segunda-feira, 30 de junho de 2008

Crítica - Fim dos Tempos

Um dos motivos que mais me despertou curiosidade em assistir a este “Fim dos Tempos” foi a polêmica alastrada em torno do mesmo. Não, a polêmica não gira necessariamente em torno de qualquer questão interna abordada pelo filme, mas sim em torno das críticas e opiniões populares levantadas em cima do mesmo. Odiado pela maioria e amado por uma minoria, “Fim dos Tempos” acabou despertando o interesse em mim graças a essa divisão de opiniões. O problema é que, ao terminar de assistir à obra de Shyamalan, acabei ficando em cima do muro, mas não por receio de dar uma opinião positiva ou negativa e sim pelo simples fato de o filme ser simplesmente medíocre (e não falo no sentido pejorativo da palavra) e nada mais. Pedindo desculpas adiantadas ao leitor pelo péssimo trocadilho que irei realizar agora, digo que todas as polêmicas levantadas em cima de “Fim dos Tempos” acabam fazendo muita ventania por nada.



Ficha Técnica:
Título Original: The Happening
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 91 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2008
Site Oficial: www.fimdostempos-ofilme.com.br
Estúdio: 20th Century Fox Film Corporation / Barry Mendel Productions / Spyglass Entertainment / Blinding Edge Pictures / UTV Motion Pictures
Distribuição: 20th Century Fox Film Corporation
Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan
Produção: Barry Mendel, Sam Mercer e M. Night Shyamalan
Música: James Newton Howard
Fotografia: Tak Fujimoto
Desenho de Produção: Jeannine Claudia Oppewall
Direção de Arte: Anthony Dunne
Figurino: Betsy Heimann
Edição: Conrad Buff IV
Efeitos Especiais: Industrial Light and Magic / CafeFX / The Third Floor / Quantum Creation FX
Elenco: Mark Wahlberg (Elliot Moore), Zooey Deschanel (Alma Moore), John Leguizamo (Julian), Ashlyn Sanchez (Jess), Betty Buckley (Sra. Jones), Spencer Breslin (Josh), Jeremy Strong (Recruta Auster), Alan Ruck (Diretor), M. Night Shyamalan (Joey), Robert Lenzi (Jake), Edward James Hyland (Prof. Kendall Wallace) e Stephen Singer (Dr. Ross).


Sinopse: Após uma série de inexplicáveis suicídios em massa, o professor Elliot Moore (Mark Wahlberg) decide, junto com a esposa Alma Moore (Zooey Deschanel) abandonar a cidade em que reside e partir para o campo, onde crê que estará a salvo de tais acontecimentos. Contudo, é justamente nesta região do globo terrestre que o estranho fenômeno passa a ocorrer com mais intensidade, criando um estado de pânico e calamidade pública, obrigando o casal a fugir para salvar a própria vida.


The Happening - Trailer


Crítica:


Fim dos Tempos” é mais um destes filmes egoístas onde um gigantesco número de pessoas corre sério risco de vida, mas o roteiro insiste em voltar a atenção apenas a um minúsculo grupo de pessoas (no caso, os protagonistas da estória) e cabe a nós, espectadores, torcer para que este pequenino grupo consiga se manter vivo até o desfecho da estória, pouco nos importando o que venha a acontecer com os demais personagens. Em outras palavras, “Fim dos Tempos” (e que titulizinho mais marqueteiro e megalomaníaco este, não?) é um filme que lembra bastante “Guerra dos Mundos”, com a diferença de que aqui os predadores não são alienígenas e sim as plantas.


É isso mesmo que o leitor leu: plantas. Ao invés de seres bizarros ameaçando a humanidade, temos vegetais que, a fim de preservar a própria espécie (já que o ser humano ameaça a natureza constante e diariamente), organizam um complô contra a nossa raça liberando toxinas que inibem os instintos de autodefesa humana fazendo com que todas as pessoas infectadas com a substância lançada pelas plantas cometam suicídio (hã?).


Pois é, a estória extrapola os limites do absurdo, mas ainda assim não há como negar a originalidade da mesma e, por mais inverossímil que o argumento soe, ele tem um pouco (bem pouco, diga-se) de coerência, sendo que a natureza “vinga-se” do Homem com certa freqüência através dos desastres naturais (vide o Furacão Katrina, apenas para citar um exemplo), ainda que não o faça voluntariamente, conforme sugere o filme.


Muito se tem reclamado também de certas cenas do longa como, por exemplo, a seqüência onde um grupo de pessoas foge do vento. Pois onde muitos críticos vêem uma cena ridícula eu vejo uma cena comum, afinal de contas, o que mais poderia se esperar? Que as plantas disparassem tiros de raio laser ou liberassem um gás visível e venenoso? É lógico que se estas quisessem lançar uma toxina contra os seres humanos elas o fariam através do vento, portanto, não notei nada demais na cena, a não ser, é claro, na capacidade que Shyamalan teve para criar uma seqüência ligeiramente tensa (e já digo que era obrigação do diretor indiano ter conferido muito mais tensão ao espectador durante o desenrolar de tal seqüência) sem precisar fazer uso de efeitos especiais mirabolantes ou CGI.


Outro ponto fortíssimo do filme (e provavelmente é a maior qualidade do mesmo) reside na capacidade que este tem de criar um clima claustrofóbico e angustiante sendo que, ironicamente, 85% de sua projeção é realizada em ambientes abertos e, ao contrário da grande maioria de filmes de suspense/horror, “Fim dos Tempos” é realizado quase que inteiramente em locações abertas, fato que condiz plenamente com a sua sinopse.


Mas para que um filme deste gênero seja considerado, no mínimo, bom, é mais do que obrigatório que o mesmo contenha cenas fortes e impactantes, capazes de deixar o espectador tenso. E para deixar o espectador tenso, não basta apenas criar um clima angustiante, deve-se conseguir dar origem a cenas que causem impacto em quem está do outro lado da telona. Infelizmente, “Fim dos Tempos” conta com pouquíssimas cenas desta natureza, tais como o suicídio coletivo no Central Park e a seqüência em que nos deparamos com várias pessoas enforcadas em diversas árvores.


No final das contas, este “Fim dos Tempos” se equipara (mais uma vez peço desculpas pelo trocadilho de mau gosto) àquele vento que bate em seu rosto em uma manhã de agosto. Enquanto você sente a corrente de ar em sua face, obviamente tem ciência desta, depois que passa você simplesmente esquece que a sentiu há pouquíssimos minutos atrás.


Avaliação Final: 5,0 na escala de 10,0.


sexta-feira, 27 de junho de 2008

Crítica - Lavoura Arcaica


Lavoura Arcaica é sobretudo uma experiência sensorial. Diante da tarefa hercúlea de adaptar o inadaptável, Luiz Fernando Carvalho não se curvou aos desafios, tentando simplificar a linguagem complexa da obra de Raduan Nassar. Em vez disso, Carvalho dispôs-se a abraçá-los, criando assim, um filme que punge diante dos olhos, ouvidos e (por que não?) da pele, olfato e paladar do espectador.
Como a própria sinopse trata de expor, Lavoura Arcaica é uma versão ao avesso da parábola do filho pródigo. André, sufocado pela rigidez do pai, foge de casa e instala-se num quarto de pensão. Pedro, seu irmão mais velho, recebe da mãe a tarefa de trazê-lo de volta. A partir daí a história começa a ser narrada através de fluxos de consciência (flashback seria uma forma simplória demais para descrever o modo como Carvalho desenvolve a narrativa) do protagonista. Porém, mais do que a simples fuga do autoritarismo paterno, André tenta fugir de sua própria vida, do destino que lhe privou do amor de sua irmã e que o sufoca cada vez mais. Não é à toa que vemos regularmente o menino André e, posteriormente, o rapaz André enfiando os pés na terra a fim de encontrar ali refúgio daquele ambiente conservador que o rodeia. O interior vira exterior e vice-e-versa.
Aqui, as palavras parecem ter vida própria, saltam da boca das personagens direto para chocar ou reprimir. Assim como no livro, elas pulsam e, por vezes, abrem chagas incapazes de cicatrizarem-se, como na antológica cena da discussão de André com o pai ou naquela onde, após consumar o incesto, ele faz um discurso forte diante de sua irmã, Ana. Mas Carvalho não se torna refém das palavras, muito pelo contrário, o diretor usa a imagem como elemento fundamental desta narrativa e o faz de forma tão brilhante que, não raramente, dispensa as palavras; como na cena inicial onde vemos André semi nu entre gemidos de dor e prazer e, ao fundo, um barulho de trem. Não precisamos de palavras para deduzi que ele é um indivíduo em fuga e com conflitos sexuais; ou a cena em que a mãe o acorda com carícias que transbordam a tela num jorro de luz, as palavras são desnecessárias, as imagens falam por si.
Dessa forma, não foi à toa que afirmei que este filme é uma experiência sensorial, cada elemento seu assume vida própria e, juntos, combinam-se para formar um filme contundente e radical. A fotografia excepcional de Walter Carvalho flui de modo hipnotizante, mergulhando o espectador não apenas no clima da cena, mas principalmente na psique das personagens. Por vezes, a vista fica embaçada diante da luz pungente de uma cena e logo em seguida as pupilas se dilatam no quadro iluminado apenas por uma lamparina. A trilha sonora que utiliza suspiros e gemidos das personagens ou ruídos dos ambientes potencializa de forma perfeita as soberbas atuações de todo o elenco; do comovente desempenho de Juliana Carneiro da Cunha, passando pela atuação áspera de Raul Cortez, a rebeldia naturalista do André de Selton Mello à arrebatadora performance de Simone Spoladore.
Uma das grandes revelações do filme, Simone, mesmo sem dizer uma palavra durante toda a projeção, é um dos pontos altos do longa; uma atriz que interpreta com os olhos, com o corpo, é impossível ficar imune a sua presença em cena. Spoladore é uma força da natureza, e a cena final em que ela dança numa festa é impressionante.
Um filme tão forte só poderia contar com uma direção idem. Luiz Fernando Carvalho conduz a narrativa de maneira primorosa; seus enquadramentos transportam-nos para dentro do filme. Quando André cheira as peças íntimas das suas irmãs, é como se nós sentíssemos o mesmo aroma que ele; quando enfia os pés na terra, podemos sentir a areia úmida e fofa penetrar entre nossos dedos, quando ele e Ana se amam na casa abandonada, somos capazes de sentir o toque aveludado da pele da irmã. Mas ao contrário do que muitos afirmam isso não é simples preciosismo. Nenhuma imagem é bela em sua essência sem que se encaixe como peça fundamental do enredo. E se retirássemos esse dito preciosismo do filme seria o mesmo que tirar as asas de um pássaro.
Sinceramente, não sei se é exagero afirmar que Lavoura Arcaica é o melhor filme brasileiro de todos os tempos, até porque palavras são insuficientes e precárias para descrevê-lo. Mas não custa nada repetir que este filme é uma obra-prima do cinema nacional e mundial.


Avaliação Final: ***** (5 estrelas na escala de 5).

Crítica - As Crônicas de Nárnia - Príncipe Caspian

Quando temos ciência de que uma trilogia ou uma saga cinematográfica terá o seu início, pensamos imediatamente que o episódio de abertura da mesma será o melhor de todos, sendo que o nível da mesma irá cair com os seus episódios posteriores que, geralmente, não conseguem manter a qualidade do original. Foi assim com a trilogia “O Poderoso Chefão” e a saga “Rocky” (e, sinceramente, nunca vi tanta queda de qualidade de um filme para o outro, quanto do ridículo quarto episódio da saga “Rocky” para o primeiro, que é praticamente perfeito), apenas para citar dois exemplos. Contudo, vez ou outra surgem algumas sagas que contrariam a regra, como é o caso deste “As Crônicas de Nárnia”. Se o episódio de abertura da mesma é simplesmente o pior filme de fantasia que já tive o desprazer de assistir, este segundo episódio é, por mais inacreditável que possa parecer, um ótimo representante do gênero. E agora pasmem com a minha afirmação, o longa não só é ótimo, como também é o melhor blockbuster do ano até o momento e, me apedrejem se assim almejarem, um dos melhores da década, como poderão conferir na análise logo mais abaixo.





Ficha Técnica:
Título Original: The Chronicles of Narnia: Prince Caspian
Gênero: Aventura
Tempo de Duração: 147 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2008
Site Oficial: www.disney.com.br/cinema/narnia2
Estúdio: Walt Disney Pictures / Walden Media / Ozumi Films / Silverbell Films / Stillking Films
Distribuição: Walt Disney Studios Motion Pictures / Buena Vista International
Direção: Andrew Adamson
Roteiro: Christopher Markus, Andrew Adamson e Stephen McFeely, baseado em livros de C.S. Lewis
Produção: Andrew Adamson, Mark Johnson e Philip Steuer
Música: Harry Gregson-Williams
Fotografia: Karl Walter Lindenlaub
Desenho de Produção: Roger Ford
Direção de Arte: David Allday, Matthew Gray, Klara Holubova, Jules Cook, Stuart Kearns, Jill Cormack, Elaine Kusmishko, Charles Leatherland, Phil Simms, Jirí Sternwald, Frank Walsh e Jason Knox-Johnston
Figurino: Isis Mussenden
Edição: Sim Evan-Jones
Efeitos Especiais: Weta Digital / Baseblack / Escape Studios / Moving Picture Company / Framestore CFC / Giant Studios / Rising Sun Pictures / ScanlineVFX
Elenco:
William Moseley (Peter Pevensie), Ben Barnes (Príncipe Caspian), Skandar Keynes (Edmund Pevensie), Anna Popplewell (Susan Pevensie), Georgie Henley (Lucy Pevensie), Sergio Castellitto (Rei Miraz), Peter Dinklage (Trumpkin), Warwick Davis (Nikabrik), Vincent Grass (Dr. Cornelius), Pierfrancesco Favino (General Glozelle), Cornell John (Glenstorm), Damián Alcázar (Lorde Sopespian), Alicia Borrachero (Rainha Prunaprismia), Simón Andreu (Lorde Schythley), Predrag Bjelac (Lorde Donnon), David Bowles (Lorde Gregoire), Juan Diego Montoya Garcia (Lorde Montoya), Klára Issová (Hag), Tilda Swinton (Feiticeira Branca) e Liam Neeson (Aslan - voz).


Sinopse: Um ano depois os irmãos Lucy (Georgie Henley), Edmund (Skandar Keynes), Susan (Anna Popplewell) e Peter (William Moseley) retornam ao mundo de Nárnia, onde já se passaram 1300 anos desde sua última visita. Durante sua ausência Nárnia foi conquistada pelo rei Miraz (Sergio Castellitto), que governa o local sem misericórdia. Os irmãos Pevensie então conhecem Caspian (Ben Barnes), o príncipe de direito de Nárnia, que precisa se refugiar por ser procurado por Miraz, seu tio. Decididos a destronar Miraz, o grupo reúne os narnianos restantes para combatê-lo.


The Chronicles of Narnia: Prince Caspian - Trailer


Crítica:


Sinceramente, creio que não há como não notarmos as evoluções artísticas e técnicas deste segundo episódio da saga “As Crônicas de Nárnia” sobre o primeiro. Se o filme original era patético, ridículo, enfadonho, cansativo, desprovido de emoção e irritante, este segundo episódio surpreende e se mostra infinitamente superior àquela ofensa à Sétima Arte realizada em 2005.


Diferentemente do primeiro episódio, este “Príncipe Caspian” (que será chamado por mim desta forma de agora em diante) conta com um roteiro competente que, apesar de conter suas falhas (conforme citarei mais abaixo), nos apresenta a uma estória interessante e bem desenvolvida, tal como seus personagens, além de conferir seqüências de aventura que realmente se mostram capazes de criar tensão no espectador (ao contrário do primeiro que, em momento algum se releva capaz de fazer isso).


Mas não foi apenas o roteiro de “Príncipe Caspian” que apresentou uma visível e relevante melhora, vários outros aspectos, tanto os técnicos quanto os artísticos, se mostraram infinitamente superiores, como é o caso das atuações, por exemplo. Sim, por mais incrível que isso aparente ser, os atores (todos eles, sejam os integrantes do elenco mirim ou não) nos brindam (sem aspas, desta vez) com atuações satisfatórias, inclusive Georgie Henley e Skandar Keynes (atores que eu havia criticado ferrenhamente no episódio anterior). É surpreendente vermos como o segundo evoluiu durante estes três últimos anos, Keynes amadureceu tanto que realiza aqui uma das melhores atuações do filme. Henley, apesar de não realizar uma atuação tão satisfatória quanto os demais atores (há algumas cenas em que ela continua sendo irritante e canastrona como antes, diga-se) não atrapalha tanto quanto atrapalhava no longa original. Parte disto deve-se ao roteiro que, diferentemente de “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, retirou da personagem Lucy a responsabilidade de ser a protagonista da estória, conferindo esta a Peter. E já que mencionei o nome de Peter Pevensie devo dizer que a atuação de William Moseley é, de longe, uma das maiores qualidades do longa. O jovem ator chama para si a responsabilidade de protagonista do filme e cumpre tal função de maneira mais do que satisfatória.


Contudo, a maior evolução deste “Príncipe Caspian” fica por conta da (pasmem!) direção do mesmo. Sim, isso mesmo, não estou sob o efeito de alucinógenos ou coisa do tipo, a mesmíssima direção de Andrew Adamson que, ao menos para mim, era um dos maiores defeitos de “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa” se revela (em uma das maiores ironias de minha vida como cinéfilo) uma das grandes qualidades deste “Príncipe Caspian”. Desta vez, Adamson parece ter aprendido a lição de que não adianta absolutamente nada criarmos batalhas épicas se não soubermos dirigi-las com dignidade. Se as batalhas deste segundo episódio da saga já seriam fantásticas por si só, Adamson as torna ainda mais magistrais com a sua direção ágil, dinâmica e eficiente.


Infelizmente, nem tudo são rosas em “Príncipe Caspian”. O mesmo roteiro que nos apresenta a uma estória interessante e a desenvolve bem, peca gravemente durante o primeiro ato, quando as crianças retornam a Nárnia. Durante os quarenta primeiros minutos de projeção temos a mesma sensação que tivemos ao conferir os quarenta primeiros minutos do longa anterior: a de que estamos sendo enrolados. Felizmente tal sensação some completamente com o desenrolar da obra cinematográfica.


Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.


domingo, 22 de junho de 2008

Crítica - As Crônicas de Nárnia - o Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupas

Desde que me dou por gente sou fã incondicional de tudo o que tenha uma forte dose de fantasia em seu contexto. Para se ter uma idéia, “Caverna do Dragão” era o meu desenho predileto quando criança. Quando fiquei sabendo que este “As Crônicas de Nárnia” havia sido o maior inspirador de “Caverna do Dragão” e que eu nem ao menos havia lido o livro de C.S. Lewis ainda, decidi que precisava fazê-lo urgentemente. Mas de onde eu tiraria tempo para fazê-lo? Foi aí que me dei conta de que a única solução seria apelar para o filme e tentar ignorar as diversas críticas negativas tecidas contra o mesmo. O resultado, como já era de se esperar, foi extremamente negativo e o longa de Andrew Adamson se revelou uma péssima experiência conforme o leitor poderá constatar mais abaixo na crítica do filme.



Ficha Técnica:
Título Original: The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe
Gênero: Aventura
Tempo de Duração: 140 minutos
Ano de Lançamento (EUA):
2005
Site Oficial:
www.disney.com.br/cinema/narnia
Estúdio: Walt Disney Pictures / Walden Media / Lamp Post Productions Ltd.
Distribuição: Walt Disney Pictures / Buena Vista International
Direção: Andrew Adamson
Roteiro: Ann Peacock, Andrew Adamson, Christopher Markus e Stephen McFeely, baseado em livro de C.S. Lewis
Produção: Mark Johnson
Música: Harry Gregson-Williams
Fotografia: Donald McAlpine
Desenho de Produção: Roger Ford
Direção de Arte: Jules Cook, Ian Gracie, Karen Murphy e Jeffrey Thorp
Figurino: Isis Mussenden
Edição: Sim Evan-Jones e Jim May
Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic / Rhythm & Hues / Weta Workshop Ltd. / Sony Pictures Imageworks / K.N.B. EFX Group Inc.
Elenco: Georgie Henley (Lúcia Pevensie), William Moseley (Pedro Pevensie), Skandar Keynes (Edmundo Pevensie), Anna Popplewell (Susana Pevensie), Tilda Swinton (Jadis, a Feiticeira Branca), James McAvoy (Sr. Tumnus), Shane Rangi (Centauro), Patrick Kake (Oreius), Ray Winstone (Sr. Castor - voz), Dawn French (Sra. Castor - voz), Liam Neeson (Aslan - voz), Elizabeth Hawthorne (Sra. Macready), Kiran Shah (Ginarrbrik), Rupert Everett (Raposa - voz), James Cosmo (Papai Noel), Judy McIntosh (Sra. Pevensie), Jim Broadbent (Prof. Digory Kirke), Stephen Ure (Satyr), Michael Madsen (Maugrim) e Sophie Winkleman (Susan Pevensie - adulta).

Sinopse: Lúcia (Georgie Henley), Susana (Anna Popplewell), Edmundo (Skandar Keynes) e Pedro (William Moseley) são quatro irmãos que vivem na Inglaterra, em plena 2ª Guerra Mundial. Eles vivem na propriedade rural de um professor misterioso, onde costumam brincar de esconde-esconde. Em uma de suas brincadeiras eles descobrem um guarda-roupa mágico, que leva quem o atravessa ao mundo mágico de Nárnia. Este novo mundo é habitado por seres estranhos, como centauros e gigantes, que já foi pacífico mas hoje vive sob a maldição da Feiticeira Branca, Jadis (Tilda Swinton), que fez com que o local sempre estivesse em um pesado inverno. Sob a orientação do leão Aslam, que governa Nárnia, as crianças decidem ajudar na luta para libertar este mundo do domínio de Jadis.


The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe - Trailer


Crítica:


Responda rápido: qual o pior defeito que um filme feito com o único intuito de divertir o público pode conter? Não conseguir divertir o público, correto? Exato, mas o que levaria um filme a não conseguir divertir o seu público alvo? São vários os motivos, o filme pode ser cansativo, pode ser longo demais, pode ser irritante, pode ser desprovido de emoção e pode, simplesmente, ser chato. Este “As Crônicas de Nárnia – o Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupas” conseguiu a façanha de conter todos os defeitos citados acima e mais, possui quase todos os defeitos que um reles filme pode possuir.


Comecemos pelo primeiro ato do longa que, por si só, já conta com defeitos imperdoáveis. Os 40 primeiros minutos de película custam, e muito, a passar e o que é pior, quando terminam, chegamos à óbvia conclusão de que fomos enrolados pelo diretor durante todo este tempo. O bem da verdade é que o primeiro ato deste “As Crônicas de Nárnia – o Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupas” (que a partir de agora será chamado por mim apenas de “As Crônicas de Nárnia”) poderia facilmente ser reduzido a 10 minutos de projeção, fato que o tornaria muito mais dinâmico, além de possibilitar com que o roteiro desenvolvesse seus personagens e a relação entre estes de maneira bem mais proveitosa durante o desenrolar da película.


E falando em desenvolvimento de personagens, fazia tempo que eu não via um roteiro demonstrar tão pouco cuidado com esta que é uma das características principais (isso para não dizer que é “a” característica principal) de um filme. Para se ter uma idéia, os protagonistas da estória praticamente não possuem características próprias e para que se possa distinguir um personagem do outro só nos resta como ponto de partida o nome, o sexo, e as demais características físicas, tais como altura e cor de cabelo, dos mesmos.


As atuações também são pavorosas em sua maioria, principalmente quando vêm de Georgie Henley (que aqui interpreta Lucy Pevensie) e Skandar Keynes (Edmund Pevensie). Ambos os atores “brindam” (dêem atenção às aspas) o público com cenas sofríveis, dentre as quais destaco a que Keynes tenta demonstrar dor e medo ao ver um de seus amigos sendo petrificados (repare o quão ridícula é a hora em que ele, com toda a sua inexpressividade, solta um “Nooooo”) e a cena em que Lucy avista de longe um outro amigo seu que também fôra petrificado. Enquanto a garota percorre o caminho até chegar à estátua temos a sensação de que a mesma está rindo e, de repente, a mesma começa a chorar. Esta talvez tenha sido a mudança de humor mais ridícula da história do Cinema.


E quanto ao diretor Andrew Adamson? Já não bastasse a sua visível incompetência ao conduzir o elenco (sobretudo o elenco infantil, que como já fôra dito, extrapola os limites da mediocridade e da falta de carisma e de expressividade), Adamson não realiza um único movimento de câmera satisfatório no filme. Francamente, creio que até mesmo os irmãos Lumière, com toda a falta de tecnologia que havia na época, seriam capazes de realizar movimentos com a câmera de maneira mais satisfatória que Adamson realiza nesta porcaria que se atreveram a chamar de filme.


Salva-se apenas em alguns aspectos técnicos, principalmente a fotografia, mas peca gravemente pelo roteiro raso, pobre, fútil, enfadonho e desprovido de emoção.


Avaliação Final: 1,0 na escala de 10,0.


sábado, 21 de junho de 2008

Crítica - Era Uma Vez na América


Os filmes de Sergio Leone são geralmente pontuados por longos e contemplativos silêncios. Silêncios que explicitam toda uma situação dramática, toda uma nuance das personagens. Silêncios que falam mais do que uma hora de diálogos. Era Uma Vez na América carrega em si essa característica marcante do diretor, a dos planos longos, silenciosos, apenas com a bela trilha sonora de Morricone ao fundo. Todo um conflito se desnudando. A máfia começando a tomar forma numa Nova York pútrida, fedida, corrupta.
Leone entra no território de Coppola e, posteriormente, de Scorsese com um filme antes de tudo sensível, porém não romantizado. Consegue como poucos trabalhar com um elenco infantil. Ele tem a sensilibidade necessária para comover o espectador numa cena em que uma criança come um simples bolo e nos chocar noutra onde uma criança é assassinada. O retrado da adolescência que o diretor pinta aqui, é um dos mais belos já visto. Impossível não se vê ali. O diretor trata esse período da vida com humor, mas também não deixa de expôr o lado cruel da vida dessas crianças sugadas pela criminalidade. É a visão da máfia pelo olha puro e inocente da infância, uma infância roubada que vê ali uma forma de subir na vida, de ganhar status, de ser respeitado pelos demais. Se quando vemos aquelas crianças vestidas como gângsters não conseguimos conter uma risadinha, Leone trata logo em seguida de nos dar um choque de realidade, mostrado que não há nada de engraçado naquilo tudo.
Num filme encabeçado por monstros cinematográficos, é curioso que a parte mais brilhante seja justamente a mais inexperiente.


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segunda-feira, 2 de junho de 2008

Crítica - Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

Estive pensando em fazer desta pré-crítica de “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” uma espécie de editorial sobre algo que me chateou ligeiramente quando assisti a este filme no cinema. Antes de redigir tal editorial, conversei com um amigo meu sobre a pertinência de aprofundar-me em tal assunto ou não e ele comentou: “___ Isso será muito pedantismo de sua parte!”. Pensei uma, duas, três vezes e concluí que, pedantismo ou não, deveria escrever a respeito de uma forma ou de outra. Durante a sessão observei que fui a única pessoa na sala a rir de uma piada que o protagonista faz mencionando o nome do ex-presidente dos Estados Unidos, Dwight Douglas Eisenhower (cujo mandato se iniciou em 1952 e, devido a uma reeleição, se estendeu a 1960), sendo que as demais pessoas ficaram quietas. O problema é que tais pessoas não ficaram quietas por não acharem graça na piada, mas sim pelo fato de nem ao menos saberem quem foi Eisenhower. Pensei comigo: “Hoje pela manhã todos comentavam sobre o jogo da seleção brasileira, mas por que o povo se importa tanto com a seleção brasileira? O que eles ganham com isso?”. E é uma verdadeira lástima que, um povo que se importa tanto com algo tão supérfluo quanto um jogo de futebol não saiba nem ao menos quem foi um dos personagens mais importantes da política estadunidense. Enfim, vamos ao filme, que é o que interessa.





Ficha Técnica:
Título Original: Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull
Gênero: Aventura
Tempo de Duração:
Ano de Lançamento (EUA): 2008
Site Oficial: www.indianajones.com
Estúdio: Paramount Pictures / Lucasfilm / Santo Domingo Film & Music Video / Amblin Entertainment
Distribuição: Paramount Pictures / UIP
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: David Koepp, baseado em estória de George Lucas e Jeff Nathanson e nos personagens criados por George Lucas e Philip Kaufman
Produção: Frank Marshall
Música: John Williams
Fotografia: Janusz Kaminski
Desenho de Produção: Guy Dyas
Direção de Arte: Luke Freeborn, Lawrence A. Hubbs, Mark W. Mansbridge, Lauren E. Polizzi e Troy Sizemore
Figurino: Bernie Pollack e Mary Zophres
Edição: Michael Kahn
Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic / Gentle Giant Studios
Elenco: Harrison Ford (Indiana Jones), Shia LaBeouf (Mutt Williams), Cate Blanchett (Agente Irina Spalko), Karen Allen (Marion Ravenwood), John Hurt (Prof. Oxley), Ray Winstone (Mac), Jim Broadbent (Dean Stanforth), Ian McDiarmid (Prof. Levi), Igor Jijikine (Dovchenko) e Joel Stoffler (Agente Taylor).


Sinopse: 1957. Indiana Jones (Harrison Ford) e seu ajudante Mac (Ray Winstone) escapam por pouco de um encontro com agentes soviéticos, em um campo de pouso remoto. Agora Indiana está de volta à sua casa na Universidade Marshall, mas seu amigo e reitor da escola, Dean Stanforth (Jim Broadbent), explica que suas ações recentes o tornaram alvo de suspeita e que o governo está pressionando para que o demita. Ao deixar a cidade Indiana conhece o rebelde jovem Mutt Williams (Shia LaBeouf), que tem uma proposta: caso o ajude em uma missão Indiana pode deparar-se com a caveira de cristal de Akator. Agentes soviéticos também estão em busca do artefato, entre eles a fria e bela Irina Spalko (Cate Blanchett), cujo esquadrão de elite está cruzando o globo atrás da Caveira de Cristal.


Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull – Trailer


Crítica:


Após quase duas décadas de espera os fãs da série “Indiana Jones” têm a oportunidade de ir aos cinemas do mundo todo com um sorriso gigantesco no rosto. E tal sorriso pode ser justificado? Aí é que está, depende.


Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” parece ter sido um filme feito para os fãs, como se fosse mais uma forma de homenagear a trilogia produzida na década de 80 do que de fazer um filme propriamente dito. Sendo curto e grosso, este quarto episódio da saga dirigida por Steven Spielberg deve agradar apenas às pessoas que puderam acompanhar os outros três filmes antecessores e acabaram, de uma forma ou de outra, se identificando com o protagonista da mesma.


A estória não é das melhores e apesar de ser ligeiramente criativa e bem trabalhada, o roteiro parece não se importar em desenvolvê-la de um modo realmente interessante. A mesma apresenta algumas reviravoltas, traz surpresas interessantes, mas descamba de vez ao inserir uma trama alienígena em seu contexto (alienígenas são bem típicos da nerdice de Spielberg).


As seqüências de aventura/ação estão acima da média dos filmes do gênero, mas comparadas aos demais filmes da saga, acabam empalidecendo. É claro que a perseguição automobilística em meio à Floresta Amazônica (e será que alguém poderia informar aos roteiristas que não existem cataratas nesta região do globo terrestre?) é eletrizante, mas não ficará na memória do espectador da mesma forma que outras seqüências da série ficaram. Não temos aqui nada tão marcante quanto uma perseguição em diversos vagões de mina, ou uma perseguição em um caminhão ou até mesmo uma perseguição aérea. O humor do filme também é muito bom, mas é outro quesito que faz muito feio se comparado aos demais episódios da trilogia da década de 80.


Voltando ao roteiro, o mesmo que apresenta uma estória interessante, embora não tão bem desenvolvida, se revela extremamente artificial durante vários de seus momentos, como o forçado romance entre Indiana Jones e Marion Ravenwood (sim, a mocinha do primeiro filme, interpretada pela mesma Karen Allen) que acabam reatando após um longo tempo separados e o grau de parentesco (revelado em meio à trama, de maneira desapropriada e brusca) entre o protagonista e o personagem Mutt Williams (e confesso que achei essa artimanha utilizada pelo roteiro tão artificial quanto a revelação do grau de parentesco entre Luke Skywalker e a princesa Lea no ótimo filme “Star Wars – Episódio VI – O Retorno de Jedi”).


E já que mencionei o personagem Mutt Williams, gostaria de dizer que durante o primeiro ato do filme tal figura é completamente irritante, assim como a composição do ator Shia LaBeouf, mas com o passar do tempo o roteiro vai moldando a estória para que este possa ir se firmando como o protagonista da mesma, mesmo que seja por poucos minutos (e não ficaria muito surpreso se os produtores da franquia lançassem um novo episódio onde o protagonista fosse justamente o personagem de LaBeouf), e o bem da verdade é que o garoto não faz feio, tendo em vista que ele tem melhores condições físicas que Jones para protagonizar certas seqüências de ação.


Finalizando, diria que este “O Reino da Caveira de Cristal” é um bom passatempo analisando-o individualmente, mas como exemplar da série “Indiana Jones” empalidece perante aos seus antecessores.


Avaliação Final: 7,0 na escala de 10,0.


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domingo, 1 de junho de 2008

Crítica - Indiana Jones e a Última Cruzada


Ficha Técnica:
Título Original: Indiana Jones and the Last Crusade
Gênero: Aventura
Tempo de Duração: 126 minutos
Ano de Lançamento (EUA):
1989
Estúdio: Paramount Pictures / Lucasfilm Ltd.
Distribuição: Paramount Pictures
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Jeffrey Boam, baseado em estória de George Lucas e Menno Meyjes
Produção: Robert Watts
Música: John Williams
Direção de Fotografia: Douglas Slocombe
Desenho de Produção: Elliot Scott
Direção de Arte: Stephen Scott
Figurino: Joanna Johnton e Anthony Powell
Edição: Michael Kahn
Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic.
Elenco: Harrison Ford (Indiana Jones), Sean Connery (Prof. Henry Jones), Denholm Elliott (Marcus Brody), Alison Doody (Dra. Elsa Schneider), John Rhys-Davies (Sallah), Julian Glover (Walter Donovan), River Phoenix (Jovem Indiana Jones), Michael Byrne (Vogel), Kevork Malikyan (Kazim), Richard Young (Fedora), Alexei Sayle (Sultão) e Paul Maxwell (Panama Hat).


Sinopse: O arqueólogo Indiana Jones (Harrison Ford) desta vez enfrenta os nazistas para salvar seu pai (Sean Connery) e encontrar o Santo Graal, o cálice sagrado.


Indiana Jones and the Last Crusade – Trailer


Crítica:


Quando escrevi a crítica do segundo episódio desta saga mencionei que o roteiro daquele filme havia, ao menos, se preocupado em tornar o personagem mais humano e próximo do público do que o episódio original. Este terceiro episódio parece ter se preocupado ainda mais com isso e optou por transformar o simples aventureiro do primeiro episódio em um personagem extremamente complexo.


O longa tem início narrando a primeira aventura que Jones teve durante sua adolescência e durante os minutos iniciais de filme o roteiro se preocupa em explicar muita coisa que deveria ter sido explicada logo no primeiro filme da série, como por exemplo: os motivos pelos quais Jones tem tanto carinho com o seu chapéu e o seu chicote (acessórios que soavam ligeiramente artificiais nos episódios anteriores, diga-se) e até mesmo o porquê do apelido de Indiana ser este (explicação que rende uma das piadas mais divertidas do filme).


Mas um dos maiores problemas deste “A Última Cruzada” reside justamente em seu intróito. Se por um lado temos uma ampla abordagem do personagem que, de quebra, ajuda a juntarmos certas peças de um quebra-cabeça, por outro lado temos uma seqüência longa e desnecessária demais, além de empregar um humor fraco e irritante demais, regado por uma trilha-sonora igualmente fraca e irritante.


Os defeitos do filme, apesar de pouquíssimos, não param por aí. Contrariando grande parte dos cinéfilos, sobretudo os fãs da série, creio que a química entre Henry Jones Jr. e seu pai demora para engrenar e nem mesmo as consistentes atuações de Harrison Ford e Sean Connery conseguem por tal química nos eixos. A maior culpa é do roteiro que opta por dar ênfase ao desenvolvimento da dupla de maneira deveras clichê (é a primeira vez, salvo engano de minha parte, que cito esta palavra direcionado à saga “Indiana Jones”), apelando para o drama familiar do filho que não se dá muito bem com o pai, mas o destino os colocará face a face em uma aventura que fará com que ambos voltem a sentir um afeto recíproco. Contudo, é como diria o mestre Alfred Hitchcock: “___ Antes começar no clichê, do que terminar nele.”. E é esse mesmo o rumo que o longa adota, optando por abandonar, ainda que de maneira deveras lenta, tal drama familiar, fazendo com que a química entre Jones pai e Jones filho passe a se desenvolver de maneira natural e satisfatória durante o desenrolar da projeção.


Os defeitos praticamente param por aí. No mais temos uma estória extremamente bem desenvolvida. Se o original primava por envolver temas bíblicos e abordá-los de maneira fascinante, este “A Última Cruzada” segue a mesma linha e, além de se inspirar em passagens bíblicas, se baseia também em lendas medievais colocando Jones atrás de um dos mais misteriosos e cativantes artefatos da história da Humanidade: o Santo Graal. As seqüências de aventura/ação não são necessariamente as melhores dentre todos os três episódios (as seqüências do caminhão em “Os Caçadores da Arca Perdida” e dos vagões sob os trilhos de uma mina em “O Templo da Perdição” se mostram superiores a todas as cenas de ação deste “A Última Cruzada”, apesar da seqüência do tanque de guerra ser quase tão fenomenal quanto às outras duas citadas), mas são mais bem distribuídas neste filme que nos antecessores, tornando-o o mais eficiente, divertido, inteligente e interativo episódio de toda a saga.


Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.


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