terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Crítica - Senhores do Crime

Contrariando a maioria dos cinéfilos, não considero os títulos nacionais tão ruins como afirmam. “Sangue Negro”, por exemplo, foi um título muito criticado pela grande maioria dos admiradores da Sétima Arte, mas eu, sinceramente, não o achei ruim. Muito pelo contrário, achei bem superior a “Haverá Sangue” (título traduzido ao pé da letra de “There Will Be Blood”). Entretanto, em alguns casos a tradução nacional é visivelmente pavorosa, principalmente quando nutre forte apelo comercial, como é o caso deste “Senhores do Crime”. Em primeiro lugar, tal título é extremamente falso, pois somos induzidos a crer que o longa irá abordar as estórias de grandes mestres do crime, tais como Charles “Lucky” Luciano ou Alphonsus Gabriel Capone. Em 2° lugar o título é comercialmente apelativo, pois a palavra “senhor” ligada à palavra “crime” têm uma união indelicadamente chamativa. Em 3° e último lugar, o título é visivelmente inferior e é bem menos ligado à estória do filme que o título original. Tendo em vista que todos os personagens do longa possuem ascendência ou nacionalidade russa, ou dos demais países do leste europeu, “Eastern Promises” condiz mais com a proposta da obra.






Ficha Técnica:
Título Original: Eastern Promises
Gênero: Suspense
Tempo de Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento (EUA / Canadá / Inglaterra): 2007
Site Oficial: www.focusfeatures.com/easternpromises
Estúdio: BBC Films / Scion Films Limited / Focus Features / Serendipity Point Films / Kudos Film and Television
Distribuição: Focus Features / PlayArte
Direção: David Cronenberg
Roteiro: Steven Knight
Produção: Robert Lantos e Paul Webster
Música: Howard Shore
Fotografia: Peter Suschitzky
Desenho de Produção: Carol Spier
Direção de Arte: Rebecca Holmes
Figurino: Denise Cronenberg
Edição: Ronald Sanders
Efeitos Especiais: Mr. X / Invisible Pictures
Elenco: Naomi Watts (Anna), Viggo Mortensen (Nikolai), Vincent Cassel (Kirill), Armin Mueller-Stahl (Semyon), Josef Altin (Ekrem), Mina E. Mina (Azim), Aleksandar Mikic (Soyka), Sarah-Jeanne Labrosse (Tatiana), Raza Jaffrey (Dr. Aziz), Sinéad Cusack (Helen), Jerzy Skolimowski (Stepan), Shannon-Fleur Roux (Maria), Donald Sumpter (Yuri), Tereza Srbova (Kirilenko) e Mia Soteriou (Esposa de Azim).



Sinopse: Anna (Naomi Watts) é uma parteira que trabalha em um hospital de Londres. Um dia ela testemunha a morte de uma jovem, durante um parto realizado em pleno Natal. Ela decide dar a notícia de seu falecimento pessoalmente, o que a faz pesquisar sobre sua identidade e família. A busca acaba colocando-a em contato com o lucrativo tráfico do sexo, comandado por uma organização criminosa da Rússia. Logo Anna conhece Nikolai (Viggo Mortensen), um homem violento e misterioso que é mais do que aparenta.



Eastern Promises – Trailer



Crítica:



Nunca considerei Viggo Mortensen um grande ator. Sua carreira é apenas correta e são raros os papéis onde o astro mostra uma atuação realmente acima da média (a última atuação interessante de Mortensen foi em 2003 quando encarnou as fortes crises de insegurança de seu personagem Aragorn, filho de Aratorn, no excelente “O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei”. Ouve também “Marcas da Violência” onde o ator se saiu muito bem, mas nada que me fizesse mudar de opinião sobre o mesmo. Naomi Watts também foi uma atriz que nunca me convenceu muito. Suas únicas atuações convincentes, ao meu ver, estão em filmes como “Cidade dos Sonhos” e “21 Gramas”. Baseando-se nisso, é deveras estranho que a maior qualidade deste longa resida justamente na química desenvolvida entre ambos os atores, sobretudo Mortensen. Diferentemente de alguns de seus filmes, neste aqui sua atuação é de importância crucial. O ator encarna o personagem com uma naturalidade incrível, principalmente quando utiliza o sotaque russo do mesmo de maneira bem convincente. Cronenberg, por sua vez, realiza uma ótima direção, contando com travelings horizontais muitíssimo bem empregados. Contudo, o grande trunfo do longa reside na cautela com que o roteiro do mesmo foi redigido. Ao mesmo tempo em que este nos oferece um intróito muito desinteressante e arrastado, além uma abordagem demasiadamente previsível de seu protagonista (quando sabemos a verdadeira função deste na estória não conseguimos nos surpreender, pois o roteiro dá pistas disto a todo momento), o mesmo, paradoxalmente, se revela o ponto alto do longa abordando a Máfia Russa de uma maneira raramente vista na Sétima Arte. Aqui, esta retratação é realizada da maneira mais surpreendente o possível, fazendo uso desde os gestos típicos dos membros desta forte organização criminosa até o significado que cada imagem tatuada no corpo de seus gangsters possui. Infelizmente o longa decepciona, seu início não cativa e quando o filme passa a ter algum ritmo, o mesmo se encerra abruptamente.



Avaliação Final: 7,5 na escala de 10,0.




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2 comentários:

R. disse...

Bom, eu ia ver esse filme na quarta feira da próxima semana, mas parece que foi adiado pro Dia 22.

A Naomi Watts fez maravilhas em Cidade dos sonhos (uma das melhores atuações da década). E o Viggo... Bom, não gosto de ninguém que fez O senhor do anéis (só o McKellen).

O negócio é que eu ainda tô tentendo entender a ausência desse filme em Melhor trilha sonora. Se der, baixa pelo menos a faixa 2 (Tatiana) pra ver que o Howard Shore (que já fizera um trabalho ótimo em 2006, com Os infiltrados) merecia sim estar entre os indicados.

Daniel Esteves de Barros disse...

Também acredito que ela tenha se saído muito bem em "Cidade dos Sonhos". Viggo Mortensen realmente não me agrada, mas neste filme ele me fez rever os meus conceitos.

A trilha-sonora é muito boa mesmo, mas nada tão excepcional quanto os trabalhos anteriores de Howard Shore (íncluo aqui a própria trilogia - "O Senhor dos Anéis", além, é claro, de "Os Infiltrados"). Sua não indicação ao Oscar não foi tão surpreendente, apesar do mesmo ter merecido.