quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A Duquesa - ** de *****

“A Duquesa” foi um dos poucos filmes que concorreram ao Oscar neste ano que eu não pude assistir antes da cerimônia. Desta forma, tinha que faze-lo assim que me sobrasse algum tempo, principalmente levando em conta que o filme estreou nos circuitos nacionais a muito tempo e, na ocasião, vi-me incapaz de conferi-lo. Faço-o agora então, na hora errada, mas enfim, antes tarde do que nunca, não?


Crítica:

Quando comentei sobre “Elizabeth – A Era de Ouro”, por volta de fevereiro do ano passado, deixei bem claro que o filme em questão emergia em um oceano de frivolidades, pois dava muito mais ênfase ao triângulo amoroso abordado do que às questões políticas com as quais a protagonista estava envolvida na época. E tendo em vista que tais questões estavam ligadas ao período mais glorioso da história da Grã-Bretanha, ou seja, a vitória naval sobre a Espanha durante o conturbado período das inquisições ibéricas, tal deslize do roteiro não poderia ser perdoado sob hipótese alguma.

Pouco tempo depois (menos de um ano) de “Elizabeth – A Era de Ouro” sair dos circuitos nacionais, chega este “A Duquesa” com uma proposta não muito diferente: retratar um triângulo amoroso, que mais para frente viria a ser um quadrado amoroso, envolvendo membros importantíssimos da corte britânica e deixar as questões políticas de lado. Contudo, “A Duquesa” tem uma clara vantagem sobre “Elizabeth...”, no filme protagonizado por Keira Knightley, a ocultação dos fatos políticos se revela infinitamente mais conveniente do que no filme protagonizado por Cate Blanchet.

Tomando como pano de fundo a Inglaterra do final da sétima década do século XVIII, o filme nos apresenta à duquesa Georgiana Carvish (Keira Knightley), casada com William Carvish (Ralph Fiennes), Duque de Devonshire (região pantanosa ao sul da Inglaterra, para quem já leu o excepcional “O Cão dos Baskervilles” de Sir Arthur Conan Doyle, é exatamente a região onde se passa a estória mais famosa protagonizada por Sherlock Holmes). O Duque, como era costume na época, desejava um descendente do sexo masculino para deixar de herdeiro. A esposa, no entanto, só conseguia lhe “dar” filhos do sexo feminino, o que causa certo ódio por parte do marido.

Lendo o parágrafo acima, dá-se a entender que o longa irá cair naquela velha estória de sempre, não? É exatamente isso o que acontece. Eles se casam, ela promete um filho, não consegue um garoto, o Duque, que já não demonstrava grande amor pela moça, passa a despreza-la cada vez mais, arruma inúmeras amantes para lhe satisfazer, e ela, pobrezinha, sente-se isolada, sem o amor do marido, no palácio em que mora e passa a se interessar por um amigo de infância.

O roteiro aparenta ser previsível e sem criatividade, não? Pois é, é justamente isso que o é, e mais, não se preocupa nem um pouco em explorar os seus personagens ou, ao menos, criar uma forte carga dramática sobre eles. Por exemplo, Georgiana era viciada em jogos de azar, mas o filme raramente explora o seu problema de um modo aprofundado. Tudo aqui é mostrado superficialmente, através de uma ou outra cena em que a moça aparece jogando cartas. E os sentimentos verdadeiros dela por Charles Gray (Dominic Cooper)? De fato são verdadeiro sim, mas percebemos isso de tanto que ouvimos a moça falar, pois o roteiro não se preocupa nem um pouco em criar situações que nos façam ter certeza disso. O flerte entre Georgiana e Charles é mostrado de um modo sucinto demais no início da projeção. Eles são mostrados apenas como amigos, que trocam um ou outro olhar entre si, e quando o romance de ambos esquenta definitivamente, não convence. A sensação que temos é a de que a Duquesa não ama o rapaz, de fato, apenas o usa para escapar do rude marido, que trai a moça com aquela que já fora sua melhor amiga, Bess Foster.

E falando em Bess Foster, que atuação apagada a de Hayley Atwell, não? Sua expressão é sempre a mesma, ela jamais convence, nem quando fala do marido que a maltratava, nem quando reencontra os filhos que já não via há anos, nem em momento algum. O resto do elenco se mostra satisfatório, mas apenas isso, nada mais. Salvo por Keira Knightley e Ralph Fiennes, cujas discussões de seus respectivos personagens revelam-se o ponto alto do filme, uma vez que passa a exigir de ambos atores atuações firmes e consistentes e ambos correspondem magnificamente bem ao exigido (Knightley, aliás, está perdoada do péssimo trabalho que realizou no bom “Desejo & Reparação”).

Mas ao iniciar este texto, lembro-me de que falava que a ocultação política do filme não era, ao todo, inconveniente, não? Pois é, a Inglaterra passava por uma considerável mudança política, onde o partido de oposição, que era infinitamente mais libertário que o partido de situação, estava para assumir o poder da ilha mais importante do mundo e a Duquesa Georgiana teve a sua participação nisso, e é claro que o roteiro falha em não abordar tal fato com mais precisão, contudo, além do papel de Carvish não ter sido tão diretamente importante para o trunfo dos opositores, este acontecimento histórico não teve, nem em sonhos, o mesmo peso que teve a vitória naval da Inglaterra sobre a Espanha. Logo, o roteiro jamais se mostra totalmente falho quando opta por dar mais ênfase à vida pessoal da Duquesa.

Aliás, a vida pessoal dela, por si só, já se mostra dramaticamente forte o bastante para merecer uma adaptação para as telonas. A questão é: como fazer isso de um modo satisfatório? E aí voltamos a todos os pontos falhos que citei acima, o longa deveria ter desenvolvido melhor os personagens, ter criado uma relação publico/protagonista muito maior a ponto de nos cativarmos com ela, sobretudo com os seus sentimentos por Gray e, principalmente, ter sido menos previsível. Francamente, em menos de vinte minutos de filme sabemos perfeitamente que a Duquesa não conseguirá dar um filho do sexo masculino ao seu marido, o mesmo dará ainda menos amor à esposa, arrumará algumas amantes, passará a flertar com a sua melhor amiga, se tornará amante da mesma, e por aí vai, até “nascer”, de fato, o previsível caso de amor entre Georgiana e Gray.

Ao menos o filme não é previsível em seu final, quando percebemos a tristeza que passa a fazer parte da vida da jovem nobre. Afinal de contas, ela terá toda a riqueza material que desejar, mas jamais encontrará o verdadeiro amor, e o que é pior, ela nada vez de errado para merecer tal “punição”, apenas não se viu capaz de “presentear” o marido com um filho do sexo masculino no momento em que ele deseja isto. O roteiro prima também por não fugir muito da estória real, que lhe serviu de base. Por outro lado, creio que uma ou outra liberdade histórica adotada para dramatizar a trama (que, sejamos francos, não é tão dramatizada quanto deveria) não seria uma má idéia.

Mas o filme não é ruim ao extremo, muito pelo contrário. Além das já citadas ótimas atuações de Fiennes e Knightley, o filme conta com uma beleza visual fantástica, que parece tentar suprir todo o vazio emocional que o longa nos confere. A fotografia realça bem os ambientes externos da produção, a direção de arte, por sua vez, cria ambientes internos suntuosos e dignos de se encher os olhos (ainda assim achei a vitória de “... Benjamin Button” justa nesta categoria) e os figurinos são simplesmente um espetáculo, algo que o filme realmente tem de melhor, e parece saber aproveitar a cada momento que pretende recriar a época que está sendo retratada nas telonas.

“A Duquesa” é, enfim, um longa dotado de uma beleza visual incrível, mas de um vazio dramático indesculpável (exceto pelo triste final do filme).

Avaliação Final: 5,0 na escala de 10,0.

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