quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Feliz 2009

Diferentemente do ano passado onde tive tempo de sobra para consultar a minha mente e buscar alguns questionamentos demasiadamente pseudo-intelectuais a fim de criticar as comemorações realizadas durante a passagem de ano, desta vez não, em virtude da correria em que me encontro neste último dia de 2.008, terei de ser breve e sucinto, mas juro que o que for dito de agora em diante será de coração (apesar de que o coração é apenas um órgão que bombeia o nosso sangue, mas enfim, isto não vem ao caso agora e trata-se somente de uma tentativa de piada extremamente mal sucedida), logo, desejo a todos um sincero Feliz Dia Novo (conforme havia feito no ano passado, leia aqui), Feliz Mês Novo e, finalmente, Feliz Ano Novo, e que 2.009 seja um ano bem melhor para todos nós e, é claro, para o Cinema também.

Abraços a todos e até a próxima

Daniel Esteves de Barros – Editor do blog Cine-Phylum

Vicky Cristina Barcelona (prévia) - **** de *****

Acabei de assistir à “Vicky Cristina Barcelona” de Woody Allen (já disse que ele é um de meus roteiristas e diretores prediletos? Já, não é? Mais de mil vezes creio eu) e... uau. Honestamente não sei dizer se essa onomatopéia monossilábica (refiro-me ao “uau”, certamente) representa um elogio ou uma decepção... ops, pode parar por aí. Decepção com certeza não foi o que eu senti ao término desta mais nova obra do judeu mais neurótico da história do Cinema. Talvez seja um alívio pelo mesmo ter chegado ao fim, e quando digo alívio, refiro-me ao fato de poder colocar os meus neurônios para descansar. Francamente, nunca havia tido a oportunidade de conferir uma estória de amor tão confusa quanto esta. Meu Deus (e olhe que sou ateu) quantos personagens, quantas tramas, quantos vai-e-vens, quanta confusão! Mas enfim, não seria o amor o mais confuso dentre todos os sentimentos? Sim, quantas vezes amamos, esquecemos, e voltamos a amar novamente a mesmíssima pessoa? Enfim, “Vicky Cristina Barcelona” se revela uma experiência deliciosamente confusa e confesso humildemente (pela primeira vez no Cine-Phylum demonstrando um ou outro resquício de humildade) que preciso assisti-lo a mais uma vez (o que farei com imenso prazer) para poder escrever uma análise mais complexa.
Nunca pensei que fosse dizer isso, uma vez que considero os filmes de Woody Allen extremamente simples, embora reflexivos e subjetivos, mas pela primeira vez em minha vida saí completa e deliciosamente desnorteado de uma sessão Alleniana.

Avaliação Final: 8,5 (será?) na escala de 10,0.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Gomorra - **** de *****

Creio que seja melhor fazer desta pré-crítica uma espécie de mea culpa, afinal de contas, faz cerca de duas semanas que estou prometendo ao leitor uma analise de “Gomorra” e não venho conseguindo cumprir isto. Se tem algo que detesto é prometer algo e não cumprir o combinado, mas gostaria que o caro leitor se pusesse em meu lugar. Trabalho oito horas por dia na Prefeitura Municipal de minha cidade e, ao contrário do que muitos pensam, nem todo funcionário público leva a vida na maciota, sendo assim, estava tendo dificuldades em manter o Cine-Phylum atualizado. Mas e o período noturno? Bem, este tem me proporcionado muito mais preocupações do que eu realmente imaginei que fosse proporcionar. Sem contar, é claro, as festas de fim de ano, onde bati recorde de participações em amigos secretos (sendo oito no total, incluindo um virtual com o pessoal da comunidade no Orkut “Cinema em Cena”, ocasião na qual fui brindado com o excelente “Cassino”) e não parei de correr atrás dos presentes que tinha que dar a todos e a todas. Aproveitei também para colaborar com dois amigos meus, sendo que um estava escrevendo uma monografia sobre Webjornalismo Esportivo e o outro crônicas de alto teor surreal com pitadas de vaudeville e várias críticas sociais. Também estive envolvido com um projeto particular, que trata-se do roteiro de um western com que aborda questões filosóficas sobre o que viria a ser o bem e o mal, o correto e o errado, o moral e o imoral. Tudo isso (e muito mais, acreditem) vem me impossibilitando de atualizar o Cine-Phylum da forma ágil e dinâmica que gostaria, mas enfim, chega de conversa mole e vamos à crítica de “Gomorra” que é o que interessa (ou não).

Ficha Técnica:
Titulo Original: Gomorra.
Gênero: Drama.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.mymovies.it/gomorra/
País de Origem: Itália.
Tempo de Duração: 137 minutos.
Diretor: Matteo Garrone.
Roteiristas: Maurizio Braucci, Ugo Chiti, Gianni di Gregório, Matteo Garrone, Massimo Gaudioso e Roberto Saviano.
Elenco: Marco Macor (Marco), Ciro Petrone (Ciro), Salvatore Abruzzese (Totó), Simone Sacchettino (Simone), Salvatore Ruocco (Boxer), Vincenzo Fabricino (Pitbull), Vincenzo Altamura (Gaetano), Italo Renda (Italo), Gianfelice Imparato (Don Ciro), Maria Nazionale (Maria), Carlo Del Sorbo (Don Carlo), Carmine Paternoster (Roberto), Toni Servillo (Franco) e outros.

Sinopse: Contando com cinco estórias de indivíduos ligados, direta ou indiretamente, à Camorra (máfia que atua na cidade de Nápoles), “Gomorra” retrata de uma forma nua, crua e quase que documental o modo como a organização criminosa influi negativamente na evolução, não apenas da cidade de Nápoles, como também de toda a Itália.

Gomorra – Trailer:


Crítica:

Estive refletindo, pouco antes do início da sessão de “Gomorra”, sobre o real motivo pelo qual me interesso tanto por filmes do gênero “Drama de Máfia”. Concluí que é pelo modo como os mesmos abordam a ambição humana fazendo um complexo panorama sobre o apogeu e a queda de seus protagonistas envolvidos com o submundo do crime. Foi o que ocorreu em “O Poderoso Chefão”, “Os Bons Companheiros”, “Cassino”, “Era Uma Vez na América”, “Scarface” e muitas outras produções do gênero que teve seu início em 1.912 com o ótimo curta-metragem “Os Mosqueteiros de Pig Alley (The Musketeers of Pig Alley)” de D. W. Griffith. “___ E em “Gomorra” acontece o mesmo que nos demais filmes citados?” ___ Me pergunta o leitor. Não, “Gomorra”, felizmente, optou por inovar e mudar o foco, trazendo, quem sabe, uma nova era de filmes do gênero que decidem se centrar mais na organização criminosa em si do que em seus protagonistas.

É claro que era bastante interessante acompanharmos a trajetória de Michael Corleone, ou Tony Montana (muito citado aqui neste filme), Henry Hill, David “Noodles” Aaronson, Sam “Ace” Rothstein (e o Cinema ainda nos deve uma abordagem mais detalhada sobre Al Capone, uma vez que o interessantíssimo “Os Intocáveis” se foca mais no grupo policial que desmantelou a quadrilha do gangster mais famoso de todos os tempos do que nele mesmo), dentre muitos outros, mas não resta dúvidas de que a sétima arte precisava realizar um retrato mais nu e cru de tais organizações criminosas. Mostrar bandidos que trocam bebês em maternidades, cortam cabeças de cavalo e as depositam debaixo dos lençóis de seus proprietários, e se revelam os pioneiros na introdução de quantias imensas de cocaína, dentre outros tipos de droga, em uma determinada região do globo terrestre se revelam, indubitavelmente, perfeitas alternativas de analisar o modo ilícito como agem estas cruéis organizações criminosas, mas a realização de uma abordagem mais documental e, digamos, menos dramática das mesmas, era algo imprescindível à história do Cinema e é justamente isso que “Gomorra” tem a nos oferecer.

Adotando ao filme uma estrutura narrativa extremamente parecida com a do também ótimo “Traffic” (uma característica típica do neo-realismo cinematográfico), Matteo Garrone capta todo o tom realista contido no livro de Roberto Saviano e utiliza aqui uma direção que adota movimentos com a câmera tremidos e balançados, possibilitando ao espectador a sensação de estar, de fato, fazendo parte da estória. Todos os aspectos do longa parecem ter sido minuciosamente trabalhados a fim de nos introduzir à atual situação em que vive, não apenas a cidade de Nápoles, mas também toda a Itália e, até mesmo o resto do mundo, em virtude a uma infinidade de problemas gerados pela Camorra, variando desde a extorsão de comerciantes locais, até o monopólio na coleta de lixo industrial (responsável pelo surgimento de câncer em muitos habitantes locais), passando pela (acreditem!) reconstrução do suntuoso edifício World Trade Center e pelo narcotráfico, sendo que este último, inclusive, recruta muitos jovens que se iludem com a possibilidade de ficarem poderosos dentro da organização, conforme será abordado mais adiante.

Outro aspecto que confere um tom extremamente realista ao longa é a caracterização de seus personagens. É claro que não temos aqui figuras tão bem construídas quanto Vitto Corleone ou o seu filho, Michael Corleone, até mesmo porque o protagonista de “Gomorra” é a própria máfia em si e não as pessoas que a compõem, mas em compensação os típicos galãs e seus respectivos ternos Giorgio Armani, exibidos nos mais variados filmes do gênero, são deixados de lado, junto de todo o glamour pertencente à Cosa Nostra. Na obra em questão entram em cena mafiosos de verdade, pessoas sujas (tanto no aspecto físico quanto moral), sem um pingo de requinte, caracterizadas através de barbas por fazer, cabelos despenteados, gargantas perfuradas devido a um cancro contraído, provavelmente, pelo vício em produtos derivados do tabaco, e extremamente mal vestidas, trajando apenas bermudas e camisetas esportivas, longe de utilizarem ternos minuciosamente alinhados que fazem parte do figurino da maior parte dos filmes do gênero.

Um dos grandes trunfos do filme, conforme fora supracitado, fica por conta da maneira como o roteiro retrata os jovens que se infiltram nestas facções criminosas, nutrindo a expectativa de assumir facilmente o poder de uma determinada região. Uma cena que retrata bem isto é a seqüência inserida logo nos vinte primeiros minutos da obra, onde vemos uma dupla de rapazes imitarem Tony Montana em “Scarface”. É incrível notarmos o modo como o humor inserido em tal passagem entra em forte contraste com a consternação que a mesma nos transmite, uma vez que presenciamos pessoas tão jovens e imaturas (sendo que um deles nunca despiu uma mulher em toda a sua vida) se venderem a uma causa tão cruel de uma forma demasiadamente ingênua e inconseqüente, sem nem ao menos imaginar as chances, quase nulas, que terão de sair vivos.

O único problema com esta ótima produção italiana, no entanto, fica a cargo de seu primeiro ato completamente desconexo. Sem nem ao menos introduzir o espectador à obra de um modo mais sutil e cativante, o roteiro de Maurizio Braucci, Ugo Chiti, Gianni di Gregório, Matteo Garrone, Massimo Gaudioso e Roberto Saviano simplesmente nos arremessa em um emaranhado de estórias onde nos encontramos totalmente perdidos e fora de foco. A edição simplesmente alterna entre uma estória e outra de forma brusca, o roteiro demora para amarrar as várias pontas que vai deixando em aberto e a direção parece não entrar em nenhum acordo com os demais aspectos da obra, o que é uma pena, uma vez que “Gomorra” tinha tudo para ser um longa muito mais eficiente do que realmente é.

De todo o modo, o longa prima pela eficiência que o roteiro, a direção e a edição proporcionam à obra durante o seu segundo e terceiro atos e as atuações de todo o elenco merecem destaque especial (sobretudo Carlo Del Sorbo encarnando magistralmente Don Carlo), pois o carisma conferido pelos atores proporciona uma relação público/obra deveras cativante (algo que roteiro, direção e edição não conseguiram fazer durante o primeiro ato inteiro).

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Fim de Semana de 19 a 21/12/2008

Não cumpri a promessa que havia feito no último post, assistir a “Gomorra” e publicar uma crítica do mesmo aqui no Cine-Phylum. Infelizmente, enganei-me quanto à estréia do mesmo, imaginei que fosse passar nos cinemas aqui de minha cidade durante esta semana, mas não. Moral da estória: terei de viajar à cidade vizinha ainda hoje para conferir o mesmo. Enquanto não publico o texto de “Gomorra”, peço ao leitor que se contente com a mini-crítica de “Monty Python – O Sentido da Vida” e o curta-metragem que abre o mesmo: “Seguros Permanentes Crimson”:

Seguros Permanentes Crimson (The Crimson Permanent Assurance, 1.983, Dirigido por Terry Gilliam) - **** de *****

Antes do espectador poder se deliciar com o ótimo “O Sentido da Vida”, Terry Gilliam nos brindou com esse hilário curta que, apesar de ser muito mais longo do que deveria ser, conta com uma boa dose de humor non sense, revelando-se uma espécie de amostra do que poderíamos ver 17 minutos mais tarde no longa “O Sentido da Vida”. O curta inicia-se criticando a forma como o capitalismo explora e escraviza o proletariado, vemos logo de cara uma eficiente sátira ao excelente épico de William Wyler, “Ben-Hur”, e, posteriormente, ocorre um hilário motim. Daí para frente o curta vai se mostrando cada vez mais eficiente e o humor característico da trupe vai se tornando cada vez mais inteligente, seja demonstrando toda a sua criatividade (vide o modo como os velhinhos amotinados confeccionam suas espadas e as demais armas) ou o conhecimento de Gilliam em assuntos como economia (“___ E assim, a Crimson Permanent Assurance foi lançada ao mar das finanças internacionais.”). A Direção de Arte também é um espetáculo à parte. Note o cuidado adotado pela mesma ao montar um edifício inglês de arquitetura neoclássica ou um gigantesco prédio contemporâneo em Manhtattam. O que dizer então do cuidado que Gilliam adota ao conferir ao filme certos detalhes que o tornam cada vez mais engraçado, como é o caso das notas fiscais e rascunhos que ficam voando pelo cenário durante uma batalha? Infelizmente, o curta conta com alguns minutos a mais, tornando-se muito cansativo durante o seu desenrolar (só para se ter uma idéia, o mesmo era para ser um esquete inserido em meio ao longa “O Sentido da Vida”, mas Gilliam o considerou extenso demais para tal e resolveu fazer do mesmo um curta metragem que deveria ser inserido antes da obra principal), mas não há como não notar a eficiência deste.

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.

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Monty Python – O Sentido da Vida (Monty Python – The Meaning of Life, 1983, Dirigido por Terry Gilliam). - **** de *****

Não é a toa que “O Sentido da Vida” foi o último filme produzido pela trupe inglesa do Monty Python, afinal de contas, a decadência deste terceiro filme para “Em Busca do Cálice Sagrado” e “A Vida de Brian” é mais do que evidente. Contudo, todos os ingredientes do humor que eternizou o sexteto estão presentes neste longa sensacional: temos aqui tiradas inteligentes (vide a seqüência que satiriza o exacerbado número de filhos pertencentes a uma família residente em um subúrbio de Yorkshire), a exploração para lá de satisfatória do humor surreal e dadaísta (vide a seqüência divertidamente inconveniente que interrompe o filme para anunciar que estamos na metade do mesmo e o esquete do transplante de órgãos) e a banalização dos valores éticos, especialmente religiosos, no que diz respeito à postura conservadora adotada pela religião quanto às questões sexuais (vide a já citada cena da família domiciliada em Yorkshire).
As críticas costumeiras e imprescindíveis à confecção do humor Pythoniano também encontram-se presentes neste ótimo exemplar da comédia inglesa. Logo no início, o longa realiza um esquete satirizando à falta de atenção que o sistema de saúde inglês confere aos seus pacientes (é nesta cena que temos a famosa “máquina que faz “ping””), em seguida, temos uma condenação mais do que inteligente ao modo como a Igreja Católica centralizou o poder em suas mãos e nas mãos da classe dominante (e logo após esta cena contamos com o clipe da clássica música “Every Sperm Is Sacred”) e daí em diante o filme dá alfinetadas em tudo aquilo que julga hipócrita, como, por exemplo, a maneira que o conservadorismo religioso impede o avanço científico e tecnológico, bem como o controle da natalidade.
A inteligência que estava contida em “Em Busca do Cálice Ságrado” e “A Vida de Brian” também está distribuída de maneira extraordinariamente bem dosada neste “O Sentido da Vida”, é só observar a metáfora que a trupe faz sobre a origem da vida de acordo com a escala evolutiva de Darwins utilizando para isso efeitos especiais que transformam os seis integrantes do grupo em peixes dentro de um aquário, ou a cena onde temos uma homenagem a Ingmar Bergman e a sua obra-prima “O Sétimo Selo” quando uma pessoa é enterrada na mesma praia em que o protagonista Antonious Block joga xadrez com a morte, seria o personagem encontrando a morte (não em sua personificada como no filme sueco) no mesmíssimo local.
Mas e quanto ao título “O Sentido da Vida”, ele é realmente abordado? Bem, sim, mas muito pouco. É evidente que a principal intenção do longa é produzir um humor anárquico e fora de foco, mas há uma cena em especial onde o tema-título parece ser abordado, quando um garçom comenta: “___ Minha mãe sempre disse que o sentido da vida é levar alegria às pessoas.”. Pois, sinceramente, creio que os Python levaram isso a sério e decidiram virar comediantes justamente por este motivo: levar alegria às pessoas e preencher o vazio existencial de suas vidas. Uma pena que um filme tão primoroso conte com algumas cenas de alto teor escatológico e sem graça alguma, como a enfadonha seqüência em que um grupo militar ruma à selva para recuperar a perna de um de seus soldados e, principalmente, a asquerosa cena envolvendo o Sr. Creosote, o homem mais gordo do mundo.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Semana de 14 a 20/12/2008

Sei que durante esta semana não publiquei tantos artigos aqui no Cine-Phylum quanto gostaria, mas nem por isso mantive inerte a minha vida de aficionado pela sétima Arte, muito pelo contrário. Durante estes últimos dias fiz questão de assistir a três filmes que não havia tido a oportunidade de assistir em outras ocasiões. São eles: “Rashomon” de Akira Kurosawa, “Cassino” de Martin Scorsese e “A Regra do Jogo” de Jean Renoir. Contudo, tive uma semana corrida (uma vez que, mesmo estando livre durante a noite inteira, precisei resolver alguns singelos problemas pessoais e aproveitei este período do dia para fazê-lo) e não me vi capaz de escrever os costumeiros textos de aproximadamente mil palavras que sempre publico por aqui. Sendo assim, não me resta outra alternativa senão escrever mini-críticas sobre as respectivas obras. Comecemos então:

Rashomon (Idem, 1.950, dirigido por Akira Kurosawa) - ***** de *****

Dentre os filmes de Kurosawa que já tive a oportunidade de assistir, este “Rashomon” talvez seja o que melhor comprova a genialidade deste como diretor (o que não quer, necessariamente, dizer que seja o seu melhor filme, uma vez que considero “Os Sete Samurais” um longa ligeiramente superior a este). Logo no início da obra de 1.950 somos brindados com movimentações de câmera para lá de fantásticas. Repare na cena em que um lenhador ruma até o bosque para recolher lenha e Kurosawa o acompanha com um horizontal travelling, fazendo, logo em seguida, o rápido e conveniente uso de um vertical travelling. Posteriormente o diretor posiciona a câmera de um modo que possamos acompanhar o personagem através de um ângulo lateral de 225 graus a sudoeste e, por fim, volta a realizar novamente um horizontal travelling, só que desta vez mais ágil e ousado (pela maneira como impetra o bosque) que o anterior.
Mas o grande trunfo do filme fica por conta da filosofia pessimista adotada por este a fim de abordar a maldade e o egoísmo inerentes à raça humana. Utilizando de pano de fundo para tal o assassinato de um nobre e o atentado violento ao pudor cometido contra a sua esposa, o longa conta com uma primorosa edição que, além de alternar entre passado e presente de maneira sensacional fazendo com que o mesmo ganhe muita dinamicidade e não se revele nem um pouco cansativo, apresenta quatro historietas que narram quatro pontos de vista diferentes em relação ao crime de um modo um tanto o quanto imparcial e detalhista, unindo-os ao final da trama de uma forma simples e nada confusa. Os diálogos são magistralmente fenomenais e, juntamente com o brilhante roteiro, nos faz refletir sobre o quão cruéis e egoístas podemos ser, voluntária ou involuntariamente falando. Por outro lado, em sua cena final, o filme também nos mostra que, apesar de toda a maldade presente em nossa raça, há também gestos benevolentes capazes de tirar parcialmente a humanidade do estado de putrefação que esta sempre se encontrou.

Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.

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Cassino (Casino, 1.995, dirigido por Martin Scorsese) - ***** de *****

Ao criticar um determinado filme detesto ter que compará-lo a uma outra obra qualquer do mesmo gênero, mas no caso de “Cassino” e “Os Bons Companheiros” não há como fazê-lo de modo diferente. Por que? Porque os mesmos foram produzidos nos mesmíssimos anos 1.990, roteirizados pelos mesmíssimos roteiristas, dirigidos pelo mesmíssimo diretor, editados pela mesmíssima editora, estrelados pela mesmíssima dupla de atores (apesar de que este longa conta apenas com a dupla De Niro e Pesci. Ray Liotta, infelizmente, ficou de fora do elenco, quebrando o magnífico trio de “Os Bons Companheiros”), narrados pela mesmíssima estrutura narrativa e focados no mesmíssimo tema: a máfia. Contudo, há uma diferença básica entre este longa e o dirigido por Scorsese em 1.990: a escalada social de seus protagonistas. Se em “Os Bons Companheiros” Henry Hill se torna um hábil narcotraficante e, ainda assim, não consegue atingir os mais altos patamares da máfia (uma vez que ele não possui ascendência italiana), em “Cassino” Sam "Ace" Rothstein (apesar de judeu) se torna um poderoso diretor de uma das propriedades mais lucrativas de sua organização. O resultado da obra? Se por um lado o longa protagonizado por Robert De Niro não se revela tão eficiente, cativante e dinâmico quanto o longa protagonizado por Ray Liotta, por outro lado ele nos realiza uma abordagem mais complexa sobre o apogeu e a queda de seu protagonista (e se você acha que o personagem de Liotta era regado de vantagens, espere só até ver o personagem de De Niro).
A direção de Scorsese é, como de praxe, perfeita e repleta de ângulos e movimentações sensacionais realizados por sua câmera. Note a presteza adotada pelo diretor enquanto este filma a seqüência que ilustra o processo desenvolvido pelos funcionários do cassino dentro da sala de contagem, fazendo uso de todas as espécies de travellings existentes. E o que dizer então da breve cena onde temos a impressão de ter uma câmera dentro de um canudo utilizado para cheirar cocaína? As atuações também estão todas fantásticas e o trio de atores principais conta com uma química simplesmente fenomenal (apesar de estar longe de ser tão boa quanto a dinâmica desenvolvida pelo trio Liotta, De Niro e Pesci em “Os Bons Companheiros”). O roteiro se revela bastante competente não só ao abordar o apogeu e a queda de seu protagonista, conforme já fora previamente mencionado, como também ao retratar toda a corrupção e a imundice ética e moral presente nos cassinos de Las Vegas. Infelizmente a edição de Thelma Schoonmaker não se encontra no mesmo nível dos demais aspectos do filme. Longe de realizar um trabalho tão eficaz quanto o que fora realizado em “Os Bons Companheiros”, Schoonmaker deixa de “cortar algumas gordurinhas” que certamente confeririam ao filme um tom mais ágil e vivo, algo mister a uma obra desta espécie.

Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.

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A Regra do Jogo (La Règle du Jeu, 1.939, dirigido por Jean Renoir) - ***** de *****

Jean Renoir foi, inquestionavelmente, um dos nomes que mais serviu de inspiração aos Cinemas moderno e contemporâneo. Antes mesmo de Federico Fellini estabelecer um complexo e contundente panorama sobre as nugacidades adotadas e cultivadas pela alta sociedade a fim de preencher o seu vazio existencial, Jean Renoir já havia o feito em 1.939 em “A Regra do Jogo”. Antes mesmo de Woody Allen traçar as fragilidades de relacionamentos amorosos alicerçados em um pseudo sentimento de amor, Jean Renoir já havia o feito em 1.939 em “A Regra do Jogo”. Introduzindo o espectador em sua obra-prima máxima com uma majestosa sinfonia composta por Wolfgang Amadeus Mozart, o filho de Auguste Renoir (um dos pintores impressionistas de maior renome na história da Arte) nos apresenta à filosofia adotada por ele quando o assunto em pauta é o amor: tal sentimento é rotativo e por este motivo é cada vez mais comum nos depararmos com indivíduos de todas as castas sociais que cometam adultérios.
Considerado um dos filmes cults de Arte mais importantes de todos os tempos, “A Regra do Jogo” utiliza de pano de fundo para retratar a filosofia adotada por Renoir uma suntuosa casa de campo no interior da França onde alguns aristocratas e seus respectivos empregados se unem durante um final de semana para caçar coelhos e faisões. A partir de então somos convidados a conhecer e a conviver, durante dois ou três dias, com um grupo de pessoas fúteis e materialistas. Todos os personagens do longa têm fortes desvios de caráter, porém, se vêem obrigados a maquiar isto perante à sociedade hipócrita e falsa onde vivemos. Homens traem suas esposas, mulheres traem seus maridos, todos alegam que a mentira é uma característica inerente ao ser humano, pessoas se apegam a medidas frívolas e nulas a fim de preencher o vazio existencial presente em seus insossos cotidianos e, no final... bem, no final (um dos desfechos mais imprevisíveis e surpreendentes da história do Cinema) ocorre uma tragédia, tragédia esta que nos faz lucubrar sobre até quando falsos moralismos cristãos irão imperar em nossas vidas (conforme diz um personagem do filme: “___ Corretos estão os mulçumanos que têm um harém ao seu dispor e podem dedicar o verdadeiro amor à mulher que mais ama, sem precisar desprezar as demais).

Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.

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Apenas para avisar ao leitor, esta noite (19/12/2008), possivelmente, estarei assistindo ao polêmico “Gomorra”, filme italiano de Matteo Garrone que, segundo muitos críticos, é a melhor obra cinematográfica sobre a máfia produzida desde 1.974, ano em que foi lançado nos cinemas do mundo todo um tal de “O Poderoso Chefão – Parte II”, já ouviram falar? Pois é, contudo, não confio nem um pouco em comentários do tipo: “Este é o melhor filme de um determinado gênero produzido desde tal ano”. Prefiro, como sempre, dirigir-me ao cinema mais próximo sem criar prévias expectativas positivas ou negativas antes do término da sessão. A crítica? Provavelmente saia amanhã (20/12/2008).

Até lá,

um forte abraço a todos!

Daniel Esteves de Barros – Editor do blog Cine-Phylum e co-editor do site Papo Cinema

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

[ • REC ] - **** de *****

Ao comentar sobre “Superbad – É Hoje!” lembro-me de ter citado que o gênero cinematográfico que mais considero difícil de ser analisado é a comédia, uma vez que cada pessoa possui um senso de humor diferente das demais. O gênero horror, no entanto, não fica muito atrás e julgo-o como sendo tão difícil de se comentar quanto a comédia. Os motivos? Não, não são os mesmos. Acontece que, particularmente, detesto os filmes de horror. Não sigo o perfil do cinéfilo que se satisfaz apenas em ver litros de sangue serem derramados, pessoas gritando o tempo todo, ou passar cerca de uma a duas horas dentro de uma sala de cinema tomando sustos de todas as naturezas. Desta forma, é óbvio que este “[ • REC ]”, assim como os demais filmes do gênero, não me agradou muito, mas tive que ser extremamente imparcial ao escrever sobre o mesmo. Portanto, digo que “[ • REC ]”, apesar de não ter me agradado em virtude de sua proposta principal, é um filme que consegue cumprir tal proposta de maneira magistral.

Ficha Técnica:
Título Original: [ • REC ].
Gênero: Horror.
Ano de Lançamento: 2007.
Nacionalidade: Espanha.
Tempo de Duração: 85 minutos.
Diretores: Paco Plaza e Jaume Balagueró.
Roteiristas: Luis Berdejo, Paco Plaza e Jaume Balagueró.
Elenco: Manuela Velasco (Ángela Vidal), Pablo Rosso (Pablo), Ferran Terraza (Manu), David Vert (Álex), Martha Carbonell (Sra. Izquierdo), Carlos Vicente (Guillem Marimon), Claudia Font (Jennifer), Carlos Lasarte (César), Maria Teresa Ortega (Avó), Akemi Goto (Japonesa), Chen Min Kao (Japonês), Vicente Gil (Policial) e Jorge Serrano (Policial).

Sinopse: Uma repórter decide gravar e acompanhar o cotidiano de um corpo de bombeiros. Tudo caminhava tranqüilamente bem até que os moradores de um edifício ouvem os gritos desesperados de uma mulher e ligam para os bombeiros pedindo auxílio. Ao chegarem no local, descobrem que há algo extremamente macabro por trás desse simples chamado de socorro.

[ • REC ] - Trailer:


Crítica:

A principal intenção de “[ • REC ]” está subentendida no contexto do título do filme, ou seja, transmitir uma estória terrivelmente assustadora de modo que a mesma aparente estar sendo gravada em tempo real e (por quê não dizer?) por nós mesmos. Exatamente, a primorosa direção de Paco Plaza e Jaume Balagueró cumpre magistralmente o seu principal objetivo: o de colocar o espectador cara a cara com a trama, assumindo assim, de uma maneira quase que direta, o papel do cameraman Pablo (interpretado por Pablo Rosso). Durante o filme inteiro sentimos como se estivéssemos inseridos na película, como se fossemos parte inerente da mesma, como se assumíssemos a direção desta, e é justamente esta característica amplamente interativa que se revela o maior trunfo deste “[ • REC ]” (caso queira entender melhor o que estou almejando dizer, basta lembrar-se do estilo de direção adotado por Daniel Myrick e Eduardo Sánchez ao filmar “A Bruxa de Blair”).

Realizando movimentos rápidos e desesperados, Plaza e Balagueró conseguem nos transportar ao outro lado da tela de uma maneira fantástica, fazendo com que sintamos como se estivéssemos juntos de todos os personagens, presenciando tudo o que está ocorrendo e passando pelos mesmos apuros que eles, proporcionando-nos uma tensão raramente vista na maioria dos filmes do gênero (que conforme mencionei na pré-crítica, é o meu gênero de filme mais odiado). “___ E isso faz a direção do longa ser revolucionária?”, pergunta-me o leitor. Não, não faz. Tanto a direção, quanto a estrutura narrativa de “[ • REC ]” são idênticas às de “A Bruxa de Blair”, ou seja, o filme não inovou em nada. Contudo, o “não inovar” pode ser encarado como um problema? Claro que não, quem foi que disse que um filme precisa ser original para ser bom? Para que uma obra “não inovadora” possa ser encarada como boa, basta a mesma não utilizar clichês fortemente convencionais ou saber utilizá-los de um modo que não caia na mesmice.

“___ E “[ • REC ]” consegue triunfar no que diz respeito a essa fuga de clichês fortemente convencionais?”. Infelizmente não, o filme de Plaza e Balagueró utiliza metade dos clichês do gênero “horror” (ou “terror” caso o leitor prefira). “___ Mas ao menos se mostra capaz de utilizá-los de modo que não caia na mesmice?”. Também não, tanto que, embasando-se em uma determinada atitude do cameraman Pablo, sabemos exatamente o momento em que iremos levar um susto, como é o caso da cena em que o mesmo decide se aproximar demais de uma certa personagem que fora contaminada ou na seqüência em que um alçapão se abre. “___ Então por que cargas d´água este desmiolado está defendendo tanto o filme?” ___ pergunta o leitor a si mesmo. Porque apesar dos clichês e dos tradicionalismos adotados pelo roteiro, não há como negar que o longa consegue cumprir com maestria aquilo que se compromete a fazer: assustar o espectador.

Contando com uma estória absurda (que se revela ainda mais absurda quando ficamos sabendo a origem dos fatos através de uma cena clichê que utiliza um antigo gravador (que, pasmem, devido a um imperdoável furo de roteiro, funciona até mesmo quando acaba a energia do prédio inteiro) e um mural montado com inúmeros recortes de jornal) e com um roteiro que faz uso descarado de coincidências que extrapolam os limites da artificialidade (não é muita coincidência a repórter ter decidido trabalhar ao lado dos bombeiros no exato dia em que tais fatos bizarros aconteceram?), a trama de “[ • REC ]” não se mostra capaz, em momento algum, de ser tão realista quanto a direção do mesmo, mas ao menos se revela bastante eficiente ao tentar conferir um clima fortemente tenso e urgente ao espectador. E sejamos francos, o que você, caro leitor, espera ao assistir um filme de horror assumidamente mainstream e comercial? Uma obra revolucionária? Uma estória bastante complexa? Um filme tenso e assustador? Os três? Sim, claro, normalmente esperamos as três coisas, mas você daria prioridade a qual destas características? Creio que à terceira (“um filme tenso e assustador”), não? Pois analisando por este prisma, não há como negar que “[ • REC ]” é um ótimo filme e realmente se mostra capaz de, não apenas assustar, como também deixar o espectador completamente apavorado diante da tela.

Mesmo sabendo o exato momento em que seremos assustados, não há como não ficarmos surpresos com a proeza do filme, que consegue nos deixar de cabelo em pé durante 80% de sua projeção. Conforme o longa vai se desenrolando, ele vai se tornando cada vez mais previsível e, ironicamente, cada vez mais tenso e desesperador. Parte desta tensão se deve às excelentes atuações vindas por parte do elenco inteiro. O trabalho dos atores, principalmente o de Manuela Velasco, é simplesmente fenomenal e, depois da direção desesperadamente movimentada de Plaza e Balagueró, é a característica que confere maior tensão no espectador.

A edição de David Gallart também merece ser destacada neste texto. Presenteando o espectador com um trabalho dinâmico, Gallart realiza cortes para lá de convenientes ao filme e coopera tremendamente com a ordem seqüencial deste, conferindo uma agilidade incrível à trama. Outros aspectos inerentes ao sucesso da mesma é o som e a edição de som desta. A fim de conferir um forte realismo à obra (soa até paradoxal alcunhar de realista uma obra absurda desta, mas enfim...), os responsáveis pelo som do filme posicionaram estrategicamente cada microfone no cenário, captando assim todo o ruído que os diretores julguem ser necessários para proporcionar um clima de desespero cada vez mais forte em seus espectadores. A edição de som, por sua vez, se mostra bastante completa e cuidadosa e, em associação ao trabalho de sonoplastia, consegue transmitir-nos toda a tensão embutida na trama.

“[ • REC ]” certamente não é um primor no que diz respeito à inovação e originalidade e a trama do mesmo se mostra bastante absurda, além de apelar para uma série de coincidências gritantemente artificiais, mas ainda assim o longa conta com uma direção fantástica, uma edição dinâmica, atuações sob medida, edição de som e som que acrescentam muito ao resultado final da obra e, principalmente, uma invejável capacidade de criar tensão nos espectadores a ponto de nos deixar com os olhos “grudados” na tela do intróito ao cabo.

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.

A Múmia: Tumba do Imperador Dragão - ° de *****

Novamente nos deparamos com mais um filme de seqüência e como em todo o filme de seqüência que se preze, temos abordada a clássica polêmica: estariam os roteiristas e produtores da indústria cinematográfica sofrendo um fortíssimo lapso de criatividade? Ou estariam eles aproveitando o sucesso obtido com o(s) episódio(s) anterior(es) da franquia e almejando realizar um novo blockbuster sem necessitar realizar um enorme esforço intelectual por parte dos envolvidos com a obra, já que a franquia do filme por si só já se revela forte o bastante para atrair milhares de pessoas aos cinemas? Ou seria a junção das duas hipóteses supracitadas? Pois eu aposto nesta última, dando muito mais ênfase à segunda, é claro. E é isto que esse “A Múmia – A Tumba do Imperador Dragão” se revela, uma seqüência preguiçosa, oportunista e desnecessária, cujo único propósito é arrecadar milhões de dólares com a bilheteria, sem ter de se esforçar muito para tal, uma vez que o longa todo não possui uma única ponta de originalidade, parecendo ter plagiado cada aspecto dos demais filmes do gênero.


Ficha Técnica:
Título Original: The Mummy: Tomb of the Dragon Emperor.
Gênero: Aventura.
Tempo de Duração: 112 minutos.
Ano de Lançamento (EUA / Canadá / Alemanha): 2008.
Estúdio: Universal Pictures / The Sommers Company / Nowita Pictures / Relativity Media / Alphaville Films / Giant Studios / Sean Daniel Company.
Distribuição: Universal Pictures / UIP.
Direção: Rob Cohen.
Roteiro: Alfred Gough e Miles Millar.
Produção: Sean Daniel, Bob Ducsay, James Jacks e Stephen Sommers.
Música: Randy Edelman.
Fotografia: Simon Duggan.
Desenho de Produção: Nigel Phelps.
Direção de Arte: David Gaucher, Isabelle Guay, Nicolas Lepage e Jean-Pierre Paquet.
Figurino: Sanja Milkovic Hays.
Edição: Kelly Matsumoto e Joel Negron.
Efeitos Especiais: Digital Domain / Giant Studios / Special Effects Atlantic / Gentle Giant Studios / Rainmaker / Rhythm and Hues.
Elenco: Brendan Fraser (Rick O'Connell), Maria Bello (Evelyn O'Connell), Jet Li (Imperador Dragão), John Hannah (Jonathan Carnahan), Michelle Yeoh (Zi Juan), Luke Ford (Alex O'Connell), Isabella Leong (Lin), Anthony Wong Chau-Sang (General Yang), Russell Wong (Ming Guo), Liam Cunningham (Mad Dog Maguire), David Calder (Roger Wilson), Jessey Meng (Choi) e Tian Liang (Li Zhou).

Sinopse: O impiedoso imperador dragão (Jet Li) é amaldiçoado pela feiticeira Zi Juan (Michelle Yeoh), o que faz com que ele e seu exército de 10 mil homens seja petrificado. Mais de dois milênios depois o túmulo do imperador dragão é descoberto por Alex O'Connor (Luke Ford), filho dos aventureiros Rick (Brendan Fraser) e Evelyn (Maria Bello), que deixou os estudos para se dedicar à escavação. Seus pais não sabem do trabalho de Alex, que conta com a ajuda do tio, Jonathan Carnahan (John Hannah), dono de uma boate em Xangai. Atualmente Rick e Evelyn levam uma pacata vida em Londres, mas sentem falta da aventura. Um dia eles recebem a proposta de levar um precioso artefato a Xangai e, usando a desculpa de visitar Jonathan, aceitam a missão. Só que ao chegar eles são abordados pelo general Yang (Anthony Wong Chau-Sang), que deseja trazer o imperador dragão de volta à vida.

The Mummy: Tomb of the Dragon Emperor – Trailer:

Crítica:

Procedido por dois outros filmes pipoca que já não eram lá dos melhores (apesar de serem ligeiramente divertidos), este terceiro episódio da série “A Múmia” parece ter vindo a fim de afundar a franquia de vez. Tudo aqui beira o ridículo, o supérfluo, o frívolo e à falta de originalidade. Falta de originalidade esta que já pode ser observada a partir do subtítulo desta bomba (e olhe que o fato de eu estar utilizando até mesmo o subtítulo deste verdadeiro lixo cinematográfico como artifício para avacalhá-lo é sinal de que o mesmo realmente conseguiu a façanha de me deixar ainda mais mal-humorado do que eu já acordei hoje): “A Tumba do Imperador Dragão”. Mas, afinal da contas, por que Dragão? Além de patético, nada original, marqueteiro e pedante, o subtítulo tenta conferir ao longa um tom de importância altamente desnecessário, tornando o filme ainda mais ridículo do que ele já é por si só.

Provavelmente o maior defeito deste “A Tumba do Imperador Dragão” (gargalhadas, muitas gargalhadas) ocorra justamente em cima do oportunismo financeiro visado pelos produtores do longa que almejaram arrecadar mais alguns milhões de dólares em cima da alta bilheteria já gerada pela franquia nos filmes anteriores. O problema é que os dois episódios antecessores pareciam já ter espremido o máximo que conseguiriam espremer de um roteiro que já nasceu falho (apesar de ligeiramente eficiente) e agora o que restou do mesmo foi um bagaço artístico de péssima qualidade, onde raramente algum cineasta, seja ele quem for, conseguiria a capacidade de extrair algo interessante disto.

Dando início à sua narrativa realizando uma prévia explicação histórica sobre os fatos que viriam a ser abordados mais tarde pelo roteiro (qual?), o longa já se afunda em todos os possíveis clichês do gênero, adotando uma mais que batida estória de maldição. O pior de tudo é constatarmos que a película vai se desenrolando e nenhum aspecto, seja técnico, seja artístico, acompanha o desenrolar da mesma. O roteiro, que já conta com uma trama nauseante, torna a situação ainda pior quando opta por inserir elementos completamente dispensáveis e fora de contexto à estória, obrigando o espectador a ter de tolerar baboseiras como crises familiares (abordadas da maneira mais batida o possível), a formação de um par romântico extremamente previsível e irritante e, acreditem, a inserção dos abomináveis homens das neves como colaboradores dos heróis do filme.

Sim, a falta de idéias para compor este lixo da Sétima Arte (se é que uma baboseira desta proporção pode ser alcunhada de Arte) é tão visível, que a dupla de roteiristas parvos, incompetentes, ridículos, palermas e idiotas, Alfred Gough e Miles Millar (após um trabalho asqueroso destes, creio que ambos deveriam ser exonerados da face da Terra sem o menor resquício de humanismo e/ou dignidade), se viu obrigada a apelar até mesmo a um recurso altamente artificial, tal como a inserção dos lendários Yetis (que, para piorar a situação, foram muito mal trabalhados pela equipe responsável pelos efeitos visuais do filme) na trama a fim de conferir algum chamariz a mesma (e ironicamente, acabaram tornando a mesma ainda mais patética do que ela já seria, e é, por si só).

Quanto à caracterização dos personagens então, nem se fala, esta dispensa comentários haja vista a sua mediocridade. Temos aqui um personagem mais estereotipado que o outro, em especial o tal Imperador Dragão (gargalhadas) que é abordado pelo roteiro tomando por base e alicerce todos (sim, eu disse: todos) os clichês possíveis a fim de se construir um vilão. Além de anunciar a sua maldade matando pessoas oprimidas e indefesas e fazendo as caretas mais carrancudas e artificiais o possível, o filme nos faz o “favor” de tornar a voz deste extremamente grave (chegando a lembrar até mesmo a ridícula voz de Xerxes no ótimo “300”), fato que colabora para que a experiência soe ainda mais irritante do que ela já é por si só. E não bastassem as imperdoáveis e inúmeras (ou seria melhor eu ter mencionado “infinitas” ao invés de “inúmeras”?) derrapadas que o roteiro dá na composição do vilão do longa, a atuação gritantemente inexpressiva e sem carisma do péssimo Jet Li (este que não faria falta alguma ao Cinema caso um dia levasse um tiro no meio da testa) consegue a façanha de transformar o Imperador Dragão em um dos mais ridículos vilões do Século XXI.

“___Mas e como entretenimento, o filme funciona?” ___ Pergunta-me o leitor. “___ Não!” ___ Respondo eu de maneira fria e objetiva. Para que um filme desta natureza possa obter êxito como uma mera obra de diversão, é necessário, no mínimo, que este contenha seqüências de aventura/ação satisfatórias, e isto não é o que ocorre aqui. Ou melhor, ocorrer até ocorre, mas o ridículo diretor Rob Cohen (que jamais imaginei ser capaz de dirigir algo mais pavoroso que “Velozes e Furiosos” e “Triplo X”, até assistir a esta bomba em questão) não demonstra a menor competência para conduzir tais seqüências e as estraga parcialmente (isso para não dizer: “quase inteiramente”). Sinceramente, creio que até mesmo o genial Edwin S. Potter, com toda a falta de tecnologia propícia na época (primeira década do Século XX), se mostrou capaz de realizar uma movimentação com a câmera de maneira mais satisfatória no fantástico curta “O Grande Assalto a Trem” de 1.903 (e confesso não estar mencionando isto hiperbolicamente).

Enfim, eu bem que poderia continuar a minha análise apresentando as demais falhas do filme (porque, acredite, esta bomba consegue conter ainda mais falhas do que as que já foram supracitadas), mas sinceramente não sei se vou me conter e manter a razão que procurei manter até então, sendo assim, a fim de privar-me de cometer injúrias e/ou difamações contra os envolvidos com este “projeto artístico de entretenimento” (atenção às aspas), encerro aqui este texto, redigindo algo que raramente escrevo em minhas análises (até mesmo por considerar isto uma total falta de ética), mas neste caso, não posso dar outro conselho ao leitor(a) que não seja: “evite, a todo custo, assistir a este filme”.

O quê? Ah sim, estava me esquecendo, devo manter a praxe em minhas críticas e reservar o último parágrafo para realizar um resumo da mesma. Pois vamos lá, “A Múmia – A Tumba do Imperador Dragão” se revela um filme previsivelmente (sim, pois era fácil prevermos que, pela maneira com que o segundo episódio se encerrou, as chances de extrairmos algo produtivo aqui seriam mínimas) ridículo e dispensável e, além de contar com quase todos os clichês e estereótipos do gênero, obriga o espectador a passar 92 minutos de seu precioso tempo (e digo precioso pois apesar de curto, o filme custa a passar, haja visto que a sua fraquíssima estória poderia facilmente ser desenvolvida em menos de 50 minutos) tendo que suportar uma estória nada original, carregada de alívios cômicos que não funcionam em hipótese alguma, atuações sofríveis e cenas de aventura/ação bem montadas mas terrivelmente dirigidas pelo péssimo Rob Cohen. Um dos piores filmes que tive o dúbio privilégio de assistir neste início de século.

Avaliação Final: 0,5 na escala de 10,0.

A Lista de Schindler - ***** de *****

Voltando a postar na sessão de “Filmes Clássicos”, optei por reeditar este texto de “A Lista de Schindler”, que havia publicado no site Cinema em Cena a cerca de dois ou três anos atrás e postá-lo aqui no Papo Cinema. Entretanto, minha intenção não era assistir ao longa novamente, almejava apenas dar uma analisada no texto, mudá-lo em alguns pontos, e postá-lo, mas não resisti e acabei assistindo ao filme pela terceira vez em minha vida. A sensação não pôde ser diferente, mais uma vez me derreti em lágrimas ao final da obra-prima de Steven Spielberg (oras, homens também choram, e também possuem sentimentos, não?). Logo após o término da sessão, reli o meu texto e optei por alterá-lo em algumas partes. O resultado o leitor poderá conferir logo mais abaixo, onde não poupei elogios para explanar sobre um de meus quinze filmes prediletos.


Ficha Técnica:
Título Original: The Schindler's List.
Gênero: Drama.
Ano de Lançamento: 1993.
Nacionalidade: EUA.
Tempo de Duração: 195 minutos.
Diretor: Steven Spielberg.
Roteirista: Steven Zaillian, baseado em obra-literária de Thomas Keneally.
Elenco: Liam Neeson (Oskar Schindler), Ben Kingsley (Itzhak Stern),Ralph Fiennes (Amon Goeth), Caroline Goodall (Emilie Schindler), JonathanSagall (Poldek Pfefferberg), Embeth Davidtz (Helen Hirsch), Malgoscha Gebel(Victoria Klonowska), Shmulik Levy (Wilek Chilowicz), Mark Ivanir (MarcelGoldberg), Béatrice Macola (Ingrid) e Andrzej Seweryn (Julian Scherner).

Sinopse: Oskar Schindler é um homem ganancioso, egoísta, totalitário e membro honorário do Partido Nazista. Um sujeito tão inescrupuloso que utiliza toda a sua malícia e o seu poder de persuasão para enriquecer-se cada vez mais através da guerra e do trabalho escravo judeu. No entanto, após assistir ao extermínio de um gueto judeu em uma cidade na Alemanha e se chocar completamente ao presenciar a maneira como estes eram tratados nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, Schindler muda completamente o seu modo de pensar e agir, a ponto de sensibilizar-se totalmente com a causa judia e criar uma lista gigantesca de trabalhadores judeus que viria a precisar para trabalhar em sua fábrica de armas. Com isto, Schindler gasta toda a sua fortuna a fim de comprar o maior número possível de trabalhadores judeus, fazendo assim com que os nazistas não os maltratem nos campos de concentração, providenciando com que estes tenham uma vida bem melhor e mais digna como funcionários de suas fábricas.

The Schindler’s List – Trailer:


Crítica:

“A Lista de Schindler” é o tipo de filme que Steven Spielberg (“E.T. – O Extraterrestre”), infelizmente, não está acostumado a dirigir. Não que eu tenha algo contra os demais projetos do diretor estadunidense, mas, convenhamos, nenhum deles se equipara a este longa em questão.

Inicialmente, os produtores de “A Lista...”almejavam que o diretor do longa fosse Martin Scorsese (este que considero comosendo um dos ícones máximos da história do Cinema mundial). No entanto, odiretor ítalo-americano recusou a proposta alegando que um cineasta estadunidense descendente de judeus poderia capturar muito mais a alma e a essência do filme do que ele próprio capturaria. Foi aí que Scorsese recomendou Spielberg.

O resultado, por incrível que pareça, foi altamente positivo e, quando digo:“por incrível que pareça”, é porque não sou um grande fã do trabalho de Spielberg como diretor e confesso que o julgo ligeiramente superestimado pelopúblico e pela crítica. Devo dizer também que considero a direção deste pouco ousada e que os seus filmes sempre dependem muito de efeitos visuais para funcionarem bem.

Neste longa, no entanto, a proposta de Spielberg é totalmente diferente. Desta vez o diretor descendente de judeus abandona os efeitos especiais que estão presentes em 90% de seus filmes, e nos brinda com uma estória deveras interessante que, ao invés de ser focada em alienígenas, dinossauros e outras coisas do tipo, retrata fielmente o holocausto que os nazistas exerceram sobre os judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

A propósito, umdos maiores responsáveis pela fidelidade com que o longa aborda os verdadeiros acontecimentos históricos é Steven Zaillian que nos presenteia com um roteiro adaptado com perfeição (tanto que foi eleito pelos críticos de cinema do mundotodo como sendo o 49° melhor roteiro da história do Cinema, em uma pesquisarealizada recentemente) do livro de Thomas Keneally, também intitulado de “A Lista de Schindler”. E já que mencionei o livro de Keneally, gostaria de dizer que considero o roteiro adaptado de Zaillian ainda melhor que o livro original, já que este é muito mais dinâmico do que aquele.
Mas voltando à direção de Spielberg, devo dizer que o grande destaque desta vai para a maneira descritiva com que ele retrata, por trás de sua detalhista câmera, o modo desumano como os judeus eram tratados nos campos de concentração nazistas. Outro ponto positivo, com relação à direção do filme, é que em momento algum Spielberg apela para a violência gratuita, sendo que, caso adireção do filme fosse de Scorsese provavelmente o diretor ítalo-americano iria acabar apelando um pouco mais para as cenas de violência tornando o longa ligeiramente sensacionalista, fato que não acontece com Spielberg (por mais que eu seja fã incondicional de Scorsese, reconheço que Spielberg dirigiu “A Lista de Schindler” de um modo que fez com que o longa soasse bastante realista, cruel e, ao mesmo tempo, nem um pouco apelativo, fato que não acredito que teria ocorrido caso a direção fosse do ítalo-americano responsável por “Touro Indomável”).

As atuações magníficas por parte do trio principal de atores também acrescentam muito ao longa. Ralph Fiennes (“O Morro dos Ventos Uivantes”) encarna com maestria o cruel e insano comandante Amon Goeth, um homem que odeia os judeus acima de tudo, mas que ainda assim, acaba se apaixonando pela sua própria empregada doméstica, que vem a ser uma judia. Para tentar esconder o amor que sente por esta, Goeth espanca a moça com freqüência e sofre a cada dia mais com isso. São poucos os atores que conseguiriam interpretar um personagem com uma mente tão complexa como a de Goeth de maneira tão perfeita como Fiennes o faz aqui, e é por este motivo queconsidero a sua atuação uma das 50 melhores atuações masculinas de todos ostempos.

Ben Kingsley (“Gandhi”) também não fica muito atrás eencarna com extrema competência Itzhak Stern, realizando uma atuação completamente segura e convincente, figurando também entre as 50 melhores atuações masculinas da história do cinema.

No entanto, a melhor atuação do filme é, de longe, a de Liam Neeson (“Fé Demais Não Cheira Bem”), interpretando com uma incrívelperfeição o protagonista do filme, Oskar Schindler. Neeson encarna seu papel deuma maneira tão natural, que em momento algum a mudança de personalidade de Schindler soa de maneira artificial e falsa, algo que dificilmente seria obtido com tanta perfeição por qualquer outro ator que fosse. Particularmente, creio que a atuação de Neeson neste filme figura entre as dez melhores atuações masculinas da história do Cinema, e sim, encontro-me em pleno uso da razão quando afirmo isso.

A fotografia em preto e branco de Janusz Kaminski também é outro grande acerto do filme, já que confere ao mesmo um ar de profunda melancolia, fazendo com que o espectador se sensibilize ainda mais com as barbáries cometidas contra os judeus durante este assombroso episódio da história da humanidade.

A trilha-sonora de John Williams (que também assinou por “Star Wars” e “Indiana Jones”),por sua vez, figura facilmente entre as melhores e, ao mesmo tempo, mais tristes, da história do Cinema. O grande destaque para a trilha do filme ficacom a cena final (que sem dúvida alguma é uma das mais emocionantes já produzidas pela Sétima Arte), quando a música tema é colocada de fundo aumentando ainda mais os sentimentos de melancolia e de tristeza presentes no momento, enquanto os milhares de judeus, que escaparam do holocausto graças a Oskar Schindler, colocam várias pedras no túmulo do industrial alemão como uma formade gratidão a este.

“A Lista de Schindler” conta ainda com uma infinidade de cenas inesquecíveis, tais como: o massacre do gueto judeu, o extermínio de vários judeus nos campos de concentração, o espancamentoda empregada doméstica de Amon Goeth, os prantos desesperados de Schindler quando este lamenta por não ter trocado seu broche de ouro e seu carro pelavida de outros vários judeus (esta inclusive é a cena mais marcante da carreirade Liam Neeson), o cantarolar dos judeus sobreviventes ao holocausto enquanto estes caminham para uma nova vida após o término da guerra, além é claro, da magnífica cena que encerra o filme com chave de ouro: a homenagem que os judeus, salvos por Oskar Schindler, prestam a ele, depositando várias pedras simbólicas em seu túmulo (mencionei esta cena ao final do parágrafo anterior).

Quase tão memoráveis quanto às cenas supracitadas, são duas frases ditas pelo personagem de Ben Kingsley, que marcaram, e muito, o filme: “___ Esta lista é um bem absoluto. Esta lista... é a vida. Em volta das suas margens fica o abismo, a morte.” e “___ Aquele que salva uma vida, salva o mundo inteiro.”.

Finalizando, este é o tipo de filme que aquece a alma de quem o assiste e nosleva a pensar que, por mais cruel que o mundo possa ser, sempre há uma boa pessoa disposta a arriscar tudo o que tem a fim de salvar milhares de vidas.

Em suma, “A Lista de Schindler” é um filme praticamente perfeito, onde todos os realizadores parecem ter se esforçado ao máximo a fim de obter um magnífico resultado final, que é justamente o que acaba acontecendo. A direção de Spielberg é detalhista e não contém quaisquer apelos que seja, as atuações do elenco não poderiam ser melhores, o roteiro de Zaillian foi perfeitamente bem adaptado do livro, a trilha-sonora de Williams está entre as melhores e mais tristes da história do Cinema e a fotografia em preto e branco de Kaminski realça ainda mais a melancolia que a película almeja nos passar.

Completando o parágrafo acima, “A Lista de Schindler” não só é o melhor trabalho de toda a carreira de Steven Spielberg como também se revela um dos melhores filmes já realizados até então. É uma verdadeira lástima que Spielberg não dirija mais películas deste tipo e com a mesma competência demonstrada aqui.

Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.

Hellboy II - O Exército Dourado - **** de *****

Creio que pela milionésima vez em minha vida repito que não sou, e nunca fui, muito menos pretendo ser, um grande admirador de histórias em quadrinhos. Refletindo muito ultimamente a respeito disso, cheguei à conclusão de que isto se deva, talvez, ao fato de o maior representante de tal forma de literatura ser um personagem politicamente correto demais, além de reavivar o sonho estadunidense e, é claro, utilizar uma fantasia ridícula, cuja cueca vermelha é posta sobre uma vestimenta gritantemente azul (quer algo mais americanizado que isso?). Entretanto, não há como negar que Hellboy, apesar de conter inúmeras falhas e não chegar aos pés de um Batman, se revela um super-herói muito mais interessante que o já mencionado Superman. A criatura, de autoria de Mike Mignola, além de conter uma aparência extremamente grotesca (divergindo do estereotipo do super-herói bonitão e gostosão) é politicamente incorreta e possui diversas falhas em seu caráter, fora o fato de ser odiada pelas próprias pessoas que solicitam a sua ajuda para salvá-las. Isso, é claro, sem mencionar todo mistério e mitologia que envolvem o passado, o presente, e o futuro do protagonista da série. Imagine então um material destes, que já conta com aspectos o suficiente para dar fortes asas à imaginação de seus leitores, somado à criativa mente do mexicano Guilhermo del Toro que, além de ser o responsável por obras fantásticas (em todos os sentidos da palavra) como “O Labirinto do Fauno” e “A Espinha do Diabo”, é fã incondicional de “O Senhor dos Anéis” (tanto que irá dirigir o prólogo deste: “O Hobbit”) e também de mitologia nórdica. Pois é, creio que o leitor já deva ter percebido que, com um roteirista e um diretor como este, “Hellboy II - O Exército Dourado” não poderia deixar de ser um filme menos do que interessante, correto? Correto, mas com algumas ressalvas, conforme o leitor poderá conferir logo mais, na crítica do filme.

Ficha Técnica:
Título Original: Hellboy II – The Golden Army.
Gênero: Aventura / Ação / Fantasia.
Tempo de Duração: 120 minutos.
Ano de Lançamento (EUA / Alemanha): 2008.
Site Oficial: http://www.hellboyiioexercitodourado.com.br/
Estúdio: Revolution Studios / Lawrence Gordon Productions / Dark Horse Entertainment.
Distribuição: Universal Pictures.
Direção: Guilhermo del Toro.
Roteiro: Guilhermo del Toro, baseado em estória de Mike Mignola.
Produção: Lawrence Gordon, Lloyd Levin, Mike Richardson e Joe Roth.
Música: Danny Elfman
Direção de Fotografia: Guillermo Navarro.
Desenho de Produção: Stephen Scott.
Direção de Arte: Peter Francis, Anthony Caron-Delion, John Frankish, Paul Laugier, Mark Swain e Judit Varga.
Figurino: Sammy Sheldon
Edição: Bernat Vilaplana. Efeitos Especiais: Spectral Motion Inc. / DDT SFX Crew / DDT SFX Team / Ivo Coveney.
Elenco: Ron Perlman (Hellboy), Doug Jones (Abraham Sapien / Anjo da Morte), Selma Blair (Liz Sherman), James Dodd (Johann Klauss), John Alexander (Johann Klauss), Seth MacFarlane (Johann Klauss - voz), Luke Goss (Príncipe Nuada), Anna Walton (Princesa Nuala), Jeffrey Tambor (Dr. Tom Manning), John Hurt (Prof. Bruttenholm), Brian Steele (Sr. Wink), Roy Dotrice (Rei Balor), Andrew Hefler (Agente Flint), Iván Kamarás (Agente Steel), Mike Kelly (Agente Marble) e Montse Ribé (Jovem Hellboy).

Sinopse: Houve uma época em que o Homem convivia com seres mágicos das mais diversificadas espécies. Entretanto, devido à ganância humana, tal convívio jamais poderia ser concretizado de modo harmonioso. A fim de parar os exércitos humanos, que a tudo destruíam e conquistavam em nome do poder, fortuna e conhecimento, Balor, Rei dos Elfos, a pedido de seu filho, o Príncipe Nuada, aceitou uma oferta feita pelo mestre dos Goblins Negros de construir um gigantesco e indestrutível exército mecânico dourado e derrotar, definitivamente, o exército dos homens, encerrando de uma vez por todas, a carnificina promovida por estes. Junto com o exército, foi entregue ao rei uma coroa mágica dourada que poderia controlar toda a armada. Após derrotar todas as resistências humanas, Balor se mostrou altamente assustado com o poder de destruição de tal exército e, temendo que o mesmo fugisse de seu controle, optou por travar um tratado de paz com os humanos, onde ele dividiria a coroa mágica em três partes, daria uma aos humanos e duas ficariam consigo mesmo, fazendo com que, desta forma, o poderoso exército se mantivesse adormecido ao longo dos anos. Contrariado, temendo com que os humanos jamais cumprissem tal tratado, o Príncipe Nuada abandona o seu reino, ao lado de seu pai, e se refugia nas florestas, para retornar quando o seu povo mais precisasse dele. Passa-se diversos séculos desde a trégua travada entre Homens e Criaturas Mágicas, e Nuada volta para furtar os três pedaços da coroa e uni-las, reativando dessa forma, o poderoso exército, com o intuito de exterminar a raça humana que, segundo o príncipe, descumpriu o trato e voltou a causar risco ao mundo devido à sua ganância. Para evitar que Nuada ponha em risco o seu plano, os heróis: Hellboy, Abraham Sapien, Liz Sherman, Johann Krauss e a Princesa Nuala, irmã do Príncipe Nuada, cuja ideologia é bem menos radical à do irmão, juntam as suas forças para protegerem o pedaço da coroa que ainda não está em poder do rancoroso elfo.

Hellboy II - The Golden Army - Trailer:

Crítica:

“Hellboy II - O Exército Dourado” pode, durante o seu primeiro ato inteiro, ser subdividido em dois filmes com diferentes propósitos. O primeiro visa narrar a dinâmica desenvolvida entre os heróis do longa, ao passo que o segundo, narra os eventos que se mostram imprescindíveis para o desenvolvimento da trama. Antes o filme tivesse optado por colocar o “segundo filme” em primeiro plano. Não, em momento algum insinuei que o desenvolvimento dos protagonistas do filme é dispensável, até mesmo porque, apesar destes já terem sido muito bem desenvolvidos no longa anterior, era necessário que o roteiro elaborasse, ao menos, uma dinâmica entre os personagens, e isso ele faz muito bem feito, diga-se.

Contudo, o argumento do longa é tão interessante (uma vez que este conta até mesmo com mitologia nórdica mesclada à estória principal) que o mesmo deveria ter tido um desenvolvimento infinitamente maior do que o que fora apresentado aqui. Outra característica que merecia ter sido desenvolvida de uma maneira bem mais ampla pelo roteiro é o vilão do longa, o Príncipe Nuada. Nuada é mais um destes antagonistas megalomaníacos que almeja dominar o mundo a todo o custo, mas há uma explicação extremamente plausível para tal megalomania: o vilão não ambiciona poder e/ou fortuna (assim como a grande maioria dos vilões da excelente, embora falha, franquia “007”), mas sim, salvar o planeta Terra dos seres humanos.

Sim, o vilão, encarnado por Luke Goss de maneira caricata, diga-se, tem como objetivo de vida dominar o mundo para exterminar a raça humana, impedindo, dessa forma, que a mesma destrua o planeta em que vive, conforme tem feito nos últimos séculos. Se “Hellboy II” tem uma qualidade que o difere das demais obras do gênero, tal qualidade reside justamente nos motivos que impulsionam o seu antagonista a agir de tal forma. Francamente, creio que seja extremamente difícil não nos cativarmos e, ouso até mesmo dizer, não torcermos para que um opositor destes não derrote os mocinhos da estória, afinal de contas, seus propósitos são, de certa forma, heróicos e autruístas. Contudo, conforme já fora previamente mencionado, é lastimável que o roteiro não aborde Nuada de um modo mais amplo e dramático, fazendo com que o espectador possa se relacionar de um modo ainda mais profundo do que já se relaciona com o mesmo.

Os demais personagens também são extremamente interessantes. Hellboy, a princípio, se mostra um sujeito capaz de causar repulsas ao espectador devido ao fato de ser um brutamontes completamente idiota e adepto ao emprego de violência na obtenção de informações. Contudo, durante o desenrolar da trama, tomamos ciência do destino o qual a criatura está fadada e isto, de uma maneira ou de outra, faz com que perdoemos as características reacionárias do “herói”, já que estas irão ter uma participação direta no fado da criatura.

Liz Sherman é outra personagem cujo desenvolvimento também é extremamente bem realizado embasando-se na dinâmica desenvolvida entre esta e um outro personagem, no caso, o próprio Hellboy, parceiro romântico da mesma no filme. O romance entre ambos é abordado de maneira deveras satisfatória, os alívios cômicos provenientes deste também são bem convincentes (“___Eu daria a vida por ela, mas ela ainda quer que eu lave os pratos!”, só para citar um exemplo) e a forte e, ao mesmo tempo, frágil personalidade (assim como em todas as mulheres) de Sherman é desenvolvida maravilhosamente bem quando esta se encontra ao lado de seu par romântico, além, é claro, da química entre ambos torná-la uma personagem mais humana (e a ele também).

No entanto, é o extremamente racional Abe Sapien quem acaba sendo desenvolvido de um modo mais interessante pelo roteiro do filme. Além de ser responsável pela maior parte das gags que realmente funcionam no longa, o roteiro sempre cria situações que testam a personalidade do alienígena. Vide as cenas onde este se vê obrigado a utilizar a força bruta, por exemplo. Acostumado sempre a utilizar a inteligência como auto-defesa (e neste quesito ele funciona como amálgama a Hellboy, uma vez que a bizarra criatura vermelha não é das mais inteligentes e necessita de alguém que o complete neste quesito), Abraham se sente como uma criança indefesa quando não se vê capaz de utilizá-la em situações que exigem pura força bruta.

Entretanto, o mesmo roteiro que acerta no desenvolvimento de Sapien, falha gravemente ao tentar criar um par romântico ao mesmo. Além de ser piegas, seu romance consome alguns longos minutos do filme e é irritante e dispensável. Ao menos o ser pelo qual Abraham passa a nutrir um forte afeto tem uma saída bastante inesperada no desfecho da trama e isso faz com que a carga dramática inserida no final do filme aumente bastante.

Não menos racional que Sapien é o novato Johann Krauss que, logo de cara, assume a liderança da equipe. A composição de Krauss é fantástica e suas vestimentas nos remetem à lembrança dos trajes utilizados pelos alienígenas que compunham as antigas séries japonesas produzidas para televisão (e quem jamais pôde acompanhar tais séries, para que se tenha uma noção do que estou mencionando, pode muito bem observar um exemplar destes alienígenas inserido no clipe “Testify” da ótima banda californiana Rage Against the Machine, facilmente encontrado no Youtube).

O tom de voz que o ator Seth Macfarlane empresta ao personagem é muito conveniente e confere ao mesmo o sotaque alemão necessário para a constituição deste. Os trejeitos desajeitados de Krauss também são bastante engraçados e contam muitos pontos a favor da caracterização do indivíduo. A única ressalva que faço ao personagem é justamente à composição física (e desta vez me refiro à composição física, e não artística e/ou dramática conforme havia mencionado a pouco) deste. Krauss é, na realidade, um espírito que utiliza uma roupa confeccionada pelo Prof. Bruttenholm, cujo interior ajuda a manter todo o seu ectoplasma concentrado. Pois é, mais absurdo que isso, impossível.

A direção de del Toro, por sua vez, parece alternar entre altos e baixos. Ao mesmo tempo em que o diretor se vê capaz de utilizar a excelente direção de arte de Peter Francis, a fim de dar vida a seres para lá de interessantes (como é o caso do monstro gigantesco que, sempre que ferido, deixa um curioso rastro verde no chão que logo se converte em um majestoso limbo) e a lugares extremamente criativos (como é o caso do Mercado Negro dos Trolls), o mesmo não se vê capaz de criar ângulos realmente interessantes enquanto conduz as seqüências de ação, fato que, certamente, dramatizaria muito mais as mesmas.

E já que as tais seqüências de ação foram levemente arranhadas no parágrafo acima, nada mais correto e conveniente do que destrinçá-las aqui, uma vez que, sejamos francos, as pessoas que vão aos cinemas assistir a este “Hellboy II - O Exército Dourado” almejam, acima de tudo, serem consumidos por uma ação realmente cativante. Se há um ponto forte nas seqüências de ação do filme em questão, este reside na distribuição destas ao longo da obra, fato que faz com que o mesmo jamais se torne cansativo.

Entretanto, se há um ponto fraco inserido no contexto destas, este diz respeito à composição quase invulnerável do protagonista do filme. São raras as cenas onde presenciamos Hellboy correndo sério risco de vida. Até mesmo quando o protagonista do longa enfrenta criaturas maiores e, aparentemente, mais fortes do que ele, tais embates acabam revelando-se curtos demais e carentes de forte emoção, como é o caso das cenas onde o super-herói enfrenta a gigantesca criatura verde (que já fora citada) e o monstruoso Sr. Wink (que acaba saindo de cena bem mais cedo do que realmente deveria).

Contudo, a ausência de real periculosidade que Hellboy enfrenta nas seqüências de ação contidas nos primeiro e segundo atos, é parcialmente compensada durante o seu terceiro ato, quando o personagem passa a correr total e real risco de vida (em uma cena, em particular, este quase vem ao óbito), fato que acaba cativando o espectador.

Tendo como maior argumento a seu favor os motivos pelos quais o seu principal antagonista é impulsionado, “Hellboy II - O Exército Dourado” acaba falhando ao não desenvolver de uma forma mais ampla e complexa o vilão da estória, extraindo assim uma atuação involuntariamente caricata por parte de Luke Goss. Em contrapartida, os demais personagens do filme são explorados de um modo deveras satisfatório, em especial no que diz respeito à dinâmica efervescida entre eles, e todos os demais atores rendem atuações convincentes. A direção de Guilhermo del Toro é satisfatória, principalmente quando utiliza a soberba direção de arte de Peter Francis a fim de dar vida a criaturas e locais verdadeiramente fantásticos (e neste caso, a palavra “fantásticos” assume caráter ambíguo), mas o diretor falha ao não conseguir criar ângulos realmente cativantes com a sua câmera, algo que poderia dar mais vivacidade às cenas de ação inseridas no longa. E falando em tais seqüências de ação, é uma pena que as mesmas, apesar de serem muitíssimo bem distribuídas ao longo da projeção, não consigam cativar tanto durante os dois primeiros atos, uma vez que raramente põem em risco à vida do protagonista. Os alívios cômicos inseridos no longa são outros aspectos que alternam entre altos e baixos, mas funcionam muito bem em sua grande maioria (como maior exemplo disto cito um diálogo carregado com um excelente humor negro inserido no roteiro: “___ Eu não sou um bebê, eu sou um tumor!”). Mesmo com muitas falhas, “Hellboy II – O Exército Dourado” se revela uma ótima opção para o fim de semana.

Avaliação Final: 7,5 na escala de 10,0.

De Volta à Ativa

Enfim, férias. Ainda que sejam meramente férias acadêmicas, são férias, e tal recesso, felizmente, me proporcionará a possibilidade de disponibilizar um terço de meu dia a fim de dedicar-me inteiramente a este blog e à minha vida cinéfila.
O ano foi bastante difícil para mim, não resta dúvidas quanto a isso, mas, finalmente, chegou a oportunidade que eu estava esperando a meses, encerrar meu ano letivo e dedicar-me parcialmente à Sétima Arte.
Pretendo seguir esta rotina o ano que vem inteiro, sendo que, provavelmente, trancarei o curso de Direito e manterei o meu emprego na Prefeitura Municipal de Jaú. Desta forma, terei a possibilidade de exercer duas profissões simultaneamente, uma que me traz subsistência e outra que me traz preenchimento existencial (é claro que agora estou me referindo à carreira de crítico de Cinema).
Gostaria de agradecer principalmente ao leitor que teve paciência durante estes últimos dias que encontrei-me impossibilitado de atualizar o Cine-Phylum com críticas redigidas recentemente, mas agora digo que tal paciência será recompensada. Pretendo escrever, a partir de então, textos sobre todos os principais filmes que atualmente encontram-se em cartaz nos cinemas do país inteiro até o dia 31 de dezembro.
Em janeiro, muito provavelmente, estarei fazendo um curso intensivo de inglês, o que me impossibilitará de atualizar este blog com a freqüência que pretendia fazê-lo e, mais uma vez, peço que o leitor tenha a mesma paciência que teve estes dias, tendo a certeza de que em fevereiro poderão contar com um Cine-Phylum muito mais atualizado e dinâmico.
Até lá, peço para que continue colaborando conosco com a audiência costumeira e que tenha certeza de que, em breve, retornaremos a todo vapor.

P.S.: Em breve estarei postando as críticas de “A Lista de Schindler” e “A Múmia: A Tumba do Imperador Dragão”. Prometo que me esforçarei para postar os textos de “Rec” e “Rashomon” (filme de Kurosawa que tive o prazer de assistir agora a pouco) ainda esta semana, mas não posso garantir nada a respeito, principalmente quanto à crítica do filme japonês.

Muito Obrigado a todos
Daniel Esteves de Barros – Editor do Cine-Phylum

domingo, 14 de dezembro de 2008

As Duas Faces da Lei - ** de *****

Para todos aqueles que se dizem fãs de Robert De Niro e Al Pacino, não há nada mais compensador do que vê-los atuando juntamente, dividindo a mesmíssima cena. Destarte, todo filme que traga as duas maiores lendas vivas de Hollywood (no que diz respeito à profissão de ator, é claro) reunidas merece ser conferido, nem que as únicas qualidades deste residam na atuação de ambos. Se ainda levarmos em conta que é cada vez mais raro este tipo de reunião ocorrer (uma vez que, segundo alguns tablóides, De Niro e Pacino não se simpatizam muito), uma obra que traga como principal ingrediente esta magistral dupla de atores ganha muitíssimo crédito e torna-se obrigatória a qualquer um que se diga amante das Artes Cênicas. Em 1.995 os fãs do (bom) Cinema puderam conferir o desempenho de ambos os atores no ótimo “Fogo Contra Fogo” que, além de nos brindar com uma magnífica dinâmica desenvolvida pela dupla, possuía um roteiro muito bom e uma interessante direção de Michael Mann. Infelizmente este “As Duas Faces da Lei” não obteve o mesmo êxito que o longa da década passada e ficou bem aquém do que podia se esperar de uma obra protagonizada pela dupla de atores vivos mais fantástica de Hollywood.

Ficha Técnica:
Título Original: Righteous Kill.
Gênero: Policial.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.righteouskill-themovie.com/
Nacionalidade: Estados Unidos.
Tempo de Duração: 93 minutos.
Diretor: Jon Avnet.
Roteirista: Russell Gerwitz.
Elenco: Al Pacino (David Fisk), Robert De Niro (Thomas Cowan), John Leguizamo (Detetive Perez), Donnie Wahlberg (Detetive Riley), Carla Gugino (Karen Kleisner), 50 Cent (Spider), Brian Dennehy (Tenente Hingus), Frank Jhn Hughes (Randall), Shirley Brener (Natalya), Adrian Martinez (Glenn), Trilby Glover (Jessica) e Antonino Paone (Matthew Natrella).

Sinopse: Ao investigar o assassinato de um popular cafetão, a dupla de detetives Thomas Cowan (Robert De Niro) e David Fisk (Al Pacino) se vê diante de um crime parecido com um outro que fora investigado por eles mesmos anos atrás. Da mesma forma que ocorreu no assassinato anterior o homicida desta vez também deixou um poema justificando o crime. Mais assassinatos desta natureza passam a acontecer e os policiais logo se dão conta de que estão diante de um serial killer e que, possivelmente, prenderam as pessoas erradas na investigação anterior.

Righteous Kill - Trailer:

Crítica:

Frustrante. Esta palavra define bem a sensação que se tem ao terminar de assistir a este “As Duas Faces da Lei” no cinema. Toda a expectativa gerada em volta do retorno da dupla Pacino e De Niro (eles atuaram juntos pela primeira vez no thriller “Fogo Contra Fogo”, há 13 anos, desde então, jamais voltaram a repetir a dose) fora por água abaixo, gerando um filme constituído por uma sinopse bastante interessante, mas trabalhada de maneira extremamente artificial pelo roteiro (que conta com o final mais forçado dos últimos tempos), que acaba se salvando ligeiramente graças às atuações de seus protagonistas e à direção de Jon Avnet que, embora se revele extremamente irregular durante o desenrolar da trama, confere bastante ritmo ao longa durante o seu primeiro ato.

Certamente, o maior problema com “As Duas Faces da Lei” reside na auto-confiança adquirida pelo mesmo, uma vez que este chega à errônea conclusão de que basta ter as duas maiores lendas vivas de Hollywood (e quando digo “maiores lendas vivas” refiro-me unicamente à profissão de ator) como ingrediente principal para se realizar uma obra brilhante e magnífica. O problema é que os responsáveis pelo filme se esquecem de que o principal ingrediente de uma obra-cinematográfica é o roteiro da mesma. Não que a estória do longa seja das piores, longe disso (apesar da mesma conter inúmeras falhas), mas o bem da verdade é que o mínimo que se pode esperar de um roteiro decente é que o mesmo aborde seus personagens principais de modo que faça o público se cativar com eles.

Em “As Duas Faces da Lei” a dupla de tiras interpretada por De Niro e Pacino é simplesmente jogada na tela e o filme sugere que o espectador, logo de cara, sinta-se envolvido pelos mesmos. Mas como podemos nos envolver com dois personagens que mal nos foram apresentados? Pois é, como havia mencionado anteriormente, é justamente aí que reside o maior defeito do filme: o de deduzir que somente o fato de contar com dois atores carismáticos e lendários em cena bastaria para que nos cativássemos instantaneamente com os seus respectivos personagens. Ledo engano.

Vide o personagem de Pacino, por exemplo. Não fosse a magistral atuação do eterno Michael Corleone, o detetive David Fisk não possuiria a menor razão de existir, uma vez que o mesmo nem ao menos diz a que veio na trama. Ou melhor, além de dar espaço para que o brilhante ator mostre todo o seu potencial, o personagem de Pacino tem sim um outro propósito no filme, afinal de contas, não fosse por ele, o desfecho de “As Duas Faces da Lei” seria completamente diferente. E é aí que caímos em um outro dilema: será que não valeria a pena o encerramento desta película ser completamente diferente, uma vez que o mesmo soa deveras artificial?

E o que podemos dizer então da postura de “cara durão” dos personagens de Robert De Niro e Al Pacino? Se há algo que me atraiu imensamente no ótimo “Rocky Balboa” foi a perspicácia que o roteiro, e o próprio Stallone, tiveram em reconhecer e admitir que um dos maiores astros dos anos 1970 estava velho demais para bancar o rapagão durão, conforme o fizera anos atrás. Os responsáveis por este “As Duas Faces da Lei” teriam que ter tido a mesma perspicácia e, ao invés de exibirem ambos os atores esmurrando bandidos, fazendo carrancas e mantendo conjunções carnais com jovens mulheres, deveriam nos apresentar aos protagonistas do longa de um modo mais realista, convincente e bem menos exagerado.

Outra falha crassa contida no longa é a dificuldade que o roteiro encontra ao tentar definir um gênero a si mesmo. Não sabemos ao certo se estamos diante de um drama policial, ou simplesmente de um filme policial, ou de um drama convencional, ou ainda de um filme de suspense ou um thriller. É claro que, caso o roteirista Russell Gerwitz houvesse, ao menos, explorado de maneira decente cada um destes gêneros, teríamos um longa bastante rico e cativante, mas não é isso o que acontece. Como drama, o filme falha, pois explora os seus protagonistas de maneira pouco satisfatória; como policial o maior defeito reside na estória, que é inicialmente interessante, mas durante o desenrolar da trama se revela muito artificial e, por fim, como suspense ou thriller, o longa decepciona, pois jamais consegue passar tensão ao espectador da maneira que deveria (muito pelo contrário, o filme é bem chato, diga-se).

Sendo assim, podemos concluir que as únicas qualidades da obra dizem respeito às brilhantes atuações de sua dupla de protagonistas e à direção dinâmica de Avnet que, apesar de se revelar simples demais durante o desenrolar da trama, se mostra bastante competente durante o início do longa, conferindo bastante ritmo a este. No mais, somos obrigados a encarar um filme totalmente falho e decepcionante, do tipo que De Niro e Pacino deveriam passar longe a fim de preservarem as próprias carreiras que, em um passado muito, muito distante, arrancaram diversos dos momentos mais marcantes, inspirados e clássicos da história do Cinema.

Avaliação Final: 4,0 na escala de 10,0.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Busca Implacável - *** de *****

Eu sei que este será o típico comentário de um indivíduo que acabara de falhar na tentativa de ter uma ereção com uma mulher entre quatro paredes, mas é justamente o que estou sentindo no exato momento, estou com aquela incômoda sensação de que “isto nunca me aconteceu antes”. “___Isto o quê?”. Pergunta-me o leitor. A falta de inspiração em escrever um texto a respeito do filme que acabei de assistir. Posso ter inúmeras falhas como crítico de Cinema, mas creio que do mal da falta de inspiração não sofro. Independentemente do que penso sobre uma determinada obra cinematográfica, no que diz respeito à qualidade da mesma, sempre encontro o mínimo de inspiração necessária a fim de escrever sobre esta, fato que não ocorreu comigo logo após o término deste “Busca Implacável”. O que falar de um filme que, a meu ver, não fede e não cheira (na verdade cheira um pouco mais do que fede)? Pois é, encontro-me neste dilema no exato momento, mas enfim, farei o possível para ilustrar ao leitor a minha opinião sobre o mesmo.


Ficha Técnica:
Título Original: Taken.
Gênero: Ação.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.takenmovie.com/
Nacionalidade: França.
Tempo de Duração: 93 minutos.
Diretor: Pierre Morel.
Roteirista: Luc Besson, e Robert Mark Kamen.
Elenco: Liam Neeson (Bryan), Xander Berkeley (Stuart), Maggie Grace (Kim), Olivier Rabourdin (Jean Claude), Famke Janssen (Lenore), Katie Cassidy (Amanda), Nicolas Giraud (Peter), Leland Orser (Sam), Jon Gries (Casey), David Warshofsky (Bernie), Holly Valance (Diva), Gérard Watkins (Saint Clair), Arben Bajraktaraj (Marko), Radivoje Bukvic (Anton), Camille Japy (Isabelle), Valentin Kalaj (Vinz) e Marc Amyot (Farmacêutico).

Sinopse: Após ouvir, através de uma ligação telefônica, sua filha única sendo seqüestrada em Paris, Bryan (Liam Neeson), um agente secreto aposentado, parte de Los Angeles à capital da França com o intento de resgatar a garota. O que Bryan não sabe é que a gangue que seqüestrou a jovem é de alta periculosidade e isto dificultará muito a sua missão.

Taken – Trailer:

Crítica:

Não, não confie na sinopse supracitada. Sim, eu sei, ela foi escrita por mim, assim como a grande maioria das sinopses dos vários filmes encontrados neste site, mas ainda assim peço ao leitor que não confie plenamente na mesma, mormente no final desta onde aparece escrito: “gangue... de alta periculosidade”. O motivo? Por mais perigosos e numerosos (e realmente são numerosos) que os bandidos aparentem ser, o protagonista Bryan se mostra capaz de derrotá-los facilmente, em fração de segundos. Em suma, a gangue não aparenta ser de tão alta periculosidade conforme aponta a sinopse, uma vez que o protagonista os derrota com uma facilidade demasiadamente artificial.

“___ Seria Bryan o estereotipo do mocinho dos filmes de ação produzidos nos anos 80 e protagonizados por Arnold Schwarzenegger e Silvester Stallone?” ___ Me pergunta o leitor. Eu respondo: “___ Sim e (ao mesmo tempo) não!”. O personagem de Liam Neeson segue sim o estereotipo do protagonista durão que enfrenta e desmantela uma quadrilha inteira de marginais com a maior facilidade do mundo, mas há algumas peculiaridades que o diferencia de ícones como John Rambo e Coronel John Matrix, dentre as quais cito: a sua consistência física (Bryan foge do estereotipo do ex-militar musculoso), sua dependência por aparelhos tecnológicos e a perspicácia em saber utilizá-los (lembrando muito James Bond), suas atitudes politicamente incorretas (fugindo do mocinho bonzinho convencional que filmes deste tipo nos apresenta. Repare na maneira fria como Bryan, a fim de obter informações, atira em uma pessoa inocente e eletrocuta um criminoso) e o modo como este é bem encarnado mediante a boa atuação do ator norte-irlandês (uma vez que Stallone e Schwarzenegger interpretavam muito mal seus respectivos personagens, ao contrário de Neeson nesta produção).

Mas se Bryan não é necessariamente o estereótipo de John Rambo e conta com uma atuação bastante interessante do sempre excelente Liam Neeson, o roteiro do filme, infelizmente, não se esforça nem um pouco para criar diálogos inteligentes a fim de compor o protagonista de um modo mais dramático e natural. Sendo assim, somos obrigados a ouvir o mesmo proferindo baboseiras do tipo: “___ Vocês seqüestraram minha filha, pois saibam que conto com um conjunto particular de habilidades adquiridas ao longo de minha carreira como agente secreto e estou disposto a utilizar todas elas contra vocês.”. Mais pedante, megalomaníaco e artificial, impossível, não é mesmo?

E o que dizer então do argumento, que nada mais é do que uma cópia descarada da sinopse de “Comando Para Matar”? A única diferença aqui é que as situações pelas quais o protagonista passa são um pouco desiguais e a estória ocorre em Paris. E já que mencionamos a histórica cidade luz, não há como não reparar na falha tentativa que o longa realiza ao almejar ser uma espécie de cartão-postal da Capital da França. Repare, por exemplo, no modo como o diretor Pierre Morel se esforça para, sempre que possível, criar uma tomada aérea com o intento de exibir os pontos turísticos da cidade, em especial a Torre Eifel. O problema é que tais atitudes se revelam gritantemente artificiais e indelicadas e, sejamos francos, o tipo de público que vai aos cinemas assistir a este “Busca Implacável” (e que titulizinho mais ridículo este, não? Tanto o original quanto, principalmente (só para “variar”), o nacional) não têm o intento de conhecer Paris mediante tomadas aéreas, e sim de conferir cenas de ação eletrizantes.

“___ E tais cenas de ação são realmente eletrizantes?” ___ Me pergunta o leitor. “___ Otimamente eletrizantes!” ___ Respondo eu. Aqueles que lêem os meus textos com certa freqüência sabem perfeitamente que, ao avaliar um determinado filme, em primeiro lugar, analiso o conteúdo artístico do mesmo e, caso este ouse inovar de uma maneira que realmente obtenha um resultado satisfatório, confiro-lhe, automaticamente, uma nota acima da média (que, no caso, é 6,0). Este “Busca Implacável” não se atreveu a inovar nem um pouco (muito pelo contrário, conta com um clichê atrás do outro), mas ao menos consegue cumprir o seu objetivo principal, que é entreter o público alvo, de maneira ligeiramente convincente. É o típico filme que pode ser resumido em uma única frase: “Apresenta mais do mesmo, mas consegue nos divertir com êxito”.

O quê? Ah sim, comecei o parágrafo acima mencionando que as cenas de ação são ótimas e esqueci-me de concluir tal asserção. Pois bem, corrijo-me então fazendo-o aqui. Se falta originalidade, naturalidade e dramaticidade ao filme, ao menos ele conta com seqüências de ação muito bem distribuídas ao longo de sua projeção e que cumprem com maestria a função de entreter o público. Que tais cenas abusam do absurdo, isto não se tenha dúvidas, mas não há como negar que estas nos mantém bastante entretidos. Vide a perseguição automobilística ocorrida no meio do filme (para se ter uma idéia do que estou afirmando) é a típica cena absurda onde uma única pessoa consegue despistar cerca de sete ou oito veículos. Contudo, não há como negar que tal cena consegue prender o espectador e conferir alguma tensão a este, mesmo com a câmera excessivamente tremida de Pierre Morel (seria ele o Michael Bay francês? Faço votos para que não).

“Busca Implacável” é o típico filme que certamente não irá acrescentar nada de especial em sua vida, e você provavelmente irá se esquecer deste minutos após o término da sessão, mas não há como negar que o mesmo se revela um bom passatempo e, em muitos casos, só isso já basta.

Avaliação Final: 6,0 na escala de 10,0.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Metropolis - ***** de *****

Não faz muito tempo que assisti a este “Metropolis” pela primeira vez. Foi durante umas férias de julho, em 2.006, salvo engano de minha parte. Loquei-o na vídeolocadora com grandes expectativas, afinal de contas, qual cinéfilo que se preze não gostaria de conferir a obra-prima de Fritz Lang, que é também considerada o maior marco na história do Cinema expressionista alemão? As expectativas aumentaram ainda mais quando li uma crítica afirmando que o longa possuía críticas muito bem desenvolvidas contra o Capitalismo, contra a dependência que o homem contemporâneo possui em relação às máquinas e a cruel exploração que a burguesia exerce sobre o proletariado. Enfim, é o filme que todo o cinéfilo revoltado com o sistema adoraria assistir e, no meu caso, não foi diferente, principalmente agora que o assisti pela segunda vez e pude observar a obra com um olhar ainda mais crítico.


Ficha Técnica:
Título Original: Metropolis.
Gênero: Ficção Científica.
Ano de Lançamento: 1927.
Nacionalidade: Alemanha.
Tempo de Duração: 136 minutos.
Diretor: Fritz Lang.
Roteirista: Thea von Harbou e Fritz Lang.
Elenco: Gustav Fröhlich (Freder Fredersen), Brigitte Helm (Maria / Robô), Alfred Abel (Johhah "Joh" Fredersen), Rudolf Klein-Rogge (C.A. Rotwang), Fritz Rasp (Slim), Theodor Loos (Josaphat), Heinrich George (Grot) e Erwin Biswanger (Georg).

Sinopse: Metropolis é uma cidade dividida em duas partes: a “Cidade Superior”, onde a burguesia reside, e a “Cidade dos Operários”, habitada pelo proletariado. Os habitantes da “Cidade dos Operários” têm como mentora intelectual Maria, que pede aos mesmos que não se revoltem contra a classe alta a fim de exigirem melhores condições de trabalho e o façam de um modo menos radical. Maria acaba conhecendo Freder, o filho de Joh Fredersen, um dos magnatas da cidade, e mantendo um relacionamento amoroso com este. Segundo a moça, Freder é o messias que trará esperança aos operários, contudo, o pai do rapaz decide incitar uma revolução na “Cidade dos Operários” e pede para que o cientista Rotwang crie um andróide com a mesma aparência de Maria, para que assim esta possa aconselhar os operários a se revoltarem.

Metropolis – Trailer:

Crítica:

Considerado um marco na história do Cinema mudo (e até mesmo na história do Cinema de forma geral, diga-se de passagem), “Metropolis” é, acima de tudo, uma verdadeira obra-de-arte contemporânea (expressionista, para ser mais exato) mister para todos aqueles que se dizem amantes do (bom) Cinema. Em termos de arte expressionista alemã, temos Edward Münch e sua obra-prima: o quadro “O Grito”, representando o Magnum Opus da pintura, durante esta fase da arte contemporânea. Fritz Lang e sua obra-prima, o filme “Metropolis”, porém, podem ser considerados o Magnum Opus do cinema expressionista alemão e, convenhamos, o diretor e o longa fazem jus a todo o glamour que existe por trás de ambos.

A propósito, seria mais do que justo por parte deste que vos escreve dedicar este parágrafo inteiro a fim de comentar o brilhantismo com que Lang rege sua obra por trás das câmeras. Pessoalmente, creio que a direção do alemão nesta película só não pode ser considerada superior ao trabalho que Orson Welles realizou no estupendo “Cidadão Kane”, sendo assim, encaro a mesma como a segunda melhor direção dentre as quais já tive a oportunidade de prestigiar ao longo de minha vida. O grande destaque do trabalho do diretor alemão fica por conta dos planos perfeitos que este consegue criar, tais como a cena em que ele divide a tela em várias partes e é capaz de focalizar os olhos de muitas pessoas simultaneamente, fazendo o uso de uma única tomada. Outros destaques fantásticos são: as tomadas onde Lang (com a ajuda de uma direção de Arte que vai além da perfeição) nos apresenta a uma visão panorâmica da cidade de Metropolis; as cenas em que o diretor enfoca diversas pessoas distribuídas pela tela durante vários momentos da película (e vale dizer que, para a realização da obra, foram necessários cerca de 36.000 figurantes, tamanha a grandiosidade da mesma); a maneira como as cenas da enchente, da morte dos funcionários na “Casa das Máquinas” e a clássica cena onde o protagonista Freder tem a visão da máquina como sendo um monstro que devora os pobres trabalhadores, são conduzidas pelo diretor, além de muitos outros destaques que o filme possui.

Tecnicamente falando, o longa é esplendoroso. Além de conter uma direção de arte que vai além da perfeição (assim como eu dissera no parágrafo anterior) e que nos apresenta a uma cidade futurista onde toda a sua melancolia e claustrofobia nos é demonstrada através de arranha-céus magníficos e, ao mesmo tempo, sombrios e assustadores, helicópteros voando ao redor da cidade, auto-estradas congestionadas, poluição em demasia e muito mais, “Metropolis” conta também com efeitos visuais tão fulgentes que até mesmo nos dias atuais, onde filmes como “O Senhor dos Anéis” se revelam irretocáveis neste quesito, consegue se destacar com maestria, a ponto de se revelar revolucionário mesmo após ter passado quase um século desde a sua criação.

As atuações do elenco, apesar de um tanto o quanto exaltadas durante alguns momentos (até mesmo porque é praticamente impossível os atores atuarem de outra forma, tendo em vista que o filme é mudo e a melhor maneira destes se expressarem é fazendo o uso de expressões exaltadas, como as que acontecem aqui), são todas ótimas e extremamente convincentes. A química exalada por todos os atores é cativante e o entrosamento entre estes é invejável. É o tipo de qualidade que era muito mais comum naqueles tempos, quando atores não ganhavam rios de dinheiro e faziam o seu trabalho por amor à profissão e à Arte, diferentemente do que se vê atualmente.

O roteiro, por sua vez, também é fabuloso e conta com uma dose altíssima de reflexões que o espectador poderá desfrutar durante o desenrolar da película inteira. Utilizando como pano de fundo uma estória de amor (o mocinho rico se apaixona pela mocinha pobre e o romance entre ambos é impossível graças à diferença financeira entre eles) que, atualmente, pode ser encarada como clichê, mas na época de lançamento do filme, não, o longa realiza críticas extremamente ferrenhas ao sistema capitalista, à maneira como a burguesia explora o proletariado e à total dependência do ser humano perante as máquinas.

A exploração que a burguesia realiza sobre o proletariado pode ser notada durante quase todo o filme, a começar pela brilhante idéia que Lang teve ao decidir dividir a cidade de Metropolis em duas partes: a Cidade Superior (habitada pela burguesia) e a Cidade dos Operários. Para que a primeira possa funcionar corretamente, é necessário que os operários se esgotem de cansaço e arrisquem as suas vidas trabalhando na Casa das Máquinas (situada um pouco acima da Cidade dos Operários). Enquanto isso, os burgueses passam o dia inteiro se divertindo na Cidade Superior. Não resta dúvidas de que tal metáfora é uma perfeita crítica aos burgueses, insinuando que os mesmos obtém suas vidas confortáveis às custas do labor da grande maioria da população, que além de não possuir quaisquer perspectivas de vida, são encarados como meras peças substituíveis que mantém o sistema funcionando.

E falando no sistema econômico, são claros os ataques que Lang realiza ao Capitalismo. Podemos notar facilmente o quão os poderosos de Metropolis manipulam os operários e visam, acima de tudo, obter lucros pesados à custa do trabalho destes. Como exemplo disso pode-se citar o intento do grande vilão do filme, o multimilionário Joh Fredersen (pai de Freder, protagonista da estória), que visa incitar uma revolução na Cidade dos Operários, para que estes se autodestruam. Desta forma, Fredersen poderá substituir os operários por andróides, uma vez que a produção destes se mostra muito mais proveitosa e as despesas com os mesmos se revelam bem menores. No entanto, é justo tirar a vida de milhares de seres humanos apenas para obter o máximo de lucro o possível, conforme prega o Capitalismo? Questionamentos como estes são levantados por Lang a todo o instante nesta sua obra-prima.

Quanto à relação homem-máquina, o filme não poupa esforços ao abordá-la. Em sua mais clássica cena, que trata-se da visão que o protagonista Freder tem sobre a máquina assumindo o lugar de um monstro que se alimenta de homens (no caso, os operários da cidade), “Metropolis” realiza uma das mais perfeitas metáforas que o Cinema já fez sobre a submissão humana perante os avanços tecnológicos. É a cria alimentando-se, literalmente, da carne de seus criadores. E o que dizer então dos nichos feitos pelos operários na mesma máquina supracitada a fim de mantê-la em funcionamento? À medida que tais nichos nela se alojam, percebemos que é como se os funcionários fizessem parte da máquina, como se fossem algum órgão vital desta. A partir daí, reparamos que homem e máquina estão se unindo, se tornando inseparáveis.

O final do filme é um ponto extremamente subjetivo e polêmico. Muitas pessoas (intelectuais, dentre estas) o consideram um desfecho de extrema direita, onde fica claro que a revolução esquerdista não trouxe benefício algum a nenhuma das classes envolvidas com a mesma. Outras pessoas acham que é o final que o longa realmente deveria ter, provando que a direita e a esquerda podem caminhar juntas em harmonia, contanto que haja um mediador interagindo entre ambas. Há também o grupo de indivíduos que defendem a tese de que o final mostra a extinção do totalitarismo, uma vez que o proletariado, a partir daquele instante, passaria a ter uma participação ativa no poder. Minha opinião sobre o mesmo? Fico com a segunda e a terceira hipótese juntas, mas independentemente do que Lang quis nos transmitir com a sua “moral da estória” inserida no final da trama, “Metropolis” se revela uma inquestionável obra-prima e que, de maneira simples e cativante, se revela capaz de abordar de forma magistral assuntos que permanecem em pauta até os dias atuais.

Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.