segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Fim de Semana de 19 a 21/12/2008

Não cumpri a promessa que havia feito no último post, assistir a “Gomorra” e publicar uma crítica do mesmo aqui no Cine-Phylum. Infelizmente, enganei-me quanto à estréia do mesmo, imaginei que fosse passar nos cinemas aqui de minha cidade durante esta semana, mas não. Moral da estória: terei de viajar à cidade vizinha ainda hoje para conferir o mesmo. Enquanto não publico o texto de “Gomorra”, peço ao leitor que se contente com a mini-crítica de “Monty Python – O Sentido da Vida” e o curta-metragem que abre o mesmo: “Seguros Permanentes Crimson”:

Seguros Permanentes Crimson (The Crimson Permanent Assurance, 1.983, Dirigido por Terry Gilliam) - **** de *****

Antes do espectador poder se deliciar com o ótimo “O Sentido da Vida”, Terry Gilliam nos brindou com esse hilário curta que, apesar de ser muito mais longo do que deveria ser, conta com uma boa dose de humor non sense, revelando-se uma espécie de amostra do que poderíamos ver 17 minutos mais tarde no longa “O Sentido da Vida”. O curta inicia-se criticando a forma como o capitalismo explora e escraviza o proletariado, vemos logo de cara uma eficiente sátira ao excelente épico de William Wyler, “Ben-Hur”, e, posteriormente, ocorre um hilário motim. Daí para frente o curta vai se mostrando cada vez mais eficiente e o humor característico da trupe vai se tornando cada vez mais inteligente, seja demonstrando toda a sua criatividade (vide o modo como os velhinhos amotinados confeccionam suas espadas e as demais armas) ou o conhecimento de Gilliam em assuntos como economia (“___ E assim, a Crimson Permanent Assurance foi lançada ao mar das finanças internacionais.”). A Direção de Arte também é um espetáculo à parte. Note o cuidado adotado pela mesma ao montar um edifício inglês de arquitetura neoclássica ou um gigantesco prédio contemporâneo em Manhtattam. O que dizer então do cuidado que Gilliam adota ao conferir ao filme certos detalhes que o tornam cada vez mais engraçado, como é o caso das notas fiscais e rascunhos que ficam voando pelo cenário durante uma batalha? Infelizmente, o curta conta com alguns minutos a mais, tornando-se muito cansativo durante o seu desenrolar (só para se ter uma idéia, o mesmo era para ser um esquete inserido em meio ao longa “O Sentido da Vida”, mas Gilliam o considerou extenso demais para tal e resolveu fazer do mesmo um curta metragem que deveria ser inserido antes da obra principal), mas não há como não notar a eficiência deste.

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.

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Monty Python – O Sentido da Vida (Monty Python – The Meaning of Life, 1983, Dirigido por Terry Gilliam). - **** de *****

Não é a toa que “O Sentido da Vida” foi o último filme produzido pela trupe inglesa do Monty Python, afinal de contas, a decadência deste terceiro filme para “Em Busca do Cálice Sagrado” e “A Vida de Brian” é mais do que evidente. Contudo, todos os ingredientes do humor que eternizou o sexteto estão presentes neste longa sensacional: temos aqui tiradas inteligentes (vide a seqüência que satiriza o exacerbado número de filhos pertencentes a uma família residente em um subúrbio de Yorkshire), a exploração para lá de satisfatória do humor surreal e dadaísta (vide a seqüência divertidamente inconveniente que interrompe o filme para anunciar que estamos na metade do mesmo e o esquete do transplante de órgãos) e a banalização dos valores éticos, especialmente religiosos, no que diz respeito à postura conservadora adotada pela religião quanto às questões sexuais (vide a já citada cena da família domiciliada em Yorkshire).
As críticas costumeiras e imprescindíveis à confecção do humor Pythoniano também encontram-se presentes neste ótimo exemplar da comédia inglesa. Logo no início, o longa realiza um esquete satirizando à falta de atenção que o sistema de saúde inglês confere aos seus pacientes (é nesta cena que temos a famosa “máquina que faz “ping””), em seguida, temos uma condenação mais do que inteligente ao modo como a Igreja Católica centralizou o poder em suas mãos e nas mãos da classe dominante (e logo após esta cena contamos com o clipe da clássica música “Every Sperm Is Sacred”) e daí em diante o filme dá alfinetadas em tudo aquilo que julga hipócrita, como, por exemplo, a maneira que o conservadorismo religioso impede o avanço científico e tecnológico, bem como o controle da natalidade.
A inteligência que estava contida em “Em Busca do Cálice Ságrado” e “A Vida de Brian” também está distribuída de maneira extraordinariamente bem dosada neste “O Sentido da Vida”, é só observar a metáfora que a trupe faz sobre a origem da vida de acordo com a escala evolutiva de Darwins utilizando para isso efeitos especiais que transformam os seis integrantes do grupo em peixes dentro de um aquário, ou a cena onde temos uma homenagem a Ingmar Bergman e a sua obra-prima “O Sétimo Selo” quando uma pessoa é enterrada na mesma praia em que o protagonista Antonious Block joga xadrez com a morte, seria o personagem encontrando a morte (não em sua personificada como no filme sueco) no mesmíssimo local.
Mas e quanto ao título “O Sentido da Vida”, ele é realmente abordado? Bem, sim, mas muito pouco. É evidente que a principal intenção do longa é produzir um humor anárquico e fora de foco, mas há uma cena em especial onde o tema-título parece ser abordado, quando um garçom comenta: “___ Minha mãe sempre disse que o sentido da vida é levar alegria às pessoas.”. Pois, sinceramente, creio que os Python levaram isso a sério e decidiram virar comediantes justamente por este motivo: levar alegria às pessoas e preencher o vazio existencial de suas vidas. Uma pena que um filme tão primoroso conte com algumas cenas de alto teor escatológico e sem graça alguma, como a enfadonha seqüência em que um grupo militar ruma à selva para recuperar a perna de um de seus soldados e, principalmente, a asquerosa cena envolvendo o Sr. Creosote, o homem mais gordo do mundo.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.

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