeckis e Cia.), enquanto que o terceiro, se comparado aos anteriores, conta com uma estória bacana, mas que fica devendo (é tipo quando você toma uma Heineken, aí depois toma uma Bohemia e, no final, toma uma Bhrama, que é muito boa, mas fica devendo pras outras duas, principalmente pra primeira) e, é claro, o romance entre Doc. Christopher Loiyd Brown e Clara Clayton, que não emplaca nem f****do. Ainda assim, as homenagens a clássicos excepcionais como: “Por um Punhado de Dólares”, “Era Uma Vez no Oeste”, “Matar ou Morrer” e (quem diria, hein?) “Taxi Driver”, o senso de humor impagável (Clint Eastwood), o raccord que “transforma” o Marty McFly que vai de encontro a uma gravura de um grupo de nativos estadunidenses lutando, no Marty McFly que vai realmente de encontro a um grupo de nativos estadunidenses lutando pra valer, a recriação do velho oeste, a cena do trem (que, em termos de tensão, deve muito pouco, mesmo, à cena do túnel no segundo filme) e a destruição do DeLorean (um dos momentos mais tristes da história do Cinema... e aqui confesso que, sem o meu pai (que assistiu ao filme comigo novamente) notar, virei o rosto para enxugar as poucas (foram poucas mesmo, antes que alguém venha me zoar) lágrimas que escorriam dos meus olhos), fazem o filme levar a sua câmera de prata (leia-se: quatro estrelas).
Engraçada, diferente, inteligente, inovadora, revolucionária e, mais importante, divertida, a saga “De Volta Para o Futuro” é a cara dos anos 1980 (note a calça de cintura baixa usada por Marty e a sua jaqueta com cara de colete salva-vidas) e o resumo de uma década que, apesar de bastante falha do ponto de vista artístico, ao menos botava a família toda pra comer pipoca e se entreter na frente da TV.