domingo, 7 de dezembro de 2008

Metropolis - ***** de *****

Não faz muito tempo que assisti a este “Metropolis” pela primeira vez. Foi durante umas férias de julho, em 2.006, salvo engano de minha parte. Loquei-o na vídeolocadora com grandes expectativas, afinal de contas, qual cinéfilo que se preze não gostaria de conferir a obra-prima de Fritz Lang, que é também considerada o maior marco na história do Cinema expressionista alemão? As expectativas aumentaram ainda mais quando li uma crítica afirmando que o longa possuía críticas muito bem desenvolvidas contra o Capitalismo, contra a dependência que o homem contemporâneo possui em relação às máquinas e a cruel exploração que a burguesia exerce sobre o proletariado. Enfim, é o filme que todo o cinéfilo revoltado com o sistema adoraria assistir e, no meu caso, não foi diferente, principalmente agora que o assisti pela segunda vez e pude observar a obra com um olhar ainda mais crítico.


Ficha Técnica:
Título Original: Metropolis.
Gênero: Ficção Científica.
Ano de Lançamento: 1927.
Nacionalidade: Alemanha.
Tempo de Duração: 136 minutos.
Diretor: Fritz Lang.
Roteirista: Thea von Harbou e Fritz Lang.
Elenco: Gustav Fröhlich (Freder Fredersen), Brigitte Helm (Maria / Robô), Alfred Abel (Johhah "Joh" Fredersen), Rudolf Klein-Rogge (C.A. Rotwang), Fritz Rasp (Slim), Theodor Loos (Josaphat), Heinrich George (Grot) e Erwin Biswanger (Georg).

Sinopse: Metropolis é uma cidade dividida em duas partes: a “Cidade Superior”, onde a burguesia reside, e a “Cidade dos Operários”, habitada pelo proletariado. Os habitantes da “Cidade dos Operários” têm como mentora intelectual Maria, que pede aos mesmos que não se revoltem contra a classe alta a fim de exigirem melhores condições de trabalho e o façam de um modo menos radical. Maria acaba conhecendo Freder, o filho de Joh Fredersen, um dos magnatas da cidade, e mantendo um relacionamento amoroso com este. Segundo a moça, Freder é o messias que trará esperança aos operários, contudo, o pai do rapaz decide incitar uma revolução na “Cidade dos Operários” e pede para que o cientista Rotwang crie um andróide com a mesma aparência de Maria, para que assim esta possa aconselhar os operários a se revoltarem.

Metropolis – Trailer:

Crítica:

Considerado um marco na história do Cinema mudo (e até mesmo na história do Cinema de forma geral, diga-se de passagem), “Metropolis” é, acima de tudo, uma verdadeira obra-de-arte contemporânea (expressionista, para ser mais exato) mister para todos aqueles que se dizem amantes do (bom) Cinema. Em termos de arte expressionista alemã, temos Edward Münch e sua obra-prima: o quadro “O Grito”, representando o Magnum Opus da pintura, durante esta fase da arte contemporânea. Fritz Lang e sua obra-prima, o filme “Metropolis”, porém, podem ser considerados o Magnum Opus do cinema expressionista alemão e, convenhamos, o diretor e o longa fazem jus a todo o glamour que existe por trás de ambos.

A propósito, seria mais do que justo por parte deste que vos escreve dedicar este parágrafo inteiro a fim de comentar o brilhantismo com que Lang rege sua obra por trás das câmeras. Pessoalmente, creio que a direção do alemão nesta película só não pode ser considerada superior ao trabalho que Orson Welles realizou no estupendo “Cidadão Kane”, sendo assim, encaro a mesma como a segunda melhor direção dentre as quais já tive a oportunidade de prestigiar ao longo de minha vida. O grande destaque do trabalho do diretor alemão fica por conta dos planos perfeitos que este consegue criar, tais como a cena em que ele divide a tela em várias partes e é capaz de focalizar os olhos de muitas pessoas simultaneamente, fazendo o uso de uma única tomada. Outros destaques fantásticos são: as tomadas onde Lang (com a ajuda de uma direção de Arte que vai além da perfeição) nos apresenta a uma visão panorâmica da cidade de Metropolis; as cenas em que o diretor enfoca diversas pessoas distribuídas pela tela durante vários momentos da película (e vale dizer que, para a realização da obra, foram necessários cerca de 36.000 figurantes, tamanha a grandiosidade da mesma); a maneira como as cenas da enchente, da morte dos funcionários na “Casa das Máquinas” e a clássica cena onde o protagonista Freder tem a visão da máquina como sendo um monstro que devora os pobres trabalhadores, são conduzidas pelo diretor, além de muitos outros destaques que o filme possui.

Tecnicamente falando, o longa é esplendoroso. Além de conter uma direção de arte que vai além da perfeição (assim como eu dissera no parágrafo anterior) e que nos apresenta a uma cidade futurista onde toda a sua melancolia e claustrofobia nos é demonstrada através de arranha-céus magníficos e, ao mesmo tempo, sombrios e assustadores, helicópteros voando ao redor da cidade, auto-estradas congestionadas, poluição em demasia e muito mais, “Metropolis” conta também com efeitos visuais tão fulgentes que até mesmo nos dias atuais, onde filmes como “O Senhor dos Anéis” se revelam irretocáveis neste quesito, consegue se destacar com maestria, a ponto de se revelar revolucionário mesmo após ter passado quase um século desde a sua criação.

As atuações do elenco, apesar de um tanto o quanto exaltadas durante alguns momentos (até mesmo porque é praticamente impossível os atores atuarem de outra forma, tendo em vista que o filme é mudo e a melhor maneira destes se expressarem é fazendo o uso de expressões exaltadas, como as que acontecem aqui), são todas ótimas e extremamente convincentes. A química exalada por todos os atores é cativante e o entrosamento entre estes é invejável. É o tipo de qualidade que era muito mais comum naqueles tempos, quando atores não ganhavam rios de dinheiro e faziam o seu trabalho por amor à profissão e à Arte, diferentemente do que se vê atualmente.

O roteiro, por sua vez, também é fabuloso e conta com uma dose altíssima de reflexões que o espectador poderá desfrutar durante o desenrolar da película inteira. Utilizando como pano de fundo uma estória de amor (o mocinho rico se apaixona pela mocinha pobre e o romance entre ambos é impossível graças à diferença financeira entre eles) que, atualmente, pode ser encarada como clichê, mas na época de lançamento do filme, não, o longa realiza críticas extremamente ferrenhas ao sistema capitalista, à maneira como a burguesia explora o proletariado e à total dependência do ser humano perante as máquinas.

A exploração que a burguesia realiza sobre o proletariado pode ser notada durante quase todo o filme, a começar pela brilhante idéia que Lang teve ao decidir dividir a cidade de Metropolis em duas partes: a Cidade Superior (habitada pela burguesia) e a Cidade dos Operários. Para que a primeira possa funcionar corretamente, é necessário que os operários se esgotem de cansaço e arrisquem as suas vidas trabalhando na Casa das Máquinas (situada um pouco acima da Cidade dos Operários). Enquanto isso, os burgueses passam o dia inteiro se divertindo na Cidade Superior. Não resta dúvidas de que tal metáfora é uma perfeita crítica aos burgueses, insinuando que os mesmos obtém suas vidas confortáveis às custas do labor da grande maioria da população, que além de não possuir quaisquer perspectivas de vida, são encarados como meras peças substituíveis que mantém o sistema funcionando.

E falando no sistema econômico, são claros os ataques que Lang realiza ao Capitalismo. Podemos notar facilmente o quão os poderosos de Metropolis manipulam os operários e visam, acima de tudo, obter lucros pesados à custa do trabalho destes. Como exemplo disso pode-se citar o intento do grande vilão do filme, o multimilionário Joh Fredersen (pai de Freder, protagonista da estória), que visa incitar uma revolução na Cidade dos Operários, para que estes se autodestruam. Desta forma, Fredersen poderá substituir os operários por andróides, uma vez que a produção destes se mostra muito mais proveitosa e as despesas com os mesmos se revelam bem menores. No entanto, é justo tirar a vida de milhares de seres humanos apenas para obter o máximo de lucro o possível, conforme prega o Capitalismo? Questionamentos como estes são levantados por Lang a todo o instante nesta sua obra-prima.

Quanto à relação homem-máquina, o filme não poupa esforços ao abordá-la. Em sua mais clássica cena, que trata-se da visão que o protagonista Freder tem sobre a máquina assumindo o lugar de um monstro que se alimenta de homens (no caso, os operários da cidade), “Metropolis” realiza uma das mais perfeitas metáforas que o Cinema já fez sobre a submissão humana perante os avanços tecnológicos. É a cria alimentando-se, literalmente, da carne de seus criadores. E o que dizer então dos nichos feitos pelos operários na mesma máquina supracitada a fim de mantê-la em funcionamento? À medida que tais nichos nela se alojam, percebemos que é como se os funcionários fizessem parte da máquina, como se fossem algum órgão vital desta. A partir daí, reparamos que homem e máquina estão se unindo, se tornando inseparáveis.

O final do filme é um ponto extremamente subjetivo e polêmico. Muitas pessoas (intelectuais, dentre estas) o consideram um desfecho de extrema direita, onde fica claro que a revolução esquerdista não trouxe benefício algum a nenhuma das classes envolvidas com a mesma. Outras pessoas acham que é o final que o longa realmente deveria ter, provando que a direita e a esquerda podem caminhar juntas em harmonia, contanto que haja um mediador interagindo entre ambas. Há também o grupo de indivíduos que defendem a tese de que o final mostra a extinção do totalitarismo, uma vez que o proletariado, a partir daquele instante, passaria a ter uma participação ativa no poder. Minha opinião sobre o mesmo? Fico com a segunda e a terceira hipótese juntas, mas independentemente do que Lang quis nos transmitir com a sua “moral da estória” inserida no final da trama, “Metropolis” se revela uma inquestionável obra-prima e que, de maneira simples e cativante, se revela capaz de abordar de forma magistral assuntos que permanecem em pauta até os dias atuais.

Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.

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