segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Crítica - Lavoura Arcaica

Decidi assistir a este filme principalmente pela recomendação de um amigo virtual meu. Contudo, o meu cotidiano não me dá o privilégio de poder assistir a vários filmes por semana, muito menos a filmes que contém com aproximadamente 170 minutos de duração, tais como este. Para resolver tal problema, esperei chegar às férias, criei coragem e honrei, ainda que extremamente tarde, a dívida que tinha com o meu amigo. Ah sim, o filme... apesar de extremamente longo, “Lavoura Arcaica” conta com um protagonista com o qual me relacionei muito, pois o mesmo, além de utilizar a natureza como forma de escapismo de seu cotidiano enfadonho, gera inúmeras discussões com a família e vive em constante crise existencial (só quero frisar que nunca me apaixonei por nenhuma parente minha, como ocorre neste longa).





Título Original: Lavoura Arcaica
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 163 minutos
Ano de Lançamento (Brasil):
2001
Site Oficial: http://www.lavouraarcaica.com.br/
Estúdio: VideoFilmes
Distribuição: Riofilme
Direção: Luiz Fernando Carvalho
Roteiro: Luiz Fernando Carvalho, baseado em livro homônimo escrito por Raduan Nassar.
Produção: Luiz Fernando Carvalho
Música: Marco Antônio Guimarães
Fotografia: Walter Carvalho
Desenho de Produção:
Direção de Arte: Yurika Yamasaki
Figurino: Beth Filipecki
Edição: Luiz Fernando Carvalho
Elenco: Selton Mello (André), Leonardo Medeiros (Pedro), Simone Spoladore (Ana), Raul Cortez (Pai), Juliana Carneiro da Cunha (Mãe), Pablo César Câncio (André Criança), Mônica Nassif, Christiana Kalache, Caio Blat (Lula), Renata Rizek, Leda Samara Antunes e muitos outros.


Sinopse: André (Selton Mello) é um filho desgarrado, que saiu de casa devido à severa lei paterna e o sufocamento da ternura materna. Pedro, seu irmão mais velho, recebe de sua mãe a missão de trazê-lo de volta ao lar. Cedendo aos apelos da mãe e de Pedro, André resolve voltar para a casa dos seus pais, mas irá quebrar definitivamente os alicerces da família ao se apaixonar por sua bela irmã Ana.


Não há trailers disponíveis


Crítica:


Assim como ocorre no perfeito “Persona” de “Ingmar Bergman” para se compreender o que este sensacional “Lavoura Arcaica” almeja transmitir ao espectador é necessário que o mesmo entenda o porquê de seu título ser este. Lavoura vem a ser uma metáfora ao contato do ser humano com a natureza (aqui, no caso, o desejo sexual principalmente) e Arcaica representa o conservadorismo e o estoicismo em sua forma rígida, embora inocente. Unindo as duas metáforas temos então um estudo sobre ambas as polaridades e o filme utiliza como pano de fundo para isso a entidade familiar. Aqui, temos como protagonistas do longa os membros de uma típica família, cujo pai conservador e a mãe deveras protetora são a razão para que o filho, antes taciturno agora rebelde, abandone o lar, em busca de uma vida que sacie de vez o sentimento mais libertino que um sujeito pode sentir: o incontrolável desejo sexual. O interessante é que, por trás de tantos fortíssimos contrastes, encontramos a direção extremamente sensível e leve de “Luiz Fernando Carvalho”. A propósito, tal sensibilidade e leveza na direção me fez lembrar muito do trabalho de “Stanley Kubrick” no excelente “Barry Lyndon” e aqueles que me conhecem como cinéfilo a um certo tempo sabem muito bem que não há maior elogio que eu possa fazer a uma obra cinematográfica do que compará-la a dois dos melhores trabalhos dentre meus cineastas prediletos: “Bergman” e “Kubrick”. Aliás, já que mencionei “Barry Lyndon”, lembro-me muito bem que ao criticar aquela obra havia mencionado o quão difícil era ter de decidir se a mesma era Poesia em forma de Cinema ou Pintura em forma de Cinema, mas que no final das contas acabei ficando com a segunda opção. Neste longa brasileiro magistralmente protagonizado por “Selton Mello” devo optar pela primeira alternativa, pois o filme em questão é uma verdadeira poesia transportada à Sétima Arte. O longa só não é perfeito pois acaba se estendendo bem mais do que deveria, tornando-se desnecessariamente cansativo (sei que isto é um modo supérfluo de se apontar falhas em um filme, mas foi exatamente o que senti).


Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.


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11 comentários:

R. disse...

É por essas e por outras que eu odeio quem diz que o cinema brasileiro nunca conseguiria fazer um tipo determinado de filme. O que falta é criar a cultura de que Cultura não é dinheiro perdido.

Depois de LavourArcaica, A máquina e Cidade de Deus, simplesmente não há o que dizer.

Daniel Esteves de Barros disse...

Concordo, atualmente me atrevo a dizer que o Cinema brasileiro é o que produz mais obras-primas relacionadas ao número de filmes que realiza.

Lavoura Arcaica, por exemplo, é superior a 90% dos filmes produzidos nos Estados Unidos, França, Itália, Reino Unido e em qualquer local do globo terrestre.

R. disse...

Cara, eu só não digo que é superior por causa de alguns fatores que me incomodam, tais como: pra cada LavourArcaica que sai por aqui, a Globo banca mais uns 5 provienientes de seus programas. E quase sempre são filmes de televisão, que ficam só no close. E também porque não vejo todos os filmes dos EUA, França, Itália, Reino Unido e afins.

Mas eu acho que o cinema nacional vêm fazendo coisas boas sim. A única falta grande que eu sinto são filmes de fantasia/fábula e ficção científica, embora alguns digam que pra fazer esses tipos de filme atualmente são necessários milhões que os diretores não conseguem (eu acho que sempre há um jeito de se fazer as coisas sem esses muitos milhões...)

Jovita disse...

Enfim Daniel, já te contei do meu fatídico azar com Lavoura Arcaica...
Mas dentre o que pude conferir, o longa me evoca imagens muito orgânicas, e acho que este "orgânico" ou até mesmo "visceral" são bons adjetivos para o filme. E preserva bastante da linguagem literária de origem, o que é sempre bom.
Gostei do visual novo, mais arrumadinho, organizado. Fica mais agradável ao passeio dos olhos. Mas te faltava tempo, né?
E obrigada pela consideração ao "Aparente (Des)Ordem!

Daniel Esteves de Barros disse...

Também acredito que seja impossível para o nosso Cinema realizar filmes destes gêneros Rômulo.
De qualquer forma, estamos nos saindo muitíssimo bem com os filmes de drama convencionais.
E se por um lado a cada "Lavoura Arcaica", que sai a Globo banca 5 inspirados em seus programas, por outro lado a cada "Filhos da Esperança" que sai, Hollywood banca 20 "O Pequenino".

Daniel Esteves de Barros disse...

Também acredito que adjetivos como "orgânico" ou "visceral" se encaixam no contexto do filme, mas creio que, as palavras Lavoura e Arcaica representam respectivamente um retorno à natureza humana e um conservadorismo religioso hipócrita que não permite isto.
Enfim, assim como "2001", este é um filme introspectivo. Cada um que o assiste chega a uma conclusão diferente.
Quanto ao visual do blog, não mudei muita coisa não. Apenas tornei-o mais humano, coloquei mais informações que o ligassem à minha pessoa. Mas pretendo continuar atualizando-o sempre que possível.
Quanto ao "Aparente (Des)Ordem" cumpri uma obrigação moral para com o mesmo, já que você havia relacionado o meu blog ao seu bem antes de mim.

Anônimo disse...

O bom de Lavoura é isso, a cada visita, uma nova interpretação. E diria mais, o duelo entre Selton Mello e Raul Cortêz é uma das cenas mais fantásticas já vistas em celulóide.
Lavoura Arcaica é um filme que exige muito do espectador, intelectualmente e espiritualmente, diria.
A melhor obra da retomada do cinema nacional.
E o mais interessante é que Luiz Fernando Carvalho é um diretor oriundo da televisão, o que anula todos os preconceitos de que um diretor desta mídia não consegue se dar bem dirigindo uma obra cinematográfica.

Daniel Esteves de Barros disse...

A direção suave de "Luiz Fernando Carvalho" é uma das mais fortes qualidades do longa, tal como o duelo entre "Selton Mello" e "Raul Cortêz" na parte final do longa.
Realmente o filme exige muito intelectualmente e espiritualmente do espectador, é preciso que este, antes de conferí-lo, esteja preparado para o mesmo.
Quanto à maior obra desde a retomada do Cinema Nacional, deixo este título ao próprio "Cidade de Deus", mas também faço menções para lá de honrosas à "Tropa de Elite", "Lavoura Arcaica", "Central do Brasil" e "O Auto da Compadecida"

Anônimo disse...

Analisando as partes técnica e artística, colocaria Lavoura como a melhor obra, mas não a mais importante. A meu ver Central do Brasil merece esse título, por ter sido o filme que abriu as portas do cinema brasileiro para o mundo, seguido quatro anos depois por CDD.

Daniel Esteves de Barros disse...

Concordo em relação a "Central do Brasil", realmente é o mais importante filme brasileiro desde a retomada, mas para mim o melhor continua sendo "Cidade de Deus", seguido por “Tropa de Elite”.
"Lavoura Arcaica" é perfeito tecnicamente e artisticamente, mas falha por ser longo demais, tornando-se cansativo, e olhe que eu raramente aponto a longa duração de um filme como sendo necessariamente um defeito do mesmo.

Anônimo disse...

"Central do Brasil" não é apenas o melhor filme brasileiro depois da retomada,mas também é o melhor de todos que já vi,seguindo por "O Pagador de Promessas";"Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "Tropa de Elite"