terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Crítica - 8 e ½

Este filme é a prova definitiva de que uma obra de Arte que visa abordar questões filosóficas e ultra existenciais não deve necessariamente ser enfadonha. Repleto de bom humor, o longa mais importante da carreira de Federico Fellini é, acima de tudo, uma lição de vida que foge de todos os moralismos que certamente seriam adotados nas mãos de um diretor e/ou de um roteirista menos competente. Fico impressionado que este longa tenha me cativado tanto, esperava bem menos dele, mas agora que o assisti certamente o coloco entre os dez filmes dos quais já tive a agradabilíssima oportunidade de conferir.







Ficha Técnica:
Título Original: Otto e Mezzo
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 140 minutos
Ano de Lançamento (Itália):
1963
Estúdio: Cineriz / Francinex
Distribuição: Embassy Pictures Corporation
Direção: Federico Fellini
Roteiro: Ennio Flaiano, Federico Fellini, Tullio Pinelli e Brunello Rondi, baseado em estória de Federico Fellini e Ennio Flaiano
Produção: Angelo Rizzoli
Música: Nino Rota
Fotografia: Gianni Di Venanzo
Desenho de Produção: Piero Gherardi
Direção de Arte: Piero Gherardi
Figurino: Piero Gherardi
Edição: Leo Cattozzo
Elenco: Marcello Mastroianni (Guido Anselmi), Anouk Aimée (Luisa Anselmi), Sandra Milo (Carla), Jean Rougeul (Escritor), Rossella Falk (Rossella), Barbara Steele (Gloria Morin), Madeleine LeBeau (Atriz francesa), Eddra Gale (Saraghina), Guido Alberti (Produtor), Mario Conocchia (Diretor), Claudia Cardinale (Claudia), Mario Pisu (Mezzabotta), Bruno Agostini (Secretário do produtor) e Cesarino Miceli Picardi (Inspetor).



Sinopse: Prestes a rodar sua próxima obra, o cineasta Guido Anselmi (Marcello Mastroianni) ainda não tem idéia de como será o filme. Mergulhado em uma crise existencial e pressionado pelo produtor, pela mulher, pela amante e pelos amigos, ele se interna em uma estação de águas e passa a misturar o passado com o presente, ficção com realidade.




Otto e Mezzo Trailer



Crítica:



O que se pode extrair do “nada”? Arthur Schopenhauer e Friedrich Nieztsche extraíram as respostas para vários de seus questionamentos. Federico Fellini não ficou atrás e fez praticamente a mesma coisa. Realizando mais uma autobiografia do que um filme, propriamente dito, Fellini faz desta magnífica obra uma auto-análise, uma tentativa de encontrar as respostas para os seus dilemas pessoais, profissionais e intelectuais. Utilizando a falta de inspiração (daí vem a necessidade da palavra “nada” no início deste artigo) para criar o seu filme mais inspirado (paradoxal, não é mesmo?), o (merecidamente) considerado melhor cineasta europeu da história cinematográfica faz aqui o que Nieztsche fez com a sua filosofia niilista e busca a resposta para tudo nas profundezas do nada. Partindo das crises existenciais de seu protagonista, o longa faz um estudo para lá de complexo e aprofundado sobre a psicologia do mesmo, mostrando de maneira brilhante os motivos que o levaram a tais sentimentos depressivos. Com o desenrolar da estória mergulhamos cada vez mais na vida de uma pessoa que se sente amplamente sufocada, sufocada por pessoas que só se aproximam de si por interesse, sufocada pela hipocrisia social, moral e religiosa, sufocada pela pressão de seus empregadores e espectadores, enfim, uma pessoa repleta de problemas psicológicos em virtude ao mundo falho em que vivemos. O filme ganha ainda mais força graças à direção dinâmica e perfeita de Fellini, repleta de travelings horizontais e close ins magnificamente bem empregados. A edição do longa é fantástica e o torna cada vez mais cativante, alternando com maestria entre passado e presente, realidade e fantasia. Outro grande destaque do longa está certamente na escolha de Marcello Mastroianni para compor o protagonista da estória e não apenas digo que o ator o faz de maneira sublime como também realiza aqui uma das melhores atuações masculinas que o Cinema já nos brindou. Definitivamente, uma obra que ultrapassa os limites da perfeição, repleta de questões filosóficas debatidas por quem entende do assunto.




Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.



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