segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Crítica - Sangue Negro

Publiquei um artigo aqui no Cine-Phylum durante o mês de janeiro onde arriscava meus palpites para os prováveis vencedores do Oscar® 2008. Lembro-me que, neste artigo, havia apostado em “Onde os Fracos Não Têm Vez” como provável vencedor do prêmio de Melhor Filme. Passaram-se alguns dias e, finalmente, pude assistir a todos os filmes que estão concorrendo na categoria principal do Oscar® este ano e cheguei à conclusão de que o longa dos Irmãos Cohen é inovador demais para faturar o prêmio (e sabemos muito bem o quanto a Academia não gosta de filmes inovadores, apesar de reconhecer a ousadia destes conferindo-lhes indicações aos prêmios principais). Foi quando conferi este magnífico “Sangue Negro” que concluí que o vencedor do prêmio principal não seria o longa dos Cohen, mas sim esta obra extraordinária de Paul Thomas Anderson. Em primeiro lugar, o longa inova, isso é fato, mas inova dentro dos padrões da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Em segundo lugar, o filme debate um tema muito adorado por cinéfilos do mundo todo: a ambição humano. Em terceiro e último lugar, o filme se mostra uma experiência muito mais interessante que a obra dos Cohen.





Crítica:



Provavelmente, os maiores trunfos da história do Cinema estão, direta ou indiretamente, ligados a um roteiro que trabalhe em cima de um personagem, seja ele protagonista ou não, cuja ganância elevada ao extremo desencadeie um processo de autodestruição na vida do mesmo. Filmes como “Cidadão Kane”, “O Poderoso Chefão”, “...E o Vento Levou”, “O Tesouro de Sierra Madre”, “Os Bons Companheiros” e até mesmo, o mais recente e não menos importante “O Senhor dos Anéis”, são algumas das muitas provas disso. “Sangue Negro” é outro magnífico exemplar da Sétima Arte onde a ganância dos seres humanos e os resultados negativos que esta traz às suas vidas são retratados de maneira tão magistral quanto filmes como “O Poderoso Chefão” e “Cidadão Kane”. No entanto, a comparação que faço entre “Sangue Negro” e as obras supracitadas não se resume apenas às abordagens que elas realizam sobre a ganância humana e as suas conseqüências, mas também no que se refere à exploração de seus protagonistas. Fazendo uso de um roteiro que desenvolve o perfil de Daniel Plainview (personagem principal do longa) de maneira tão meticulosa quanto os roteiros de “O Poderoso Chefão” e “Cidadão Kane” fizeram com seus respectivos protagonistas, o roteirista e diretor Paul Thomas Anderson se mostra extremamente competente e sagaz a ponto de realizar uma abordagem maquiavélica durante a construção de seu personagem. Plainview é um homem de negócios que, além de crer que os fins justificam os meios, utiliza a mesma perspicácia utilizada por Maquiavel em sua obra-prima, “O Príncipe”, a fim de lidar com os seus funcionários (ou na visão de Maquiavel, o povo). Com uma mão, Plainview “acaricia” seus subordinados e com a outra mão, “agarra” os lucros que obtém com os sacrifícios destes, considerando-os como meras ferramentas de se fazer dinheiro. O longa ganha ainda mais ritmo em seu terceiro ato, quando a autodestruição do protagonista parece ter atingido o seu ápice. A atuação de Daniel Day-Lewis é outro ponto forte e ultrapassa os limites da perfeição. Um dos melhores filmes da década.



Avaliação Final: 10,0 na escala de 10,0.


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Um comentário:

Nadadeordinário disse...

Concordo plenamente.
É Formidável, especialmente pra mim que estudo literatura e reconheço as várias formas simbólicas que o filme traz em suas opções de narrativa dos textos imagéticos e sonoros fazendo um conjunto magnifico.
XXX:)