sábado, 24 de janeiro de 2009

Oscar 2009 - Indignações - Parte 1

Sei que vivo reclamando da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (a propósito, como um bom niilista, misantropo e depressivo, é normal que eu reclame de tudo, do contrário não seria niilista, misantropo e depressivo, muito menos Crítico de Cinema), mas desta vez minhas queixas são mais do que válidas. Quando será que aquele bando de velhotes rabugentos (ainda mais rabugentos do que este velho jovem de vinte e cinco anos de idade que vos escreve) irá perder o preconceito? Aliás, que preconceito viria a ser este? Francamente, não vejo lógica alguma no preconceito destes imbecis. Ops... perdão... minha ira é tamanha que nem informei aos leitores a qual espécie de preconceito estou me referindo. Está bem então, descrevê-lo-ei no parágrafo abaixo.

Estava me referindo à insuperável descriminação que a Academia tem em premiar filmes de fantasia, tais como “O Cavaleiro das Trevas” e “Wall-E”. Sei que nenhum dos dois são, necessariamente, filmes fantásticos (no sentido literal da palavra), mas os gêneros animações e histórias em quadrinho, de uma forma ou de outra, estão interligados à categoria cinematográfica que consagrou obras-primas como “O Mágico de Oz” e “O Senhor dos Anéis”. Agora, sejamos francos, o que é mais ‘sério’ (uso esta palavra pois a Academia sempre finge utilizá-la ao selecionar os candidatos ao Oscar): um filme de fantasia ou um filme fantasioso? Um filme de fantasia, como o próprio nome diz, encontra-se diretamente ligado a um mundo fantástico, ou seja, a um mundo que não tem pretensões algumas em estabelecer quaisquer elos diretos com a realidade, ou quando tem, o faz através de metáforas. Um filme fantasioso, por sua vez, se atreve a utilizar o nosso mundo e forçar-nos a escorregar goela abaixo uma salada nada digestiva acrescentando aspectos implausíveis de serem absorvidos em um contexto real em um mundo exacerbadamente plausível de se absorver em um contexto real.

Por este motivo, talvez, eu não seja lá um grande fã de filmes de horror, pois os mesmos fogem veementemente da razão. No entanto, na condição de Crítico de Cinema devo eliminar certos preconceitos e analisar tais filmes objetivamente. Agora, uma coisa é você analisar um filme profissionalmente e deixar o lado pessoal de lado, outra coisa é você superestimar uma obra que foge visivelmente dos limites do verossímil e atribuir um prêmio à mesma. Uma coisa é você adorar um filme que se assume como fantástico e reconhecer que o mesmo merece um prêmio do naipe do Oscar (o bem da verdade é que não sei se esta estatueta ridícula representa lá grande coisa para o Cinema, mas enfim...), que é o caso de “O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei”, outra coisa é você fazer o mesmo com um filme que nem sempre se assume como fantástico, mas carrega em seu roteiro aspectos para lá de fantasiosos (como é o caso de “O Curioso Caso de Benjamin Button”).

Tendo em vista tudo isso, só podemos concluir que o preconceito dos imbecis que representam a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (não me admira saber que boa parte dos membros que a compõe são judeus e conservadores) não tem fundamento algum e é contraditório. Se recusam a premiarem um filme de histórias em quadrinhos e uma animação por julgarem que tais obras não são suficientemente ‘sérias’, mas atribuem 13 (pois é, 13!!!) indicações a um filme cuja origem de toda a fantasia embutida em seu frágil roteiro nem ao menos é explicada.

É, indubitavelmente, uma pena tomarmos ciência de que tais preconceitos são provenientes de uma entidade que deu a entender ter se redimido completamente no ano passado, quando atribuiu o prêmio principal a um filme ‘moderninho’ demais para os seus padrões pré-estabelecidos. Refiro-me ao excelente “Onde os Fracos Não Têm Vez”. Lembro-me de que na ocasião comentei que, se por um lado a vitória de tal obra sobre “Sangue Negro” não era justa, por outro lado representava um paradigma quebrado pelos votantes conservadores que, inesperadamente, atribuíram o troféu principal daquela noite a um longa que fugia completamente dos conceitos mais básicos da premiação. Infelizmente tais preconceitos voltaram a vigorar agora, de maneira bem mais ampla, ao vermos “O Curioso Caso de Benjamin Button” ser superestimado. Um filme que conseguiu a façanha de ser ainda mais ‘redondinho’ que “Forrest Gump - O Contador de Histórias” conseguiu também enganar a maior parte dos votantes. Lástima, pro inferno com essa Academia preconceituosa de merda (virou moda por aqui, não é? Mas o baixo calão que estou adotando ao Cine-Phylum só espelha o baixo calão adotado pela indústria cinematográfica contemporânea).

Mas há algo que me conforta nessa estória toda. Apesar de estar passando por uma das experiências mais trágicas de minha vida como cinéfilo, é incrivelmente confortante notarmos como Críticos de Cinema do mundo todo estão criticando a Academia. A propósito, há muito tempo, desde que aquela merda (de novo!) chamada “Titanic” abocanhou mais de uma dúzia de indicações, que não via um amontoado tão grande de Críticos descerem a lenha tão violentamente na Academia. Me conforta ainda mais saber que, na premiação da OFCS (Online Films Critics Society, ou seja, Sociedade de Críticos de Filmes (ao “pé da letra, pois a concepção” “Cinema” viria mais a calhar que “Filmes”) da Internet) o vencedor foi o excelente “Wall-E” que, sejamos francos, é muito mais digno de tal prêmio que o superestimado longa de Eric Roth.

Enfim, encerro esta primeira parte sobre minhas indignações para com o Oscar 2009 aqui, creio que no próximo final de semana eu deva comentar mais alguma coisa.

Obs. 1: Em virtude dos ataques que realizei a “O Curioso Caso de Benjamin Button” enquanto escrevia este texto, decidi tomar uma atitude que nunca havia tomado antes, alterar a nota que havia dado para o filme em questão. Comecei a notar que até mesmo eu estava o superestimando e mudei a avaliação final do filme de 7,5 para 6,5; de 4 estrelas para 3 estrelas.

Obs. 2: Na próxima parte sobre as minhas indignações para com a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, atacarei mais abertamente a superestimação em cima do filme de Roth e Fincher, uma vez que nesta primeira parte dediquei-me mais a criticar os preconceitos da entidade responsável pela premiação.

Abraço (sem rancor no coração) a todos!!!

Daniel Esteves de Barros - Editor do Cine-Phylum.

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