domingo, 22 de fevereiro de 2009

Trovão Tropical - **** de *****

O ruim de você assistir a um determinado filme em DVD, sendo que poderia tê-lo feito no cinema há meses atrás, é que, caso tenha de criticá-lo após a sessão, terá de o fazer embasando-se na versão que o assistiu, e não na versão original, que passou nas telonas. Não tive oportunidade de assistir a "Trovão Tropical" nos cinemas (uma pena, pois aposto que seria uma experiência das mais agradáveis), logo, não faço a mínima idéia se os espectadores que tiveram esta ótima oportunidade puderam conferir os trechos pré-créditos que nos apresenta de maneira fantástica aos personagens. Enfim, comentarei em cima do material que tive em mãos, sem problema?

Crítica:

Não gosto de Ben Stiller. Seus filmes são, em sua grande maioria, dotados de uma bobagem fora do comum. Sem contar que, como ator, ele não empolga. Não tem expressão, não tem "timming" cômico, não tem talento, enfim, não tem nada. Contudo, felizmente pertenço ao grupo dos cinéfilos que não nutrem espectativas antes de conferir um determinado filme (a não ser que seja um Scorsese ou um Allen, aí já seria pedir demais para não se empolgar com os mesmos antes de ir conferí-los nos cinemas), o que me impede de agir preconceituosamente em relação a um filme. Foi assim que coloquei o DVD no reprodutor da sala de estar e comecei a assistir a "Trovão Tropical". Sem preconceitos.

Logo no início vi uma cena pré-créditos (disse que falaria sobre a mesma na pré-crítica do filme): um rapper fútil, cantando uma música fútil, filmando um videoclipe fútil (a propósito, já repararam que, ao contrário do rap brasileiro, a palavra fútilidade caminha de mãos dadas com o rap estadunidense?). Odiei. Mais para frente vi um pseudo-trailer de um filme de ação onde um personagem utiliza um lança-chamas para derrotar inimigos na neve. Engraçadinho, mas só. Passei por um pseudo-trailer de uma comédia sobre uma família gorda que solta flatulos a todo o instante. Adivnhem, odiei. Assisti então a um último pseudo-trailer sobre um filme cult intelectuóide (do tipo que o leitor sabe que eu amo de paixão) que questiona a existência de Deus. Esse sim adorei. Não, não pelo fato de ser cult, mas pelo simples fato de ser hilário. Fulano de tal, vencedor de cinco Oscar, Tobey Maguire, vencedor do MTV Movie Awards de "Melhor Beijo". Um sarro, ótima "sacada".

A trama se desenrola e é aí que me dei conta de que tais vídeos pré-créditos visavam, na verdade, estudar os personagens do longa antes mesmo deste se iniciar (é, eu sei, sou lento demais, demorou para cair a ficha, mas enfim, caiu). O resultado? Fabuloso. Nos introduz à alma do filme antes mesmo que este se inicie. Uma jogada criativa e genial, bem como os seus personagens. Temos aqui todos os estereotipos que um filme de guerra pode ter, e digo isso positivamente. Oras, o longa em questão é uma sátira às obras de guerra hollywoodianas, existiria uma forma de esculhambá-las de outro modo? Não. Logo, todas as figuras que dão às caras por aqui se revelam inteligentes e, acima de tudo e mais importante, hilárias.

Temos o rapper que faz comercial publicitário de um energético para não ir à falência (Will Smith propagandeando outro tipo de produto), um popstar gordo e viciado em drogas (Amy Winehouse masculina e com dezenas de quilos a mais), um ator australiano vencedor de quatro Oscar que, acreditem, teve de fazer cirurgia para mudar a cor de pele, de branca para negra, para poder atuar em um filme (Michael Jackson às avesas) e, é claro, o fortão musculoso, astro dos filmes de ação, que agora encontra-se no anônimato em virtude de alguns projetos ridículos o qual participou, e que tenta voltar à fama a todo o custo (Silvester Stallone arriscando em "Rambo IV", que não vi e nem quero ver). Sem falar no contra-regras desastrado e no herói de guerra que se revela uma verdadeira farsa.

Todos personagens hilários. E as situações pelas quais eles passam? Mais hilárias ainda. Temos um ótimo exemplar do humor negro quando um dos personagens brinca com uma cabeça humana acreditando ser falsa. O humor despojado também marca presença, repare quando o protagonista ataca um animal para se defender do mesmo e quando percebe o que realmente acabou matando liga para o seu empresário e diz: "___ Acabei de matar a coisa que mais amo em minha vida.", este, por sua vez, sugere: "___ Você matou uma prostituta?". O filme, aliás, é carregado de diálogos inteligentes, divertidos e escatológicos. Tudo na medida errada, felizmente. Sim, digo felizmente, pois, para um filme no estilo "Trovão Tropical", quanto mais imbecil e idiota, melhor (e o "imbecil" e o "idiota" aqui não assumem a mesma função que assumem no insuportável "Simplesmente Feliz". Ambos assumem um papel verdadeiramente engraçado).

O longa vai chegando perto do final. Aí o humor descamba para algo não tão bacana: um humor mais, digamos, físico. As 'sacadas' inteligentes e divertidas do início do longa perdem o lugar para piadas um pouco aborrecedoras. O filme perde o ritmo mostrado outrora. Vale comentar também o descaso que o roteiro tem para com os personagens de Nick Nolte e Danny McBride. Ambos são hilários (é do personagem de McBride que vem uma das frases mais engraçadas do roteiro: "Perdi meu polegar trabalhando em "Conduzindo Miss Daisy!"), mas aparecem muito pouco em cena. E já que assisti ao filme em questão principalmente pelo Oscar o qual Downey Jr. está concorrendo, creio que devo fazer um breve comentário sobre a atuação deste, não? Downey Jr. se sai extraordinariamente bem na pele de Kirk Lazarus, sua atuação é bastante convincente e o mesmo tem um satisfatório "timming" cômico. Seu personagem confere um humor irrebatível à trama e a sua atuação é uma das grandes responsáveis por isso. Merecidíssima indicação ao Oscar, apesar de que a vitória seria extremamente injusta.

Em suma, Da próxima vez que você ver o nome de Ben Stiller em uma produção, não faça cara feia, apenas esqueça-se de seus trabalhos anteriores e lembre-se do ótimo trabalho (tanto como ator, como roteirista, e como diretor, onde é responsável por uma dinâmica direção) que ele realizou neste "Trovão Tropical".

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.

2 comentários:

João Flores disse...

cena pré-créditos, meu amigo... e não pré-filme...
a cena faz parte do filme ;)

Daniel Esteves de Barros disse...

Ok, eu não sabia ao certo se ela realmente fazia parte do filme, ou fora inserida na edição do DVD.

Já está corrigido, muito obrigado!