quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Crítica - A Doce Vida

Antes de realizar a sua obra-prima “8 e ½”, Federico Fellini optou por abordar as diversas crises existenciais surgidas à mente de uma pessoa de maneira mais, digamos, descentralizada. “Isto é bom? ___ Me pergunta o leitor”. Não sei dizer se é bom ou se é ruim. Nesta obra felliniana o resultado se mostra extremamente interessante, mas percebo que se tais crises fossem distribuídas em menos personagens, teríamos um estudo mais interessante e menos confuso das mesmas, assim como acontece em filmes sensacionais como “Clube da Luta”, “Beleza Americana”, “Taxi Driver”, “Cidadão Kane”, “Crepúsculo dos Deuses” e, é claro, o próprio “8 e ½”. Não que em “A Doce Vida” tais estudos psicológicos sejam necessariamente mal distribuídos entre seus personagens, mas é fato que, se o longa contasse com menos pessoas em cena, teríamos a chance de encontrar algo ainda mais amplo e complexo do que nos fôra apresentado.





Ficha Técnica:
Título Original: La Dolce Vita
Gênero:
Drama
Tempo de Duração:
167 minutos
Ano de Lançamento (Itália):
1960
Estúdio:
Riama Film / Société Nationale Pathé Cinéma / Pathé Consortium Cinéma / Gray-Film
Distribuição: Astor Pictures Corporation
Direção:
Federico Fellini
Roteiro:
Federico Fellini, Ennio Flaiano, Tullio Pinelli e Brunello Rondi
Produção:
Giuseppe Amato e Angelo Rizzoli
Música:
Nino Rota
Fotografia:
Otello Martelli
Desenho de Produção:
Piero Gherardi
Figurino:
Piero Gherardi
Edição:
Leo Cattozzo
Elenco: Marcello Mastroianni (Marcello Rubini), Yvonne Furneaux (Emma), Walter Santesso (Paparazzo), Anita Ekberg (Sylvia Rank), Annibale Ninchi (Pai de Marcello), Anouk Aimée (Maddalena), Magali Noël (Fanny), Alain Cuny (Steiner), Valeria Ciangottini (Paola), Riccardo Garrone (Riccardo), Ida Galli (Debutante do Ano), Audrey McDonald (Sonia), Alain Dijon (Frankie Stout) e Lex Barker (Robert).




Sinopse: Marcello Rubini (Marcello Mastroianni) é um repórter de um jornal sensacionalista que passa a questionar sua vida quando conhece uma linda atriz de Hollywood. A partir daí, todos os acontecimentos à sua volta passam a ser tratados como um estudo até onde a futilidade humana pode chegar a fim de preencher o profundo vazio dentro das pessoas.



La Dolce Vita Trailer



Crítica:



Provavelmente, não há nada que cause mais desânimo em uma pessoa do que o vazio emocional, intelectual e, até mesmo, espiritual provocado pelo cotidiano da mesma. Por este motivo nos apegamos às mais variadas formas de preencher tal “vazio” a fim de encontrarmos um propósito para seguir com nossas vidas adiante. Mas será que conseguimos preencher tal vazio da maneira correta? Será que o fazemos de modo satisfatório, ou seja, de um modo onde este “buraco” realmente seja preenchido a ponto de não causar mais constantes insatisfações pessoais? Foi baseado nestes questionamentos que Federico Fellini realizou “A Doce Vida”. Contando com diversas historietas exibidas de maneira linear, ininterruptas e protagonizadas pelo mesmíssimo personagem, que Fellini dispara dardos carregados do mais pesado e letal veneno contra as futilidades adotadas pelas pessoas com o intento de preencher o profundo vazio que tanto as inquietam. O diretor mais importante da história do Cinema europeu sabe perfeitamente como conduzir a estória de modo com que os, aproximadamente, 165 minutos de projeção se tornem cansativos e enfadonhos pouquíssimas vezes, mas não há como negar que, ao disparar tiros para todos os lados o filme se mostra desconexo algumas vezes e, o que é pior, o excesso de personagens contidos no roteiro faz com que o mesmo não consiga dar merecida atenção a seus personagens mais interessantes, dentre os quais eu destaco Sylvia Rank, interpretada por uma Anita Ekberg estonteantemente formosa e que ficou imortalizada pelo banho com roupa tomado na Fonte de Trevi (uma das mais clássicas cenas da história do Cinema e que representa a busca do ser humano pelos seus instintos naturais e libertários). No mais, o longa dá provas de sua eficiência retratando as mais fúteis maneiras como o ser humano preenche o vazio em sua vida, através de bens materiais, popularidade, auto-afirmação social, ascensão profissional, relacionamentos amorosos artificiais, consumo de drogas (no caso, o álcool), conversações infrutíferas e, acima de tudo, o sexo sem propósito.



Avaliação Final: 8,75 na escala de 10,0.



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