terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O Dia em que a Terra Parou (2008) - ° de *****

Sei muito bem que é um gigantesco clichê, no meio da crítica cinematográfica, falar mal de sequências e refilmagens, mas sejamos francos, analisando a qualidade das mesmas, há um modo de se aceitar tais filmes tranquilamente? Particularmente, detesto a maior parte das sequências e refilmagens feitas atualmente, mas devo dizer que sempre mantenho uma postura bem imparcial quando vou ao cinema conferir as mesmas. Foi o caso de “Os Infiltrados”, por exemplo. Já havia assistido a “Conflitos Internos” antes e, ao contrário da grande maioria da crítica nacional e internacional, não gostara muito do que tinha acabado de conferir. O filme que deu o Oscar® a Martin Scorsese, no entanto, me surpreendeu e, mesmo sendo uma sequência, se revelou uma experiência bem mais interessante que o policial Hongkonguiano. Logo, tendo em vista tal imparcialidade, juro que fui conferir este “O Dia em que a Terra Parou” sem quaisquer expectativas, sejam elas boas ou ruins. Acreditam se lhes disser que, mesmo assim, não pude deixar de considerar o filme um verdadeiro lixo e que não houve como deixar de realizar comparações deste com o longa original? Realmente, Uma bomba desnecessária e ridícula, diferentemente do filme original que é um verdadeiro primor.


Ficha Técnica:
Título Original: The Day the Earth Stood Still.
Gênero: Ficção Científica.
Ano de Lançamento: 2008.
Site Oficial: http://www.odiaemqueaterraparou.com.br/
Nacionalidade: Estados Unidos.
Tempo de Duração: 103 minutos.
Diretor: Scott Derrickson.
Roteirista: David Scarpa, baseado em roteiro de Harry Bates e Edmund H. North.
Elenco: Keanu Reeves (Klaatu), Jennifer Connelly (Helen Benson), Kathy Bates (Regina Jackson), Jaden Smith (Jacob Benson), John Cleese (Prof. Barnhardt), Jon Hamm (Michael Granier), Kyle Chandler (John Driscoll), Robert Knepper (Coronel), James Hong (Sr. Wu), John Rothman (Dr. Myron), Sunita Prasad (Rouhani), Juan Riedinger (William Kwan), Sam Gilroy (Tom), Tanya Champoux (Isabel), Mousa Kraish (Yusef), J.C. MacKenzie (Grossman), Daniel Bacon (Winslow) e Hiro Kanagawa (Dr. Ikegawa).

Sinopse: Refilmagem da clássica e consagrada ficção-científica produzida originalmente em 1951. O filme conta a estória de Klaatu (Keanu Reeves), um alienígena que vem ao planeta Terra com a intenção de se reunir com membros de outros planetas que optam por iniciar um processo de obliteração da raça humana, que vem, cada vez mais, destruindo o Planeta Azul. A cientista Helen Benson (Jennifer Connelly), a fim de preservar a espécie, se encontra com Klaatu e tenta convencer este de que o ser humano ainda pode ter salvação.

The Day the Earth Stood Still – Trailer:

Crítica:

Em 1951, Harry Bates e Edmund H. North roteirizaram um filme que fora dirigido por Robert Wise e utilizava uma inesperada invasão alienígena como pano de fundo para debater questões bélicas, pacifístas e ambientais. Em 2008, David Scarpa roteirizou um filme que fora dirigido por Scott Derrickson (que se atreve a dizer que é fã da clássica obra mesmo após cometer um terrível atentado contra esta) e utilizava a mesma inesperada invasão alienígena como pano de fundo para debater... ops, esqueça a palavra “debater” e voltemos à metade da frase... utilizava a mesma inesperada invasão alienígena como pano de fundo para criar um ou outro efeito visual que realmente conseguisse chamar a atenção do público.

Pois é, conforme havia mencionado em meu texto sobre o clássico e original (e excelente, diga-se) “O Dia em que a Terra Parou”, imaginava que os efeitos visuais desta mais nova versão para o Cinema fossem infinitamente mais bem feitos do que os da versão anterior (aliás, é mais do que óbvio que estes seriam melhores, não?), mas não mais revolucionários (afinal de contas, os mesmos foram um marco na década de 1950). Logo, não há como não nos impressionarmos com efeitos em CGI como o gigantesco robô Gort (que, desta vez, não apresenta as mesmas falhas toscas que na versão anterior onde, ao mover os braços e as pernas, podíamos ver claramente que tratava-se de uma pessoa qualquer trajando uma fantasia, pois na medida em que suas articulações dobravam, a roupa também dobrava) e a nuvem de insetos extraterrestres que devasta boa parte de Manhattam.

Fora os efeitos visuais e alguns outros elementos técnicos (som e edição de som), o filme não se salva em mais nenhum outro aspecto, exceto, é claro, no que diz respeito à interessante, embora extremamente irregular, atuação de Jennifer Connelly e à pequena ponta que John Cleese realiza no final do segundo ato da trama (a propósito, o quê o meu ‘Python’ predileto estaria fazendo neste lixo da sétima Arte? A única justificativa realmente aceitável é que este tenha recebido um cachê muito alto para aparecer pouco, assim como aconteceu com o meu ator predileto, Marlon Brando, no interessante “Superman”).

E falando em atuações, o que dizer da pavorosa aparição (e confesso que “pavorosa aparição” se revela um termo bastante eufemista diante da intragável presença do ator durante o filme todo) do péssimo Keanu Reeves? Mais inexpressivo do que nunca (acredite, é verdade!), Reeves confere a seu personagem uma frieza forte o bastante para que não nos cativemos com ele, ou até mesmo com os seus propósitos no filme, durante um único nano segundo de projeção sequer. É óbvio que, vindo de um extraterrestre tão frio e racional quanto Klaatu, tal inexpressividade se revela, de uma certa forma, inerente à caracterização do personagem, mas sejamos francos, até mesmo o primeiro oficial da nave espacial USS Enterprise, o saudoso Sr. Spock, interpretado por Leonard Nimoy, conseguia expressar, quando necessário, um ou outro sentimento em seu semblante sisudo e inalterável. Tome como exemplo também o mesmo Klaatu da primeira versão de “O Dia em que a Terra Parou”. O personagem de Michael Rennie era tão racional quanto o protagonista desta refilmagem, no entanto, não só os objetivos daquele, como também a composição do ator que o encarnava, tornavam o inesquecível alienígena um personagem muito mais interessante do que o de Reeves. E o que dizer então do monólogo realizado por aquele? Mesmo contando com raras alterações de expressão, Rennie se mostrava capaz de nos envolver profundamente com tal cena, diferentemente de Reeves que, em momento algum, consegue nos chamar a atenção.

Não bastasse a falta de talento de quase todo o elenco, “O Dia em que a Terra Parou” ainda falha gravemente na maneira como o roteiro compõe os seus personagens. A própria personagem de Connelly é simplesmente patética. Executando a frustrada tentativa de desenvolvê-la através de uma crise familiar com o seu afiliado (Helen ama o garoto, mas não vê recíproca), o roteiro cai no mesmíssimo grave clichê que “Guerra dos Mundos” caiu há quase cinco anos atrás, com a diferença de que os personagens envolvidos naquela trama, apesar de extremamente falhos, se revelavam ligeiramente mais interessantes que os inseridos neste longa. O Professor Barnhardt, por sua vez, nem ao menos diz a que veio. Diferentemente do personagem da versão clássica, este aqui aparece em cena apenas para que os fãs do filme de 1951 possam se identificar com o mesmo (se identificar? Tentar estabelecer coligações entre a obra-prima de Wise e este lixo cinematográfico da pior espécie se revela um desperdício de tempo total) e, francamente, o diálogo que o mesmo estabelece com Klaatu (“___ É quando estamos à beira do precipício que evoluímos!”. Simplesmente ridículo), em momento algum, se revela forte o bastante a ponto de fazer com que o protagonista mude de opinião em relação à raça humana. Aliás, o que dizer da artificial mudança de caráter de Klaatu? Sem dúvida alguma a mudança de caráter mais artificial já vista nos cinemas neste início de século (a não ser, é claro, que você pense que um sujeito que pretende destruir a raça humana mude veementemente de opinião apenas por ouvir um: “___ É quando estamos à beira do precipício que evoluímos!” e por presenciar duas pessoas se abraçando). Por fim, o que dizer da Secretária de Defesa Regina Jackson (desastrosamente encarnada por Kathy Bates)? Diferentemente do Secretário do filme original que debate humildemente com Klaatu sobre a imbecilidade e a imaturidade presente nos conflitos entre os membros de nossa raça, Regina nada mais é que uma personagem estereotipada, arrogante, aborrecedora e extremamente desnecessária à trama.

A química estabelecida entre os personagens é praticamente nula. Se um dos pontos mais fortes do filme roteirizado por Bates e North residia na cativante e agradabilíssima relação entre Klaatu e o garoto Bobby, neste atentado à sétima Arte produzido no ano de 2008 não temos uma única dinâmica que chegue aos pés daquela. Na versão original, a química estabelecida entre Klaatu e Bobby conseguia conferir à trama, além do típico charme presente nos filmes da década de 1950, uma série de discussões e ensinamentos sobre o modo correto de se evoluir uma espécie. Aqui, a relação entre o alienígena e o garoto Jacob (e os demais personagens, diga-se) é estabelecida na base da frieza e em momento algum nos cativa. Muitíssimo pelo contrário, a única coisa que ambos os personagens conseguem é nos irritar profundamente criando diálogos chatos e aborrecedores. Entretanto, o longa também erra quando tenta estabelecer uma química entre personagens de maneira menos fria, fazendo com que o roteiro descambe para o ridículo, para o piegas, para o lugar-comum.

Lamentável, afinal de contas, a única coisa que esta readaptação consegue é deixar no ar a seguinte indagação: “Se Scott Derrickson é tão fã da versão original de “O Dia em que a Terra Parou” quanto ele mesmo diz que é, por quê cargas d’água o fracassado... ops, digo... o cineasta (gargalhadas) pegou o filme de 1951, despejou um caminhão de esterco sobre o mesmo, bateu no liquidificador por 103 minutos e criou este grande pedaço de (e, adiantadamente, peço mil desculpas pela palavra de baixo calão que irei utilizar agora, mas diante de um erro cinematográfico tão grande quanto este, não me vejo possibilitado de agir de outra maneira) merda que, a partir do momento em que chegou nos cinemas do mundo todo, passou a boiar perdidamente no oceano mainstream hollywoodiano?”. Encerro esta crítica afirmando que, ao contrário da versão original (mais uma vez o comparei com o filme de 1951, não é? Mas fazer o quê, não há como escapar disso) que primava por abordar a relação terráqueo/extraterrestre de um modo não ofensivo, este remake é apenas mais um filme, dentre outros milhões do gênero, que se propõe a abordar uma possível relação interplanetária da forma mais imbecil e agressiva o possível. E, francamente, filme de merda (já pensou se a moda pega e eu começo a proferir um palavrão toda vez que estiver de extremo mau-humor após ter conferido uma obra tão ridícula quanto esta em questão?) imbecil e agressivo por filme de merda imbecil e agressivo, eu fico com “Independence Day” que, apesar de contar com uma trama ainda mais idiota, é bem mais divertido que esta refilmagem ridícula (ah sim, e apesar de todas as falhas, o longa ainda se dá ao luxo de ser enfadonho e contar com poucas sequências de ação). Uma pena que tenhamos começado o ano de 2009 com um filme que, certamente, figurará na lista de “Piores do Ano” da grande maioria dos críticos de Cinema do mundo todo.

Avaliação Final: 1,7 na escala de 10,0.

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