quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Um Ato de Liberdade - *** de *****

Estou contente! Não a ponto de soltar rojões ou sair correndo nu pelas ruas (o que seria um atentado ao bom gosto de minha parte), mas estou muito contente! Enfim, encerrei o ciclo que deveria ter encerrado no dia 22 de fevereiro de 2009, antes da cerimônia do Oscar dar o seu início. Assisti a todas as produções mais “mainstreans” que participaram do Oscar 2009. Ainda não assisti aos indicados a Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Documentário e muito mais, mas pretendo fazê-lo antes deste semestre se encerrar. Mas, vamos ao texto do filme que completou o ciclo por mim iniciado?


Crítica:

Responda rápido: o que pode ser pior do que ser um judeu e viver em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial? Ser judeu e polonês (já que a Polônia fora um dos principais alvos da Alemanha Nazista) ao mesmo tempo, não? Pois é, e assim eram os poloneses de Nailiboki. Tendo isso em vista, é mais do que óbvio que os habitantes desta região do globo terrestre encontravam-se mais perdidos do que cego em tiroteio, não? Sim, principalmente quando os nazistas passaram a atacar diversas cidadelas daquela região. Os poucos sobreviventes decidem então se unir e se esconder dos alemães nas florestas locais. Mas quem disse que o perigo deixaria de existir? É aí que surge o lendário Tuvia Bielski, um ex-militar que, ao lado dos irmãos Zus e Asael, une os esparsos bandos judeus foragidos, formando um grupo só. Bielski começa a armar o clã na medida do possível e passa a organizar as defesas, para o caso de uma “blitzkrieg” nazista.

Primeiramente, a sinopse do filme por si só já se revela interessante o bastante para merecer uma conferida. Em segundo lugar, quantas vezes você já ouviu falar de Tuvia Bielski? Pois é, e esta é uma das missões mais importantes da sétima Arte, levar cultura aos expectadores, no caso, aqueles que, como eu, nunca haviam ouvido falar nos irmãos Bielski e terão a oportunidade de conhecer algo sobre eles no filme em questão. Em último lugar, e não menos importante: quantas vezes você já ouviu falar em um líder militar que tornou-se herói não por organizar ataques, mas sim por fugir dos mesmos? Isso mesmo, fugir dos ataques. Sendo assim, se o leitor estava procurando um único motivo que seja para ir ao cinema conferir “Um Ato de Liberdade” (que estréia aqui no Brasil amanhã, 27/02/2009), estou dando três motivos, e olhe que acabei de iniciar este texto.

Aí o leitor conclui: “___ Puxa vida! Mas um filme com tantas qualidades, assim como você mesmo está apontando, só pode ser uma obra-prima, não?”. De jeito nenhum, “Um Ato de Liberdade” está muito longe, mas muito longe mesmo, de poder ser alcunhado de uma obra-prima. E quem seria o grande responsável por isso? O diretor Edward Zwick. Não que a culpa seja inteiramente dele, mas convenhamos, Zwick nunca foi e, pelo visto, nunca será um grande cineasta. Contudo, não podemos reclamar que os seus filmes não contam com uma dose mínima de carga emocional necessária para que nos cativemos com a trama (o que inclui até mesmo os recentes e apenas bons “O Último Samurai” e “Diamantes de Sangue”), não é mesmo? Minha resposta certamente seria sim caso não fosse este seu último filme: “Um Ato de Liberdade”.

Imagine você, caro leitor, tendo de se refugiar em uma floresta escura e com receio de morrer congelado com o alvorecer do inverno. Imaginou? Pois é, horrível não? Sim, mas Zwick jamais confere a sensibilidade necessária para tal. A única coisa que vemos aqui é um grupo de judeus foragidos que terão de enfrentar certos riscos, mais cedo ou mais tarde. E não podemos negar que Zwick, de fato, mostra os judeus passando fome, ou frio, ou contraindo graves doenças, como a tifo por exemplo, mas é como eu sempre digo: “o bom filme apenas mostra algo ao espectador, ao passo em que o grande filme transmite a esse o que está sendo mostrado, e de um modo que o faça sentir na pele”. “Um Ato de Liberdade”, infelizmente, encaixa-se na primeira opção.

Vemos os judeus fugindo de medo dos nazistas, os vemos lutando contra eles (quando necessário), os vemos passando fome, os vemos passando frio, os vemos contraindo doenças, mas Zwick jamais confere a sensibilidade dramática necessária para que o filme realmente nos cative. Ele não consegue fazer, por exemplo, o que Peter Weir faz no excepcional “Mestre dos Mares – O Lado Mais Distante do Mundo” quando mostra (e também consegue transmitir a todos nós, diga-se) a tripulação do HMS Surprise passando fome, ou (citando um outro filme produzido no mesmo ano), o que Peter Jackson faz no ainda mais excepcional “O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei” quando nos faz sentir na pele o drama de Frodo e Sam enquanto ambos sobem a Montanha da Perdição, em Gorgoroth, capital de Mordor.

Faltam cenas sensíveis como estas para podermos alcunhar “Um Ato de Liberdade” de obra-prima ou épico cinematográfico, que seja. Mas mesmo analisando-o como uma obra cinematográfica qualquer, o filme conta com as suas falhas. Além da direção de Zwick ser apagada demais e criar ângulos realmente satisfatórios em raros casos, o roteiro também falha na exploração de seu protagonista. Quando Tuvia entra em cena não sabemos nada acerca de seu passado e conforme a trama vai se desenrolando continuamos na mesmíssima situação. A única coisa que ficamos sabendo é que ele possuía um comércio com a sua ex-esposa antes de embarcar na vida de guerrilheiro.

Agora eu pergunto: por que cargas d’água o roteiro oculta que ele já foi membro do exército polonês? Sem dúvida é uma informação que, caso tivesse vindo até nós no início do longa, conseguiria conferir uma carga dramática muito mais consistente a este. E o que dizer então da covarde decisão que a produção toma para evitar polêmicas? Refiro-me aos boatos de que os “Partisans”, liderados por Tuvia, teriam molestado sexualmente mulheres e crianças durante a sua campanha. Por que o filme nem sequer “arranha” esta questão?

Mas nem por isso pensem que a obra encara os guerrilheiros apenas como pessoas sem desvios de caráter. Tuvia, principalmente, tem seus momentos de crueldade no filme, como na cena em que atira em um oficial nazista (e nos dois filhos dele também) que havia matado os seus pais e agora se encontra sem quaisquer chances de defesa. Ou então a cena em que, ao ver um outro oficial nazista, também sem as mínimas condições de autodefesa, sendo linchado pelo seu grupo, não faz absolutamente nada para cessar a tortura imposta ao alemão.

“Um Ato de Liberdade”, no fim das contas, se mostra um filme interessante pelas atuações de seu elenco (sobretudo Daniel Craig que está ótimo) e pela sua premissa em si, que acaba, infelizmente, sendo desenvolvida com pouquíssima sensibilidade pelo diretor e pelo roteirista Clayton Frohman. A estória, por si só, já se mostra bastante interessante por nunca ter sido contada no Cinema antes (e caso já tenha sido contada, por favor me avisem), bem como o seu protagonista, que não é desenvolvido da maneira que merecia, mas ainda assim nos desperta muita curiosidade.

Ah, e quanto à trilha-sonora, que concorreu ao Oscar mas perdeu, é realmente fantástica e confere ao filme um pouco da sensibilidade que a direção de Zwick e o roteiro de Frohman (que também é assinado por Zwick) não se mostraram capazes de conferir. Um grande trabalho de James Newton Howard.

Avaliação Final: 6,0 na escala de 10,0.

3 comentários:

João Flores disse...

apesar do uso das aspas, ficou muito feio "mainstreans"!
primeiro que não teria plural no inglês nesse caso, segundo que você adotou uma regra do portugues, de trocar o "m" pelo "n"... hahaha

João Flores disse...

*sem falar que nem adjetivo a palavra é, mas enfim... ;X

Daniel Esteves de Barros disse...

Meu caro, jura que mainstram não contém plural? Putz, que ótimo você avisar, eu não sabia, veja só, fiz inglês por cinco anos, assisto a filmes sem legendas, e não sabia disso (ironia off).

Falando sério agora, se eu utilizei aspas para escrever a palavra, é porque obviamente iria a escrever erroneamente, não? Iria escrever errado a ponto de "abrasileirar" (está entre aspas, caso você resolva dizer que "abrasileirar" não existe) a palavra, ou você não percebeu isso?

Ah, e não é adjetivo? Jura? Você nunca leu ou ouviu falar que tal filme é mainstream? Ou tal conjunto de rock alternativo não é mainstream, mas sim, underground? Francamente, você está querendo tornar formal algo que eu, propositadamente, fiz questão de tornar informal.