sábado, 31 de janeiro de 2009

Quem Quer Ser um Milionário? - *** de *****

Lembro-me de que no início de 2008, bem antes da cerimônia de entrega do Oscar, apontei o longa “Onde os Fracos Não Têm Vez” como provável vencedor do prêmio de Melhor Filme daquele ano. Contudo, ao assisti-lo pela primeira vez, mudei de opinião sobre o mesmo e passei a alegar que a obra dos Coen era ‘moderninha’ demais para conseguir faturar o prêmio. Se levarmos em conta que os membros da Academia são um bando de velhos caquéticos e conservadores que não gostam nem um pouco de certas inovações, principalmente as de cunho narrativo (que, por sinal, ocorrem com freqüência em “Onde os Fracos Não Têm Vez”), era de se estranhar que o longa protagonizado por Tommy Lee Jones conseguisse se sair bem naquela noite. Concluí então que o prêmio deveria ficar com “Sangue Negro”, pelo fato deste ter “a cara do Oscar”. Equivoquei-me e o prêmio de Melhor Filme foi atribuído a “Onde os Fracos Não Têm Vez”. No começo de 2009 cometi o mesmo erro e precipitei-me novamente, afirmando que o prêmio do corrente ano obviamente ficaria com “O Curioso Caso de Benjamin Button”. Felizmente, tudo indica que o filme de Eric Roth, mesmo tendo sido indicado a 13 prêmios, irá perder as principais disputas para este “Quem Quer Ser um Milionário?”. E se o filme de Danny Boyle está sendo superestimado e representa uma das piores produções de toda a sua carreira (assim como “... Benjamin Button” representa uma das piores produções de toda a carreira de David Fincher), ao menos o longa é ligeiramente superior ao seu principal concorrente e é bem mais... digamos... ‘sério’ do que aquele.

Ficha Técnica:
Título Original: Slumdog Millionaire.
Gênero: Drama.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.foxsearchlight.com/slumdogmillionaire
Nacionalidade: Estados Unidos / Reino Unido.
Tempo de Duração: 120 minutos.
Diretor: Danny Boyle e Loveleen Tandan (co-diretor).
Roteiristas: Seamon Beaufoy baseado em romance de Vikas Swarup.
Elenco: Dev Patel (Jamil Malik), Ayush Mahesh Khedekar (Jovem Jamal), Azharuddin Mohammed Ismail (Jovem Salim), Freida Pinto (Latika), Madhur Mittal (Salim mais velho), Tanay Chheda (Jamal Adolescente), Ashutosh Lobo Gajiwala (Salim Adolescente), Rajendranath Zutshi (Diretor do Programa), Mahesh Manjrekar (Javed), Ankur Vikal (Maman), Anil Kapoor (Prem Kumar), Tanvi Ganesh Lonkar (Latika Adolescente), Rubiana Ali (Jovem Latika), Saurabh Shukla (Sargento Srinivas) e Irffan Kahn (Oficial de Polícia).

Sinopse: Jamal Malik (Dev Patel) é um jovem proveniente de uma gigantesca favela de Bombaim que tem a chance de mudar de vida para sempre participando do programa televisivo “Quem Quer Ser um Milionário?”. Durante o programa, Jamal relembra algumas experiências vivenciadas por si que condizem com as perguntas que lhes são apresentadas. A partir daí somos convidados a conhecer a dura realidade dos favelados indianos.

Slumdog Millionaire - Trailer:


Crítica:

Durante uma conversa por Orkut com uma amiga que reside na capital do estado do Rio de Janeiro, lembro-me de que a mesma comentou comigo que o título nacional conferido ao mais novo filme de Danny Boyle, “Quem Quer Ser um Milionário?”, remetia-lhe diretamente a um programa de auditório apresentado pelo lendário Silvio Santos. Mal sabia ela que é justamente disso que o filme trata. Utilizando um programa idêntico (e ponha idêntico nisso) a “Show do Milhão” para embasar a sua estrutura narrativa, o filme trás como pano de fundo a estória de dois irmãos indianos, Jamal e Salim, e uma bela garota que desperta interesse em ambos, Latika. Enquanto Jamal responde às perguntas feitas pelo apresentador do programa, vários acontecimentos de sua miserável vida vêm-lhe à mente.

Assim como “O Curioso Caso de Benjamin Button”, “Quem Quer Ser um Milionário?” faz uso de uma narração construída através de vários flashbacks. A diferença é que, enquanto o primeiro utiliza a batida leitura de um diário para compor a sua estrutura narrativa, o segundo emprega uma idéia infinitamente mais original e interessante do que a do filme dirigido por Fincher. O problema é que a adoção de tal recurso torna-se muito artificial durante boa parte do longa, dependendo de uma gigantesca série de coincidências para funcionar. Por exemplo, quando é perguntado a Jamal qual é a celebridade estadunidense que ilustra a nota de cem dólares, este responde corretamente que trata-se de Benjamin Franklin, sem nem ao menos saber o que o homenageado representou para a ciência e para a história daquele país. Acontece que, em uma determinada ocasião da vida de Jamal, este recebeu uma nota de cem dólares de um casal de turistas americanos e a mesma continha a foto de Franklin. A mesmíssima coisa ocorre quando quase todas as outras perguntas são feitas ao rapaz. Sempre que um desafio lhe é lançado, o protagonista da trama coincidentemente já vivenciou alguma experiência que lhe remeta à resposta correta.

É claro que há a possibilidade do roteiro ter criado tais coincidências propositadamente. Qual seria o motivo? Francamente, não sei. Pode ser que a trama queira nos mostrar que o melhor “professor” que a vida pode nos oferecer, é ela mesma. Afinal de contas, Jamal é o que pode-se chamar de completo analfabeto (uma vez que não possui o menor grau de escolaridade) e ainda assim é dotado de uma cultura satisfatória. Cultura esta que não fora adquirida nas escolas ou durante a leitura de vários livros, mas sim através de uma série de empirismos pela qual a vida o fez vivenciar. Adotemos então esta hipótese. Ela, por si só, já elimina as demais falhas contidas no longa? Não, certamente não. Por mais agitada que tivesse sido a existência de Jamal (e realmente foi, conforme veremos mais abaixo), ela foi curta demais para que o mesmo pudesse adquirir respostas a todas as perguntas feitas no programa televisivo. Caso o protagonista fosse dez anos mais velho, o roteiro talvez não soasse tão artificial quanto realmente soa, mas infelizmente isso não acontece.

Mesmo com tantos defeitos inseridos em seus dois primeiros atos, não há como negar que o filme destaca-se com muita freqüência. A estrutura narrativa é artificial, não se tenha dúvidas quanto a isto, mas, conforme já fora dito, é original e interessante, assim como a infância e o início de adolescência de Jamal. Ao contrário de muitos filmes do gênero, a vida do protagonista de “Quem Quer Ser um Milionário?” não consiste apenas em conviver com uma série de frustrações e tristezas que um garoto favelado tende a passar. Há uma cena em especial que nos remete a um momento marcante na vida do garoto, quando o mesmo recebe um autógrafo de seu ídolo máximo, um ator de filmes de ação. Um reles rabisco feito com a caneta aparenta ser o suficiente para alegrar uma pessoa cuja vida mostrou-se tão miserável. Essa cena, aliás, revela-se soberba quando mostra o quão alienadas são as pessoas. Só para se ter uma idéia, para que Jamal consiga obter a lembrança presenteada pelo ídolo, o mesmo se vê obrigado a mergulhar em uma fossa e ficar coberto de fezes (a propósito, Boyle parece ter uma tara em ver os seus personagens imergirem em excrementos, não? Mas, assim como ocorria em “Trainspoting – Sem Limites”, esta cena tem um propósito muito maior do que simplesmente causar náuseas no expectador). Um grande esforço para conseguir um reles rabisco, futilidades que, cada vez mais, fazem parte da vida de pessoas carentes (não apenas financeiramente carentes, como afetivamente também).

O realismo contido aqui também é algo digno de se causar inveja e certamente fica marcado como a maior qualidade do filme. Focando-se durante praticamente toda a sua primeira hora nos diversos problemas enfrentados pelos habitantes das favelas indianas, o longa exibe, de maneira fiel e chocante, um amplo panorama sobre as mais complexas dificuldades pelas quais aquelas pessoas sofrem, passando pelo descaso com o qual o governo local os trata e exibindo até mesmo os conflitos religiosos fortemente sanguinolentos ocorridos naquele local do globo terrestre.

À medida em que a trama vai avançando, a miséria enfrentada pelos protagonistas da mesma vai sendo cada vez mais cruelmente retratada. Utilizando a famosa ‘malandragem’, típica de todo o indivíduo que não tem outra “arma” para garantir a sua subsistência, a fim de “subir” na vida, os dois irmãos passam a tapear turistas fazendo-se de guias. Mais para frente, no entanto, eles recebem a ajuda de um homem que aparenta ser de boa índole e visa tirar os garotos de rua daquela vida infeliz. Seu nome é Maman. A trama avança e logo vemos que Maman, de bom, não tinha nada. O bom samaritano, na realidade, nada mais é que um aproveitador que visa lucrar através da exploração destes garotos. A propósito, é durante esta parte que o filme nos apresenta a sua cena mais forte, quando o bandido cega um garoto visando lucrar com a invalidez do mesmo.

Cientes do perigo que estavam correndo, Jamil e Salim fogem das garras de Maman e decidem iniciar uma nova vida. Ambos passam a trabalhar em uma lanchonete, mas a ambição de Salim é grande e este sente-se cada vez mais tentado a entrar para o submundo do crime. Passa-se algum tempo e os garotos resolvem resgatar Latika, uma amiga de infância que agora é escrava de Maman. Durante tal resgate ambos entram em confronto direto com o famoso gangster e o matam. Com medo de ser morto pelos capangas de Maman, Salim pede ajuda e proteção a Javed Khan, um famoso mafioso. A ambição sobe à mente de Salim, que passa a reivindicar o corpo de Latika. Jamil, que era completamente apaixonado pela garota, discuti com o irmão e ambos se separam.

Até a parte citada no parágrafo acima, o filme era sensacional e só não se mostrava perfeito em virtude das inúmeras coincidências que tornavam o roteiro artificial em muitos momentos. Infelizmente, a qualidade do filme cai visivelmente depois que Jamal briga com irmão. Sem a menor sutilidade, o roteiro nos apresenta ao protagonista alguns anos mais velho, trabalhando como assessor de telemarketing (leia-se, o indivíduo que serve chá aos telefonistas). Entretanto, algumas perguntas ficam no ar. Como Jamal arrumou este emprego? O que ele fez antes disso? O roteiro nem ao menos se preocupa em responder tais questionamentos.

Mas estes detalhes são muito pequenos face aos maiores erros cometidos pelo filme durante esta sua última parte. O filme que se propunha a narrar a brilhante ascenção dos dois irmãos no submundo do crime, abandona esta premissa e decide contar-nos uma estorinha de amor nada interessante. Além de apostar na pieguice muitas vezes, o romance entre Jamal e Latika é previsível e destoa terrivelmente da proposta inicial do filme, que prometia nos apresentar a um resultado final infinitamente mais agradável do que acabou apresentando.

Não bastasse a previsibilidade do romance, que passa a assumir o primeiro plano da trama, o relacionamento entre ambos ainda peca catastroficamente ao ser piegas em excesso e tornar o longa 'redondinho' demais para os padrões atuais (assim como “O Curioso Caso de Benjamin Button” também o faz, a diferença é que o filme roteirizado por Eric Roth prima por conter um desfecho dramático, ao passo em que “Quem Quer Ser um Milionário?” conta com um dos finais mais previsíveis e decepcionantes dos últimos tempos).

Aliás, não só o romance inserido nos últimos cinqüenta minutos do longa, como também muitos outros aspectos da obra em si, revelam-se grande “vilões” no que diz respeito à gritante perda de qualidade do filme. A trama vai caminhando para um final bonitinho, um final forçado, um final bem aquém do esperado, um final que não condiz, em momento algum, com a maestria demonstrada no início do longa. Personagens vão sofrendo alterações de caráter da maneira mais artificial e maniqueísta o possível (vide Salim, por exemplo) e a crueldade e o forte grau de realismo exibidos no início de “Quem Quer Ser um Milionário?”, vão sendo substituídos por uma estória de amor desnecessária.

Ao menos o filme conta com uma característica que se mantém regular durante toda a sua projeção. Refiro-me à fantástica direção de Danny Boyle, o melhor trabalho realizado por um diretor dentre os filmes produzidos no ano de 2008 (e é claro que só estou incluindo aqui, as produções a que assisti no corrente ano, deve-se levar em conta que não assisti a todas). Muitos tacharam a direção de 'videoclipeira', o que não deixa de ser uma realidade, mas eu pergunto, e daí? Qual o problema de Boyle adotar este estilo de direção contanto que saibamos exatamente o que está acontecendo na telona? Uma coisa é Tony Scott adotar estilismos 'videoclipeiros' e criar uma bomba extremamente confusa, como é o caso de “Domino – A Caçadora de Recompensas”, outra coisa é Danny Boyle adotar um estilo de direção parecido a fim de conferir uma dose extra de ritmo a “Quem Quer Ser um Milionário?”. A não ser, é claro, que você desdenhe a eficiência com que ele filma a seqüência da perseguição que abre o filme e o inteligente uso de closes outs reeditados que nos dão uma fantástica visão aérea da favela onde se passa boa parte do longa.

Longe de merecer vencer os Oscar que certamente irá faturar no dia 22 de fevereiro de 2009, “Quem Quer Ser um Milionário?” revela-se unicamente um bom filme e nada mais. O tom realista, as grandes atuações por parte de todo o elenco, o roteiro que mostra uma verdade nua e crua, a ascenção dos personagens, a conturbada vida dos favelados de Bombaim, a maturidade de uma estória que, apesar de contar com recursos artificiais para o seu funcionamento, aborda temas complexos e polêmicos de um modo inteligente e, até mesmo a magnífica e revolucionária direção de Danny Boyle (que apesar de jamais poder ser alcunhada de irregular, perde um pouco de seu ritmo durante os cinquenta minutos finais do longa), são “tijolos” muito bem confeccionados que constroem um longa sensacional durante a sua primeira metade. Contudo, chega a segunda metade do filme e, com ela, vem a previsibilidade, a estória de amor dispensável e nada convincente, a pieguice, e a velha mania de conferir um 'final feliz' que soa altamente desconexo com a proposta inicial do filme.

O quê? Ah, sim, a fotografia, a direção de arte, a edição de som e os demais aspectos técnicos de “Quem Quer Ser um Milionário?” também se revelam um primor e só não os comentei neste texto por acreditar que iria alongá-lo ainda mais. Portanto, assim como fiz com “... Benjamin Button”, digo que caso o filme ambientado na Índia leve estes prêmios para casa, será algo mais do que merecido.

É lamentável percebermos que, dois dos melhores diretores da atualidade (Boyle e Fincher) irão receber os prêmios mais importantes de suas carreiras por causa de dois de seus piores filmes.

Avaliação Final: 7,0 na escala de 10,0.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Austrália - ** de *****

Francamente, estou farto de escrever críticas de Cinema apontando os clichês e/ou estereótipos de um determinado filme que está sendo analisado. Acredito que falar mal de clichês, por si só, já consiste em um terrível clichê. Juro que preferia infinitamente ter de apontar falhas como furos de roteiro, falta de criatividade na direção, personagens mal explorados, trama fraca, atuações pavorosas, montagem confusa, estória má conduzida, entre outras coisas, a ficar listando os chavões e personagens caricatos que compõem uma determinada obra. Visto isso, pergunto ao leitor: “que culpa tenho eu se a leva de filmes lançados atualmente não faz outra coisa senão apelar a clichês e/ou estereótipos que “segurem” a trama?”. As recentes produções cinematográficas parecem ter carência inventiva até mesmo ao “criar” os seus próprios defeitos e sabem o que é pior nisso tudo? É o fato de a Crítica Cinematográfica ter de adotar sempre a mesma postura, tendo de escrever textos cujo alvo principal é, obrigatoriamente, a condenação destes incômodos clichês. Felizmente (ou seria infelizmente?), “Austrália” é um longa que conta com muitos defeitos, o que possibilita que este texto não se dedique unicamente a criticar os diversos clichês inseridos em seu fraco roteiro.

Ficha Técnica:
Título Original: Australia.
Gênero: Drama.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.australiafilme.com.br/
Nacionalidade: Estados Unidos.
Tempo de Duração: 165 minutos.
Direção: Baz Lurhmann.
Roteiro: Stuart Beattie, Baz Luhrmann, Ronald Harwood e Richard Flanagan, baseado em estória de Baz Luhrmann.
Elenco: Nicole Kidman (Sarah Ashley), Hugh Jackman (Drover), Brandon Walters (Nullah), David Wenham (Neil Fletcher), Ray Barrett (Bull), Bryan Brown (Rei Carney), Tony Barry (Sargento Callahan), Essie Davis (Cath Carney), Arthur Dignam (Padre Benedict), Sandy Gore (Gloria Carney), David Gulpilil (Rei George), Jamie Gulpilil (Porter), Jacek Koman (Ivan), Ben Mendelsohn (Capitão Dutton), David Ngoombujarra (Magarri), Angus Pilakui (Goolaj), Bruce Spence (Dr. Barker) e Kerry Walker (Myrtle Allsop).

Sinopse: Sarah Ashley (Nicole Kidman) é uma aristocrata inglesa que viaja a Austrália com o propósito de salvar uma propriedade rural que pertencia ao seu marido, recentemente assassinado no local. Lá ela conhece Nullah (Brandon Walters), um garoto aborígine com quem passa a ter uma relação quase que materna, e Drover (Hugh Jackman), um vaqueiro que é contratado pela dama para conduzir o seu rebanho de gado até os portos de Darwin, onde será exportado e vendido a um bom preço, salvando a fazenda de Ashley da falência.

Australia – Trailer:


Crítica:

“Austrália” é mais um destes filmes imaturos e previsíveis que logo em seus dez primeiros minutos revela todos os defeitos que possui e virá a possuir durante o desenrolar de sua trama. Começamos com um garoto mestiço extremamente irritante, cujo nome é Nullah (e confesso que desde que assisti a “Star Wars – Episódio I – A Ameaça Fantasma” pela primeira vez, no ano de 1999, não via um personagem que conseguia ser tão irritante quanto Jar Jar Binks. Nullah conseguiu romper tal tabu) e assume a função de narrador da obra cinematográfica em questão. O problema é que além da narração ser gritantemente dispensável, o tom de voz empregado pelo ator mirim é simplesmente insuportável. Isso sem contar, é claro, a péssima escolha das palavras utilizadas pelo roteiro a fim de construir a narrativa, que se torna altamente previsível.

O longa se desenvolve um pouco mais e os erros vão aparecendo. O recurso gráfico utilizado para indicar a localização de um personagem no globo terrestre é tolo, desnecessário e imaturo. Aliás, imaturo é tudo o que o longa consegue ser durante o seu primeiro ato inteiro e isso não consistiria necessariamente em uma falha caso “Austrália” assumisse, definitivamente, ser uma obra infantil. O problema é que a produção não se assume como tal e o filme vai se revelando bobo demais para os adolescentes e adultos e longo e cansativo demais para as crianças. Ou seja, não agrada a gregos, nem a troianos.

Mas se Nullah (Brandon Walters) revela-se um elemento irritante e, aparentemente, dispensável à trama (aliás, é uma pena que o roteiro crie tantas situações de perigo ao garoto e nunca decida o “matar” de uma vez por todas, poupando-nos do fraco terceiro ato que nos aguarda), o casal de protagonistas, Sarah (Nicole Kidman que, depois de implantar litros de botox na cara não consegue mais se expressar satisfatoriamente) e Drove (Hugh Jackman, fazendo uma atuação correta em um papel fortemente clichê), se revela o mais caricato o possível (sim, outra crítica de minha autoria que se propõe a falar mal dos estereótipos contidos em um determinado filme, mas fazer o quê se os filmes atuais não colaboram comigo?). Sarah é a típica aristocrata inglesa bravinha e mimada que põe uma coisa na cabeça e faz birra até conseguir obter êxito em seu objetivo (nisso ela lembra muito a personagem Scarlett O’ Hara, interpretada por Vivien Leigh, em “... E o Vento Levou”, com a diferença de que o desenvolvimento de Scarlett é fenomenal, ao ponto que o desenvolvimento da personagem de Nicole Kidman é catastrófico). Logo no início da trama a moça é construída pelo maior número de clichês possíveis, que variam desde o modo rápido, engraçado e imponente como a mesma anda, até a maneira doce (leia-se aqui, irritante) como fala (Kidman fazendo sotaque inglês é risível), passando pelos inúmeros gritinhos que solta sempre que se espanta (aliás, não somente quando esta se espanta, mas em quaisquer outras ocasiões que sejam) e as expressões faciais adotadas pela mesma (qualquer incidente a deixa boquiaberta e a faz arregalar os olhos e torcer o nariz da maneira mais artificial e caricata o possível).

E quanto ao personagem de Drove? Apesar de ser bem menos irritante que Sarah, este é ainda mais caricato que a moça. Seguindo o estereótipo do cavaleiro solitário (que nos anos 1960 não era necessariamente um estereótipo) incorporado por Clint Eastwood na trilogia dos dólares de Sergio Leone, o personagem de Hugh Jackman é destes indivíduos que passam o tempo livre em um bar embriagando-se e arrumando encrenca. Logo no início do filme, o protagonista de “Austrália” nos é apresentado durante uma discussão em um boteco (com direito a uma batida frase proferida por Drove: “___ Eu não posso deixar este desaforo passar em branco.”), em seguida ele solta um olhar ameaçador, que é focado pela câmera em um close que já fora utilizado pelas obras de western ao menos umas três dúzias de vezes (o leitor reconhecerá a cena a qual me refiro) e, por fim, inicia-se uma rixa ridícula cujas lutas parecem ter sido extraídas de algum episódio do seriado “Os Trapalhões” (com a diferença de que tais cenas funcionavam muito bem no programa da trupe de comediantes brasileiros, ao passo que em “Austrália”...).

O que esperar então do romance entre Drove e Sarah? Imaginem o resultado que pode-se obter se juntarmos uma mulher extremamente irritante (uma cópia loira de Scarlett O' Hara) com um homem que segue o estereótipo do indivíduo bronco (a versão morena do Cavaleiro-Sem-Nome criado por Sergio Leone). Coisa boa não poderia sair, não é mesmo? Pois é, o romance entre eles revela-se um dos maiores clichês já vistos até então. Ambos formam o casal que se odeia, mas que, aos poucos, passa a se amar, Algo parecido com o romance entre Lizzie Bennet e Mr. Darcy em “Orgulho & Preconceito”, com a diferença de que, no filme dirigido por Joe Wright, o casal era abordado com muito charme, coisa que não acontece neste “Austrália”. Aliás, charme é o que falta ao romance dos dois, uma vez que tudo é “jogado” ao espectador sem o menor resquício de sutileza (só para se ter uma idéia, a rica moça passa a se interessar pelo rude rapaz a partir de uma cena onde este se banha e, praticamente, faz pose para a câmera exibindo os seus músculos, algo que parece ter sido extraído de um comercial de suplementos alimentares para frequentadores de academias de musculação).

A trama vai tentando tomar uma forma (apenas tentando). Tomamos ciência de que, a fim de quebrar o monopólio de um barão local, Sarah deverá embarcar milhares de cabeças de gado destinados à exportação e, com isso, arrecadar uma boa e justa quantia em dinheiro. O problema é que o caminho que terá de percorrer até o porto de Darwin (cidade australiana) é gigantesco e perigoso. Para obter êxito na missão a jovem contrata Drove para um novo trabalho. A partir daí o filme assume-se como plágio descarado de “Lawrence da Arábia”. Sim, a indigesta salada feita a partir de “Por uns Dólares a Mais” (ou “Três Homens em Conflito” ou, ainda, “Era Uma Vez no Oeste”, caso o leitor prefira) com “...E o Vento Levou”, temperada com um pouco de “O Mágico de Oz”, é completamente abandonada e tem-se início uma cópia fiel da obra-prima de David Lean. Alguns detalhes mudaram ligeiramente (apenas ligeiramente, o que não descaracteriza plágio). Por exemplo, ao invés de cruzarem um deserto com um grupo gigantesco de pessoas, os 'heróis' realizam a sua travessia conduzindo uma manada de gados (ou seja, a dramaticidade cai consideravelmente, uma vez que as emoções humanas são substituídas aqui pela frieza bovina). A chegada destes ao porto de Darwin então é algo que dispensa comentários. Não há como não notarmos a descarada imitação da cena em que Lawrence e o seu bando chega a Acqaba, com a única diferença de que aqui não ocorre um combate grandioso, mas sim uma invasão enorme de bovinos que param a cidade inteira.

Até aí o filme, aparentemente, só apresentou falhas, não é mesmo? Sim, mas mesmo com tantos defeitos não há como não vislumbrarmos a maravilhosa fotografia que engrandece ainda mais as fantásticas paisagens australianas magistralmente filmadas (ao menos no início do longa) por Baz Luhrmann. É impossível também deixarmos de notar que, de uma forma ou de outra, o longa consegue nos divertir, ainda que seja só um pouco. A seqüência do “estouro” da boiada à beira de um precipício confere uma forte tensão ao espectador e, por mais que os efeitos em CGI sejam muito mal empregados, a cena é muito bem dirigida e proporciona ao espectador um clima forte o bastante para nos fazer roer as unhas de apreensão (apesar de ser lamentável o irritante Nullah ter sobrevivido à mesma). Não fosse o fato de um determinado personagem fazer gracinhas na hora errada (onde já se viu fazer palhaçadas em uma situação desesperadora como aquela?), a seqüência teria se saído maravilhosamente bem.

Mas os 'heróis' conseguem cumprir com o seu objetivo, embarcam o gado, derrotam o inescrupuloso barão da indústria de carnes da Austrália e aí temos um final feliz, de acordo? Não, lamentavelmente não. Se o filme de Luhrmann parasse por aí, o mesmo teria, ao menos, se revelado uma interessante diversão, apesar de deveras infantil e nada original. Entretanto, Luhrmann é megalomaníaco e queria mais, queria fazer de “Austrália” o mais novo épico da indústria cinematográfica. A partir deste instante então somos arremessados, sem a menor sutileza, a um novo filme, totalmente diferente daquele outro apresentado até então, mas com os mesmos personagens. A premissa inicial é completamente abandonada e a mania de grandeza do filme decide, do modo mais indelicado o possível, cruzar a ridícula trama que envolve o destino do garoto Nullah com o ataque aéreo que os japoneses realizaram àquela região do globo terrestre durante a Segunda Guerra Mundial.

O que se vê então é uma tentativa muito supérflua de abordar o preconceito que os aborígines e, principalmente, os mestiços sofriam naquela região. Pior ainda é testemunharmos a volta do rancor estadunidense perante os japoneses sendo exibida pela sétima Arte. Sinceramente, imaginei que os moradores da Terra do Tio Sam haviam parado, desde o lançamento do fraco “Pearl Harbor”, de utilizar o Cinema para culpar injustamente os japoneses pelos conflitos ocorridos entre eles durante a Segunda Grande Guerra, mas vi que estava redondamente enganado. “Austrália”, além de acusar os filhos da Terra do Sol Nascente de terem iniciado os confrontos, ainda os estereotipa retratando o modo como os mesmos realizavam ataques aéreos e matavam, sem quaisquer resquícios de clemência, pessoas indefesas (como se os estadunidenses também não o fizessem).

Não bastasse tudo isso, este terceiro ato do filme, além de ser desconexo com relação ao primeiro e, até mesmo, ao segundo, se revela fortemente piegas e previsível. Se por um lado o mesmo abandona toda a infantilidade presente outrora em seu roteiro (e eu, particularmente, senti-me incomodado com a mudança de caráter extremamente forçada pela qual alguns personagens passam), por outro lado as tentativas de fazer o público se emocionar com o drama são bastante artificiais. Porém, artificiais ou não, não há como negar que o longa, em alguns raros casos, consegue, de fato, nos emocionar, o que já é um grande feito.

Este é “Austrália”, um fraquíssimo candidato a épico que, na dificuldade que encontra ao tentar firmar-se como dois filmes em um só, acaba aborrecendo o espectador causando fortes dúvidas neste que não sabe ao certo se está assistindo a uma aventura pelos desertos australianos ou a um drama sobre a Segunda Guerra Mundial. Infelizmente, o longa falha tanto em uma tentativa, quanto em outra, tornando-se visivelmente imaturo e caricato em sua primeira metade e excessivamente piegas em sua segunda metade. De qualquer forma, não há como negarmos que o mesmo, apesar de irritar muitas vezes, revela-se divertido em alguns momentos e comovente em outros, além de nos brindar com uma fotografia primorosa e direção de arte e figurinos excepcionais.

Avaliação Final: 4,0 na escala de 10,0.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Uma Pequena Satisfação ao Leitor

Havia previsto, para este final de semana, assistir a "Australia", "Um Taxi Para a Escuridão" e "Um Faz de Conta Que Acontece", mas concluí que seria mais viável dedicar o meu tempo a conferir os indicados ao Oscar em todas as categorias possíveis (é óbvio que não conseguirei cumprir com isto, mas ao menos tentarei).
Desta forma, deixarei de assistir aos filmes que ficaram de fora da premiação e passarei a conferir apenas os longas que farão parte da mesma.
Portanto, a partir de agora, esperem apenas críticas feitas em cima das obras que concorrerão ao Oscar 2009 em suas diversas categorias.

Abraço a todos!!!

Daniel Esteves de Barros - Editor do Cine-Phylum.

Oscar 2009 - Indignações - Parte 1

Sei que vivo reclamando da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (a propósito, como um bom niilista, misantropo e depressivo, é normal que eu reclame de tudo, do contrário não seria niilista, misantropo e depressivo, muito menos Crítico de Cinema), mas desta vez minhas queixas são mais do que válidas. Quando será que aquele bando de velhotes rabugentos (ainda mais rabugentos do que este velho jovem de vinte e cinco anos de idade que vos escreve) irá perder o preconceito? Aliás, que preconceito viria a ser este? Francamente, não vejo lógica alguma no preconceito destes imbecis. Ops... perdão... minha ira é tamanha que nem informei aos leitores a qual espécie de preconceito estou me referindo. Está bem então, descrevê-lo-ei no parágrafo abaixo.

Estava me referindo à insuperável descriminação que a Academia tem em premiar filmes de fantasia, tais como “O Cavaleiro das Trevas” e “Wall-E”. Sei que nenhum dos dois são, necessariamente, filmes fantásticos (no sentido literal da palavra), mas os gêneros animações e histórias em quadrinho, de uma forma ou de outra, estão interligados à categoria cinematográfica que consagrou obras-primas como “O Mágico de Oz” e “O Senhor dos Anéis”. Agora, sejamos francos, o que é mais ‘sério’ (uso esta palavra pois a Academia sempre finge utilizá-la ao selecionar os candidatos ao Oscar): um filme de fantasia ou um filme fantasioso? Um filme de fantasia, como o próprio nome diz, encontra-se diretamente ligado a um mundo fantástico, ou seja, a um mundo que não tem pretensões algumas em estabelecer quaisquer elos diretos com a realidade, ou quando tem, o faz através de metáforas. Um filme fantasioso, por sua vez, se atreve a utilizar o nosso mundo e forçar-nos a escorregar goela abaixo uma salada nada digestiva acrescentando aspectos implausíveis de serem absorvidos em um contexto real em um mundo exacerbadamente plausível de se absorver em um contexto real.

Por este motivo, talvez, eu não seja lá um grande fã de filmes de horror, pois os mesmos fogem veementemente da razão. No entanto, na condição de Crítico de Cinema devo eliminar certos preconceitos e analisar tais filmes objetivamente. Agora, uma coisa é você analisar um filme profissionalmente e deixar o lado pessoal de lado, outra coisa é você superestimar uma obra que foge visivelmente dos limites do verossímil e atribuir um prêmio à mesma. Uma coisa é você adorar um filme que se assume como fantástico e reconhecer que o mesmo merece um prêmio do naipe do Oscar (o bem da verdade é que não sei se esta estatueta ridícula representa lá grande coisa para o Cinema, mas enfim...), que é o caso de “O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei”, outra coisa é você fazer o mesmo com um filme que nem sempre se assume como fantástico, mas carrega em seu roteiro aspectos para lá de fantasiosos (como é o caso de “O Curioso Caso de Benjamin Button”).

Tendo em vista tudo isso, só podemos concluir que o preconceito dos imbecis que representam a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (não me admira saber que boa parte dos membros que a compõe são judeus e conservadores) não tem fundamento algum e é contraditório. Se recusam a premiarem um filme de histórias em quadrinhos e uma animação por julgarem que tais obras não são suficientemente ‘sérias’, mas atribuem 13 (pois é, 13!!!) indicações a um filme cuja origem de toda a fantasia embutida em seu frágil roteiro nem ao menos é explicada.

É, indubitavelmente, uma pena tomarmos ciência de que tais preconceitos são provenientes de uma entidade que deu a entender ter se redimido completamente no ano passado, quando atribuiu o prêmio principal a um filme ‘moderninho’ demais para os seus padrões pré-estabelecidos. Refiro-me ao excelente “Onde os Fracos Não Têm Vez”. Lembro-me de que na ocasião comentei que, se por um lado a vitória de tal obra sobre “Sangue Negro” não era justa, por outro lado representava um paradigma quebrado pelos votantes conservadores que, inesperadamente, atribuíram o troféu principal daquela noite a um longa que fugia completamente dos conceitos mais básicos da premiação. Infelizmente tais preconceitos voltaram a vigorar agora, de maneira bem mais ampla, ao vermos “O Curioso Caso de Benjamin Button” ser superestimado. Um filme que conseguiu a façanha de ser ainda mais ‘redondinho’ que “Forrest Gump - O Contador de Histórias” conseguiu também enganar a maior parte dos votantes. Lástima, pro inferno com essa Academia preconceituosa de merda (virou moda por aqui, não é? Mas o baixo calão que estou adotando ao Cine-Phylum só espelha o baixo calão adotado pela indústria cinematográfica contemporânea).

Mas há algo que me conforta nessa estória toda. Apesar de estar passando por uma das experiências mais trágicas de minha vida como cinéfilo, é incrivelmente confortante notarmos como Críticos de Cinema do mundo todo estão criticando a Academia. A propósito, há muito tempo, desde que aquela merda (de novo!) chamada “Titanic” abocanhou mais de uma dúzia de indicações, que não via um amontoado tão grande de Críticos descerem a lenha tão violentamente na Academia. Me conforta ainda mais saber que, na premiação da OFCS (Online Films Critics Society, ou seja, Sociedade de Críticos de Filmes (ao “pé da letra, pois a concepção” “Cinema” viria mais a calhar que “Filmes”) da Internet) o vencedor foi o excelente “Wall-E” que, sejamos francos, é muito mais digno de tal prêmio que o superestimado longa de Eric Roth.

Enfim, encerro esta primeira parte sobre minhas indignações para com o Oscar 2009 aqui, creio que no próximo final de semana eu deva comentar mais alguma coisa.

Obs. 1: Em virtude dos ataques que realizei a “O Curioso Caso de Benjamin Button” enquanto escrevia este texto, decidi tomar uma atitude que nunca havia tomado antes, alterar a nota que havia dado para o filme em questão. Comecei a notar que até mesmo eu estava o superestimando e mudei a avaliação final do filme de 7,5 para 6,5; de 4 estrelas para 3 estrelas.

Obs. 2: Na próxima parte sobre as minhas indignações para com a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, atacarei mais abertamente a superestimação em cima do filme de Roth e Fincher, uma vez que nesta primeira parte dediquei-me mais a criticar os preconceitos da entidade responsável pela premiação.

Abraço (sem rancor no coração) a todos!!!

Daniel Esteves de Barros - Editor do Cine-Phylum.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Saldo da Aposta dos Indicados ao Oscar 2009

Uma vez publicadas as listas com os meus palpites sobre os possíveis indicados ao Oscar 2009 e os filmes que realmente foram indicados ao prêmio, farei aqui um balanço sobre os meus erros e acertos e, como não poderia deixar de ser, opinarei sobre a decisão dos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas:

Melhor Filme:
Acertei 60% dos palpites.
Considerações: a grande surpresa fica por conta da esnobada que a Academia deu em “Foi Apenas um Sonho” ou, no original, “Revolutionary Road”. Com o perdão pelo péssimo trocadilho, a indicação deste aos principais prêmios “foi apenas um sonho” (é, eu sei, a piada foi infame, não é mesmo? Acontece que estou treinando para roteirizar o programa “Zorra Total”). Surpreendente também foi a não indicação de “The Wrestler” aos principais prêmios, uma vez que o mesmo era dado quase como certo na disputa. Outro grande acontecimento inesperado foi a indicação de “O Leitor” para Melhor Filme. O longa havia sendo esnobado pelas principais premiações e a sua indicação acabou deixando-nos boquiabertos. Não imaginava também que “Frost/Nixon” pudesse concorrer, uma vez que o mesmo estava recebendo muitas críticas negativas da mídia especializada. Os demais indicados? Só assisti a “O Curioso Caso de Benjamin Button” e “Quem Quer Ser um Milionário? (até que enfim “Slumdog Millionnarie” ganhou um título nacional, muito ruim diga-se, mas ainda assim é um título nacional) e digo, ambos são superestimados e, infelizmente, a disputa deverá ficar entre os dois. Lastimável “O Cavaleiro das Trevas”, “Wall-E” e “A Troca” terem ficado de fora.

Melhor Diretor:
Acertei 80% dos palpites.
Considerações: parece que, ao lado da esnobada atribuída a “Foi Apenas um Sonho”, a valorização de “O Leitor” foi a maior surpresa desta revelação de indicados ao Oscar. Da mesma forma que não contava com o filme de Stephen Daldry para Melhor Filme, também não apostava um centavo sequer na sua indicação para Melhor Diretor. Quanto aos demais, digo que eram previsíveis. Aproveito para ratificar a decisão da Academia em indicar Fincher e Boyle, afinal de contas, se seus filmes contam com defeitos, estes não se devem a seus trabalhos, sobretudo o primeiro que conferiu uma sensibilidade fora do comum a “O Curioso Caso de Benjamin Button”.

Melhor Roteiro Original:
Acertei 40% dos palpites (vergonha!!!).
Considerações: quem poderia imaginar que “Vicky Cristina Barcelona”, “Gran Torino” e “The Wresler” fossem ficar de fora (sobretudo o filme de Woody Allen, cineasta este que nunca fica de fora de uma disputa)? Todos os três estavam sendo ovacionados demais e esperava-se que a Academia reconhecesse isso. No entanto, não foi o que aconteceu. Lamentável o ótimo filme de Woody Allen ficar de fora deste quesito que, sem duvida alguma, merecia concorrer. Quanto a “Milk” e “Wall-E”, ambos eram previsíveis e confesso ter ficado extremamente feliz ao ver o filme do simpático e carismático robozinho concorrendo a um prêmio tão importante (apesar de que o mesmo também merecia concorrer por Melhor Diretor e Melhor Filme). Quanto aos demais filmes, terei de assistir aos mesmos para confirmar se merecem, ou não, tal indicação (e isso será ótimo, principalmente levando-se em conta que eu gostaria muito de assistir a “Na Mira do Chefe”, uma vez que não tive a oportunidade de conferir a sua estréia no Cinema).

Melhor Roteiro Adaptado:
Acertei 80% dos palpites (pronto, estou começando a recuperar minha honra!!!).
Considerações: preciso comentar? É claro que o único erro que cometi aqui deve-se à zebra desta temporada: o filme “O Leitor”. A propósito, preciso assisti-lo o quanto antes para confirmar o que ele possui de tão especial a ponto de surpreender todo mundo. Quanto aos demais, discordo das indicações de “Quem Quer Ser um Milionário?” e, principalmente, da enxurrada de clichês chamada “O Curioso Caso de Benjamin Button”. “Duvida” (Doubt) e “Frost/Nixon” estavam recebendo muitas indicações em outras premiações neste quesito, logo, tornou-se fácil deduzir que ambos seriam indicados aqui.

Melhor Montagem:
Acertei 100% dos palpites (UAU!!! Agora sim restabeleci minha honra por completo!!!).
Considerações: gostei muito da montagem de “O Cavaleiro das Trevas” e até mesmo das montagens de “O Curioso Caso de Benjamin Button” e “Quem Quer Ser um Milionário?”, logo, não tenho o que reclamar aqui (apesar de ter sentido uma falta tremenda de “A Troca” e “Wall-E”, mas tudo bem). Mais uma vez deduzi “Milk” e “Frost/Nixon” pelo mesmíssimo motivo: ambos estavam sendo muito bem cotados neste item e as chances de ficarem de fora seriam praticamente nulas. Quanto a “O Cavaleiro das Trevas”, este foi um filme muito bem recebido pela crítica e pelo público e era óbvio que a Academia iria lhe ceder ao menos uma vaga dentre, pelo menos um, dos prêmios principais.

Melhor Ator:
Acertei 80% dos palpites.
Considerações: conforme mencionei, ninguém esperava a esnobada da Academia em cima de “Foi Apenas um Sonho”, logo, a vaga de Leonardo DiCaprio sendo preenchida por Richard Jenkis era algo inesperado (ao menos para mim, levando-se em conta que DiCaprio sempre concorre a alguma coisa). Quanto aos demais, não há nenhuma novidade. Ah, e Brad Pitt merece sim ser indicado, pois é como disse, se “...Benjamin Button” possui falhas, as mesmas estão presentes no roteiro do mesmo, e não nos demais quesitos da obra, sobretudo na magnífica atuação de Pitt.

Melhor Atriz:
Acertei 80% dos palpites.
Considerações: longe de querer criar tergiversações para justificar meu erro, digo que a culpa foi da Academia. Sim, o papel de Kate Winslet em “O Leitor” é tido como coadjuvante, e não protagonista, logo, a atriz está concorrendo pelo filme errado na categoria errada. O correto seria indicá-la da maneira que previ, melhor atriz por “Foi Apenas um Sonho”. Preciso comentar o quão feliz fiquei com a indicação de Jolie por “A Troca”? Não, não é mesmo? A Academia tinha que atribuir uma indicação de peso ao filme de Eastwood, escolheu esta. Quanto as demais atuações, ainda não as conferi.

Melhor Ator Coadjuvante:
Acertei 80% dos palpites.
Considerações: juro que ia inserir Robert Downey Jr. por “Trovão Tropical”, mas na hora H optei por um dos queridinhos da Academia neste ano. Não, não me refiro a Dev Pael, mas sim a supervalorização de “Quem Quer Ser um Milionário?”. Afinal de contas, por mais que a atuação de Downey Jr. se mostrasse superior à de Pael, como seria possível a Academia deixar uma de suas maiores apostas de fora deste quesito e dar a vaga a um ator que trabalhou em um filme que não receberá nenhum prêmio durante a cerimônia? Pois é, acontece que os votantes decidiram quebrar alguns paradigmas e colocar um papel menos, digamos, sério para concorrer ao troféu em questão. Fora Downey Jr., os demais candidatos eram ridiculamente previsíveis e a indicação deles era mais do que óbvia, principalmente Heath Ledger que, certamente ficará com o prêmio póstumo.

Melhor Atriz Coadjuvante:
Acertei 60% dos palpites (minha honra volta a ser questionada!!!).
Considerações: aqui reconheço que foi falha minha. Bem, não apenas falha minha como também da Academia, afinal de contas, conforme já havia mencionado, quem poderia adivinhar que os votantes iriam considerar o papel de Winslet em “O Leitor” como sendo personagem principal e não coadjuvante? Agora, reconheço que falhei terrivelmente ao esnobar “Dúvida”, que irá concorrer contando com duas atrizes indicadas ao mesmo prêmio: Amy Adams e Viola Davis (algo raro de se ver no Oscar). Confesso que fui uma anta ao esnobar o filme em questão e, por este motivo, desperdicei dois votos. A indicação de Penelope Cruz é mais do que merecida e, quanto as demais atrizes, ainda não pude acompanhar o trabalho destas.

Melhor Trilha-Sonora Original:
Acertei 80% dos palpites (minha honra volta a ser enaltecida!!!).
Considerações: Uma coisa é certa, neste quesito, todo ano concorre a animação que irá levar o prêmio de Melhor Animação (no caso, “Wall-E”) e quase todo ano concorrem os dois filmes que têm mais chances de faturar o prêmio de Melhor Filme (no caso, “... Button” e “... Milionário?”). Há também o filme que disputará Melhor Filme sem muitas chances de vencer (no caso, “Milk”) e, como sempre, a obra surpresa. Esperava ser surpreendido por “Gran Torino”, marquei bobeira e fui surpreendido por “Defiance”. Coisas da vida. Enfim, gosto muito das trilhas de “Wall-E”, “... Button” e “... Milionário”, logo, todas as três mereceram a indicação. As outras duas desconheço.

Melhor Canção Original:
Acertei 66,6% dos palpites.
Considerações: não sei onde estava com a minha cabeça de girino a ponto de fazer 5 apostas em uma categoria que só permite 3 indicações. Enfim, gafes à parte, não esperava que, com tantas canções excepcionais, a Academia fosse ficar com duas de um mesmo filme. De qualquer forma gosto de todas as três, mas confesso que “Down to Earth” de “Wall-E” me atrai muito mais. Três indicações merecidas.

Melhor Maquiagem:
Acertei 66,6% dos palpites.
Considerações: muito têm-se comentado sobre a maquiagem de “O Leitor” e decidi apostar no mesmo. Me dei mal. Para o lugar deste a Academia indicou “Hellboy II - O Exército Dourado”. Sabia escolha, afinal de contas, a maquiagem contida no filme do “Vermelho” não só é magnífica como também é inerente à obra. “O Cavaleiro das Trevas” e “... Button” então nem se comenta, sobretudo a do segundo que consegue a façanha de deixar um bebê com a pele toda enrugada e o quarentão Brad Pitt com rosto de adolescente de 18 anos. Todas as indicações foram merecidas.

Melhor Direção de Arte:
Acertei 40% dos palpites.
Considerações: ai, ai, ai... que furada!!! Subestimei “Batman” e dava a indicação de “Australia” como quase certa. “O Leitor” foi um tiro no escuro e, justo uma das únicas categorias em que aposto no mesmo, o filme de Stephen Daldry me decepciona. Equivoquei-me amplamente também ao imaginar que “Indiana Jones 4” iria ser reconhecido pela Academia graças a força que o seu protagonista tem, mas parece que os votantes não quiseram nem saber, agiram objetivamente (ao menos uma vez na vida eles teriam que se portar de tal forma) e deixaram o filme de Spielberg de fora. Quanto a “... Button” e “Foi Apenas um Sonho” eram mais do que previsíveis as indicações de ambos. Merecidas, aliás.

Melhor Fotografia:
Acertei 60% dos palpites.
Considerações: “O Curioso Caso de Benjamin Button” não só mereceu a indicação como também merece o prêmio que certamente irá levar (uma das poucas estatuetas a que foi indicado e realmente merece por as mãos). “Quem Quer Ser um Milionário?” e “Foi Apenas um Sonho” também mereceram a indicação e foi fácil deduzir que ambos entrariam na disputa, pois estavam sendo muito bem elogiados pela qualidade de suas Direções de Fotografia. Fiquei feliz por ter errado extremamente em relação a “O Cavaleiro das Trevas” e “A Troca”, afinal de contas, ambos são dignos da indicação que receberam e se os subestimo, é porque sabia que a Academia também o viria a fazer, só não sabia que a mesma iria os reconhecer nesta categoria “Melhor Fotografia”. A esnobação sobre “Australia”, no entanto, foi, inquestionavelmente imprevisível, pois muitos profissionais não pouparam elogios em relação à qualidade da fotografia do longa em questão.

Melhor Mixagem de Som:
Acertei 60% dos palpites.
Considerações: é aquela estória: apostei em “... Benjamin Button” nesta categoria porque muitos profissionais da área falavam bem e blá, blá, blá... Mereceu? Sim, tanto que em minha crítica feita ao filme de Fincher, a fim de elogiar o trabalho dos responsáveis pela mixagem de som, citei o exemplo do vento uivando e o modo como este nos introduz ao clima da obra. Vale lembrar também a cena da batalha naval, onde a mixagem de som colabora muito para a perfeita execução desta. Apostei em “Batman - O Cavaleiro das Trevas” e “Wall-E” por ter deduzido que ambos eram barulhentos o suficiente para concorrem ao prêmio. Agora, seguindo a lógica de que quanto mais barulhento for um determinado filme maior é chance deste concorrer à categoria “Melhor Mixagem de Som”, por que cargas d’água não apostei em “O Procurado” e “Quem Quer Ser um Milionário?”?

Melhor Edição de Som:
Acertei 60% dos palpites.
Considerações: os mesmíssimos comentários da categoria supra, mas com um único acréscimo: “Australia” e “Defiance” são filmes barulhentos, mas “O Procurado” e “Quem Quer Ser um Milionário?” são ainda mais. Por este motivo a vaga ficou com estes dois últimos e não com os filmes em que eu havia apostado outrora.

Melhores Efeitos Especiais:
Acertei 100% dos palpites.
Considerações: não só são os três mais bem comentados no que diz respeito a efeitos especiais como também são, definitivamente, os três longas que mais se destacam nesta categoria. Todos muito bons. Todos mesmo.

Melhor Animação:
Acertei 66,6% dos palpites.
Considerações: “Bolt - O Supercão” no lugar de “Valsa Com Bashir”?! Mas que m... é essa? Pro inferno com essa Academia ridícula. Já não basta indicar o superestimado “O Curioso Caso de Benjamin Button” em 13 categorias, os velhotes ridículos ainda colocam um filminho tolo como “Bolt...” no lugar de “... Bashir”? Enfim, tão previsível quanto a vitória de Ledger em “Melhor Ator Coadjuvante” é a vitória de “Wall-E” nesta categoria. Aliás, em um mundo minimamente decente, “Wall-E” não só mereceria vencer nesta categoria como também mereceria concorrer e vencer na categoria de “Melhor Filme” também (é claro que caso a animação de Stanton concorresse diretamente com “O Cavaleiro das Trevas”, o longa do Homem-Morcego justamente levaria a melhor). Quanto às outras animações, ambas são duas porcarias superestimadas. Vaias para a Academia! Morte aos membros que a compõe!

Melhor Filme Estrangeiro:
Acertei 60% dos palpites.
Considerações: dentre os indicados, confesso ter assistido somente a “Valsa Com Bashir” e os demais foram meros ‘chutes’ embasados em outras premiações. Ainda assim tive a felicidade de ter acertado a maioria dos filmes.
Considerações finais: estou muito contente por ter acertado a maior parte dos filmes em que apostei (salvo “Melhor Roteiro Original” e “Melhor Direção de Arte”. Pesquisei bastante a respeito antes de postar a minha lista e meu esforço não foi em vão. Quanto às decisões da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, só uma coisa a declarar: que Hitler, Mussolini, Pinochet e Stalin renasçam e passem a perseguir todos os membros da Academia, submetendo-os (não apenas eles mas as suas próximas dez gerações) a todos os tipos de torturas cruéis, insanas, psicóticas e desumanas que se possa imaginar. Em breve, postarei um texto sobre a minha indignação para com o Oscar deste ano.

Abraços a todos!

Daniel Esteves de Barros - Editor do Cine-Phylum.

Appaloosa - A Cidade Sem Lei - ** de *****

Já disse e torno a dizer, sou fã incondicional de westerns. Dentre os títulos em DVDs que possuo, o gênero que predomina é o famoso “bang-bang” (devo ter aproximadamente uns 30 filmes desta espécie, que incluem toda a Trilogia dos Dólares de Sergio Leone (“Por um Punhado de Dólares”, “Por uns Dólares a Mais” e “Três Homens em Conflito”), a Trilogia da América do mesmo cineasta (“Era uma Vez no Oeste”, “Quando Explode a Vingança” e não menciono “Era uma Vez na América” por um motivo óbvio, este não é western - dããããã), “Matar ou Morrer”, “Dança Com Lobos”, “Viva Zabata!”, entre outros, incluindo o ótimo e recente “Os Indomáveis”), logo, quando fiquei sabendo que este “Appaloosa – A Cidade Sem Lei” iria estrear nos cinemas no final de semana passado, fiquei, de uma certa forma, ligeiramente ansioso para conferi-lo (pois é como sempre digo, nunca me entusiasmo demais, ou de menos, antes de conferir um determinado filme. As chances de nos decepcionarmos são grandes). O problema é que, mesmo a ansiedade sendo bem pequena, o longa acabou me decepcionando bastante, afinal de contas, o mínimo que se poderia esperar era um filme razoavelmente divertido, principalmente após conferir o trailer do mesmo.

Ficha Técnica:
Título Original: Appaloosa.
Gênero: Western.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://welcometoappaloosa.warnerbros.com/
Nacionalidade: Estados Unidos.
Tempo de Duração: 114 minutos.
Direção: Ed Harris.
Roteiro: Robert Knott e Ed Harris, baseado em livro de Robert B. Parker.
Elenco: Ed Harris (Virgil Cole), Viggo Mortensen (Everett Hitch), Jeremy Irons (Randall Bragg), Renée Zellweger (Allison French), Robert Jauregui (Xerife Jack Bell), Timothy V. Murphy (Vince), Luce Rains (Dean), James Tarwater (Chalk), Boyd Kestner (Bronc), Gabriel Marantz (Je Whittfield), Cerris Morgan-Moyer (Tilda), James Gammon (Earl May), Timothy Spall (Phil Olson), Tom Bower (Abner Raines), Erik J. Bockemeier (Fat Wallis), Ariadna Gil (Katie), Lance Henriksen (Ring Shelton), Adam Nelson (Mackie Shelton), Bob L. Harris (Juiz Elias Callison) e Daniel Parker (Mueller).

Sinopse: Novo México, 1888. Appaloosa é uma pequena cidade controlada por Randall Bragg (Jeremy Irons), um fazendeiro que se julga acima da lei e vive extorquindo os comerciantes locais. A fim de dar um basta nos abusos deste, os cidadãos contratam dois pistoleiros mercenários: Virgil Cole (Ed Harris) e Everett Hitch (Viggo Mortensen) – que ganham a vida “trazendo a paz” (conforme eles mesmos dizem) a cidades cujo poder policial é praticamente inexistente – para acabarem, de uma vez por todas, com o regime ditatorial imposto por Bragg e sua quadrilha.

Appaloosa - Trailer:

Crítica:

Ao contrário do que muitos pensam, o gênero western é extremamente antigo (e ponha antigo nisso) e foi um dos primeiros espécimes a dar as caras no Cinema. Só para se ter uma idéia, um dos primeiros filmes roteirizados criados pela sétima Arte foi o perfeito “O Grande Roubo do Trem” de Edwin S. Potter, lançado em 1903. Ou seja, os populares “bang-bangs” tiveram a sua origem a cento e seis anos atrás (quando nossos avôs nem ao menos pensavam em dar início à sua existência) e não na década de 1930, com John Wayne atuando e John Ford dirigindo, conforme muitas pessoas pensam.

Tendo em vista isso, era de se esperar que, com o passar dos anos, as obras deste gênero cinematográfico fossem se desgastando cada vez mais, a ponto de não conseguirem mais contar com um pingo de originalidade sequer. Isto pode ser comprovado no próprio “Os Indomáveis” onde, ao analisá-lo, lembro-me de ter mencionado que alguns filmes já contam com certos defeitos antes mesmo de seu “nascimento”. No caso da obra estrelada por Russel Crowe e Christian Bale, o defeito estava no fato deste ser a adaptação de um outro filme (“Galantes e Sanguinários”, no caso) cuja sinopse tornou-se altamente batida com o passar dos anos. Ou seja, a mera intenção de se adaptar um filme clichê já se revela automaticamente um erro, e “Appaloosa – A Cidade Sem Lei”, infelizmente, acabou cometendo este deslize.

Se o leitor tiver a bondade de ler a sinopse que escrevi acima, irá notar que o argumento de “Appaloosa” possui como ingrediente principal um dos maiores chavões da história do Cinema: a dupla de amigos durões que, sozinhos, planejam derrotar uma quadrilha inteira de marginais. Não bastasse isso, o filme ainda tem a audácia (ou seria a falta de?) de incluir no roteiro a mocinha aparentemente meiga que rouba o coração do mocinho insensível e, pasmem, criar um ligeiro triângulo amoroso entre mocinho, mocinha e escudeiro do mocinho (já ouviram falar da lenda de Arthur, Guinevere e Lancelot? É mais ou menos igual, só que bem menos intenso e cativante).

E falando em escudeiro do mocinho, o que podemos dizer da dinâmica desenvolvida entre ele e o protagonista? Não fossem pelas boas atuações dos carismáticos Harris e Mortensen, ambos seriam risíveis. Os personagens até conseguem despertar o interesse do público devido, principalmente, à vida de andarilho que levam, mas o roteiro apela a piadinhas completamente sem graça e artifícios demasiadamente artificiais durante a confecção do alicerce do relacionamento entre Cole e Hitch. Só para se ter uma idéia, um dos maneirismos empregados na construção da dinâmica entre ambos é o fato do primeiro sempre esquecer-se da pronuncia correta de uma palavra ligeiramente complexa e recorrer ao segundo para auxiliá-lo. Isso nada mais é do que uma falha metáfora arrolada ao relacionamento entre os dois amigos, ou seja, quando um não obtém êxito em uma tarefa sozinho, recorre ao segundo.

Mas o problema mor não está necessariamente nos protagonistas da estória, pois conforme já fora mencionado, os mesmos, além de conseguirem nos despertar um certo interesse devido aos seus estilos de vida, são constituídos pelas interessantes atuações de seus respectivos atores. Todavia, a grande falha do filme, no que diz respeito ao quesito personagens, reside na composição de Allison French. Não bastasse o fato de ser o estereótipo da mocinha que se faz de santa quando, na realidade, trata-se de uma vadia em larga escala, French é incorporada por uma pavorosa atuação de Renée Zellweger. Além da atriz empregar o uso de um tom de voz ridículo e irritante, a mesma passa o filme todo com a mesmíssima expressão: um maçante, e nada convincente, sorrisinho sem dentes que falha gritantemente na tentativa de fazer com que a mesma aparente ser uma moça meiga. Aliás, se fosse possível, juro que atravessaria a tela do cinema e extrairia todos os dentes que Zellweger escondeu por trás daquele sorriso fajuto com uma sequência de socos deferidos da maneira mais forte o possível (é, eu sei, ando bastante estressado e mal-humorado ultimamente, mas juro que logo passa).

O antagonista da trama, no entanto, revela-se minimamente interessante (o que já é uma grande coisa, tendo em vista a mediocridade do filme de um modo geral). Randall Bragg pode até não contar com quaisquer resquícios de originalidade, mas ao menos não descamba para o estereotipado vilão dos demais filmes do gênero. O personagem, encarnado através de uma cativante atuação do sempre ótimo Jeremy Irons, se revela um típico vilão de western (o que não quer dizer que seja necessariamente um clichê, muito pelo contrário). Ao invés de apresentar um semblante carrancudo ou um gênio cruel o bastante a ponto de matar uma pessoa apenas pelo prazer de matar, Bragg se revela um homem elegante (bem mais elegante que os próprios “heróis” do filme, diga-se) e dotado de certa cultura e charme. O vilão não é do tipo desequilibrado que chega atirando antes mesmo de falar. A primo, ele conversa, negocia, tenta persuadir pacificamente. Caso o diálogo não funcione da maneira esperada, o mesmo toma medidas mais extremadas. Um dos maiores acertos do filme, sem duvida.

Mas se o longa acerta na caracterização de Bragg, falha terrivelmente ao incluir, não apenas ele como os demais personagens também, em tiroteios tolos sem propósito algum. Aquela que era para ser a cena de ação mais poderosa do filme se revela decepcionante e falha, principalmente no que diz respeito ao motivo de sua existência. A mesma se mostra mais uma despropositada disputa pela recuperação da honra (afinal de contas, levar um “par de galho” na testa não deve ser muito honroso, não é mesmo?) do que uma querela pelo cumprimento da lei. O duelo final então nem se comenta, altamente ridículo e artificial.

O grande defeito da obra que marca a estréia de Ed Harris na direção consiste, no entanto, na dificuldade que o roteiro encontra para encaixar cenas de ação que preencham as suas lacunas vazias. Pois é, se o filme não consegue criar um drama tão eficiente quanto “Dança Com Lobos”, ou uma ação tão tensa quanto “Matar ou Morrer”, ou personagens tão bem desenvolvidos quanto os de “Três Homens em Conflito”, ou ainda uma química tão cativante quanto a dos protagonistas de “Os Indomáveis” (só para citar um filme bastante recente e não ser tachado de saudosista e/ou tradicionalista), o mínimo que se pode esperar é que ele funcione no que diz respeito à diversão. Pois nem como mero filme pipoca “Appaloosa – A Cidade Sem Lei” funciona. Contando com pouquíssimas sequências de ação, o western é maçante e os seus cento e quatorze minutos (um tempo relativamente curto comparado ao dos filmes atuais) de projeção custam a passar.

Nem tudo, porém, pode ser tachado de ruim, medíocre, ou simplesmente bom, no filme em questão. Além da atuação de Irons, outros quesitos se mostram acima da média em “Appaloosa”, bem como a fotografia, a direção de arte e a trilha-sonora. A fotografia é bela e realça muito bem as paisagens filmadas por Ed Harris (a propósito, o diretor pode até não realizar convincentes movimentações com a câmera, mas se mostra bastante eficiente quando cria ângulos fantásticos a fim de focar paisagens belíssimas). A direção de arte é ótima e cria muito bem uma cidade pequena e pacata, mas levemente suja. A trilha-sonora, por sua vez, nos remete à época retratada pelo filme e cria uma fantástica aura por trás da trama.

É realmente lamentável, no entanto, que “Appaloosa – A Cidade Sem Lei”, além de não apresentar absolutamente nada de novo, apele a todos os clichês possíveis e se mostre um filme aborrecedor. Uma produção mais ousada e menos patética poderia facilmente ter colaborado para a prorrogação do prazo de extinção do western que é um dos primeiros e mais importantes gêneros da história do Cinema.

Avaliação Final: 4,0 na escala de 10,0.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Lista dos Indicados ao Oscar 2009

Enfim, sai os indicados ao Oscar 2009. A princípio, postarei apenas a relação de todos os concorrentes de cada categoria, posteriormente, publicarei os meus comentários sobre a concordância, ou não, com a relação dos indicados e comentarei meus erros e acertos realizando uma analogia entre minha lista de possíveis indicados ao Oscar 2009 com a lista oficial da Academia.

Melhor filme:

O Curioso Caso de Benjamin Button
Frost/Nixon
Milk
O Leitor
Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire )

Melhor atriz:

Anne Hathaway (O Casamento de Rachel)
Angelina Jolie (A Troca)
Melissa Leo (Frozen River)
Meryl Streep (Dúvida)
Kate Winslet (O Leitor)

Melhor ator:

Richard Jenkis (The Vistor)
Frank Langella (Frost/Nixon)
Sean Penn (Milk)
Brad Pitt (O Curioso Caso de Benjamin Button)
Mickey Rourke (The Wrestler)

Melhor atriz coadjuvante:

Amy Adams (Dúvida)
Penelope Cruz (Vicky Cristina Barcelona)
Viola Davis (Dúvida)
Taraji P. Henson (O Curioso Caso de Benjamin Button)
Marisa Tomei (The Wrestler)

Melhor ator coadjuvante:

Robert Downey Jr. (Trovão Tropical)
Philip Seymour Hoffman (Dúvida)
Heath Ledger (Batman - O Cavaleiro das Trevas)
Josh Brolin (Milk)
Michael Shannon (Foi Apenas um Sonho)

Melhor diretor

Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire ))
Stephen Daldry (O Leitor)
David Fincher (O Curioso Caso de Benjamin Button)
Ron Howard (Frost/Nixon)
Gus Van Sant (Milk)

Melhor roteiro original:

Frozen River
Simplesmente Feliz
Na Mira do Chefe
Milk
Wall-E

Melhor roteiro adaptado:

O Curioso Caso de Benjamin Button
Dúvida
Frost/Nixon
O Leitor
Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire )

Melhor trilha sonora original:

Alexandre Desplat (O Curioso Caso de Benjamin Button)
James Newton Howard (Defiance)
A. R. Rahman (Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire ))
Danny Elfman (Milk)
Thomas Newman (Wall-E)

Melhor canção original:

Down to Earth (Wall-E)
Jai Ho (Quem Quer Ser um Milionário? - Slumdog Millionaire)
O Saya (Quem Quer Ser um Milionário? - Slumdog Millionaire)

Melhor filme estrangeiro:

Der Baader Meinhof Komplex, de Uli Edel (Alemanha)
Waltz With Bashir, de Ari Folman (Israel)
The Class, Laurent Cantet (França)
Departures, Yojiro Takita (Japão)
Revanche, de Gotz Spielmann (Áustria)

Melhor animação:

Bolt - Supercão
Kung Fu Panda
Wall-E

Melhor curta de animação:

La Maison en Petits Cubes, de Kunio Kato
Lavatory - Lovestory, de Konstantin Bronzit
Oktapodi, de Emud Mokhberi e Thierry Marchand
Presto, de Doug Sweetland
This Way Up, de Alan Smith e Adam Foulkes

Melhor documentário:

The Betrayal (Nerakhoon), de Ellen Kuras e Thavisouk Phrasavath
Encounters at the End of the World, de Werner Herzog e Henry Kaiser
The Garden, de Scott Hamilton Kennedy
Man on Wire, de James Marsh e Simon Chinn
Trouble the Water de Tia Lessin e Carl Deal

Melhor documentário em curta-metragem:

The Conscience of Nhem En
The Final Inch
Smile Pinki
The Witness - From the Balcony of Room 306

Melhor curta-metragem:

Auf der Strecke (On the Line)
Manon on the Asphalt
New Boy
The Pig
Spielzeugland (Toyland)

Melhor direção de arte:

A Troca
O Curioso Caso de Benjamin Button
Batman - O Cavaleiro das Trevas
A Duquesa
Foi Apenas um Sonho

Melhor fotografia:

A Troca (Tom Stern)
O Curioso Caso de Benjamin Button (Claudio Miranda)
Batman - O Cavaleiro das Trevas (Wally Pfister)
O Leitor (Chris Menges and Roger Deakins)
Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire ) (Anthony Dod Mantle)

Melhor edição:

O Curioso Caso de Benjamin Button (Kirk Baxter e Angus Wall)
Batman - O Cavaleiro das Trevas (Lee Smith)
Frost/Nixon (Mike Hill and e Hanley)
Milk (Elliot Graham)
Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire ) (Chris Dickens)

Melhor mixagem de som:

O Curioso Caso de Benjamin Button (David Parker, Michael Semanick, Ren Klyce e Mark Weingarten)
Batman - O Cavaleiro das Trevas (Lora Hirschberg, Gary Rizzo e Ed Novick)
Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire ) (Ian Tapp, Richard Pryke e Resul Pookutty)
Wall-E (Tom Myers, Michael Semanick e Ben Burtt)
O Procurado (Chris Jenkins, Frank A. Montaño e Petr Forejt)

Melhor edição de som:

Batman - O Cavaleiro das Trevas (Richard King)
Homem de Ferro (Frank Eulner e Christopher Boyes)
Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire) (Tom Sayers)
Wall-E (Ben Burtt e Matthew Wood)
O Procurado (Wylie Stateman)

Melhores efeitos especiais:

O Curioso Caso de Benjamin Button (Eric Barba, Steve Preeg, Burt Dalton e Craig Barron)
Batman - O Cavaleiro das Trevas, (Nick Davis, Chris Corbould, Tim Webber e Paul Franklin)
Homem de Ferro (John Nelson, Ben Snow, Dan Sudick e Shane Mahan)

Melhor maquiagem:

O Curioso Caso de Benjamin Button (Greg Cannom)
Batman - O Cavaleiro das Trevas, (John Caglione, Jr. e Conor O'Sullivan)
Hellboy II (Mike Elizalde e Thom Floutz)

Melhor figurino:

Austrália (Catherine Martin)
O Curioso Caso de Benjamin Button (Jacqueline West)
A Duquesa (Michael O'Connor)
Milk (Danny Glicker)
Foi Apenas um Sonho (Albert Wolsky)

Fonte Universo On-Line

Possíveis Concorrentes ao Oscar 2009

Sei que prometi há semanas atrás, mas tendo em vista a correria que anda minha vida (ahhh, não vejo a hora de encerrar este intensivo de inglês!) só pude postar esta lista agora. Ao menos o fiz antes que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas publicasse os concorrentes definitivos.
Espero acertar bastante, uma vez que fiz uma pesquisa bem intensa antes de montar esta lista. Vamos lá?

Melhor Filme:

The Curious Case of Benjamim Button
Slumdog Millionaire
Revolutionary Road
Milk
The Wrestler

Melhor Diretor:

David Fincher - The Curious Case of Benjamim Button
Sam Mendes - Revolutionary Road
Danny Boyle - Slumdog Millionaire
Gus Van Sant - Milk
Darren Aronofsky - The Wrestler

Melhor Roteiro Original:

Gran Torino
Milk
Vicky Cristina Barcelona
Wall-E
The Wrestler

Melhor Roteiro Adaptado:

Slumdog Millionaire
The Curious Case of Benjamim Button
Doubt
Revolutionary Road
Frost/Nixon

Melhor Montagem:

Slumdog Millionaire
The Dark Knight
The Curious Case of Benjamim Button
Frost/Nixon
Milk

Melhor Ator:

Brad Pitt - The Curious Case of Benjamim Button
Sean Penn - Milk
Leonardo DiCaprio - Revolutionary Road
Frank Langella - Frost/Nixon
Mickey Rourke - The Wrestler

Melhor Atriz:

Meryl Streep - Doubt
Anne Hathaway - Rachel Getting Married
Angelina Jolie - Changeling
Melissa Leo - Frozen River
Kate Winslet - Revolutionary Road

Melhor Ator Coadjuvante:

Dev Pael - Slumdog Millionaire
Michael Shannon - Revolutionary Road
Heath Ledger - The Dark Knight
Phillip Seymour Hoffman - Doubt
Josh Brolin - Milk

Melhor Atriz Coadjuvante:

Penelope Cruz - Vicky Cristina Barcelona
Taraji P. Henson - The Curious Case of Benjamin Button
Marisa Tomei - The Wrestler
Rosemarie DeWitt - Rachel Getting Married
Kate Winslet - The Reader

Melhor Trilha Sonora Original:

Wall-E
The Curious Case of Benjamim Button
Gran Torino
Milk
Slumdog Millionaire

Melhor Canção Original:

The Wrestler - The Wrestler
Jai Ho - Slumdog Millionaire
Down to Earth - Wall-E
Gran Torino - Gran Torino
I Thought I Lost You - Bolt

Melhor Maquiagem:

The Curious Case of Benjamim Button
The Reader
The Dark Knight

Melhor Figurino:

Australia
The Dutchess
The Curious Case of Benjamim Button
Changeling
Revolutionary Road

Melhores Efeitos Visuais:

Iron Man
The Dark Knight
The Curious Case of Benjamim Button

Melhor Direção de Arte:

The Curious Case of Benjamim Button
Australia
The Reader
Revolutionary Road
Indiana Jones and The Kingdom of Crystal Skull

Melhor Fotografia:

Australia
The Reader
The Curious Case of Benjamim Button
Slumdog Millionaire
Revolutionary Road

Melhor Mixagem de Som:

Indiana Jones and The Kingdom of Crystal Skull
Wall-E
The Dark Knight
Iron Man
The Curious Case of Benjamim Button

Melhor Edição de Som:

Wall-E
Australia
The Dark Knight
Iron Man
Defiance

Melhor Animação:

Wall-E
Vals Im Bashir
Kung Fu Panda

Melhor Filme Estrangeiro:

The Baader Meinhof Complex
Entre Les Murs
Maria Larrson’s Everlasting Moment
Vals Im Bashir
Revanche

Obs.: Os títulos dos filmes encontram-se em sua forma original pois há muitas obras cujos títulos traduzidos não foram definidos ainda, logo, preferi posta-los todos deste modo.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button - *** de *****

Tudo indica que, mais uma vez, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas irá atribuir o prêmio certo ao filme errado. Ano passado, o excelente “Onde os Fracos Não Têm Vez” derrotou o perfeito “Sangue Negro” (o terceiro filme que mais me agradou nesta década) na disputa do Oscar® de Melhor Filme. Em 2007, o excelente “Os Infiltrados” derrotou o também excelente “Cartas de Iwo Jima” e, mesmo o filme de Martin Scorsese sendo quase tão fantástico quanto o de Clint Eastwood, não resta dúvidas de que o drama de guerra merecia mais o prêmio. Em 2006, amei de paixão a vitória de “Crash – No Limite” sobre os superestimados “O Segredo de Brokeback Mountain” e “Munique” (favoritos até então), mas confesso que, por mais excelente que tenha considerado o filme de Paul Haggis, fiquei extremamente triste ao ver “Boa Noite, e Boa Sorte”, o melhor dentre todos os concorrentes, ser tão esnobado. Em 2005, o ótimo, embora carregado de clichês e estereótipos, “Menina de Ouro” derrotou o fantástico “O Aviador” (desta vez sim Scorsese merecia vencer Eastwood). Em 2004... bem, em 2004, finalmente houve justiça. Por mais que ame incondicionalmente “Mestre dos Mares – O Lado Mais Distante do Mundo” (conforme o leitor pode comprovar lendo o efusivo texto que escrevi sobre o mesmo há dois anos atrás) e adore “Sobre Meninos e Lobos” e os demais concorrentes ao prêmio de Melhor Filme daquele ano (aliás, para mim, aquela disputa foi a mais forte dos últimos tempos), não restam dúvidas de que “O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei” realmente merecia o prêmio que acabou levando. Agora em 2009, infelizmente, obras que realmente mereciam concorrer ao Oscar® de Melhor Filme nem ao menos entrarão na disputa. Refiro-me a “O Cavaleiro das Trevas”, “Wall-E”, “A Troca” e até mesmo o ótimo “Vicky Cristina Barcelona”. No lugar destes filmes teremos longas interessantes, mas superestimados, como é o caso de “Slumdog Millionnarie” e deste “O Curioso Caso de Benjamin Button”, cuja análise encontra-se logo mais abaixo.


Ficha Técnica:
Título Original: The Curious Case of Benjamin Button.
Gênero: Drama.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.benjaminbutton.com.br/
Nacionalidade: Estados Unidos.
Tempo de Duração: 166 minutos.
Diretor: David Fincher.
Roteiristas: Eric Roth e Robin Swicord, baseado em estória de F. Scott Fitzgerald.
Elenco: Brad Pitt (Benjamin Button), Cate Blanchett (Daisy), Julia Ormond (Caroline), Taraji P. Henson (Queenie), Faune A. Chambers (Dorothy Baker), Elias Koteas (Monsieur Gateau), Donna DuPlantier (Blanche Devereaux), Jacob Tolano (Martin Gateau), Ed Metzger (Teddy Roosevelt), Jason Flemyng (Thomas Button), Tilda Swinton (Elizabeth Abbott), David Ross Patterson (Walter Abbott) , Joeanna Sayler (Caroline Button), Mahershalalhashbaz Ali (Tizzy), Fiona Hale (Sra. Hollister), Patrick Thomas O'Brien (Dr. Rose), Danny Nelson (General Winston), Marion Zinser (Sra. Horton), Paula Gray (Sybil Wagner), Taren Cunningham (Elizabeth Abbott - jovem), Elle Fanning (Daisy - 7 anos), Madisen Beaty (Daisy - 10 anos), Peter Donald Badalamenti II (Benjamin Button - 1928 a 1931), Robert Towers (Benjamin Button - 1932 a 1934), Tom Everett (Benjamin Button - 1935 a 1937), Spencer Daniels (Benjamin Button - 12 anos), Chandler Canterbury (Benjamin Button - 8 anos), Charles Henry Wyson (Benjamin Button - 6 anos).

Sinopse: Benjamin Button (Brad Pitt) é, aparentemente, um típico cidadão estadunidense como outro qualquer. Entretanto, o mesmo conta com uma doença extremamente incomum. Quando nasceu, mesmo tendo o corpo com as mesmas proporções do de um bebê, Benjamin apresentava uma fisionomia e algumas doenças típicas das de um velho de 80 anos de idade. Contudo, quanto mais a sua idade avançava, mais Benjamin rejuvenescia. Com aproximadamente oito anos de existência, o garoto se apaixona por Daisy (Cate Blanchett), porém, a sua má aparência não permite que o mesmo possa ter um relacionamento normal com a garota. Para isso, Benjamin precisa esperar que sua pequena amada envelheça e que ele rejuvenesça para que assim fiquem com aparências semelhantes e possam assumir um relacionamento normal. Mas o que acontecerá com ambos a partir do momento que o rapaz for ficando cada vez mais jovem e a moça cada vez mais velha?

The Curious Case of Benjamin Button - Trailer:

Crítica:

Três únicas vezes em toda a minha vida senti-me completamente transportado para dentro de um filme em virtude de uma determinada cena contida neste. A primeira vez foi em “Dr. Jivago”, quando Yuri Jivago arromba as portas de um palacete e temos uma maravilhosa visão de inúmeros móveis cobertos com gelo. A segunda foi em “O Poderoso Chefão”, durante o simples e belo casamento de Michael Corleone e Apolônia na Sicília. A terceira e última foi em “O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel”, quando os protagonistas da trama sobem as escadarias de Lothlórien para uma reunião com Galadriel. Essas três cenas foram fortes o bastante para me cativar por inteiro a ponto de fazer com que passasse vários dias sentindo como se as estivesse vivenciando. Passei noites e mais noites sonhando com as mesmas e demorou para que, definitivamente, saíssem de minha cabeça (infelizmente, tinham de sair algum dia).

Tive uma sensação parecida com as supracitadas ao assistir a este “O Curioso Caso de Benjamin Button”. Há uma cena em especial, quando o protagonista narra o quão mágico um hotel pode ser durante a noite, que simplesmente permaneceu em minha mente durante este último final de semana inteiro. O cuidado que a edição de som tem ao reproduzir os sons do vento uivando, a delicadeza da fotografia, a minuciosidade da direção de arte, o carinho com que o roteiro escolheu as palavras proferidas pelo narrador e, principalmente, a sensibilidade adotada pela direção de Fincher, fizeram com que a simples movimentação de uma cortina me transportasse para o imo da cena. A sensação foi tão mágica que, mesmo encontrando-me em uma temperatura de aproximadamente 20º C, passei dois dias inteiros tendo a deliciosa impressão de estar em um país gélido como a Rússia, mas em um local tão aconchegante como o hotel em que Benjamin Button encontrava-se na ocasião. Só isso já fez com que o filme valesse cada centavo gasto na compra do ingresso.

A sensibilidade conferida a esta mais nova investida cinematográfica de David Fincher (que deverá faturar os principais prêmios durante a noite da cerimônia do Oscar®) é digna de inveja. A estória é cativante do início ao fim e as quase três horas de duração do filme passam imperceptivelmente. Não tem como não nos cativarmos com o personagem de Brad Pitt, e isto não se deve apenas à sensibilidade do filme como também ao modo cuidadoso com que o roteiro o desenvolve. Muitas pessoas certamente irão achar que a trama é repleta de cenas desnecessárias, acontecimentos que pouco têm a acrescentar à estória principal, mas a verdade é que todos estes pequenos detalhes tornam o personagem extremamente real. Note a professora de piano, por exemplo, ela não tem um propósito muito grande no filme, mas não há como negarmos que a mesma confere alguns ingredientes à obra que nos faz, de uma forma ou de outra, estabelecer um elo extremamente enrijecido com Benjamin Button. Por que? Porque torna o personagem mais interessante, torna o personagem mais real.

Mesmo Button contando com uma rara doença, é incrível notarmos como conseguimos nos identificar com ele. O fato deste obter algum contato com inúmeras pessoas que acrescentam pouquíssimas coisas à trama principal só o torna mais real. Afinal de contas, responda-me, caro leitor, quantas pessoas você já conheceu que, através de uma simples conversa, acrescentou algo ligeiramente importante (mas ainda assim importante) a sua vida? Muitas, não é? Pois é, pessoas vêm, pessoas vão, e algumas delas, cujos nomes nem ao menos lembramos, nos conferem experiências que moldam, ainda que seja apenas um pouco, o nosso caráter, o nosso modo de pensar e até mesmo a nossa vida de uma maneira geral. São esses pequenos detalhes, essas pequenas pessoas, esses pequenos incidentes, que fazem de Button um personagem atraente, cativante e marcante.

O desenvolvimento dele então, nem se fale, é sensacional. Suas estórias são simplesmente fantásticas (no duplo sentido da palavra). Acompanhar a trajetória da vida de Button é quase como acompanhar a trajetória de nossas vidas (não fosse pela desnecessária carga fantástica (e agora falo unicamente no sentido literal da palavra), infelizmente, inserida no roteiro). É como assistirmos a uma pessoa qualquer (não fosse pela peculiaridade de sua doença) nascer, crescer e morrer, e é isto que o torna demasiadamente próximo de nós.

Durante três agradáveis horas de projeção somos convidados a testemunhar toda a vida de Button, detalhe por detalhe. É sensacional podermos acompanhá-lo descrevendo as experiências enfadonhas (mas que, para ele, eram maravilhosas) pelas quais passou em um asilo no início de sua vida, ou então a sensação libertária que o mesmo sentiu quando saiu de casa pela primeira vez e foi ao centro de Nova Orleans, ao lado de um conhecido, tomar uma cerveja e observar um lago (a parte em que ele menciona: “___ Aquele havia sido o melhor dia de minha vida, até então!” é triste e, ao mesmo tempo, hilária), ou testemunharmos a paixão que teve por Daisy quando criança (esse sim, um fato que marcaria a sua vida para sempre), ou então presenciarmos a sua primeira experiência sexual, o seu primeiro amor, o seu verdadeiro amor, e outras coisas mais que não descreverei aqui sob pena de estragar prováveis surpresas.

Se há algo em “O Curioso Caso de Benjamin Button” que pode ser considerado extremamente brilhante, é esse cuidado que o mesmo toma com os mínimos detalhes, com estas pequeninas estórias que, juntas, constroem uma existência inteira, afinal de contas, a vida é constituída de pequenos grandes acontecimentos. Veja o exemplo de um amigo meu, um dos melhores dias de sua adolescência foi quando este se trancou no quarto e externou todo o seu sentimento de revolta escutando a banda grunge estadunidense Pearl Jam, enquanto tomava uma única garrafa de cerveja (provavelmente, a primeira de sua vida). Hoje ele é formado em publicidade e trabalha como comerciante. O que a experiência previamente mencionada teve a ver com a “trama principal” de sua vida? Nenhuma. No entanto, há como negar que a mesma marcou, de uma forma ou de outra, a sua existência? Se tal experiência não tivesse conferido a menor importância sequer a este, ele certamente não teria se aberto comigo e mencionado o ocorrido, não é mesmo? O leitor entende agora o porquê insisti tanto que as pequenas experiências vivenciadas por Benjamin Button estabelecem um grande elo entre ele e o espectador?

É lamentável, porém, percebermos que um roteiro tão bem escrito apele tanto à fantasia. Certa vez Friedrich Wilhelm Nieztsche disse: “Uma obra de Arte só é verdadeiramente bela quando esta obedece aos limites da razão”. Concordo plenamente. A obra roteirizada por Eric Roth é indiscutivelmente bela, mas foge completamente da razão. Quando critiquei “O Encouraçado Potenkim” lembro-me de ter citado que, dentro dos limites da Arte, um filme só poderia aderir à fantasia caso criasse um mundo paralelo para tal (conforme ocorre com “O Senhor dos Anéis” e “Harry Potter”) e utilizasse o mesmo para estabelecer metáforas relacionadas ao nosso mundo (neste caso “Harry Potter” seria desclassificado, não fosse o respaldo de ser um filme infantil). Veja Marc Chagal, por exemplo. Quando este criou a Arte Fantástica (ou Nostálgica, caso o leitor prefira), ele fazia ambas as coisas com muita frequência, tanto que admite que muitos de seus quadros foram extraídos de sonhos que teve e que representaram grande importância em sua vida. Em “O Curioso Caso de Benjamin Button” nada disso acontece.

O fato de Button nascer velho e ir, literalmente, rejuvenescendo conforme a sua idade vai avançando, conta com algumas metáforas e não deixa de ter um propósito dentro da estória, além, é claro, de aumentar muito a dramaticidade desta e a carga reflexiva que ela exerce sob o espectador, mas não há como negar o excesso de absurdo da mesma. É claro que não existe um único filme criado até os dias atuais capaz de ser completamente plausível de ser absorvido em um contexto real (ah, como eu adoro utilizar esta frase!), mas o novo longa de Fincher extrapola os limites do aceitável. Se ao menos o roteiro buscasse uma justificativa realmente plausível para o que acontece, mas nem isso ele tenta fazer, ou melhor, tenta, mas não convence. E caso o leitor venha me dizer que o fenômeno ocorrido com Button se trata de uma idéia original criada pelo roteiro, peço para que assista a um de meus filmes prediletos quando criança: “História Sem Fim” (que, por sinal, é um filme que também respeita os limites da Arte Fantástica) e testemunhe que, de original, a trama não tem é nada.

Aliás, não só a trama como o filme em si conta com pouquíssima originalidade. É triste notarmos como, a todo o momento, “O Curioso Caso de Benjamin Button” cai no lugar comum. Vide o começo do filme para se ter uma idéia. Logo de cara a obra nos introduz a um clássico plano clichê. Iniciamos em um hospital com uma pessoa à beira da morte (clichê número um), esta pessoa é uma velha senhora que possui um diário guardado a sete chaves que conta uma estória extremamente estranha (clichê número dois). A velha tem um último desejo antes de falecer (clichê número três): que a filha leia a estória toda para ela (clichê número quatro). Pois como o leitor pode notar, em apenas cinco minutos de projeção “O Curioso Caso de Benjamin Button” conta com quatro clichês, e é claro que, durante o desenrolar da película, mais clichês imperdoáveis vão aparecendo: temos o pai que abandona o filho recém-nascido, a pobre moça caridosa que adota a criança, a paquerinha de infância do protagonista que, futuramente, viria a se tornar o grande amor de sua vida. Enfim, a enxurrada de clichês é tão intensa que o filme se torna previsível.

Não bastasse tudo isso, o longa ainda se mostra redondinho demais para a atualidade. É lastimável notarmos que, mesmo nos dias de hoje, quando os filmes tendem a ser cada vez mais crus e realistas, Hollywood ainda invista em uma produção moralmente correta, fora a hipocrisia contida na mesma. Tudo funciona maravilhosamente bem na vida de Benjamin Button, tudo é muito bonitinho, muito corretinho, são raras as decepções que este acaba passando, e quando passa por alguma, o roteiro dá um jeito de concertá-la. Oras, onde está aquele Eric Roth que incluiu no roteiro do ótimo “Forrest Gump – O Contador de Histórias” uma cena onde um garoto é apedrejado pelo simples fato de ser diferente? A propósito, onde está aquele David Fincher angustiado que dirigiu “Seven – Os Sete Crimes Capitais”? Onde está aquele David Fincher revoltado que dirigiu “Clube da Luta”? Onde está aquele David Fincher pessimista que dirigiu “Zodíaco”? Pois é, “morreu” dirigindo um filme água com açúcar chamado “O Curioso Caso de Benjamin Button”.

No saldo final, “O Curioso Caso de Benjamin Button” definitivamente conta com uma infinidade de erros imperdoáveis, que variam desde a dificuldade que este encontra para estabelecer limites entre a fantasia e a realidade, até a sua composição extremamente açucarada (exceto a um drama ou outro pelo qual o personagem sofre), passando pelo uso abusivo de clichês e estereótipos que o torna ligeiramente previsível. O filme, no entanto, é belíssimo (mesmo fugindo dos conceitos artísticos estabelecidos por Nieztsche). Por mais que a estória seja fortemente tola, não há como não nos enlaçarmos com a mesma e, sobretudo, com o seu personagem principal (a atuação sensacional de Pitt colabora muito para tal). Button cativa, Button emociona, Button, por várias vezes, lembra uma pessoa comum, uma pessoa que está diariamente ao nosso lado. O filme é altamente sensitivo, nos transporta para o coração da trama, inala toda a sua essência. Sua parte técnica então é perfeita. A direção de arte nos remete facilmente às épocas que almeja retratar, a fotografia transforma o longa em um dos espetáculos visuais mais belos já vistos ultimamente (e confesso que desde “O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei” uma fotografia se mostrava capaz de agradar-me tão veementemente) e a maquiagem é digna do Oscar® que obviamente irá ganhar, afinal de contas, você acha que é fácil transformar a face de uma criança em algo parecido com uma uva passa?

Uma verdadeira pena que, com tantas qualidades visíveis, “O Curioso Caso de Benjamin Button” venha a cometer erros tão infantis. Pior ainda é notar que tais erros foram cometidos por dois profissionais extremamente competentes, Roth e Fincher.

É, pelo visto o Oscar® deste ano será um dos mais superestimados de todos os tempos. Imaginou se, embalada pelo prêmio de Melhor Filme que a obra estrelada por Brad Pitt obviamente irá faturar, a indústria cinematográfica passar a produzir apenas filmes deste naipe? É, meus amigos, aí Daniel Esteves de Barros deixará de analisar filmes recentes e será mais outro cinéfilo saudosista que passará unicamente a se dedicar a filmes de cineastas como Kubrick, Scorsese, Fellini, Antonioni, Bergman, Renoir, Godard, Truffaut, Bresson, Kurosawa, Rocha, Eisenstein, entre outros.

Avaliação Final: 6,5 na escala de 10,0.