terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Frost/Nixon - **** de *****

Ao menos aqui no Brasil (já que a reputação internacional deste filme é muito boa), “Frost/Nixon” vem sendo considerado o mais supervalorizado dentre todos os filmes que estão concorrendo ao Oscar de Melhor Filme. Levando isso em conta, o simples fato de falar bem do filme parece ser um pedido para ser “apedrejado”. Contudo, me mostrei mais uma vez “do contra” e, ao assistir ao longa em questão, não pude deixar de me envolver com o mesmo. E mais uma vez vou de encontro ao gosto da grande maioria dos cinéfilos e ovaciono uma obra que não vinha sendo muito bem quista entre os fãs da sétima Arte. Contudo, sinceridade é o meu lema e, por mais que as chances de receber críticas ao falar bem deste longa sejam imensas, certamente manterei a minha postura honesta de sempre e falarei bem do mesmo. Vamos ao texto?

Ficha Técnica:
Título Original: Frost/Nixon.
Gênero: Drama.
Ano de Lançamento: 2008.
Tempo de Duração: 122 minutos.
Site Oficial: http://www.frostnixon.net/
Ano de Lançamento: Estados Unidos da América, Inglaterra e França.
Direção: Ron Howard.
Roteiro: Peter Morgan, baseado em peça teatral de Peter Morgan.
Elenco: Frank Langella (Richard Nixon), Michael Sheen (David Frost), Sam Rockwell (James Reston Jr.), Kevin Bacon (Jack Brennan), Matthew Macfadyen (John Birt), Oliver Platt (Bob Zelnick), Rebecca Hall (Caroline Cushing), Toby Jones (Swifty Lazar), Andy Milder (Frank Gannon), Kate Jennings Grant (Diane Sawyer), Gabriel Jarret (Ken Khachigian), Jim Meskimen (Ray Price), Patty McCormack (Pat Nixon), Clint Howard (Lloyd Davis), Rance Howard (Ollie), Eloy Casados (Manolo Sanchez), Jay White (Neil Diamond), Wil Albert (Sammy Cahn), Keith MacKechnie (Marv Minoff), Jenn Gotzon (Tricia Nixon) e Mark Simich (Hugh Hefner).

Sinopse: O filme trás até nós a real entrevista que o presidente Richard Nixon (Frank Langella), primeiro e único chefe de estado a renunciar o mandato na história dos Estados Unidos da América, realizou com o jornalista inglês David Frost (Michael Sheen), jovem inexperiente e de pouco respeito entre os profissionais do meio, no ano de 1977. O assunto em pauta foi o esclarecimento de alguns pontos que haviam ficado obscuros durante o mandato de Nixon. Considerado incomunicável pelos profissionais do ramo, o ex-presidente estadunidense só aceitou realizar a entrevista com o jornalista por causa da alta quantia em dinheiro envolvida e por imaginar que, devido à inexperiência de Frost, seria fácil enganar o mesmo e não entregar os detalhes mais sigilosos de sua polêmica passagem pela Casa Branca. Ledo engano. Durante o primeiro dia de entrevista, Frost parecia inseguro e fácil de se ludibriar, mas a partir do segundo dia o jovem começa a ganhar segurança e, já no terceiro, passa a travar uma tensa “batalha verbal” com o político, resultando em um programa com uma extraordinária audiência.

Frost/Nixon – Trailer:


Crítica:

Richard Milhous Nixon foi uma das figuras mais polêmicas (senão ‘a’ mais polêmica) a assumir a chefia absoluta do poder executivo dos Estados Unidos da América. Ao mesmo tempo em que o ex-presidente ficou positivamente marcado por dar início às comercializações com a China, manter relações amigáveis com a União Soviética e negociar o cessar fogo com o Vietnã, o californiano também foi o responsável pela morte de inúmeras pessoas após realizar atentados contra os vietcongues (os mesmos com os quais viria a negociar a paz posteriormente) e, é claro, teve uma participação ativa no escândalo de Watergate (que tratava-se de uma operação contra o Partido Democrata onde cinco pessoas foram presas após invadir o Complexo Watergate, onde fica a sede do Comitê Nacional Democrata, fotografar documentos e instalar câmeras de escuta no escritório do partido opositor), embora negue veementemente isso.

Destarte, era de se esperar que uma figura dessas ganhasse vários filmes abordando a sua conturbada passagem pela Casa Branca, principalmente relatando o seu envolvimento com o Caso Watergate. Dentre tais obras cinematográficas, destaca-se o clássico “Todos os Homens do Presidente” e também “Nixon” de Oliver Stone, “Todas as Garotas do Presidente” e, recentemente, este “Frost/Nixon” (sem contar a citação que é feita no filme “Forrest Gump – O Contador de Histórias”, onde o personagem de Tom Hanks afirma, em um momento jocoso empregado pelo roteiro, que fora ele quem descobrira toda a verdade sobre o Escândalo Watergate) que difere das demais obras citadas por abordar o mais polêmico caso de corrupção da história dos Estados Unidos da América três anos após a renúncia de Nixon, quando o caso já havia perdido um pouco da projeção que tivera na época em que ‘estourou’, mas se tornara ainda mais polêmico em virtude a uns pontos que ainda não haviam sido esclarecidos totalmente.

O filme utiliza então, como base para a estória, a entrevista realizada entre o apresentador inglês David Frost e o ex-presidente estadunidense Richard Nixon. Ambos, indivíduos interessantíssimos e magistralmente abordados pelo roteiro. Frost é um jovem apresentador inexperiente, sua fama é grande em virtude à baixa qualidade de seus programas, e não graças as suas qualidades profissionais, e a sua credibilidade entre os profissionais da área é muito baixa. Entretanto, o rapaz conta com uma característica que se revela mais importante a todo o jornalista do que as citadas acima: ele é extremamente audacioso. Audacioso o bastante para investir uma larga quantia em dinheiro, seiscentos mil dólares para ser mais exato, em uma entrevista cujas chances de fracasso revelam-se enormes. Mas Frost é persistente e a sua coragem nos cativa.

E Nixon? Nixon já é uma “raposa velha”. Inteligente, vivido, esperto, experiente, ardiloso, e tão audacioso quanto Frost. Com a experiência de vida que possui, o ex-presidente recusa-se a dar entrevista a quaisquer mídias que seja, por mais convidativa que a oferta lhe aparente. Nixon não quer entregar pontos confidenciais de sua campanha política. Para isso, o mesmo se torna praticamente incomunicável. Contudo, o político é mais astuto do que se podia imaginar. Ele aceita uma proposta para fazer uma entrevista com o jornalista Frost. Desta forma, pode-se matar dois coelhos com uma cajadada só: o velho consegue uma considerável quantia em dinheiro oferecida pela entrevista e, de quebra, ludibria Frost valendo-se da inexperiência do mesmo tentando responder as perguntas deste passando-se por um cidadão bom, injustiçado e de caráter ilibado.

E se os dois protagonistas deste filme, sozinhos, já se revelam fascinantes, imagine então o que acontece quando ambos dividem a cena. É óbvio que o grande trunfo do longa reside nas “batalhas verbais” travadas entre ambas durante a tão conturbada entrevista. Durante o último dia em que eles se encontram, o filme pega fogo. O duelo de atuações travado entre Michael Sheen e Frank Langella é digno de se cair o queixo. Ambos se revelam expressivos na medida certa, alternam o tom de voz conforme o necessário, conferem uma efusividade fora do comum à cena em questão e, ouso dizer, não imagino outros dois atores para comporem os papéis de um modo tão magistral. O duelo entre ambos se revela uma das químicas entre atores mais sensacionais do Cinema deste início de século. É óbvio que jamais os compararia com F. Murray Abraham e Tom Hulce em “Amadeus”, seria um grande exagero de minha parte, mas não há como negar que a dupla é fantástica e atribui ao longa a tensão requisitada para tal.

Individualmente, ambos os atores também se saem muito bem. Sheen adota o seu charme habitual para compor o personagem e, embora se revele um pouco caricato algumas vezes (note o modo como o mesmo tende a sorrir artificialmente durante alguns momentos do filme), o ator mostra total liberdade quando assume a responsabilidade do longa para si, construindo um David Frost sob medida, semi-perfeito. É Langella, no entanto, quem rouba a cena encarnando com magnificência um Richard Milhous Nixon praticamente irretocável. Não só o excelente trabalho de maquiagem, que confere ao ator uma incrível aparência física com o 37º presidente estadunidense, como também a composição de Langella “ressuscitam” o político e o transferem para o Cinema. Dono de um talento ímpar, o ator faz um trabalho invejavelmente competente e digno de ser aplaudido de pé. A expressividade de Langella é fantástica, mas ainda assim é um pequeno detalhe diante de seu carisma e do preciso tom de voz empregado para encarnar o ex-político.

E a direção de Ron Howard? Bem, não sou um dos grandes fãs de Howard, mas confesso que vez ou outra ele faz um trabalho extremamente interessante, assim como ocorreu em “Uma Mente Brilhante” que, apesar de supervalorizado, é um ótimo filme. Em “Frost/Nixon”, o cineasta adota, já de cara, uma direção ágil e dinâmica que, associada à montagem de Daniel P. Hanley e Mike Hill, confere um ritmo impressionante ao longa. Howard trabalha, a princípio, com vários e incansáveis 'closes' e faz de seu filme um exercício de direção bastante chamativo. Infelizmente, o diretor vai perdendo o ritmo durante o desenrolar da trama, mas não se pode dizer jamais que o seu trabalho aqui é menos do que ótimo.

Gostaria de destacar também os diálogos do filme. Confesso que, durante alguns momentos, as falas de seus personagens me remeteram à deliciosa sensação de estar assistindo a um filme roteirizado por Woody Allen. Como não comparar coisas do tipo: “___ Você adoraria Viena. É como se fosse Paris, mas sem a França.” e “___ Na minha opinião, você deveria se casar com este garota. ___ Sim, ela é adorável, não é?___ Mais importante do que isso. Ela é de Monaco, e eles não pagam impostos lá.”, com a maestria empregada por Allen a fim de criar os seus diálogos?

Ah mas “Frost/Nixon” não é só qualidades. Não, não, muito pelo contrário, o mesmo apresenta muito defeitos e boa parte deles são imperdoáveis e, até mesmo, infantis. Comecemos pela personagem de Rebecca Hall. Hall é uma atriz carismática, talentosa, bonitona e possui um corpo incrivelmente suculento (e olha que sou assexuado). Entretanto, estes não são atributos o bastante para colocá-la no filme. Não se o roteiro não criar uma personagem suficientemente interessante para a trama. E o bem da verdade é que Caroline Cushing não tem propósito nenhum no filme, nem mesmo para aumentar a carga dramática do mesmo. Em outras palavras, Rebecca Hall é totalmente dispensável à trama (ah, que pena! Ela tem um corpo tão delicioso! Mas fazer o quê?).

Caroline Cushing, todavia, é o menor dos defeitos de “Frost/Nixon” (e eu já disse que a atriz tem um corpo digno de se desejar pular na tela da sala de cinema?). A jovem aparece apenas com o intento do roteiro formar um dispensável par romântico com David Frost e, apesar disso ser uma falha tola, não podemos considerar um pecado capital. Não, de modo algum, pecado capital é você dizer que vai realizar um filme que conta com uma entrevista para lá de reveladora de um dos presidentes mais odiados da história dos Estados Unidos da América (senão, “o” mais odiado) e, ao invés de focar-se apenas na entrevista, optar por dar muita importância aos bastidores da mesma.

Sim, é claro que vermos os preparos para o programa liderado por David Frost confere uma interessante carga dramática ao filme, mas em alguns momentos este pré-entrevista se torna um tanto o quanto fútil e adiciona ao longa cenas extremamente desnecessárias para o seu resultado final, como é o caso da longa sequência que ilustra o encontro entre o apresentador e Nixon (esta cena não é necessariamente desnecessária, mas deveria ser bem menor do que realmente é), a festa de aniversário de Frost e muitas outras que nada acrescentam à trama. A propósito, só para o leitor ter uma idéia de como o filme demora para chegar em seu ponto principal, a entrevista só tem início depois dos primeiros cinquenta e quatro minutos de projeção.

Infelizmente, os defeitos não param por aí. Não, muito pelo contrário, deixei o pior para o final. É claro que, assim como qualquer outro político (e qualquer outra pessoa, diga-se), Richard Nixon tinha as suas qualidades. Contudo, é lamentável vermos o filme, que se propunha a mostrar o programa que trouxe à tona muitos dos mistérios que envolviam o Caso Watergate, tentar passar a imagem de que Nixon era um bom sujeito e só fez o que fez pois julgou ser o mais correto durante a ocasião, ou seja, não teve malícia alguma em suas atitudes.

Oras, sabemos muito bem que Nixon agiu erroneamente, independentemente da filosofia que adotava na época ou não, então por quê o filme faz tanta questão de humanizar o presidente? Por que o filme faz tanta questão de o tratar como um pobre ser amargurado e arrependido? Enfim, o Nixon do final do filme, é um Nixon artificial. E mesmo que o presidente tenha adotado uma forte postura de arrependimento e vergonha na vida real, o filme deveria manter-se imparcial quanto a isso, seguindo o exemplo do excelente “Boa Noite, e Boa Sorte”. O que dizer então da artificialidade da cena em que Nixon, consideravelmente embriagado, liga para Frost, minutos antes da parte final do programa, e realiza um discurso incentivando este a dar o melhor de si na entrevista final? Lamentável, algo totalmente dispensável para um filme que, até então, havia cometido apenas erros simples, que pareciam ser incapazes de tirar-lhe o status de um filme cinco estrelas.

“Frost/Nixon”, enfim, revelou-se uma agradável surpresa, uma vez que as suas indicações ao Oscar vinham sendo muito questionadas. O longa se propõe a fazer uma analise extraordinária de um momento crucial para a história estadunidense: quando um dos personagens mais polêmicos daquela nação revelou, diante das câmeras, detalhes importantíssimos e, até então, sigilosos sobre o Caso Watergate. Os personagens são suficientemente interessantes para prender o espectador, a direção e a montagem são ótimas e o duelo de atuações entre Langella e Sheen é fenomenal, bem como o tenso “combate” travado entre Frost e Nixon, algo que faz jus ao excelente título conferido a esta película, que por si só, já dá uma inegável sensação de confronto direto entre duas pessoa. Contudo, ao contrário de filmes como “Boa Noite, e Boa Sorte”, o jornalismo político aqui é abordado de um modo que mostra a indispensabilidade deste para o desenvolvimento de uma nação, mas diferentemente do filme de George Clooney, a estória aqui, infelizmente, não se mostra totalmente imparcial. As tentativas de humanizar Nixon são todas repugnantes. O longa ainda confere importância demais aos bastidores da entrevista, inserindo no filme cenas totalmente dispensáveis e que ficariam bem melhor caso a montagem (que repito, apesar de tudo, é ótima) as tivesse excluído. No geral, é um ótimo filme, e um dos poucos que realmente mereceram a indicação ao Oscar deste ano.

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.

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