sábado, 28 de fevereiro de 2009

Força Policial - * de *****

Muitas vezes já utilizei este espaço dedicado à pré-crítica para esculhambar os títulos nacionais conferidos às produções estrangeiras, contudo, não me lembro de ter feito o mesmo com o título original de uma determinada obra. Faço-o então agora com este “Pride & Glory” (gargalhadas). Em primeiro lugar, creio que nem preciso comentar a falta de criatividade, não? Em segundo lugar, o que dizer deste ‘titulozinho’ medíocre, ‘marqueteiro’ e megalomaníaco? Sim, pois dá a entender que a produção trata-se de um épico de guerra, não? E o que o orgulho e a glória tem em comum com a corrupção policial? Ah sim, claro, o filme insinua que um oficial da polícia nova-iorquina deveria sentir orgulho e glória de seu serviço. Mas oras, o correto não é que todos nós deveríamos sentir orgulho e glória de nossas profissões? Analisando por este prisma, então todo o filme que aborde uma profissão, seja ela qual for, deveria se chamar “Orgulho & Glória”, não? Mas o título não é ao todo ruim, ao menos ele ilustra bem certas qualidades da obra que nomeia: um filme imaturo e megalomaníaco.

Ficha Técnica:
Título Original: Pride & Glory.
Gênero: Policial.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.prideandglorymovie.com/
Nacionalidade: Estados Unidos / Alemanha.
Tempo de Duração: 130 minutos.
Direção: Gavin O'Connor.
Roteiro: Joe Carnahan e Gavin O'Connor, baseado em estória de Gavin O'Connor, Robert Hopes e Greg O'Connor.
Elenco: Edward Norton (Ray Tierney), Colin Farrell (Jimmy Eagan), Jon Voight (Francis Tearney, Sr.), Noah Emmerich (Francis Tearney, Jr.), Jennifer Ehle (Abby Tierney), John Ortiz (Sandy), Frank Grillo (Eddie Carbone), Shea Whigham (Kenny Dugan), Lake Bell (Megan Egan), Carmen Ejogo (Tasha), Manny Perez (Coco Dominguez), Wayne Duvall (Bill Avery), Ramon Rodriguez (Angel Tezo), Rick Gonzalez (Eladio Casado), Maximiliano Hernández (Carlos Bragon), Leslie Denniston (Maureen Tierney), Hannah Riggins (Caitlin Tierney), Carmen LoPorto (Francis Tierney), Lucy Grace Ellis (Bailey Tierney), Ryan Simpkins (Shannon Egan), Ty Simpkins (Matthew Egan), Flaco Navaja (Tookie Brackett), Raquel Jordan (Lisette Madera), José Ramón Rosario (Prefeito Arthur Caffey), Christopher Michael Holley (Detetive Miller), Jessica Pimentel (Angelique Domenguez).

Sinopse: Após quatro policiais serem assassinados, Francis Tierney (Jon Voight), chefe dos detetives da polícia de Nova York, pede para que o filho Ray (Edward Norton) volte a trabalhar em seu departamento e o ajude com as investigações. O rapaz reluta a princípio, mas aceita o pedido do pai e passa a investigar o caso ao lado do irmão Francis Tearney, Jr. (Noah Emmerich) e do cunhado Jimmy Eagan (Colin Farrell).

Pride & Glory - Trailer:


Crítica:

“Força Policial” (e, no final das contas, o título nacional do filme se mostra quase tão estúpido quanto o título original) está sendo “vendido” a nós, brasileiros, como o “Tropa de Elite” estadunidense. Falácia! Não acredite em um segundo sequer da campanha publicitária deste lixo imundo! Se “Tropa de Elite” conseguia nos transmitir perfeitamente aquilo que estava sendo exibido nas telas, adotando para tal uma estrutura semi-documental levemente parecida com um filme produzido durante o neo-realismo italiano, “Força Policial” tenta (e esta foi uma das tentativas mais frustrantes da história da sétima Arte, diga-se) o fazer plagiando quase todos os filmes do gênero produzidos recentemente.

E sei que já virou clichê falar de clichês em uma crítica cinematográfica, mas aqui não há como fugirmos disso, uma vez que o filme copia vários elementos de outros filmes policiais. Temos espaço para o policial extremamente competente que trabalha em um departamento cujas atividades encontram-se bem aquém de suas aptidões investigativas. Há também um drama familiar envolvendo este mesmo policial, que viu-se obrigado a se separar da mulher que ama por causa do trabalho (e francamente, ele deveria ser eternamente grato ao trabalho por faze-lo abandonar um “trabuco” da categoria de sua ex-esposa. Bom, ao menos eu, se estivesse no lugar dele, seria. Ou melhor, se realmente estivesse no lugar dele, nem ao menos me envolveria com um “canhão” daqueles), a família inteira que trabalha na polícia (pai, filhos e, acredite, até o genro), o protagonista que mora em um barco ancorado no cais local, o pai que pede ao filho que volte a trabalhar lado a lado com ele, a trama se desenrolando durante o período natalino, os narcotraficantes oriundos de países latino-americanos (e nem preciso comentar o teor preconceituoso disso, não é?), dentre muitos (mas muitos mesmo, vocês irão ficar até atordoados com a enxurrada de clichês contida no roteiro de “Força Policial”) outros chavões.

O modo como o roteiro aborda os seus personagens soa exacerbadamente superficial. O protagonista então dispensa comentários, até mesmo porque eles já foram feitos no parágrafo supra. Mas e quanto aos demais personagens? Um mais fútil que o outro. Temos o pai de família que faz de seu serviço algo glorioso e tenta o passar para os filhos, que decidem seguir a carreira profissional do progenitor, temos também o genro que é chefe de uma família perfeitamente moldada no “american way-of-life” e se envolve com a corrupção a fim de dar uma vida melhor aos filhos e à esposa, o irmão do protagonista que é um homem correto e honesto, mas que não delata os companheiros por uma questão de coleguismo e... podemos parar por aí? Ah não, acredito ser conveniente falarmos também sobre os narcotraficantes latino-americanos. O quê? Já citei-os acima? Sim, mas não me lembro de ter comentado que os mesmos seguem o estereotipo do criminoso cruel que resolve tudo “na bala”. Pior ainda é notarmos que os fora-da-lei são sempre estúpidos, a ponto de deixar uma pista ou uma testemunha a todo o momento em que cometem uma infração.

E falando na idiotice dos bandidos de “Força Policial”, creio que todo o membro da policia adoraria que os criminosos realmente fossem assim, não? Pois é, seria o trabalho mais fácil do mundo, ao menos é o que o filme deixa a entender conforme mostra as investigações sendo executadas. Veja o momento em que o personagem de Edward Norton (e o que ele está fazendo neste filme, uma vez que nunca atuou em uma obra tão exposta ao ridículo como esta?) entrevista um garoto latino-americano (e, sinceramente, não sei qual é a vantagem de seu personagem saber falar espanhol se, após um minuto de interrogação, o protagonista pergunta: “Sabe falar inglês?”, e passa a comunicar-se com os entrevistados apenas no idioma oficialmente falado na Terra do Tio Sam), por exemplo. Ray vai à testemunha certa, na hora certa, e consegue as informações certas. Pois é, falar que o roteiro é extremamente artificial neste ponto torna-se dispensável, não é mesmo? Principalmente se levarmos em conta que o próprio “script” se denuncia quando o protagonista comenta: “___ Foi apenas sorte!”.

Bem, pode até ter sido um golpe de sorte, de fato, e isso não teria problema algum caso o longa tivesse parado por aí mesmo. Mas não é o que acontece, o roteiro insiste em criar mais cenas artificiais como esta, tornando-se muito comum vermos bandidos exageradamente descuidados a ponto de deixarem celulares próximos ao local do crime e testemunhas que veem tudo o que aconteceu e contam para a polícia logo em seguida (a propósito, só em um filme imbecil como este conseguimos ver testemunhas tão fáceis de se interrogar e dispostas a contar tudo o que sabem, mesmo que isto lhes custe a vida). E francamente, juro (e juro mesmo, não estou exagerando) que pensei que em um determinado momento do filme os bandidos fossem cometer um crime e logo em seguida pendurar, em uma parede próxima ao local do incidente, luminosos com os seguintes dizeres: “Me chamo Fulano da Silva, tenho 1,80m de altura, sou negro e matei este homem porque vendi a ele mais de dez mil dólares em cocaína e o desgraçado não me pagou a quantia. Caso queiram me localizar basta procurar-me na Rua dos Pinheiros, número 1234, apartamento 27, ao lado do boteco do Zé do Pires e de frente para a Funerária Lá Vai Mais Um. Estarei com uma camiseta regata vermelha com o emblema do Flamengo e com uma caixa de cereais na mão direita. Com a mão esquerda acenarei para vocês pela janela. Quaisquer dúvidas é só ligar para o telefone número 1234-5678 e darei informações mais minuciosas. P.S.: Não se esqueçam do mandado judicial para poderem arrombar a minha porta e levar-me à delegacia. Atenciosamente, Fulano da Silva.” (sei que fui pouco original na escolha do endereço e número de telefone, mas acabei sendo involuntariamente inspirado pela falta de criatividade do filme que acabei de assistir).

“___ Mas e a trama em si, consegue mostrar o esquema de corrupção dos policiais nova-iorquinos?” ___ Me pergunta o leitor. Mostrar mostra, mas do modo mais convencional o possível. E não apenas de um modo convencional, como também de uma forma nada convincente, principalmente por vermos os policiais corruptos estabelecendo poucos contatos com os bandidos. A propósito, é triste vermos o quão dispensável “Força Policial” é se o compararmos com muitos outros filmes do gênero que desempenharam o mesmo papel que ele pretendia desempenhar, só que de uma maneira bem mais realista, como é o caso de “O Corruptor”, “Os Reis da Rua”, “Dia de Treinamento”, “Cop Land” e, é mais do que óbvio, “Tropa de Elite” (aliás, notem o modo como o mesmo é fortemente plagiado neste “Força Policial”. As cenas do filme gringo em que mostram um policial assaltando o dono de um mercado são descaradamente copiadas da cena em que o capitão Fábio (encarnado com maestria por Milhem Cortaz) assalta uma choperia).

Mas nem tudo pode ser encarado com repulsa nesta porcaria dirigida por Gavin O’Connor. O próprio diretor realiza um trabalho regular atrás das câmeras e o modo como movimenta as mesmas revela-se interessante durante algumas cenas do longa. O elenco também encontra-se bastante afiado e realiza um trabalho bastante competente, sobretudo Noah Emmerich que se mostra bastante seguro como Francis Tearney, Jr. Norton também realiza um trabalho convincente, mas muito aquém do esperado, e o mesmo eu digo de Colin Farrell e Jon Voight.

Bem, poderia execrar o filme ainda mais, poderia comentar os péssimos diálogos embutidos no mesmo, a trilha-sonora visivelmente maniqueísta, o terceiro ato ridículo (que conta com uma briga de bar, no estilo mano-a-mano, entre os dois personagens principais da trama), mas vou parando por aqui. “Força Policial” é um filme que possui um elenco competente e uma direção razoável, e só. No mais, somos quase afogados por uma enxurrada de clichês e cenas extremamente artificiais empregadas pelo roteiro. O maior pecado do longa, entretanto, é o modo gritantemente (isso para não dizer ‘berrantemente’) falho como decide abordar a corrupção policial, algo que o deixa bem aquém de várias outras produções do gênero. Um lixo descartável, apenas isso.

Avaliação Final: 2,0 na escala de 10,0.

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