quinta-feira, 5 de março de 2009

M – O Vampiro de Dusseldorf – **** de *****

O Oscar acabou e a partir de então volto, com muitíssima satisfação (e os(as) senhores(as) nem imaginam o quão gigantesca vem a ser tal satisfação), a assistir, analisar e publicar análises de filmes clássicos, sobretudo, clássicos de origem não-estadunidense. Recomeço com este "M - O Vampiro de Dusseldorf ", clássico absoluto de um dos meus cineastas prediletos, o magistral Fritz Lang. A minha intenção era recomeçar com "O Diário de um Pároco de uma Aldeia", de Robert Bresson, cujo trabalho não confiro a um bom tempo (vergonha!), mas não encontrei este filme para locar em lugar algum. Fiquei com "M...", que revelou-se um ótimo filme, sem dúvidas, mas se não fosse por todo o glamour que possui (afinal de contas, é o "pai" dos filmes noir e dos suspenses com assassinos seriais) certamente sua fama seria bem menor. Ah, boa notícia, consegui o VHS de "O Diário de..." com um amigo meu, terça ou quarta-feira que vem o assisto e o comento.

M - O Vampiro de Dusseldorf (M, 1.931, dirigido por Fritz Lang) - **** de *****

Crítica:

O leitor já deve ter assistido a algum(ns) filme(s) de suspense onde o assassino da trama nos é apresentado através de uma sinistra sombra projetada na parede, não? Também já deve ter assistido a algum(ns) outro(s) filme(s) de suspense onde o diretor realiza uma tomada aérea para filmar várias escadas que formam diversos quadrados simetricamente alinhados, não? Certamente já deve ter assistido a algum(ns) outro(s) filme(s) em que observamos um grupo de policiais sentados em uma mesa, discutindo um caso intrincado, enquanto soltam fumaças de cigarros e charutos com a mesmíssima frequência que fazem as chaminés de uma indústria, não? Se a resposta para todas as três perguntas (ou duas delas que seja... ou uma... tanto faz) for: sim (o que é bem provável), seria interessante que o leitor soubesse que todas as cenas previamente citadas são oriundas do clássico de Fritz Lang: "M - O Vampiro de Dusseldorf". Aliás, não só estas cenas são originárias do filme em questão, como também o subgênero suspense serial-killer também o é. Logo, filmes como "O Silêncio dos Inocentes", "Se7en - Os Sete Crimes Capitais", e é claro, os clássicos de Hitchcock, nem sequer existiriam se não fosse pela obra de Lang.

E falando no maior gênio da história do Cinema alemão, não restam dúvidas de que o trunfo de "M..." reside justamente em seu trabalho como diretor. Lang capta a alma do filme, confere suspense na dose certa ao mesmo, realiza enquadramentos mais do que excelentes (vide a sequência em que o cineasta realiza uma tomada aérea e filma um grupo de pessoas cercando o assassino, antes deste enconder-se em um prédio), utiliza a técnica dos "closes in" e "closes out" magistralmente (note o modo como ele "passeia" pelo esconderijo de um grupo de bandidos enquanto estes encontram-se sentados à mesa), enfim, o filme é dois terços de Lang, ou melhor, do diretor Lang. E o outro terço? O outro terço pertence ao próprio Lang, mas o Lang roteirista, que junto de sua esposa Thea von Harbou realiza um complexo estudo sobre a mente psicótica de seu protagonista, o serial-killer alcunhado de M (aliás, a dramaticidade envolvida na cena do julgamento é algo fora do comum).

O longa falha, no entanto, por ser frio demais durante os seus dois primeiros atos. E tal frieza não seria necessariamente ruim caso "M..." mantivesse este ritmo até o final, mas não é o que acontece. Infelizmente, ao chegar em seu desfecho, o pai dos filmes noir se amedronta e tenta nos trazer um final humanista e sensibilizado demais, algo que não soa bem em uma película que demonstrou-se extremamente racional até então. Um final muito simples (coloque-se no lugar das mães e pense se você realmente tomaria tal atitude), para um filme muito complexo. De qualquer forma, "M - O Vampiro de Dusseldorf" é uma obra obrigatória na "bagagem" de qualquer pessoa que se diga cinéfila, não apenas por ser um dos principais filmes da brilhante carreira de Fritz Lang, ou por apresentar um interessantíssimo debate sobre a pena de morte, mas também por ser a grande fonte de inspiração dos suspenses sobre assassinos em série e, é claro, o berço do Cinema noir.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.

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