sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Milk - A Voz da Igualdade - ** de *****

Certa vez, o crítico de Cinema do jornal “O Estado de São Paulo”, Luiz Carlos Merten, comentou em seu blog que este “Milk – A Voz da Igualdade” seria “...o filme do qual não gostar poderá ser considerado politicamente incorreto...”. Ele tinha razão. Particularmente, nada tenho contra os homossexuais, até mesmo porque sei que boa parte dos leitores do Cine-Phylum adotam o homossexualismo como orientação sexual. No entanto, também não tenho nada lá muito a favor dos homossexuais. Considero o sexo, ou um simples beijo que seja, ações nojentas. Existe um modo mais repugnante de se transmitir bactérias do que um beijo? E quanto ao sexo então? O que pode ser mais asqueroso que isso? Logo, sou extremamente conservador no que diz respeito a sexo e penso que o mesmo não deve ser praticado nem mesmo como fins reprodutivos (afinal de contas, existe algo mais desumano que colocar um ser humano em um mundo tão repugnante quanto este, sendo que o pobre indivíduo nem ao menos pediu para nascer?). E se o sexo entre heterossexuais, que é tido como o método mais tradicional de se reproduzir, já me causa repulsas, o que dizer então do sexo entre homossexuais, onde órgãos que não foram criados para a cópula carnal são utilizados para tais finalidades? Mas o que isso tudo tem a ver com a crítica de “Milk – A Voz da Igualdade”? Não tem nada a ver, vamos ao texto então.


Ficha Técnica:
Título Original: Milk.
Gênero: Drama.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.milkthemovie.com/
Nacionalidade: Estados Unidos.
Tempo de Duração: 128 minutos.
Direção: Gus Van Sant.
Roteiro: Dustin Lance Black.
Elenco: Sean Penn (Harvey Milk), Emile Hirsch (Cleve Jones), Josh Brolin (Dan White), Diego Luna (Jack Lira), James Franco (Scott Smith), Alison Pill (Anne Kronenberg), Victor Garber (Prefeito George Moscone), Dennis O'Hare (Senador John Briggs), Joseph Cross (Dick Pabish), Stephen Spinella (Rick Stokes), Lucas Grabeel (Danny Nicoletta), Brandon Boyce (Jim Rivaldo), Howard Rosenman (David Goodstein), Kelvin Yu (Michael Wong), Jeff Koons (Art Agnos) e Cleve Jones (Don Amador).

Sinopse: O filme trata da história real do ativista Harvey Milk (Sean Pean), o primeiro político assumidamente gay a se eleger nos Estados Unidos. Contando com uma plataforma e uma equipe bem diferente das convencionais, Milk irá utilizar o seu poder de oratória para lutar pelos direitos dos homossexuais. Para isso, ele terá que lutar fortemente contra o preconceito e o conservadorismo dos demais políticos.

Milk – Trailer:

Crítica:

Gus Van Sant é um diretor que não me atrai muito. O cineasta é, geralmente, o típico artista que adota a filosofia “mamãe quero ser moderninho.”. A partir daí vemos então diversos filmes que se dizem fugir dos conceitos hollywoodianos mais básicos e que tem (caiu o circunflexo nestes casos, não?) a tola pretensão de se denominar revolucionários. Pois, sinceramente, não considero Van Sant tão revolucionário quanto ele mesmo se julga e muitos de seus maneirismos são empregados apenas para lançar ‘modinha’ e nada mais. Caso o leitor deseje realmente conferir obras recentes revolucionárias, aconselho deixar o superestimado cineasta estadunidense de lado e optar pelo dinamarquês Lars Von Trier (que assinou a direção de “Dogville”, “Manderlay”, “Dançando no Escuro” e muitos outros), Thomas Vinterberg e os demais cineastas pertencentes ao movimento Dogma 95 (pesquise algo a respeito, pode ser no Wikipedia mesmo, vale muito a pena).

Em “Milk – A Voz da Igualdade”, Van Sant felizmente deixa alguns maneirismos de lado e realiza uma direção mais sutil e interessante. Aliás, logo de cara percebemos que o seu trabalho é uma das maiores qualidades do filme. O diretor realiza vários movimentos excelentes, adotando ‘travelings’ e ‘closes’ de um modo bastante conveniente. Mas a grande “sacada” de sua direção está em mesclar constantemente dois tipos de câmeras: uma que parece gravar normalmente, como estamos acostumados a ver no Cinema, e outra que aparenta estar gravando em tempo real. O seu trabalho é bastante eficaz e sua indicação a Melhor Diretor é justa, mas a vitória deve ser de Danny Boyle, se é que há justiça neste mundo.

Outra indicação bastante justa foi a de Sean Penn como Melhor Ator. Longe de adotar o estereotipo do homossexual à lá “Zorra Total”, ou seja, a bicha louca que veste rosa e dá gritinhos histéricos a todo o instante, Penn encarna o seu personagem apenas como um homem afeminado que gosta de outros homens, nada além disso. As caras e bocas utilizadas pelo ator que venceu o Oscar por “Sobre Meninos e Lobos” são muito bem empregadas e transformam o seu personagem em um sujeito muito mais verossímil. A propósito, o roteiro está de parabéns no que diz respeito à abordagem de seu protagonista.

Entretanto, o mesmo roteiro que acerta em cheio na composição de Harvey Milk comete erros gritantes ao “desenhar” os demais personagens. Quando estes não são retratados na base do estereotipo, como é o caso de Cleve Jones (que é muito bem interpretado por Emile Hirsh, mas o jovem ator se vê obrigado a adotar uma atuação extremamente caricata para compô-lo), são pouco desenvolvidos pelo roteiro, como é o caso de Dan White, um indivíduo extremamente interessante, sobretudo pelos seus conflitos com Milk, mas que acaba sendo abordado de modo pouco convincente. Falando nisso, que ótima atuação a de Josh Brolin, não? A segurança que o ator adota em seu trabalho faz de White um grande destaque no filme, e, certamente, a sua indicação a Melhor Ator Coadjuvante foi mais do que merecida (mas é óbvio que ele não merece derrotar o Coringa de Ledger, pois não chega nem aos pés daquele).

O romance entre Harvey Milk e Scott Smith se revela outro ponto fraquíssimo do longa e adivinhem só de quem é a culpa? Novamente do roteiro que explora o relacionamento de ambos de uma maneira nada satisfatória. Ambos se conhecem do nada e quando percebemos já estão na cama trocando beijos e se lambendo o rosto (eca!). Aliás, tirando o fato de ambos serem homossexuais, desejarem ter uma lojinha em São Francisco e gostarem de transar um com o outro, nada mais tem em comum. Logo, o romance entre Milk e Smith surge como algo tão artificial quanto o relacionamento do casal de protagonistas em uma novela das oito (ou será novela das nove? Enfim, é tudo o mesmo lixo).

O que dizer então da falta de sutileza do longa? Durante muitos momentos, juro que me esqueci de que estava diante de um filme que aborda o preconceito contra os homossexuais e passara a testemunhar um filme que realiza uma ode ao homossexualismo. Sim, pois durante vários momentos reparei que o filme se preocupava muito mais em mostrar casais gays se beijando ou se amando completamente nus (com direito a tapinha na bunda e tudo o mais) do que mostrar a luta destes por direitos iguais. Felizmente, isso ocorre apenas durante cerca de 20% da duração da película (o que já é bastante, sejamos francos), pois no mais, o que vemos é uma minoria lutando pelos seus direitos.

O maior defeito do longa reside, no entanto, em sua estrutura narrativa. Nada original, cativante e exacerbadamente episódica e linear, o longa dá nos entender que é apenas um filme sobre o preconceito e nada mais. Vejam só, Milk conhece um grande amor, o mesmo o incentiva a seguir os seus sonhos, ambos passam a ser descriminados, Milk entra na política para conquistar leis e direitos para ele e os demais homossexuais, Milk sofre a sua primeira derrota, tira dela algumas lições, parte para uma próxima tentativa de se eleger, briga com o seu namorado que diz receber pouco afeto dele (que coisa mais “Sessão da Tarde”, não?) e... bom, deixa para lá, não vou ficar mencionando os demais “episódios” do filme sob pena de revelar a trama inteira.

Resumidamente, “Milk – A Voz da Igualdade” é um filme que conta com uma das melhores direções que o superestimado Gus Van Sant realizou durante toda a sua superestimada carreira. O diretor mostra muita competência neste seu mais novo trabalho e nos brinda com muitos 'travellings' e 'closes'. Sean Penn realiza uma excelente atuação como protagonista da trama e Josh Brolin se mostra extremamente “firme” no papel que lhe foi atribuído. Os demais atores também se saem muito bem, mas é uma pena que seus personagens sejam pouco, ou mal, explorados pelo roteiro. Roteiro este que investe em um romance pouco convincente e apela para uma estrutura narrativa muito convencional e episódica a fim de narrar a vida de seu personagem principal. Não fosse o tema do homossexualismo, o longa certamente seria exibido na “Sessão da Tarde” daqui uns quatro anos. Uma pena, pois a batalha de Milk pela igualdade até que foi interessante, mas merecia ter sido retratada de um modo muito mais artístico do que fora retratada aqui.

Obs.: Há muito tempo não via um candidato tão fraco disputando o Oscar de Melhor Filme. Caso vença, o que eu acho pouco provável, “Milk – A Voz da Igualdade” será, automaticamente, uma das obras cinematográficas mais superestimadas de todos os tempos.

Avaliação Final: 5,0 na escala de 10,0.

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