sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Rio Congelado - **** de *****

Vamos voltar aos primórdios do Cine-Phylum? Calma, não é nada demais, não. Apenas irei voltar a realizar críticas no antigo formato do blog. Mas será por um curto período de tempo, até o Oscar apenas. O Motivo? Simples, a cerimônia está próxima e eu ainda tenho oito filmes para serem assistidos em apenas três dias. De tal forma, é mais do que óbvio que não terei tempo de destrinchar todos os filmes através dos costumeiros textos que sempre publico por aqui. Logo, as críticas de “Rio Congelado”, “Simplesmente Feliz”, “Trovão Tropical”, “Bolt – O Supercão”, “A Duquesa”, “Um Ato de Liberdade”, “Valsa Com Bashir” e “The Vistor” (acreditam que ainda não sei qual é o título brasileiro deste último?), terão entre 400 e 800 palavras, no máximo.

Crítica:

O mais interessante em “Rio Congelado” é o local em que o filme se passa. Seja sincero, quantos filmes você já assistiu que se passam no norte estadunidense, na fronteira com o Canadá? Seja mais sincero ainda, quantos filmes você já assistiu que retrate a miséria de uma família estadunidense? Pois é, para quem reclama que o cinema estadunidense retrata apenas o lado glorioso do país, aconselho que assista a “Rio Congelado”.

O filme é surpreendente. Chegou de mansinho, como quem não quer nada, e acabou sendo exageradamente indicado ao Oscar de “Melhor Atriz” e, merecidamente indicado ao prêmio de “Melhor Roteiro Original”. E o roteiro é tudo isso que estão falando? Sim, de fato, é. Certamente não acharia justo indicar o mesmo em um ano comum, mas como em 2008 o Cinema se revelou um verdadeiro desastre, a indicação de “Rio Congelado” na categoria de roteiro é mais do que justa (é claro que preferia ver “Vicky Cristina Barcelona” no lugar, mas as coisas infelizmente não são como a gente quer quer seja).

A trama é interessantíssima e, de certa forma, surpreendente. Começamos com uma mulher chamada Ray Eddie (Melissa Leo) se vendo na obrigação de sustentar a família, uma vez que o marido, um viciado em jogos, a abandonou recentemente. Depois, Ray decide procurar o marido pelas terras da região e pegar o dinheiro que este levou embora consigo, afinal de contas, ela precisa dos dólares para pagar uma prestação da casa e não “perder” a mesma. Nessa busca pelo cônjuge, Ray descobre que o veículo deste encontrava-se na posse de Lila Littlewolf (Misty Upham), uma indígena Mohawk que havia furtado o carro. A protagonista a segue, força Lila a devolver-lhe o automóvel, e quando menos esperamos, vemos Ray se envolvendo com a travessia de imigrantes ilegais, trazendo-os do Canadá para os EUA passando por um grande rio congelado.

A propósito, palmas para o título original da obra que, sem dúvida alguma, se mostra excelente. O rio congelado tem um contexto metafórico na trama. É, aparentemente, algo sólido, algo que proporciona uma passagem para uma vida melhor (afinal de contas, é com o contrabando de imigrantes que Ray imagina ter chances de ganhar dinheiro o suficiente para quitar a sua casa), no entanto, o gelo pode se quebrar a qualquer instante, e a passagem sólida pode se mostrar um tanto o quanto instável. É o caso de Lila e Ray, as aventuras em que ambas se envolvem na travessia de imigrantes ilegais é algo que traz uma oportunidade financeira sólida a duas mulheres que passam por fortes dificuldades financeiras, mas e se a polícia as pega no ato? Metaforicamente falando: e se o gelo do rio parte enquanto elas o atravessam?

Entretanto, não tão imprevisível quanto a aventura de ambas é o roteiro. À primo, ele nos apresenta a uma estória extremamente interessante e com muitas reviravoltas, mas depois torna-se óbvio que ambas, mais cedo ou mais tarde, serão apanhadas no ato (e juro que não estou entregando nenhuma parte do filme dizendo isso, pois torna-se óbvio que tal fato realmente irá ocorrer). Outra grave falha do roteiro é a falta de sutileza com que o mesmo desenvolve os seus personagens. Parece que a abordagem que este realiza sobre todos eles é tão gélida quanto as locações utilizadas para rodar o filme. Parece que uma barreira é criada entre nós e os personagens a ponto de dificultar com que nos cativemos com os mesmos. Oras, este é um tipo de filme que jamais deveria fazer isso, afinal de contas, como o mesmo pretende que nos identifiquemos com a luta de Ray se ela é explorada de um modo demasiadamente frio e distante.

Mas no geral é um ótimo filme, a direção de Hunt é excelente, o elenco se sai muito bem, mas está longe de merecer indicações ao Oscar (inclusive Melissa Leo. Confesso que preferiria ver Scarlett Johansson em seu lugar). A fotografia é fantástica, e confere tons magistrais ao gélido local retratado. Um ótimo filme, nada mais. A prova de que para se fazer filmes acima da média não é necessário torrar rios de dinheiro, uma vez que o longa em questão custou apenas um milhão de dólares, uma pechincha para o Cinema contemporâneo.

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.

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