segunda-feira, 23 de março de 2009

Gran Torino - ** de *****

Conforme prometido no texto de “Watchmen – O Filme” estarei aderindo agora a textos mais dinâmicos e sucintos, embora, nem tão aprofundados quanto os que escrevia antes. Comecei, ou melhor, voltei a utilizar esta técnica de escrita no momento oportuno, haja visto que voltei a lhe empregar justamente ao comentar sobre “Gran Torino”, o filme mais vazio de Clint Eastwood que já tive o desprazer de assistir. E francamente, o que se pode dizer de um filme tão vazio quanto este, em um texto enorme de 1.500 (este aqui teve apenas 879, ou seja, pouco mais da metade) palavras? Creio que ficaria enrolando até eu mesmo dizer: “chega”. Enfim, antes que eu comece a enrolar nesta pré-crítica, vamos ao texto (e aproveite bem, porque agora você poderá lê-lo sem perder mais do que cinco minutos de seu atribulado cotidiano).


Ficha Técnica:
Título Original: Gran Torino.
Gênero: Drama.Tempo de Duração: 116 minutos.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.grantorino.com.br/
Nacionalidade: EUA / Austrália.
Direção: Clint Eastwood.
Roteiro: Nick Schenk, baseado em estória de Dave Johannson e Nick Schenk.
Elenco: Clint Eastwood (Walt Kowalski), Bee Vang (Thao Vang Lor), Ahney Her (Sue Lor), Christopher Carley (Padre Janovich), Brian Haley (Mitch Kowalski), Geraldine Hughes (Karen Kowalski), Dreama Walker (Ashley Kowalski), Brian Howe (Steve Kowalski), William Hill (Tim Kennedy), John Carroll Lynch (Martin), Brooke Chia Thao (Vu), Scott Eastwood (Trey) e Doua Moua (Spider).

Sinopse: Walt Kowalski (Clint Eastwood) é um veterano de guerra que lutou na Coréia e agora se tornou um velho ranzinza e solitário, graças ao seu gênio difícil, sua visão extremamente conservadora e o preconceito que nutre pelos vizinhos, estrangeiros em geral. Tal preconceito aumenta ainda mais quando vê Thao (Bee Vang) tentando furtar o seu carro, um Gran Torino modelo 1972. Com o passar do tempo, no entanto, o velho vai notando o quão agradáveis e gentis os seus vizinhos podem ser e, na tentativa de quitar a desonra que tem para com Walt, Sue (Ahney Her) avisa ao ex-militar que o irmão está disposto a ajudá-lo em seus serviços de reparador. A partir daí o jovem garoto aprende um ofício e passa a ter alguma perspectiva na vida, tomando Walt como modelo. A calmaria acaba quando uma gangue passa a ameaçar a vida dos vizinhos e Walt decide interferir de modo direto na situação.

Gran Torino – Trailer:


Crítica:

Não há nada mais previsível do que uma releitura cinematográfica (e é importante mencionar, apesar de ser bastante evidente, que releitura não é a mesma coisa que refilmagem, como é o caso de “Conflitos Internos” e “Os Infiltrados” ou “Yojimbo, o Guarda Costas” e “Por um Punhado de Dólares”), sendo que o resultado óbvio é que o filme atual raramente conseguirá alcançar as qualidades de sua fonte de inspiração. Foi assim que aconteceu com “Beleza Americana” e “Foi Apenas um Sonho”, “Rocky – Um Lutador” e “Falcão – O Campeão dos Campeões” (e estabeleço esta relação aqui tendo em vista os protagonistas de ambos os filmes, e não as obras em si), “Os Bons Companheiros” e “Profissão de Risco” (o segundo, na verdade, está mais para um plágio descarado do filme Scorsesiano), e até mesmo “Crimes e Pecados” e “Match Point” (que é um ótimo filme, mas perde bastante força se comparado ao primeiro). Agora Clint Eastwood chega aos cinemas com este “Gran Torino”, que nada mais é do que uma clara releitura do ótimo “Menina de Ouro”. O resultado? Fracasso.

O leitor certamente se lembra do velho fastidioso Frankie Dunn do vencedor do Oscar® de 2005, não? Pois é, ele praticamente está de volta em “Gran Torino”, só que sob o nome de Walt Kowalski e ainda mais caricato do que o treinador de boxe. Além de acordar de mau humor e ir dormir da mesma forma, o personagem de Eastwood é um veterano extremamente conservador que lutou na Guerra da Coréia e, para anunciar a sua “ranhetice”, acredite, chega a rosnar durante boa parte do filme. Mas o estereótipo não pára por aí, não. Kowalski, além de abrir a boca apenas para murmurar, é extremamente preconceituoso, jamais altera a expressão carrancuda e o olhar ameaçador, cospe no chão a todo o instante e cumprimenta os seus amigos íntimos mediante a insultos. Ou seja, ele nada mais é do que uma versão extremamente amadurecida de Dirty Harry, só que muito (e ponha muito nisso) mais caricato.

O filme começa com uma trama que envolve violência e ameaça entre membros de gangue. O drama então se desenvolve e passamos a testemunhar tentativas de furto de carro, preconceitos vindo à tona e, por fim, redenção por parte de todos os personagens. Aqueles que se odiavam agora se amam e tentam viver em harmonia, ajudando uns aos outros, de um modo que você já viu em muitos outros filmes do gênero. E é claro que a falta de originalidade não consistiria necessariamente em uma grave falha caso o longa conseguisse, ao menos, nos envolver com a sua trama, mas a verdade é que esta é muito rasa, bem como a química estabelecida entre os seus protagonistas. Eastwood está novamente no papel de “mestre”, um velho rabugento tentando passar, a uma pessoa bem mais jovem do que ele, tudo o que sabe sobre uma determinada profissão, trazendo assim esperança a quem não a via durante muito tempo. Lembrou-se do filme protagonizado por Hillary Swank? Pois é, é inevitável a alegoria. “Gran Torino”, por sinal, é uma produção que conta com quase tantos clichês quanto “Menina de Ouro”, com a diferença de que este último envolvia e emocionava o espectador, e o segundo não.

Não bastasse tudo isso, a direção de Eastwood é burocrática demais (nunca pensei que diria isso algum dia em toda a minha vida) e confere à trama um ritmo excessivamente lento e cansativo. O roteiro inicia investindo demais em personagens que serão simplesmente abandonados na trama, durante o desenrolar desta (o Padre Janovich é um exemplo disso, já que ele aparece muito no começo do filme, mas simplesmente some durante o segundo ato inteiro, voltando apenas no terceiro ato, e para ser sincero, ele nem diz ao certo a que veio, salvo, é claro, para proferir filosofias baratas e dispensáveis sobre a vida e a morte), e a intenção do longa em apresentar críticas ferrenhas ao preconceito racial é discrepante ao extremo, já que o filme cai na própria armadilha ao sugerir que as gangues estadunidenses são, em sua maioria, compostas por negros e asiáticos (ou teria o leitor notado a presença de algum caucasiano fazendo parte de tais grupos criminosos?).

Ao menos o filme tem um terceiro ato extremamente satisfatório. O anticlímax criado pelo roteiro é mais do que justificado, uma vez que o sacrifício do protagonista e a sua postura passiva são mais do que convenientes, tratam-se de uma atitude deveras arguciosa por parte do roteiro, que foge do convencional e dá um “chega pra lá” nas fitas de ação que mostram o protagonista realizando uma carnificina inteira, sozinho, sem quaisquer tipos de auxílio (ao menos, é claro, que você acredite que partir pra porrada resolva tudo na vida). Talvez isso justifique alguns dos clichês empregados pelo longa durante os seus dois primeiros atos, mas ainda assim, não é o suficiente para emergir o filme do visível e gigantesco oceano de insignificância no qual ele mergulhou e permanecerá mergulhado pelo resto de sua existência.

Pena, vindo de um cineasta responsável por “Cartas de Iwo Jima”, “A Troca”, “Sobre Meninos e Lobos” e, até mesmo, “Menina de Ouro” (que lhe conferiu um Oscar), era de se esperar algo muito mais profundo do que uma obra da densidade de um pires.

Avaliação Final: 4,0 na escala de 10,0.

2 comentários:

Pereira disse...

copia do "million dollar baby"? essa está boa...

Daniel Esteves de Barros disse...

Perdão, mas... eu citei a palavra "cópia"?

Enfim, se não citei no texto acima, o faço aqui: "Gran Torino" é uma cópia descarada de "Menina de Ouro".