quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Crítica - Onde os Fracos Não Têm Vez

Lembro-me que em meu artigo sobre os possíveis vencedores do Oscar apostei em “Onde os Fracos Não Têm Vez” como vencedor do prêmio principal. Entretanto, na época ainda não o havia assistido e para realizar tal afirmação apostei na popularidade que o mesmo vem conquistando entre os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Após o assistir a pouquíssimos dias atrás concluí que o mesmo é um filme revolucionário, inovador e inteligente, ou seja, a típica obra que geralmente recebe uma indicação ao Oscar de Melhor Filme, mas infelizmente não vence o prêmio. Isso acontece porque a Academia geralmente gosta de ver produções arriscando em inovar a linguagem cinematográfica, mas os membros que compõe a mesma acabam dando preferência a filmes, digamos, mais redondinhos. Quer um exemplo disso? Em 1995 o excelente “Pulp Fiction” perde o Oscar de Melhor Filme para o apenas ótimo “Forrest Gump”. Contudo, mesmo o longa dos Cohen tendo poucas chances de derrotar o de Paul Thomas Anderson (a não ser que este também seja inovador demais), minha aposta para melhor filme continua sendo este ótimo (e apenas ótimo) “Onde os Fracos Não Têm Vez”.






Ficha Técnica:
Título Original: No Country for Old Men
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 122 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2007
Site Oficial: www.nocountryforoldmen.com
Estúdio: Paramount Vantage / Miramax Films / Mike Zoss Productions / Scott Rudin Productions
Distribuição: Miramax Films / Paramount Pictures
Direção: Ethan Coen e Joel Coen
Roteiro: Ethan Coen e Joel Coen, baseado em livro de Cormac McCarthy
Produção: Ethan Coen, Joel Coen e Scott Rudin
Música: Carter Burwell
Fotografia: Roger Deakins
Desenho de Produção: Jess Gonchor
Direção de Arte: John P. Goldsmith
Figurino: Mary Zophres
Edição: Ethan Coen e Joel Coen
Efeitos Especiais: Luma Pictures / Tinsley Transfers
Elenco: Tommy Lee Jones (Ed Tom Bell), Javier Bardem (Anton Chigurh), Josh Brolin (Llewelyn Moss), Woody Harrelson (Carson Wells), Kelly Macdonald (Carla Jean Moss), Garrett Dillahunt (Wendell), Tess Harper (Loretta Bell), Barry Corbin (Ellis), Beth Grant (Agnes), Kit Gwin (Molly) e Rodger Boyce (Xerife de El Paso).



Sinopse: Texas, década de 80. Um traficante de drogas é encontrado no deserto por um caçador pouco esperto, Llewelyn Moss (Josh Brolin), que pega uma valise cheia de dinheiro mesmo sabendo que em breve alguém irá procurá-lo devido a isso. Logo Anton Chigurh (Javier Bardem), um assassino psicótico sem senso de humor e piedade, é enviado em seu encalço. Porém para alcançar Moss ele precisará passar pelo xerife local, Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones).



No Country For Old Men - Trailer



Crítica:



Todo e qualquer filme que tenha a intenção de inovar de alguma forma, por pior que seja, merece algum respeito por parte dos espectadores. Quando o filme tem a intenção de inovar e se revela uma experiência agradabilíssima, o mesmo merece, e deve, ser respeitado e idolatrado por todos aqueles que se dizem cinéfilos. Mas não restam dúvidas de que inovar é algo deveras arriscado, pois exige total ousadia por parte dos responsáveis pelo projeto. Os responsáveis por este “Onde os Fracos Não Têm Vez” foram extremamente ousados e arriscaram bastante, realizando um longa metragem muitíssimo competente, apesar de falho em seu desfecho. Alicerçado por uma sinopse extremamente simples, o longa metragem, magistralmente dirigido pelos irmãos Cohen, se desenvolve de maneira sensacional, trazendo até nós a estória de uma maleta com dois milhões de dólares em seu interior e três personagens ligados a mesma, sendo dois diretamente e um indiretamente. Os protagonistas da estória se revelam tipos bastante interessantes. Temos aqui um ex-militar ambicioso, cuja ganância o leva a pôr em risco a vida da própria esposa a fim de se apoderar da maleta; um xerife cansado e às vésperas de sua aposentadoria, cuja vontade de combater o crime é visível, mas não tão visível quanto o desgaste físico causado pela idade e aquele que considero um dos poucos defeitos do filme: o vilão, cujos maneirismos me fizeram lembrar o Professor Severo Snape, da série “Harry Potter”. Não fosse a soberba atuação de Javier Bardem tal personagem teria me irritado profundamente. E já que mencionei os personagens gostaria de citar que uma grande curiosidade do filme é a alternância entre seus protagonistas. Em certa parte, por exemplo, quando um personagem parece estar assumindo o papel principal do longa ele, inesperada e bruscamente, sai de cena, sendo substituído por um outro protagonista. “___ E esta reviravolta indelicada prejudica o filme?” ___ Me pergunta o leitor. Muito pelo contrário, este é o grande trunfo do longa. É isto que o transforma em algo tão inovador, surpreendente e digníssimo de se assistir.



Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.




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3 comentários:

Unknown disse...

Concordo com praticamente tudo com que você disse, principalmente sobre a mau desenvolvimento do personagem do Javier Bardem (mas os outros foram desenvolvidos excelentemente, assim como a estória do filme).
E a alternancia dos personagens principais foi o ponto alto do filme, (ou melhor um dos).

Não considerei o final ruim, só não foi o que eu esperava, pra mim foi mais decepcionante.

Minha nota para o filme foi nove.

Ah, pra mim o Oscar já é de Javier Bardem. ;)

Unknown disse...

O visual do bandidão é inspirado nos mexicanos pobres de fronteira. O cabelinho alisado. O vestuário é típico dos TOC (transtorno obsessivo compulsivo) em que o monocromatismo é evidente. Assim como a mania de limpeza e atos repetidos. A fala baixa vem de um belo estudo do Chris Carter e do Agente Mulder do FBI, inspirados nos textos de Robert S. Mueller III , meu colega de curso em Madison Building, FBI Academy, Quantico VA 22135. Psicopata que se preza não tem sentimentos elevados... O Javier estudou bem, né?

Forte abraço,

do COBRA

Daniel Esteves de Barros disse...

Juliana, para mim o desfecho do filme também não foi ruim, foi falho, o que é diferente.
No mais, não irei citar mais nada de seu comentário pois, pelo visto, você concordou em tudo comigo (exceto a nota).

Giovanni, confesso não estar a par de todas estas características sobre a caracterização do vilão e, mais do que nunca, reconheço que a composição de Bardem foi extremamente convincente. Mas aí surge um defeito ainda mais grave do filme: o preconceito. Sim, desde o princípio sabia que o criminoso era um mexicano, apesar de não saber de todas estas características, mas se tais elementos foram empregados para a composição do mesmo, só posso concluir algo: o roteiro foi extremamente preconceituoso com aquele povo.
Da mesma forma que John Ford alega em filmes como "Rastros de Ódio" que os indígenas são sempre os marginais da estória, desta vez os Cohen fizeram a mesma coisa, só que com os mexicanos e, para mim, preconceito é um defeito mais grave em uma obra cinematográfica do que um estereótipo.

De qualquer modo seu comentário foi para lá de conveniente, esclarecedor e possuiu um alto teor cultural. Isso sem contar, é claro, que é sempre uma honra estar sendo análisado por um dos críticos nacionais que mais me inspiram. A propósito, relacionei seu site de críticas (O Que Rola?) ao "Cine-Phylum", saiba que tenho lido bastante seus comentários por lá.

Um Forte Abraço!!!