domingo, 22 de fevereiro de 2009

Bolt - Supercão - **** de *****

O díficil de se criticar essas novas animações 3D é você não saber ao certo se deve avaliar os novos recursos tecnológicos em terceira dimensão ou não. Oras, pouquíssimos cinemas no Brasil são equipados com esta nova tecnologia (e, pasmem, nesse fim de mundo em que eu vivo, o cinema, que sempre está defasado, conta com a tecnologia 3D), sendo assim, onde estaria o teor democrático se eu avaliasse este "Bolt, o Supercão" analisando o realismo inserido neste novo recurso? Por este motivo, criticarei o filme como se nem ao menos tivesse utilizado um daqueles modernos óculos legais e bizarros para assistí-lo.

Crítica:

Um dos poucos erros contidos em "Bolt, o Supercão" reside na qualidade gráfica do mesmo. Não, em momento algum citei que o filme seja falho neste quesito. Mas sejamos francos, a Walt Disney Pictures sempre se preocupa tanto com a qualidade gráfica de suas animações que, é no mínimo estranho vermos a mesma não ter tido o cuidado que a produção "Wall-E" (a animação mais perfeita da história do Cinema, no que diz respeito à parte gráfica) teve, principalmente se levarmos em conta que o filme do simpático robozinho é um ano mais velho que este longa do, também simpático, cãozinho.

E se a parte gráfica não se mostra tão revolucionária assim (exceto pelo fato do filme poder ser assistido com aqueles óculos tri-dimensionais, mas ainda assim Wall-E impressionava bem mais, mesmo sendo visto a olho nu), a trama também não. Quem já assistiu ao ótimo "A Grande Jornada", em especial o primeiro episódio da saga, saberá de que estou falando. Bolt (John Travolta) é um cão dos mais belos que participa de um programa televisivo de pura ação. Neste programa, Bolt interpreta um herói cânino que sempre utiliza os seus superpoderes para salvar a aventureira Penny (Miley Cirus) dos mais perigosos obstáculos. Acontece que, a fim de fazer com que o cão atue de verdade, os produtores e diretores da atração televisiva põem na cabeça do protagonista que tudo aquilo é real. Logo, Bolt se imagina um herói de verdade.

Bem, até aí tudo certo, tudo extremamente original e bem inteligente. Então o roteiro decide tomar uma atitude ainda mais original e inteligente, dá um jeito de colocar Bolt para fora dos estúdios e fazer com que o cão se perca. Como será para o ingênuo cachorrinho andar pelas ruas imaginando ser um herói carregado de superpoderes, quando na verdade, tudo aquilo não passa de um conjunto gigantesco de efeitos especiais empregados pelo estúdio de televisão? Como será para Bolt descobrir que ele é apenas um cachorro qualquer, e nada mais? Interessante, não? Muito mais do que interessante, eu diria, é genial! A idéia é fantástica e poderia render um filmaço caso fosse aproveitada da maneira correta. E não é aproveitada da maneira correta? Não. Não que o roteiro erre na mão, mas não acerta tanto o quanto deveria.

A trama poderia apresentar uma série de sequências verdadeiramente hilárias fazendo com que o cãozinho entrasse nas mais inimagináveis confusões ao tentar utilizar os seus superpoderes, mas não. O que se vê então é Bolt tentando voltar para Penny com a ajuda, completamente involuntária, de Mittens (Susie Essman). O problema é que o cão encontra-se em Nova York, e precisa cruzar o país inteiro até chegar em Hollywood. Lembrou-se de alguma coisa? Pois é, conforme supracitei, é a mesmíssima premissa de "A Grande Jornada". É claro que difere em alguns pontos, como os motivos pelos quais Bolt deve cruzar o país e o ponto de partida e o ponto de chegada do animal, mas não resta dúvidas de que o âmago da estória fora extraído de "A Grande Jornada".

Entretanto, o filme consegue criar situações bastante interessantes e se revela muito engraçado e divertido. A dinâmica estabelecida entre Bolt e Mittens é das melhores e mais bem trabalhadas. A trama ganha um pouco de força quando entra o hamster Rhino na estória. A propósito, repare no modo como o mesmo tem de se locomover, dentro de uma bola de plástico. Uma jogada bastante inteligente do roteiro. E falando em jogada inteligente, não há como não nos cativarmos com os protagonistas da trama, uma vez que todos os três compõem uma perfeita hierarquia de caça: rato, gato, cachorro, mas se dão perfeitamente bem.

A sensação que temos ao acompanhar a jornada dos 'heróis' cruzando o país (ainda mais um país tão fantasticamente incrível, do ponto de vista geográfico, como é o caso dos EUA, que tem a sua vegetação formada por belas florestas, desertos de gelo, deserto convencionais, cidades monumentalmente arquitetadas (Las Vegas), dentre várias outras paisagens) é ótima, e há uma sequência em especial que retrata tudo isso: quando os três animaizinhos protagonizam uma espécie de videoclipe sob o som de uma cativante música country e aparecem em rápidas tomadas cruzando estados como o Missouri, Nebraska, Califórnia e muitos outros.

Infelizmente, "Bolt - Supercão" não se sai tão bem como filme de aventura, que é o que ele pretende ser. São raras as cenas onde vemos o protagonista e seus "fiéis escudeiros" correndo um sério risco de vida, como é a sequência em que eles decidem pular em um trêm (vide foto, é nesta cena, aliás, que Bolt começa a desconfiar de que realmente não tem superpoderes). A cena em que os protagonistas tentam invadir um "lar para animais abandonados", por exemplo, consegue ser engraçadinha, mas jamais se revela tensa ou emocionante.

De qualquer forma, "Bolt - Supercão" é um filme fantástico e uma ótima opção para se assistir reunido com a família (e caso eu me desse bem com a minha, gostaria de ter ido assistir com ela).

Obs.: Quem diria que o pervertido psicótico Calígula e o ainda mais pervertido e psicótico Alex de Large fosse, um dia, emprestar a sua voz para animação tão "fofinha" quanto esta, hein?

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.

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