segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Oscar 2009 - Comentários Sobre a Cerimônia

Não disse que esse Oscar seria o mais chato e previsível dos últimos tempos (na verdade, não estou fazendo uma pergunta retórica, eu realmente não me lembro se disse isso ou não)? Pois é, independentemente de ter dito isso ou não, o Oscar 2009 foi uma cerimônia das mais patéticas de todos os tempos.


Em primeiro lugar, o que dizer da escolha de Hugh Jackman como apresentador? Ok, o ator é charmoso e tudo o mais, mas e daí? Charmoso por charmoso chamassem então o Pierce Brosnan. O quê? Ah, Pierce Brosnan não tem “timming” cômico nenhum? De fato, não tem mesmo, do contrário não teria “vencido” o Framboesa de Ouro de Pior Ator Coadjuvante pela comédia “Mamma Mia” (que não tive, e nem quero ter, a oportunidade de assistir), mas quem disse que Hugh Jackman tem “timming” cômico (esta sim, uma pergunta retórica)?


Porém, a culpa não é toda do ator. Afinal de contas, o roteirista do Oscar (que já está no cargo, sabe-se lá o porquê, há vinte anos), cujo nome já nem me lembro e nem faço lá muita questão de me lembrar, não tem capacidade de criar piadas novas e realmente engraçadas. Veja os números musicais, por exemplo. Boa parte deles se dedicaram a citar, do modo mais artificial o possível, o nome dos indicados a Melhor Filme. É claro que fazer uma música envolvendo os títulos das principais obras da noite não consistiria necessariamente um erro (apesar de soar oportunista de um modo ou de outro) caso o compositor tivesse trabalhado as canções de um modo mais sutil, coisa que ele não faz. Logo, sobra para Jackman tentar emendar os “buracos” deixado pelo fraco roteiro com uma infinidade de piadinhas insossas e números musicais bregas, conforme podemos conferir mais abaixo.


O que dizer então do homenageado da noite? Ao invés de homenagearem Paul Newman, falecido a pouco, homenageiam um dos humoristas que mais me causam repulsas. Refiro-me a Jerry Lewis. Ok, humor é algo muito pessoal, é difícil você encontrar duas pessoas que achem graça na mesma piada. Por exemplo, quando disse ao Radamés (co-editor daqui do Cine-Phylum), enquanto assistia à transmissão, que achava Lewis péssimo ele se revoltou, disse que o cara é um gênio, um ícone, e que ninguém fazia/faz humor pastelão como ele faz (e quanto a Grourcho Marx, Radamés?). Em seguida mencionei: “não vejo graça nele!” e ele emendou sucintamente: “disse bem: VOCÊ não vê graça nele!”. Francamente, não sou só eu. Conheço, ao menos, umas cento e quinze pessoas, além de mim, que não vem (sem circunflexo?) a menor graça nele. Dentre estas pessoas encontram-se, é claro, intelectuais e cinéfilos de verdade.

Lewis era um fracassado, seu humor era patético, ridículo e conseguia a façanha de ser inferior ao de Jim Carrey. Ao menos Carrey consegue ser sem graça sozinho, já Lewis, para ser apenas sem graça, dependia completamente de Dean Martin. Quando separou-se do mesmo, o "comediante" (gargalhadas) deixou de ser apenas sem graça e passou a ser realmente insuportável.

Creio que a cerimônia, ao invés de perder tempo com imbecis e fracassados que fariam um grande favor à humanidade caso tivessem falecido por falta de ar durante o próprio parto, deveria ter homenageado Paul Newman, que nos deixou ano passado e tem uma importância muito maior ao Cinema. Ou já que era para se homenagear um humorista, que tal Jack Lemmon (que não era necessariamente comediante, mas já fez muitas comédias fantásticas como "Quanto Mais Quente Melhor", "Se Meu Apartamento Falasse" e "Demônio de Mulher") ou Graham Arthur Chapman (em ambos os casos seriam homenagens póstumas), do Monty Python, que eram muito melhores? O quê? Queriam homenagear um comediante vivo? Ótimo, Woody Allen é uma excelente pedida. Ou melhor ainda, John Cleese, ex-colega de Chapman no Monty Python (e Cleese era o mais engraçado de todos). Ah, mas eles queriam mesmo era homenagear Lewis pelo trabalho humanitário que este fez/faz, não é mesmo? Oras, e o que o Oscar tem a ver com causas humanitárias e filantrópicas? Deixem isso para as igrejas e casas de apoio. O Oscar deveria mesmo é se preocupar com o verdadeiro talento do artista, e não com o que ele faz ou deixa de fazer quando não está diante das câmeras. Enfim, é complicado. Falar sobre comédia é comentar sobre algo muito introspectivo e subjetivo.

E quanto ao grande acontecimento da noite: a entrega do Oscar póstumo a Heath Ledger? Bem, o Oscar foi entregue, os familiares (pais e irmã) do ator subiram no palco, proferiram um discurso clichê, embora sincero (e sejamos francos, algumas vezes não se pode fugir do clichê, e este é um desses casos), receberam o prêmio em nome de Heath, e depois foram-se embora. Simples assim. Pois é, o único momento, digamos, diferente da noite, não teve destaque algum. Comentei isso com uma jovem carioca amiga minha, a Juliana, que já postou algumas vezes por aqui (e dentre outros assuntos que comentamos durante a cerimônia de entrega do Oscar deste ano, este foi um dos poucos relevantes, já que passamos boa parte do tempo discutindo a 'gostosura' (ou não) de Jessica Alba, Scarlett Johansson e Rebecca Hall. Papo estranho para se desenvolver entre uma heterossexual e um assexuado, não?) e ela também achou a homenagem a Ledger curta demais. Comentei com o Radamés, ele me lembrou de que o ator já fora homenageado no Oscar do ano passado, mas aí eu pergunto: por que não homenageá-lo novamente, já que, teoricamente, ele recebeu um prêmio importantíssimo este ano? Enfim, o Oscar 2009 foi tão apagado que a cerimônia não soube nem ao menos se aproveitar do que era para ser os seus momentos mais marcantes, como o Oscar póstumo de Ledger e o prêmio de Penélope Cruz, entregue pelo seu parceiro no ótimo"Vicky Cristina Barcelona", Javier Barden.

Mas a cerimônia deste ano não foi ao todo ridícula. É fato que homenagearam a pessoa errada, nos afogaram com uma "tsunami" de piadas sem graça, nos apresentaram a um anfitrião extremamente insosso e, acima de tudo, revelou-se brega demais com o excesso de números de dança. Contudo, é fato também que a mesma acertou em alguns aspectos. Como não reparar, por exemplo, na agilidade e dinamicidade da mesma? Se há alguns anos atrás a premiação se encerrava apenas às 3:30hs, este ano tivemos 1:30h de antecedência e, quando eram 2:00hs da matina, o Oscar já havia se encerrado. Sempre fui a favor de cerimônias enxutas e, este ano, parece que felizmente cortaram as “gordurinhas” dos Oscar anteriores.

Vale citar também a ótima idéia que tiveram no que diz respeito às categorias de Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Atriz e Melhor Ator: ao anunciar o prêmio de cada uma destas modalidades, colocaram cinco atores/atrizes renomados(as) e fizeram com que cada um(a) deles(as) citasse um breve comentário ilustrando positivamente o trabalho de todos os cinco concorrentes para cada uma das quatro categorias. A idéia teria funcionado magistralmente bem se não fosse um porém: uma terrível gafe cometida por Marion Cotillard ao anunciar o prêmio de “Melhor Atriz”.

Kate Winslet a tempos vinha sendo indicada, mas não levava nada. As pessoas se questionavam: “quando Kate irá levar uma estatueta?”, “quando a Academia reconhecerá o seu trabalho?”. Aí ela faz um ótimo trabalho em “O Leitor” (não que seja digno do Oscar que levou, mas enfim...), recebe todos os principais prêmios que precedem o Oscar e, adivinhem, é lançada como favorita para faturar a sua tão sonhada estatueta. Todos sabiam que ela iria vencer, mas certeza mesmo, só depois de ouvir o seu nome sendo anunciado como ganhadora. E, de fato, ouvimos o nome dela, só que do modo mais indelicado o possível. Oras, há muito tempo esperávamos que a moça vencesse o prêmio, e quando chegou a vez desta vencer, é claro que queríamos ter a sensação de suspense, aquele dramatismo que é sempre empregado antes de mencionar o nome do vencedor. Entretanto, Cotillard simplesmente diz: “...E o Oscar vai para Kate Winslet”. Isso mesmo! Simplesmente diz: “...E o Oscar vai para Kate Winslet” e não faz uma única pausa (muito menos suspense) para tal.

Agora, imagine você, caro leitor, se herdasse uma fortuna de um parente distante e a pessoa incumbida de lhe dar a notícia dissesse abruptamente: “seu tio, que mora em uma região entre a Ucrânia Meridional e os Cafundós do Judas, faleceu, e você herdou toda a fortuna dele, ficando multimilionário!”. Certamente você teria um enfarto, não? Pois é, e não fosse a obviedade da vitória de Winslet, creio que um enfarto seria justamente o que ela teria em virtude da falta de sutileza da anunciação do prêmio.

Mas o pior eu deixo para o final. Se a gafe cometida por Marion Cotillard durante o anúncio da vitória de Winslet já quebrou ligeiramente o suspense da premiação, o que dizer então da falta de lógica com a qual os organizadores da cerimônia sequenciaram a distribuição de seus prêmios? Em primeiro lugar, por que cargas d’água colocou o prêmio de “Melhor Atriz Coadjuvante”, um dos mais importantes da noite, para abrir a cerimônia? Por que colocaram Melhor Ator Coadjuvante tão distante do final, sendo que, para muitas pessoas que estavam assistindo à premiação, o mais interessante da noite seria o Oscar póstumo de Heath Ledger? Por que entregaram “Melhor Roteiro” tão cedo, sendo que este é um prêmio que, praticamente, prevê quem vencerá “Melhor Filme”? E a mesmíssima coisa eu digo de “Melhor Diretor”, por que o colocar antes de “Melhor Ator e Atriz”? Será que foi para tornar a festa ainda mais previsível do que ela já seria por si só (afinal de contas, quem ainda não tinha certeza absoluta de que "Quem Quer Ser um Milionário?" se consagraria o grande vencedor da noite?)? Será que é por que eles adorariam perder a audiência em virtude da previsibilidade que se instaurou na cerimônia mediante a esta lógica desconexa das apresentações de cada premiação em cada categoria?

Enfim, o Oscar de 2009 foi, de fato, o mais carregado de erros dos últimos anos (e por que não dizer, de todos os tempos?) e não deverá mais ser lembrado daqui a algum tempo. A premiação pode até ter realizado a façanha de superestimar um filme independente e transformá-lo em um dos maiores vencedores de todos os tempos, mas ainda assim, a cerimônia foi completamente apagada e será esquecida com o passar de dois ou três anos, bem como "Quem Quer Ser um Milionário?", o maior homenageado da noite, cujo título pessoa alguma ouvirá falar com o passar do tempo.

Diferentemente de 2008, a cerimônia de 2009 foi digna de ser eliminada de nossa memória.

Ah, sei que é extremamente fútil, mas assim mesmo gostaria de atribuir uma nota à cerimônia (e refiro-me à festa em si, não aos vencedores da mesma):

Avaliação Final: 3,0 na escala de 10,0.

2 comentários:

Contatos Imediatos de Primeiro Grau disse...

Nossa, eu discordo de tudo o que foi dito!!! Hugh Jackman superou todas as expectativas, e fez piadas legais, ao inves de fazer aquelas apelativas de edições mais recentes. Teve tiradas ótimas, como a de comparar as nacionalidades( Kate Winslet, uma inglesa, vivendo uma alemã, foi indicada ao oscar. Eu, um australiano, fiz um australiano, em um filme chamado austrália, estou apresentando). O número músical do ínicio, uma apresentação de algúns filmes, foi extremamente criativo, fazia tempo que não via um número bom desses. Heath Ledger não merecia uma homen´gem. Não me entendam mal, ele merecia mas em outro momento. Naquela hora, ele, apesar de ter falecido, era apenas um dos 5 concorrentes a ator coadjuvante, não era a ocasião para uma homenágem. Cada um auncia o prêmio como quer. Marión pode até ter quebrado o suspense, mas não foi uma maneira indelicada de se anunciar o vencedor. Muitos ja fizeram dessa mesma maneira, e não vejo problema algúm. Ao invés de fazer suspense, preferiu revelar logo a vencedora. O homenágeado Jerry Lewis nunca foi uma pessoa rídicula. Ta certo, pode não ter sido o melhr comediante da história do cinema, mas é inegável a sua contribuíção no cinema. E Paul Newman ja recebeu um prêmio especial, mas isso também não impede que ele receba outro daqui a algum tempo. A cerimônia funcionou muito bem, bastante dinâmica, me arriscaria dizer que foi a melhor dessa década. E vou estar torcendo para que ano que vem, Hugh Jackman, ou alguém com o seu talento( que ele mostrou ter na cerimônia) apresente o evento.

Daniel Esteves de Barros disse...

Olá Alex, tudo bem?

Na verdade, esta é uma questão bastante difícil de ser abordada, pois humor é algo muito pessoal. Eu odiei as piadinhas de Jackman (inclusive a que envolve Kate Winslet), você as adorou, como pode notar, a dose de subjetividade aqui envolvida é enorme.
Eu, por exemplo, prefiriria infinitamente Billy Crystal.
Com Jerry Lewis a questão é praticamente a mesma. Detesto humor pastelão e acho Lewis um ator chato pra car****, e há muitas pessoas que também o acham. Um exemplo? A crítica estadunidense inteira. Mas Lewis é adorada por muitos outros cineastas, incluindo François Truffaut.
Enfim, é tudo muito subjetivo.
Abraço, e obrigado por marcar presença.