sábado, 21 de fevereiro de 2009

O Visitante - **** de *****

Juro que procurei o título nacional deste filme, na esperança de que houvessem lançado o mesmo, mas não o encontrei de forma alguma. Acredito que "O Visitante" mesmo seria mais do que apropriado. Ou melhor, quem sabe "Os Visitantes" seria um título ainda mais apropriado, tendo em vista que, tanto Walter (Richard Jenkins), quanto Tarek (Haaz Sleiman), eram visitantes um do outro. Só espero que, quando for lançado aqui no Brasil, o filme não ganhe nenhum título bizarro como: "O Tocador de Tambor", ou coisa do tipo.

Crítica:

"The Visitor", infelizmente, cometeu o mesmo erro que muitos filmes atuais vem cometendo: conta com aquela promoção: "pague por 1 muito bem feito e assista a 2 não tão bem feitos". Este é o caso do fraco "Austrália", só para citar um exemplo. Mas se tem uma coisa que "The Visitor" não é: é ser um filme fraco. Muito longe disso, mas muito longe mesmo. O filme de Thomas McCarthy é uma obra acima da média e merece todo o respeito o possível. O roteiro, por exemplo, merecia estar concorrendo a "Melhor Roteiro Original", mas acabou cedendo lugar a muitos outros filmes indignos do mesmo.

Começamos com Walter, um professor universitário extremamente frio e solitário. Sua esposa faleceu há algum tempo e isso evidentemente deixou "buracos" em sua vida. Ele passa a ter dificuldades gigantescas em se relacionar com os seus semelhantes, o que o torna uma pessoa bastante insensível, como podemos reparar na cena em que ele dispensa a professora de piano do modo mais frígido o possível.

O professor vai a serviço a Nova York e passa por um incidente: o apartamento que está em seu nome encontra-se locado, sem ele ter ciência disso, a um casal de imigrantes ilegais, Tarek e Zainab. Após uma breve confusão, a situação se esclarece e os "visitantes" de Walter decidem ir embora. É aí que passamos a notar um resquício de humanismo no velho catedrático, quando este propõe ao casal que passe um tempo hospedado em seu apartamento.

Durante esta convivência fria, em virtude do caráter de Walter, o professor se surpreende ao descobrir em Tarek um dom que lhe atrai muito: tocar tambor perfeitamente bem. Ao notar o interesse do dono do apartamento pelos seus dons, o jovem imigrante passa a ensinar ao velho tudo o que sabe. O professor universitário descobre na música a razão de existir. O filme ganha um ritmo fabuloso, uma sensibilidade incomparável, torna-se um objeto de Arte dos mais fantásticos de se apreciar. A relação entre Tarek e Walter se torna excepcional e é incrível podermos reparar o modo como a música os une e torna a vida de ambos mais preenchida.

Aí, quando passamos a adorar o filme (e confesso que estava pensando em dar uma nota 10,0 ao mesmo enquanto o assistia até então), surge uma estória completamente diferente. Um incidente nada bom ocorre com Tarek e ele passa a precisar da ajuda de Walter. A partir daí, o professor passa a ser o visitante, aquele que vai ver o amigo estrangeiro com uma certa frequência no lugar desagradável onde este encontra-se. A magia que o filme nos passava em seu início cai bastante, mas não há como não continuarmos dando crédito ao longa, ainda que não seja tanto o quanto era dado antes, em razão de sua interessante abordagem: o xenofobismo (ainda que não em sua forma mais crua e cruel) que o governo estadunidense se vê obrigado a adotar.

Com o 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos da América tiveram que adotar uma política xenofóbica, principalmente contra os estrangeiros oriundos de países mulçumanos, e isso fez com que muitas pessoas que tinham o sonho de crescer na terra das oportunidades, fossem deportadas para casa. E por mais cruel que seja a atitude do governo estadunidense, não há como não entendermos o lado deles, afinal de contas, qual nação no mundo não agiria da mesma forma (e por aí vocês podem notar que nem sempre sou o pseudo-intelectual com mania de perseguição aos Estados Unidos da América, as vezes dou parecer favorável a certas atitudes adotadas pela maior potência econômica mundial (por pouco tempo, mas ainda é a maior potência econômica), e esta é uma delas)?

"The Visitor" se revela então uma obra cinematográfica mais do que interessante no que diz respeito à abordagem da imigração ilegal, mas, francamente, o roteiro de Thomas McCarthy (e mais uma vez eu digo, deveria estar concorrendo ao Oscar), inteligente como demonstra ser, não deveria ter encerrado uma trama e iniciado outra de modo tão abrupto. McCarthy deveria ter nos dado, ao menos, uma pequena pista de que, mais cedo ou mais tarde, a trama envolvendo o encontro de Walter com a música iria se encerrar e passar a dar ênfase ao preconceito com que os imigrantes são tratados. Ou então deveria simplesmente ter desenvolvido um pouco mais a trama inicial.

De uma forma ou de outra, seja contando um drama existêncial (Walter e a música), seja contando um drama político-social (os imigrantes ilegais), o roteiro de Thomas McCarthy se mostra fenomenal. E McCarthy não merece crédito apenas pelo roteiro, como também por sua direção que, apesar de não criar ângulos magistrais, confere à trama toda a sensibilidade necessária. O elenco se mostra bastante satisfatório, sobretudo Richard Jenkins que encarna muito bem um homem triste e racional ao extremo que passa a ver na música e em Tarek, Zainab e em uma outra mulher que não irei descrever, sob pena de tirar a carga dramática do filme, o propósito para a sua vida vazia. Contudo, não creio que o trabalho de Jenkins seja digno de uma indicação ao Oscar, mas enfim, se essa é a única maneira que a Academia encontrou para reconhecer o brilhantismo do filme em questão, tudo bem. É claro que uma indicação a "Melhor Roteiro Original" viria mais a calhar, mas quem sou eu para dizer isso?

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.

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