domingo, 7 de dezembro de 2008

O Procurado - **** de *****

Corro sério risco, ao criticar o filme em questão, de entrar em total contradição com os meus princípios profissionais. Como crítico de Cinema, jamais deixei de avaliar um determinado filme pondo de lado a condição deste como obra de Arte. Entretanto, não há como negar que Cinema também é entretenimento. Mas mesmo ao analisar um filme como mero entretenimento, deve-se sempre adotar certos princípios ao criticá-lo e, dentre estes princípios, um dos mais importantes é exigir que a obra conte, ao menos, com uma estória bem feita. Ao assistirmos a “O Procurado” não podemos dizer que a estória seja das melhores, afinal de contas, a mesma depende de uma vasta gama de absurdos para funcionar, mas não há como negar que, se a trama não é das melhores, a abordagem que a mesma realiza em cima de seu protagonista é fantástica, e só isso, ao menos para mim, já faz com o roteiro deste longa mereça algum respeito. No mais, a obra também funciona magistralmente como obra de entretenimento e se revela uma diversão mais do que garantida para os que optarem por conferi-la nos cinemas.


Ficha Técnica:
Título Original: Wanted.
Gênero: Ação.
Tempo de Duração: 110 minutos.
Ano de Lançamento (EUA / Alemanha): 2008.
Estúdio: Universal Pictures Ltda.
Distribuição: Universal Pictures Ltda.
Direção: Timur Bekmambetov.
Roteiro: Michael Brandt, Derek Haas e Chris Morgan.
Produção: Jim Lemley, Jason Netter, Marc E. Platt e Iain Smith.
Música: Danny Elfman.
Direção de Fotografia: Mitchell Amundsen.
Desenho de Produção: John Myhre.
Direção de Arte: David Baxa, Patrick M. Sullivan Jr., Martin Vackar e Tomas Voth.
Figurino: Varvara Avdyushko.
Edição: David Brenner.
Efeitos Especiais: Bazelevs Production, Ulitka Studio, Hammerhead Productions, Main Road Post, Hatch Production, Framestore CFC, Hydraulx, Matte Painting UK Ltd, Universal, Escape Studios e Tinslay Transfers.
Elenco: James McAvoy (Wesley Allan Gibson), Angelina Jolie (Fox), Morgan Freeman (Sloan), Terence Stamp (Pekwarsky), Thomas Kretschmann (Cross), Common (Gunsmith), Kristen Hager (Cathy), Marc Warren (Reparador), David O’Hara (Sr. X), Konstantin Khabensky (Exterminador), Dato Bakhtadze (Açogueiro), Chris Pratt (Barry), Lorna Scott (Janice), Sophiya Haque (Puja), Brad Calcaterra (Assassino Max Petridge), Brian Caspe (Farmacêutico), Mark O'Neal (Co-Artesão) e Bridget McManus (Caixa do Supermercado).

Sinopse: Wesley Allan Gibson (James McAvoy) era um típico jovem estadunidense. Frustrado com a sua vida e sem quaisquer perspectivas na mesma, o rapaz é surpreendido quando Fox (Angelina Jolie) lhe informa que o seu pai era membro de uma fraternidade de assassinos dotados de super-poderes cujo maior propósito é manter o equilíbrio mundial (principalmente no que diz respeito à justiça). Uma vez que Gibson aparenta ter herdado as habilidades do pai, Sloan (Morgan Freeman) convida o mesmo a participar da fraternidade e o atribui a tarefa de exterminar a pessoa que assassinou o seu progenitor.

Wanted – Trailer:

Crítica:

Em um determinado momento de “O Procurado”, um homem corre pelos corredores de um dos últimos andares de um prédio comercial em uma velocidade completamente fora da normal, salta pela janela de um escritório, dispara cerca de quatro a seis tiros para todos os lados, mata aproximadamente quatro pessoas armadas e cai no corredor de um edifício situado ao outro lado da rua, paralelo ao que estava outrora.

Achou absurda a situação descrita no parágrafo anterior? Espere só até testemunhar as seqüências onde os protagonistas dão saltos mirabolantes (e não factíveis aos olhos da física, diga-se) com carrões importados, arrancam as asas de moscas em movimento utilizando para isto a munição de pistolas automáticas e, pasmem, conseguem alterar a trajetória linear de uma bala disparada por uma arma, possibilitando com que a mesma trace uma inexplicável curva, desrespeitando dessa forma, toda e qualquer lei da física que esteja direta ou indiretamente focada no estudo de vetores.

A propósito, se há algo que “O Procurado” não faz a menor questão de respeitar, são as leis da física. Mas não são apenas tais teorias que o longa se atreve a questionar. A inteligência do espectador também é posta em jogo aqui. Note, por exemplo, a explicação que o filme nos dá a fim de justificar os super-poderes peculiares de seus protagonistas: “___ Nossos corações batem a um excesso de 400 batimentos por minuto, enviando um lote de adrenalina para as nossas correntes sangüíneas que nos permite ver e reagir mais rápido do que o normal. Apenas algumas pessoas no mundo podem fazer isso.”. Contudo, o roteiro esqueceu-se de nos esclarecer (ou simplesmente nem fez questão de tentar esclarecer, o que é mais provável) o porquê de uma pessoa dessas não ter um enfarto, ou até mesmo um derrame, logo após ter o coração acelerado tão bruscamente (e sejamos francos, a tergiversação utilizada pelo personagem de Morgan Freeman, alegando que “___ Com o tempo aprendemos a controlar isso”, não funciona nem um pouco).

Mas mesmo contando com uma gama de erros e absurdos não fundamentados pelo roteiro, não há como negar que o filme de Bekmambetov conta com muito mais acertos do que erros, principalmente se o encararmos da maneira como este deve ser encarado: como uma obra de ação altamente descerebrada, à lá “Carga Explosiva”. Contudo, “O Procurado” é um longa infinitamente superior aos dois filmes da franquia dirigida por Louis Leterrier. Ao passo em que a bomba estrelada por Jason Statham se revela unicamente uma ação descerebrada e desprovida de originalidade, e até mesmo ousadia (no que diz respeito à Arte, é claro), o longa estrelado por James McAvoy conta com uma direção inovadora (ao menos para este tipo de filme) e um roteiro que faz total questão de abordar o seu protagonista da maneira mais satisfatória o possível.

Wesley Allan Gibson, brilhantemente incorporado pelo escocês McAvoy, é uma espécie de Tyler Durden, versão Edward Norton, inserido em um filme de ação extremamente pipoca, o extremo oposto do magnífico “Clube da Luta”. Sua vida não tem propósito algum e Gibson a questiona freqüentemente. Seu emprego não faz nada além de lhe frustrar, as pessoas com quem se vê forçado a conviver cotidianamente nada acrescentam a sua vida (muito pelo contrário, tornam a mesma ainda mais maçante), sua namorada o trai com o seu (falso) melhor amigo e, para piorar, o mesmo é portador de Síndrome do Pânico e se vê obrigado a tomar medicamentos com redundância a fim de controlar os constantes batimentos cardíacos de que sofre.

Repentinamente, a vida de Wesley sofre uma mutação grandíssima quando Fox (Angelina Jolie, fraca e inexpressiva) adentra nela, salva o rapaz de um assassinato e informa a este que o seu pai era um dos mais influentes membros de uma fraternidade de assassinos dotados de super-poderes, cuja função principal é manter o equilíbrio mundial (principalmente no que diz respeito à justiça) exterminando um indeterminado grupo de pessoas. A partir de então, Wesley passa a fazer parte de tal fraternidade e, literalmente, abandona a patética e insuportável vida que levava.

Sejamos francos: quem de nós nunca se identificou com o personagem de McAvoy? Quem de nós nunca pensou consigo mesmo: “Por que minha vida é tão insignificante?”? Quem de nós nunca se irritou e almejou profundamente uma drástica mudança em nossos cotidianos patéticos e desprovidos de fortes emoções? Pois é, no fim das contas, somos todos como Wesley Gibson, só não temos coragem de admitir. A grande maioria da população mundial é frustrada e sente-se insatisfeita consigo mesma, do contrário, a doença mais comum de nossos tempos não seria a depressão. Sendo assim, não há como não nos cativarmos com Gibson logo de cara.

E se “O Procurado” se revela um excelente filme de ação, até mesmo quando não conta com as inerentes cenas de ação, o que dizer então da sensação que temos quando somos apresentados a estas? Todas, sem exceção, são tremendamente fantásticas e eletrizantes, desde a brilhante seqüência inicial (já comentada no primeiro parágrafo desta crítica) até o eletrizante e otimamente coreografado tiroteio ocorrido no final do longa, passando por uma das mais impactantes e memoráveis seqüências de ação que já tive o maravilhoso prazer de testemunhar nas telonas desde o embate entre o Pérola Negra e o Holandês Voador no razoável “Piratas do Caribe – No Fim do Mundo”. Refiro-me, é claro, ao tiroteio travado em um trem em movimento, ocorrido no desfecho do segundo ato do filme.

Não bastassem as seqüências de ação, por si só, já serem maravilhosas, a direção frenética, desenfreada e competente de Timur Bekmambetov as torna ainda mais inesquecíveis. Criando ângulos perfeitos e realizando um eletrizante jogo de movimentação com as câmeras, o talentoso cineasta russo ainda se aproveita dos excelentes efeitos visuais do longa para criar planos-seqüências mirabolantes, tais como a fantástica cena em que as suas câmeras registram o trajeto invertido que a bala de um rifle segue a fim de atingir o seu alvo.

Aproveitando o ensejo, uma vez que mencionei os efeitos-visuais do longa, creio que estes merecem um parágrafo dedicado apenas a eles. Realizando um trabalho muito parecido com o que tivemos a oportunidade de presenciar no excelente “Matrix”, os responsáveis pelos efeitos digitais do longa nos brindam com seqüências inesquecíveis. Repare, por exemplo, na cena que abre o filme, quando o indivíduo se joga contra o vitrô do corredor do edifício. Fazendo o apropriado uso de uma fascinante técnica de computação gráfica, os profissionais do filme, envolvidos com esta área, nos possibilitam a oportunidade de ver todos os cacos de vidro do vitrô contornando perfeitamente o corpo e a face do sujeito que acabara de se atirar contra o mesmo. Outro ponto forte residente nos efeitos-visuais do longa é que os mesmos não são utilizados com o intento de substituir a falta de conteúdo do roteiro, como acontece com a maior parte dos filmes que investem pesado neste quesito (não sei porque me lembrei de “Transformers” agora), mas sim com o propósito de conferirem uma carga maior de verossimilhança às suas cenas de ação (mencionar a palavra “verossimilhança” ao se criticar um filme como este é algo um tanto o quanto discrepante, principalmente quando nos referimos às cenas de ação dos mesmos).

Finalizando este texto da maneira de praxe, ou seja, realizando uma compilação de todas as qualidades e defeitos do filme, citados na crítica, de modo objetivo, direto e consistente: “O Procurado” conta com um roteiro recheado das mais absurdas e implausíveis seqüências de ação já abordadas pelo Cinema nos últimos tempos e a justificativa para tais seqüências se revela ainda mais ilógica que as mesmas. Mas ainda assim o filme conta com reviravoltas convenientes e surpreendentes, uma abordagem para lá de magistral tecida em cima de seu protagonista, regada por uma excelente atuação de James McAvoy e uma direção frenética e revolucionária de Timur Bekmambetov que, junto de efeitos visuais sensacionais, tornam as fantásticas seqüências de ação do longa (que figuram facilmente entre as melhores já realizadas pelo Cinema neste início de século) eletrizantes e inesquecíveis.

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.

Nenhum comentário: