sábado, 7 de março de 2009

Oscar 2009 – Melhores Curtas de Animação

Sei muito bem que o Oscar 2009 já aconteceu há duas semanas e, conforme previ, seria esquecido logo em seguida (afinal de contas, “Quem Quer Ser um Milionário?” está passando nos cinemas neste exato momento e, merecidamente, está sendo pouco comentado), mas prometi a mim mesmo que ia assistir a todas as produções que passaram pela cerimônia deste ano e, em seguida, comenta-las aqui no Cine-Phylum. Hoje optei pela categoria “Melhores Curtas de Animação”. Seguem abaixo os comentários das pequeninas animações e os vídeos completos de cada uma delas (salvo "This Way Up" que só consta no site da BBC).

Oktapodi, de Emud Mokhberi e Thierry Marchand (FRA) - ***** de *****

Comentário: Simplesmente sensacional! A qualidade gráfica é satisfatória, apesar de ficar bem aquém de muitas produções atuais, e em menos de três minutos o curta nos cativa, nos emociona, nos confere tensão e, acima de tudo, nos faz rir. A, literalmente, pequena odisséia da lula lutando para salvar a sua companheira de aquário é magistral. Nos cativamos quando vemos ambos dançando no aquário, nos emocionamos quando notamos a tristeza da protagonista do filme ao ver a sua parceira sendo levada, ficamos tensos quando vemos a fuga destas e rimos durante a curtíssima projeção inteira, embalados pela fantástica trilha-sonora. O final é imprevisível e divertido. Excelente curta.

Oktapodi – Filme Completo:


Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

This Way Up, de Alan Smith e Adam Foulkes (ING) - ***** de *****

Antes do comentário sobre "This Way Up", farei um "mea culpa": peço mil desculpas ao leitor pelo erro crasso que cometi há pouco. Acontece que o "This Way Up" que eu havia assistido no Youtube e postado aqui era, nada mais nada menos, que o trailer da animação que concorreu ao prêmio da Academia. Pois é, eu sei, foi uma idiotice muito grande de minha parte realizar tal confusão e conforme eu mesmo havia dito, o curta era, de fato, curto demais. Contudo, temos que levar em conta algumas coisinhas. Primeiramente: custava a pessoa que postou o vídeo no Youtube ter descrito que o mesmo tratava-se de um trailer? Em segundo lugar, por que cargas d'água um micro filme de apenas oito minutos teria que ter um trailer de um minuto? Seria o mesmo que cortar um pão francês em dez fatias minusculas, pegar uma delas e cortar um pedaço ainda mais minúsculo e oferecer para que o consumidor pudesse provar se o pão está bom ou não (perdão pela analogia ridícula). Em último lugar, custava a BBC liberar o vídeo inteiro para o Youtube? Creio que ela nada teria a perder, muito pelo contrário, "This Way Up" teria sido muito mais divulgado e, quem sabe, faria sucesso o bastante a ponto de conseguir financiar um longa metragem tomando por base a mesma estória. Enfim, vamos ao comentário.

Comentário: Visivelmente inspirados por Tim Burton, Alan Smith e Adam Foulkes criam uma animação magistral com o melhor que pode se esperar do humor negro. O curta narra a bizarra estória de dois agentes funerários, pai e filho, que tem de atrevessar um longo caminho para pegar o caixão de uma falecida senhora e levá-lo ao cemitério. A animação é extremamente bem-feita, lembrando muito a parte gráfica do curta "Presto", que será comentado mais abaixo. A direção também é excelente e tem o maior cuidado ao mostrar todos os mínimos detalhes inerentes ao funcionamento cômico da animação (vide o modo eficaz como a câmera acompanha o longo caminho que resultará em um grande estrago causado apenas por uma pétala de lírio - hilário), mas o que mais conta pontos para o resultado final de "This Way Up" é, inquestionavelmente, as situações bizarras e desastrosas pelas quais os seus protagonistas passam até chegar ao local desejado (e, fracamente, creio que pessoa alguma desejaria ser enterrada por sujeitos tão atrapalhados). O curta peca, no entanto, por se inspirar demais em Tim Burton, importando das obras deste até mesmo os números musicais (só que aqui não temos música, mas sim coreografia), resultando em uma desnecessária, embora bem feita, sequência no inferno.

This Way Up – Trailer:


This Way Up - Filme Completo: Clique Aqui

Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

Lavatory - Lovestory, de Konstantin Bronzit (RUS) - ***** de *****

Comentário: À primeira vista, aparenta ser um trabalho mais audacioso que os dois filmes supra. Não no que diz respeito à qualidade gráfica, que opta por vários contornos propositadamente sem cor, mas sim no que diz respeito à direção. Quando vemos um homem adentrando o banheiro, a câmera realiza um rápido “close in” e o segue até chegarmos à protagonista da estória. Notamos que ela é uma pessoa triste, vazia, e que sente falta de um grande amor. A estória dela nos cativa, mas demoramos um pouco para nos envolvermos com a mesma. O curta se revela longo demais (“Curta”? “Longo”? Pois é, da série: “antíteses da vida”). Se “This Way Up” precisava de uns minutos a mais para nos cativar definitivamente, “Lavatory – Lovestory” precisa de uns minutos a menos para fazê-lo. No mais é um filme emocionante, engraçadinho (sinônimo de “espirituoso” e não de “jocoso”), muito interessante, e com uma trilha-sonora das mais envolventes. A personagem se revela muito interessante em virtude de sua profissão (alguém já imaginou ver uma “bilheteira de sanitários masculinos” no Cinema, ainda que por alguns poucos minutos?) e o desfecho, apesar de previsível, é ótimo.

Lavatory - Lovestory – Filme Completo:

Avaliação Final: 8,8 na escala de 10,0.

Presto, de Doug Sweetland (EUA) - ***** de *****

Comentário: “Presto” era, para muitos (inclusive para mim), considerado o grande favorito para vencer este prêmio. Mas o longa da Disney-Pixar contava com um pequeno “probleminha”: sua trama não conta com uma grande mensagem nas entrelinhas, assim como acontece com “La Maison em Petits Cubes”, “Lavatory – Lovestory” e “Oktapodi”. Já assisti a “Presto” uma vez e já comentei sobre o mesmo utilizando a pré-crítica do longa “Wall-E” para tal, mas não custa nada fazê-lo novamente aqui. Na ocasião disse que o mesmo era um curta “...cuja criatividade, simplicidade e sagacidade das piadinhas embutidas no roteiro, nos remete aos bons tempos de “Tom & Jerry”, “Pica-Pau” e é claro, “Mickey & Donald”...”. Hoje só tenho a ratificar o que disse outrora e, apesar de o filme não ter uma trama muito bem elaborada em seu contexto, revela-se muito fecundo no que diz respeito à criação das situações que envolvem os dois protagonistas. O curta se revela ainda mais interessante quando nos damos conta de que o confronto entre o coelho e o ilusionista, apesar de extremamente direto, ocorre há uma certa distância, o que exige dos roteiristas ainda mais criatividade. E eles dão conta do recado? Claro que sim. Comprove você mesmo assistindo ao vídeo abaixo.

Presto – Filme Completo:


Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

La Maison en Petits Cubes, de Kunio Kato (FRA) - ***** de *****

Comentários: Enfim, o pequeno grande vencedor da noite. Era o segundo favorito, e acabou passando a perna no excelente curta da Disney-Pixar. Mereceu? Sim. O filme demora um pouco para nos cativar e o seu visual pós-impressionista com uma temática surrealista não faz muito sentido durante os primeiros minutos. Contudo, o curta nos surpreende e ganha ritmo a partir do momento em que o protagonista mergulha na água e vai atrás de seu velho e estimado cachimbo. É aí que o visual triste e depressivo do filme, unido à música igualmente triste e depressiva, passa a fazer sentido. Nos vemos diante de um mundo que sofrera um desastre ambiental e ficara imergido nas águas de um oceano. Os habitantes se veem então obrigados a construir um cubículo em cima das casas onde moram, e conforme o nível do mar vai aumentando, mais cubículos vão sendo construídos, o que dá à produção o excelente título de “A Casa dos Pequenos Cubos”. Mas como já havia dito, o filme, aparentemente, trata da estória de um homem velho que mergulha no oceano para procurar um cachimbo perdido. A trama parece ser simples, mas está longe disso. Conforme o protagonista vai mergulhando por entre os cubículos, sua vida vai sendo narrada de modo episodicamente invertido, até chegarmos à infância do mesmo, quando a paisagem predominante era constituída por belas árvores e pastos cobertos com grama bem verde. O curta se revela então um alerta quanto à poluição e o aquecimento global terrestre, algo que pode vir a destruir tudo o que temos de mais belo: a natureza que nos cerca. Um filme introspectivo e belo. O melhor dos cinco, logo, mereceu o Oscar, de fato.

La Maison en Petits Cubes – Parte 1:

La Maison en Petits Cubes – Parte 2:


Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

Conclusão: Todos os curtas de animação mereceram concorrer, e a vitória de "La Maison en Petits Cubes" foi bastante justa. Em minha lista, o segundo lugar ficaria com "Oktapodi", e "Presto" ocuparia a terceira posição, seguido de "This Way Up", em quarto lugar e "Lavatory - Lovestory", em último (e que último lugar de luxo, não? Afinal de contas, o curta russo é excelente, apesar de ser o menos forte dentre todos). No mais, a Academia revelou ser muito mais congruente nesta categoria que na de Melhor Filme, por exemplo, uma vez que mostrou ser muito mais seletiva e democrática (filmes de vários lugares do mundo concorreram) aqui.

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