sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A Troca - ***** de *****

Se há uma coisa na sétima Arte que instiga a curiosidade em seus espectadores, esta “coisa” reside no modo como o Cinema nos proporciona experiências catastróficas em um dia e, logo noutro dia, nos proporciona experiências encantadoras. Quando escrevi o meu último texto, a crítica sobre a nova versão de “O Dia em que a Terra Parou”, comentei que era uma pena ter iniciado o ano com uma obra recente que, certamente, estaria entre os 10 piores filmes lançados comercialmente no Brasil em 2009 na lista da grande maioria dos críticos de Cinema. Ironicamente, a segunda produção recente que assisti neste ano foi o mais novo filme dirigido por Clint Eastwood e, já de cara, afirmo que a probabilidade deste longa fazer parte do meu (e de muitos outros críticos também) “Top 10 – Melhores Filmes Lançados Comercialmente no Brasil em 2009” (que, obviamente, será publicado no primeiro dia do ano de 2010) é astronômica. Novamente o velho Clint comete alguns errinhos aqui e outros acolá, mas, assim como acontece no ótimo “Menina de Ouro”, o eterno Dirty Harry utiliza um amontoado de erros infantis para criar uma obra cujo resultado final é fantástico.

Ficha Técnica:
Título Original: Changeling.
Gênero: Drama.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.changelingmovie.net/
Nacionalidade: Estados Unidos.
Tempo de Duração: 141 minutos.
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: J. Michael Straczynski.
Elenco: Angelina Jolie (Christine Collins), John Malkovich (Reverendo Gustav Briegleb), Jeffrey Donovan (Capitão J.J. Jones), Gattlin Griffith (Walter Collins), Michelle Martin (Sandy), Michael Kelly (Detetive Lester Ybarra), Frank Wood (Ben Harris), Colm Feore (Chefe James E. Davis), Devon Conti (Arthur Hutchins), Peter Gerety (Dr. Earl W. Tarr), John Harrington Bland (Dr. John Montgomery), Pamela Dunlap (Sra. Fox), Roger Hewlett (Oficial Morelli), Jason Butler Harner (Gordon Northcott), Eddie Alderson (Sanford Clark), Amy Ryan (Carol Dexter), Dennis O'Hare (Dr. Jonathan Steele), Kelly Lynn Warren (Rachel Clark), Colby French (Bob Clark), Geoffrey Pierson (S.S. Hahn) e Reed Birney (Prefeito Cryer).

Sinopse: Baseado em fatos reais, o filme se passa em Los Angeles, durante o mês de março de 1928, e conta a estória de Christine Collins (Angelina Jolie), uma mulher extremamente avançada para a época, que chega em casa do serviço e nota que o seu filho único Walter (Gattlin Griffith), de 9 anos de idade, já não está mais lá. Passam-se algumas horas e, após procurar o garoto em vão, a moça entra em contato com a polícia local e comunica o desaparecimento deste. Dias depois o departamento policial informa à mãe desesperada que o seu filho fora localizado, porém, ao se encontrar com o garoto na estação de trem, Helen afirma veementemente que aquele não era o seu filho e que, a partir de então, iniciaria uma incansável busca pelo garoto verdadeiro. O que ela não sabe é que, para tal, teria de bater de frente com uma rede de corrupção fortíssima e de alta periculosidade.

Changeling - Trailer:

Crítica:

Antes de mais nada, peço às leitoras (sim, exclusivamente às mulheres) deste espaço virtual que não se chateiem com o que escreverei logo mais abaixo. Sei que serei extremamente agressivo para com o vosso sexo, mas se tiverem a devida paciência de ler esta crítica por inteiro perceberão o porquê de tal agressividade e, talvez, mudarão o conceito que passarão a ter sobre a minha pessoa logo após terem lido os dois primeiros parágrafos abaixo.

Valho-me deste início de crítica para assumir (e até mesmo para desabafar a minha profunda decepção para com o sexo feminino) que sou uma pessoa exacerbadamente machista. Francamente, não confio muito... ou melhor... não confio nem um pouco nas pessoas do sexo feminino. As considero falsas, manipuladoras, hipócritas e, acima de tudo, infiéis (neste exato momento, a leitora deve estar desejando que um tijolo caia sobre a minha cabeça). Pois é, se alguém me disser que ainda existe uma única mulher fiel na face da Terra, logo desconfio e digo que não há (e peço, por gentileza, que a leitora continue lendo este texto, pois não irá se arrepender). A meu ver, mulher não se preocupa com amor e afeto, assim como muita gente pensa, mas sim com luxo e conforto. E como elas conseguem obter luxo e conforto? Através do sexo. Toda mulher sensual fisga um homem “alimentando-o” com sexo do bom e, enquanto utiliza este para extrair todas as suas ambições materiais, faz questão de arrumar um amante bom de cama que satisfaça todas as suas luxúrias (a leitora agora pega um lança-chamas e procura o meu endereço na lista telefônica, garanto que não irá encontrá-lo). Parece até que a mulher faz isso por pura maldade, única e exclusivamente para provar que é capaz de relegar o seu parceiro amoroso oficial à uma condição de ‘trouxa’ enquanto ela o trai e se diverte com um outro homem.

Quando me dizem então que as mulheres deveriam ter os mesmos direitos que os homens, é aí que me transformo em um machista ainda mais fervoroso e inveterado. O argumento que utilizo? Simples: “Quantos homens marcaram seus nomes na História? Quantas mulheres conseguiram o fazer?”. Dá para se contar nos dedos das mãos de Suas Excelências, o Vice-Presidente José de Alencar e o Presidente Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva (e isso inclui até mesmo a sua mão direita que conta com um dedo a menos), o número de mulheres que se destacaram na vida e marcaram os seus nomes na História sem precisar se apoiar em um outro homem. Vamos lá? Joana d’Arc: uma, Marie Cuire: duas, Rainha Mary Stweart: três, Rainha Elizabeth Tudor: quatro, Helena de Tróia: cinco, Simone De Bevoair: seis, Chatarina, a Grande: sete, Rainha Isabel: oito, Theodora de Bizâncio: nove, Golda Meyer: dez, Indira Gandhi: onze, Rainha Victoria: doze, Margareth Tatcher: treze, Rosa de Luxemburgo: quatorze, Denazir Buthos: quinze, N’zinga da Angola: desesseis, Anita Garibaldi: dezessete, Zenóbia de Palmira: dezoito, Erin Broncovich: dezenove, e, por fim, adiciono mais uma representante do pseudosexo frágil nesta contagem (ops, a mão direita do Presidente da República não poderá mais ser utilizada, vamos usar então as mãos da Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff): a protagonista deste “A Troca” Christine Collins (espero que a leitora ainda esteja aí, pois a partir de agora farei o possível para avacalhar o meu preconceito ridículo de extrema direita).

Quando o filme tem o seu início, somos apresentados a uma mulher aparentemente meiga, que vive uma vida aparentemente tranquila ao lado de seu filho único. Trata-se de Christine Collins, uma mulher bastante avançada para a sua época. “___ Avançada como?” ___ Me pergunta o leitor. “___ Evoluída. Apenas evoluída.” ___ Respondo eu. Não, não estava utilizando o clássico jargão caipira (proveniente da região do Estado de São Paulo que me deu origem) proferido para designar que uma determinada mulher é libertina. Christine era avançada pois era uma batalhadora. Explicarei, logo mais abaixo, o porquê afirmo isto.

Imagine-se no final dos anos 1920, em qualquer lugar que seja do globo terrestre. Imaginou-se? Pois agora tente desenhar em sua mente uma típica mulher daquela época. Aposto dez contra um que o(a) leitor(a) pensou em uma dama indefesa que passa o dia inteiro em casa tomando conta do lar e dos filhos, estou errado? Pois é, mas não era bem assim que a coisa funcionava. É, no mínimo, surpreendente a sensação que temos quando tomamos ciência que o filme, logo após informar-nos em seus primeiros segundos que a estória em pauta se passa em 1928, nos introduz à vida de uma mulher que, além de trabalhar como uma espécie de atendente comercial, é mãe solteira e cuida do filho sozinha.

A relação entre mãe e filho aqui é abordada de uma forma bastante aprofundada, afinal de contas, o garoto era, praticamente, a vida dela. Ponha-se no lugar da protagonista, uma mulher em plena década de 1920, precisando trabalhar para sustentar a casa, tendo como único escape de seu cotidiano o seu filho, um garoto com seus nove anos de existência. Não é a toa que a relação entre Christine e Walter era a mais afetiva o possível e, convenhamos, seria diferente se fosse com você? Continue imaginando-se no lugar dela então. Em um dia como outro qualquer você chega em casa e percebe que o seu filho não está mais lá. Procura pela vizinhança toda, e nada. Liga à polícia que, à primeira vista, não mostra a menor preocupação para com o caso e, quando decide começar a agir, lhe entrega um garoto que não é o seu verdadeiro filho, forçando-a a aceitá-lo em tais condições.

Imagine o quão você estaria sofrendo se estivesse no lugar de Christine, afinal de contas, a situação em que ela se encontra é, além de desesperadora, tão bizarra e estranha que parece ter sido extraída da clássica obra literária “Acidente em Antares”, mas com uma única diferença: a estória da bela Collins é baseada em fatos reais. É aí que passamos a nos dar conta de que o mundo sempre foi um lugar extremamente cruel, psicótico e perigoso, até mesmo durante os pseudoinocentes anos 1920 (e você que pensava que crimes do tipo sequestro não ocorriam com tanta frequência naquela época, hein?). Passamos a sentir na pele o drama da protagonista que, durante o desenrolar da obra, vai passando por inúmeras humilhações e enfrentando desafios cada vez mais perturbadores, e embora o roteiro se revele desnecessariamente piegas em algumas cenas e crie alguns clichêzinhos básicos noutros momentos, não há como deixar de elogiar o trabalho minimamente detalhista de J. Michael Straczynski, principalmente no que diz respeito à composição da protagonista, e a sensível direção de Clint Eastwood pela maneira como este capta com força total sentimentos de afeto, desespero e, principalmente, angústia.

A trama é bastante forte e consegue nos surpreender do modo mais inesperado o possível. Quem poderia imaginar que a estória de uma mãe que busca desesperadamente o filho sequestrado viria a se converter na odisséia de uma mulher com mais força e alento que mil homens juntos (inclusive muitos pseudointelectuaizinhos metidos a sabichão, como assumo que é o meu caso) que, contando com a ajuda de algumas outras pessoas, encabeça uma incansável batalha contra um sistema injusto e que prima cada vez mais pela defesa dos mais fortes?

A saga de Christine Collins se revela, na verdade, uma lição de vida. Um amplo estudo sobre a relação mãe e filho, uma abordagem sobre o modo como a maior tragédia que pode ocorrer com uma pessoa (a não ser que você conheça algo mais trágico do que perder o seu único filho de uma forma tão trágica e desesperadora) pode alterar completamente o cotidiano e o resto da existência dessa. Mas, acima de tudo, “A Troca” se revela uma cativante abordagem sobre a força do sexo feminino, o modo como uma mulher, assim como qualquer outro homem que seja, pode lutar com unhas e dentes para consertar as falhas presentes no meio em que vive, contanto que tenha um objetivo e muita determinação. E sejamos francos, há muitas pessoas do sexo masculino que falam pelos cotovelos e defenderem a sua ideologia do modo mais consistente o possível, mas não possuem a mesma determinação e força de vontade que Christine Collins possui (e eu confesso que sou um desses).

Logo, antes de tachar as pessoas do sexo oposto de falsas, manipuladoras, hipócritas e, acima de tudo, infiéis, talvez devesse olhar um pouco para o passado destas e notar o quão repreendidas pelo nosso sexo as mesmas foram. E sejamos francos, se elas não fizeram o bastante para marcar o seu nome na História (assim como os raros exemplos que citei no terceiro parágrafo deste texto) é porque nunca demos espaço às mesmas, pois se houvéssemos oferecido, estou certo de que haveriam muitas Erins Broncoviches e Christines Collins protagonizando filmes como este que acabei de comentar.

O quê? Ah sim, não comentei quesitos como atuações, direção de arte, figurino, fotografia, atuações e vários outros. Pois o fiz propositadamente, afinal de contas, por mais que os mesmos sejam dignos do Oscar (todos estes quesitos, sem excluir nenhum) que, infeliz e injustamente, nem ao menos irão concorrer, estes são pequenos detalhes que compõem o filme diante da fantástica abordagem que o mesmo realiza sobre a sua protagonista, uma mulher com mais força, caráter e dignidade que cem homens juntos.

Um longa sensacional que, infelizmente, ficará de fora do Oscar 2009 para dar espaço à produções superestimadas, embora interessantes, do naipe de “O Curioso Caso de Benjamin Button” e do vencedor do Globo de Ouro deste ano, “Slumdog Millionarie” (sim, já assisti a ambos os filmes, mas não encontrei tempo para comentá-las).

Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

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