segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A Lista de Schindler - ***** de *****

Voltando a postar na sessão de “Filmes Clássicos”, optei por reeditar este texto de “A Lista de Schindler”, que havia publicado no site Cinema em Cena a cerca de dois ou três anos atrás e postá-lo aqui no Papo Cinema. Entretanto, minha intenção não era assistir ao longa novamente, almejava apenas dar uma analisada no texto, mudá-lo em alguns pontos, e postá-lo, mas não resisti e acabei assistindo ao filme pela terceira vez em minha vida. A sensação não pôde ser diferente, mais uma vez me derreti em lágrimas ao final da obra-prima de Steven Spielberg (oras, homens também choram, e também possuem sentimentos, não?). Logo após o término da sessão, reli o meu texto e optei por alterá-lo em algumas partes. O resultado o leitor poderá conferir logo mais abaixo, onde não poupei elogios para explanar sobre um de meus quinze filmes prediletos.


Ficha Técnica:
Título Original: The Schindler's List.
Gênero: Drama.
Ano de Lançamento: 1993.
Nacionalidade: EUA.
Tempo de Duração: 195 minutos.
Diretor: Steven Spielberg.
Roteirista: Steven Zaillian, baseado em obra-literária de Thomas Keneally.
Elenco: Liam Neeson (Oskar Schindler), Ben Kingsley (Itzhak Stern),Ralph Fiennes (Amon Goeth), Caroline Goodall (Emilie Schindler), JonathanSagall (Poldek Pfefferberg), Embeth Davidtz (Helen Hirsch), Malgoscha Gebel(Victoria Klonowska), Shmulik Levy (Wilek Chilowicz), Mark Ivanir (MarcelGoldberg), Béatrice Macola (Ingrid) e Andrzej Seweryn (Julian Scherner).

Sinopse: Oskar Schindler é um homem ganancioso, egoísta, totalitário e membro honorário do Partido Nazista. Um sujeito tão inescrupuloso que utiliza toda a sua malícia e o seu poder de persuasão para enriquecer-se cada vez mais através da guerra e do trabalho escravo judeu. No entanto, após assistir ao extermínio de um gueto judeu em uma cidade na Alemanha e se chocar completamente ao presenciar a maneira como estes eram tratados nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, Schindler muda completamente o seu modo de pensar e agir, a ponto de sensibilizar-se totalmente com a causa judia e criar uma lista gigantesca de trabalhadores judeus que viria a precisar para trabalhar em sua fábrica de armas. Com isto, Schindler gasta toda a sua fortuna a fim de comprar o maior número possível de trabalhadores judeus, fazendo assim com que os nazistas não os maltratem nos campos de concentração, providenciando com que estes tenham uma vida bem melhor e mais digna como funcionários de suas fábricas.

The Schindler’s List – Trailer:


Crítica:

“A Lista de Schindler” é o tipo de filme que Steven Spielberg (“E.T. – O Extraterrestre”), infelizmente, não está acostumado a dirigir. Não que eu tenha algo contra os demais projetos do diretor estadunidense, mas, convenhamos, nenhum deles se equipara a este longa em questão.

Inicialmente, os produtores de “A Lista...”almejavam que o diretor do longa fosse Martin Scorsese (este que considero comosendo um dos ícones máximos da história do Cinema mundial). No entanto, odiretor ítalo-americano recusou a proposta alegando que um cineasta estadunidense descendente de judeus poderia capturar muito mais a alma e a essência do filme do que ele próprio capturaria. Foi aí que Scorsese recomendou Spielberg.

O resultado, por incrível que pareça, foi altamente positivo e, quando digo:“por incrível que pareça”, é porque não sou um grande fã do trabalho de Spielberg como diretor e confesso que o julgo ligeiramente superestimado pelopúblico e pela crítica. Devo dizer também que considero a direção deste pouco ousada e que os seus filmes sempre dependem muito de efeitos visuais para funcionarem bem.

Neste longa, no entanto, a proposta de Spielberg é totalmente diferente. Desta vez o diretor descendente de judeus abandona os efeitos especiais que estão presentes em 90% de seus filmes, e nos brinda com uma estória deveras interessante que, ao invés de ser focada em alienígenas, dinossauros e outras coisas do tipo, retrata fielmente o holocausto que os nazistas exerceram sobre os judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

A propósito, umdos maiores responsáveis pela fidelidade com que o longa aborda os verdadeiros acontecimentos históricos é Steven Zaillian que nos presenteia com um roteiro adaptado com perfeição (tanto que foi eleito pelos críticos de cinema do mundotodo como sendo o 49° melhor roteiro da história do Cinema, em uma pesquisarealizada recentemente) do livro de Thomas Keneally, também intitulado de “A Lista de Schindler”. E já que mencionei o livro de Keneally, gostaria de dizer que considero o roteiro adaptado de Zaillian ainda melhor que o livro original, já que este é muito mais dinâmico do que aquele.
Mas voltando à direção de Spielberg, devo dizer que o grande destaque desta vai para a maneira descritiva com que ele retrata, por trás de sua detalhista câmera, o modo desumano como os judeus eram tratados nos campos de concentração nazistas. Outro ponto positivo, com relação à direção do filme, é que em momento algum Spielberg apela para a violência gratuita, sendo que, caso adireção do filme fosse de Scorsese provavelmente o diretor ítalo-americano iria acabar apelando um pouco mais para as cenas de violência tornando o longa ligeiramente sensacionalista, fato que não acontece com Spielberg (por mais que eu seja fã incondicional de Scorsese, reconheço que Spielberg dirigiu “A Lista de Schindler” de um modo que fez com que o longa soasse bastante realista, cruel e, ao mesmo tempo, nem um pouco apelativo, fato que não acredito que teria ocorrido caso a direção fosse do ítalo-americano responsável por “Touro Indomável”).

As atuações magníficas por parte do trio principal de atores também acrescentam muito ao longa. Ralph Fiennes (“O Morro dos Ventos Uivantes”) encarna com maestria o cruel e insano comandante Amon Goeth, um homem que odeia os judeus acima de tudo, mas que ainda assim, acaba se apaixonando pela sua própria empregada doméstica, que vem a ser uma judia. Para tentar esconder o amor que sente por esta, Goeth espanca a moça com freqüência e sofre a cada dia mais com isso. São poucos os atores que conseguiriam interpretar um personagem com uma mente tão complexa como a de Goeth de maneira tão perfeita como Fiennes o faz aqui, e é por este motivo queconsidero a sua atuação uma das 50 melhores atuações masculinas de todos ostempos.

Ben Kingsley (“Gandhi”) também não fica muito atrás eencarna com extrema competência Itzhak Stern, realizando uma atuação completamente segura e convincente, figurando também entre as 50 melhores atuações masculinas da história do cinema.

No entanto, a melhor atuação do filme é, de longe, a de Liam Neeson (“Fé Demais Não Cheira Bem”), interpretando com uma incrívelperfeição o protagonista do filme, Oskar Schindler. Neeson encarna seu papel deuma maneira tão natural, que em momento algum a mudança de personalidade de Schindler soa de maneira artificial e falsa, algo que dificilmente seria obtido com tanta perfeição por qualquer outro ator que fosse. Particularmente, creio que a atuação de Neeson neste filme figura entre as dez melhores atuações masculinas da história do Cinema, e sim, encontro-me em pleno uso da razão quando afirmo isso.

A fotografia em preto e branco de Janusz Kaminski também é outro grande acerto do filme, já que confere ao mesmo um ar de profunda melancolia, fazendo com que o espectador se sensibilize ainda mais com as barbáries cometidas contra os judeus durante este assombroso episódio da história da humanidade.

A trilha-sonora de John Williams (que também assinou por “Star Wars” e “Indiana Jones”),por sua vez, figura facilmente entre as melhores e, ao mesmo tempo, mais tristes, da história do Cinema. O grande destaque para a trilha do filme ficacom a cena final (que sem dúvida alguma é uma das mais emocionantes já produzidas pela Sétima Arte), quando a música tema é colocada de fundo aumentando ainda mais os sentimentos de melancolia e de tristeza presentes no momento, enquanto os milhares de judeus, que escaparam do holocausto graças a Oskar Schindler, colocam várias pedras no túmulo do industrial alemão como uma formade gratidão a este.

“A Lista de Schindler” conta ainda com uma infinidade de cenas inesquecíveis, tais como: o massacre do gueto judeu, o extermínio de vários judeus nos campos de concentração, o espancamentoda empregada doméstica de Amon Goeth, os prantos desesperados de Schindler quando este lamenta por não ter trocado seu broche de ouro e seu carro pelavida de outros vários judeus (esta inclusive é a cena mais marcante da carreirade Liam Neeson), o cantarolar dos judeus sobreviventes ao holocausto enquanto estes caminham para uma nova vida após o término da guerra, além é claro, da magnífica cena que encerra o filme com chave de ouro: a homenagem que os judeus, salvos por Oskar Schindler, prestam a ele, depositando várias pedras simbólicas em seu túmulo (mencionei esta cena ao final do parágrafo anterior).

Quase tão memoráveis quanto às cenas supracitadas, são duas frases ditas pelo personagem de Ben Kingsley, que marcaram, e muito, o filme: “___ Esta lista é um bem absoluto. Esta lista... é a vida. Em volta das suas margens fica o abismo, a morte.” e “___ Aquele que salva uma vida, salva o mundo inteiro.”.

Finalizando, este é o tipo de filme que aquece a alma de quem o assiste e nosleva a pensar que, por mais cruel que o mundo possa ser, sempre há uma boa pessoa disposta a arriscar tudo o que tem a fim de salvar milhares de vidas.

Em suma, “A Lista de Schindler” é um filme praticamente perfeito, onde todos os realizadores parecem ter se esforçado ao máximo a fim de obter um magnífico resultado final, que é justamente o que acaba acontecendo. A direção de Spielberg é detalhista e não contém quaisquer apelos que seja, as atuações do elenco não poderiam ser melhores, o roteiro de Zaillian foi perfeitamente bem adaptado do livro, a trilha-sonora de Williams está entre as melhores e mais tristes da história do Cinema e a fotografia em preto e branco de Kaminski realça ainda mais a melancolia que a película almeja nos passar.

Completando o parágrafo acima, “A Lista de Schindler” não só é o melhor trabalho de toda a carreira de Steven Spielberg como também se revela um dos melhores filmes já realizados até então. É uma verdadeira lástima que Spielberg não dirija mais películas deste tipo e com a mesma competência demonstrada aqui.

Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.

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