quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Crítica - O Caçador de Pipas

Sempre comentei que o pior defeito que um filme pode conter é a presença de clichês e/ou estereótipos em seu contexto. Porém, nestes últimos dias tenho reparado que algo me incomoda muito mais do que a simples inserção de chavões no roteiro do filme: se trata dos insultos a inteligência do espectador (perdoem-me, mas não encontrei expressão mais conveniente para a ocasião). Do mesmo modo que os dois filmes da série “A Lenda do Tesouro Perdido” insulta a inteligência de seu público afirmando que os Estados Unidos são um país honrado e que sempre visou proteger os valores históricos de toda a humanidade (que em um ato de hipocrisia exacerbado, são representados por tesouros pertencentes exclusivamente aos Estados Unidos), esta bomba, baseada no best-seller de Khaled Hosseini, insulta o público ao tentar fazê-lo acreditar que a terra do Tio Sam é um grande mantedor da ordem e da justiça social em países subdesenvolvidos. Confirma mais detalhes de tamanha alienação abaixo.





Ficha Técnica Em Andamento


Sinopse: Em um país dividido e à beira da guerra, dois amigos de infância, Amir e Hassan, estão prestes a se separarem para sempre. É uma gloriosa tarde em Kabul e os céus explodem com a alegria contagiante de um torneio de pipas. Mas, depois da vitória daquele dia, um terrível ato de traição de um menino irá marcar suas vidas para sempre e dar início a uma busca épica pela redenção. Agora, depois de viver nos Estados Unidos durante 20 anos, Amir volta para um perigoso Afeganistão, sob o governo mão-de-ferro do Talibã, para enfrentar os segredos que ainda o assombram e aproveitar a única e última ousada chance que tem para consertar as coisas.



The Kite Runner - Trailer



Crítica:



O Caçador de Pipas” me remeteu, da maneira mais estranha o possível, à lembrança de “...E o Vento Levou”. Acalmem-se, não perdi a razão e já irei explicar o porquê desta bizarra analogia que realizei entre ambos os filmes. Comparar a obra de Forster com a de Flemming não é necessariamente um elogio, mas sim uma crítica negativa. Enquanto assistia a este “O Caçador de Pipas” tive a ligeira impressão de que diretor e roteirista decidiram transportar um dos maiores defeitos do vencedor do Oscar® de 1940, a alienação daquele. O longa em questão bem que poderia começar com uma narrativa ridícula como a obra-prima de Victor Flemming afirmando que, antes da invasão que os Ianques realizaram à parte sul dos Estados Unidos, latifundiários e escravos viviam em plena harmonia. O problema é que aqui os Ianques seriam substituídos pelos Comunistas, o sul estadunidense pelo Afeganistão e latifundiários e escravos respectivamente pelos burgueses e proletários. Contando com uma excelente premissa em mãos, Forster transforma o que tinha tudo para ser um grande filme em algo absurdamente conservador. Segundo o longa, antes da invasão comunista ao Afeganistão, os habitantes daquele país eram pessoas felizes e satisfeitas com o seu estilo de vida regado pelas “maravilhas” consumistas oferecidas pela Globalização (que sim, já existia, ao menos teoricamente, naquela época). Contudo, o longa afirma que tal invasão viria a ser o divisor de águas entre uma era gloriosa que viveu o Afeganistão pré-Guerra Fria e o inferno que o país se tornou após o ocorrido. Além de politicamente hipócrita, o longa em questão conta com o maior número de estereótipos que tive a infelicidade de testemunhar nos últimos dois anos, variando entre pessoas bondosas ao extremo, a ponto de serem estoicistas e indivíduos que se mostram extremamente cruéis apenas por prazer (não preciso dizer que muitos destes indivíduos são soldados comunistas, não é?). O longa ganha muita força graças à direção de Forster e seus minutos finais, mas o desfecho extremamente previsível é algo imperdoável.



Avaliação Final: 3,0 na escala de 10,0.




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4 comentários:

Fábio Coelho disse...

Daniel,

Desculpe-me, mas achei sua crítica ao filme Caçador de Pipas, esquizofrênica e lastreada em uma mania de perseguição pelos Estados Unidos.
Vi a película, e posso afirmar que em nenhum momento senti alguma espécie de embate ideológico entre comunismo e capitalismo, vi somente a história de dois amigos inseridos em determinado contexto histórico e uma crítica ao extremismo, isto é, à exacerbação de teorias, teses, em suma, ao fundamentalismo, seja político, ideológico ou religioso.
Uma amostra do disparate foi a seguinte afirmação: “Segundo o longa, antes da invasão comunista ao Afeganistão, os habitantes daquele país eram pessoas felizes e satisfeitas com o seu estilo de vida regado pelas “maravilhas” consumistas oferecidas pela Globalização (que sim, já existia, ao menos teoricamente, naquela época)”.
Ora, não sei se percebeu, mas afora o pai de Amir, a população da Cabul do final dos anos 70, carecia de mordomias, vivendo, por assim dizer, de forma paupérrima, sendo que, qualquer sorriso ou “estado de alegria”, por mais breve que fosse, era contagiante a todos.
A invasão soviética e a tomada do país pelo Talibã, são, como já disse, uma espécie de crítica a qualquer fundamentalismo, o pai de Amir, em conversa com outra personagem do filme, expressa seu desconforto com qualquer tipo exacerbação de idéias ou comportamentos, criticando a fé cega aos Mulás.
Que os Estados Unidos e os sistemas de organização dos meios de produção e de troca que defendem não sejam muito bem quistos,mas isto não é o pano de fundo da estória.
Daniel, tu és um cara inteligente, critique de forma incisiva, pois criticar de forma abstrata os EUA ficou muito fácil, aliás, a mera (a)crítica à eles virou fetichismo de revolucionário

Daniel Esteves de Barros disse...

Fábio,

não me lembro de ter perseguido os Estados Unidos da América em momento algum. Se bem me lembro, critiquei a maneira como o filme mostra que o período pré-invasão Soviética e pré-instalação Taliban fôra extremamente glorioso àquele país.
"Não sei se percebeu, mas afora o pai de Amir, a população da Cabul do final dos anos 70, carecia de mordomias, vivendo, por assim dizer, de forma paupérrima, sendo que, qualquer sorriso ou “estado de alegria”, por mais breve que fosse, era contagiante a todos."
Não sei se você também não percebeu, mas durante todo o momento, o filme se dedica a mostrar a felicidade do povo (não que a intensão do roteiro seja realmente essa, admito que ele pode ter feito involuntariamente), principalmente quando tal felicidade estava ligada aos bens de consumo fornecidos pela Globalização (vide o diálogo entre os dois garotos sobre o filme "Sete Homens e um Destino"). Claro que o torneio de pipas também era uma manifestação de felicidade por parte dos garotos e não era um fruto da Globalização, mas esta é a única exceção.
Entretanto, tudo era maravilhoso, eis que os comunistas invadem, soldados exibem sua crueldade ao tentar estuprar mulheres indefesas e tudo o mais. Quando chega nos EUA, porém, o tratamento é outro. Se por um lado os russos estupram, por outro lado os estadunidenses recebem os imigrantes de braços abertos (e você que já morou lá durante algum tempo sabe que não é bem assim que funciona a coisa).
Não estou criticando de forma abstrata os EUA, até mesmo porque não sou revolucionário, muito menos ainda a favor do comunismo, só estou comentando que o filme exibe uma falsa realidade, e sinceramente, não sou o único que pensa assim. Críticos de fontes conceituadas como o jornal Folha de São Paulo e o site Omelete partilham da mesma opinião.

Fábio Coelho disse...

Daniel,

1º:

O senhor denota uma aversão de calibre realmente esquizofrênico, pois ao falar que “...tal felicidade estava ligada aos bens de consumo fornecidos pela Globalização (vide o diálogo entre os dois garotos sobre o filme "Sete Homens e um Destino")” parece esquecer que são garotos, e, nesta condição sonham e buscam heróis, parece-me que o senhor quer cultivar idéias de teóricos da conspiração à la Arquivo X. Acho contra producente esse tipo retórica, e um bocado infantil. Por mais que a cultura de massa, como o próprio nome diz, tente nivelar e uniformizar os gostos e culturas, eu acredito que tal feito é impossível, ainda mais em uma região do mundo onde a identidade e a cultura são defendidas sob pena de se perder da própria vida.



“Vivia de forma paupérrima, mas tudo é mostrado da maneira mais gloriosa o possível. Em momento algum me revelei um crítico abstrato dos EUA, apenas disse que em momento algum o país viveu gloriosamente pré-invasão comunista. Se antes o país já era um lixo, pós-invasão virou um lixo e meio”.

Não acredito que TUDO é mostrado de forma gloriosa, o conflito étnico, que, acredito eu, é o mote do filme, foi desenhado de forma triste e violenta, haja vista o atentado violento ao pudor por que passa o menino Hassan. Além disso, a pobreza é notória, você está julgando toda película tendo por basea “opulência” do modus vivendi do pai de Amir,chegando, até mesmo, a prescindir do estado de semi-vassalagem que o pai de Hassan vivia.

3º:

Às favas com as críticas da Folha...hahaha.

Daniel Esteves de Barros disse...

Fábio,

1°:

Não estou cultivando idéias de teóricos da conspiração à la Arquivo X, só falei o que é óbvio, o filme é conservador e o roteiro fôra escrito por mãos conservadoras, no caso, David Benioff. O livro escrito por Khaled Hosseini não assume nenhuma visão política e se foca justamente na estória dos dois garotos, sem pender para esquerda ou direita (o que eu acho certo, diga-se).
É óbvio que o filme em questão critíca, e muito, os russos, mas em momento algum tece críticas aos estadunidenses. Os segundos são vistos como um povo acolhedor, os primeiros, como um povo bandido, que toma o que não lhe pertence.
Quanto aos garotos serem contagiados pela cultura em massa, o filme mostra isto de maneira gloriosa, sim! Ao retratar isso, o roteiro mostra crianças felizes ao consumirem um produto capitalista. Sim, eu sei, também consumo produtos capitalistas e me sinto satisfeito com isso, mas vemos claramente a intensão do longa ilustrar tal felicidade pré-invasão, como se o país pós-invasão fosse perder toda essa magia que a Globalização fôra capaz de fornecer ao povo outrora.

2°:

Conflito étnico? Se a primeira metade do filme tiver 60 minutos de duração, 40 minutos foram destinados a mostrar o quão felizes Amir e Hassan eram no país em que viviam e 20 minutos destinados a mostrar tais conflitos étnicos. O pai de Hassan vivia em um estado de semi-vassalagem? Pois este é outro grave defeito do filme, falando do ponto de vista moral. Já assistiu a "...E o Vento Levou"? Pois bem, cheguei a comparar este filme com o clássico de 1939 e a comparação não foi a toa. No filme de Flemming, a relação entre latifundiários e escravos era mostrada como excelente para ambas as partes (veja só o quão isto é hipócrita), aqui não é mostrado de maneira muito diferente, não. Principalmente se notarmos o quão calorosa era a relação entre o pai de Amin e o pai de Hassan.

3°:

Ah é, pois às favas com os seus comentários, rapaz hahahahahahaha.

4°:

O senhor não tinha que estudar processo civil não? Hahahahahahahaha