sábado, 29 de novembro de 2008

Star Wars - Episódio VI - O Retorno do Jedi - **** de *****

Provavelmente, uma das despedidas mais tristes da história do Cinema. Não que o filme em si, ou o seu desfecho, seja melancólico, longe disso, mas a verdade é que não deve ter sido nada fácil para os fãs da saga (que em 1983 já eram muitos espalhados por todo o mundo) se acostumarem com a idéia de que jamais ouviriam novamente nos cinemas a respiração profunda, assustadora e ofegante do mais marcante vilão que a sétima Arte já nos apresentou. O que seriam dos milhões de nerds lucasmaníacos sem os golpes de sabre de luz desferidos por Luke Skywalker? Sem as batalhas espaciais magistralmente comandadas por Han Solo? Sem o charme e a independência feminina de Leia Organa? Sem os rugidos incompreensíveis de reclamação de Chewbacca? Sem a dinâmica da atrapalhada dupla de dróides R2-D2 e C3PO? Pois é, em 1983 eu nem ao menos havia nascido, ou melhor, nasci apenas no final deste ano, quando o filme já havia estreado, mas mesmo assim já posso imaginar toda a melancolia que se alastrou nos fãs do mundo todo acerca desta magnífica saga que revolucionou o modo de se fazer os chamados “filmes-pipoca”.


Ficha Técnica:
Título Original: Return of the Jedi.
Gênero: Aventura/Ficção Científica.
Tempo de Duração: 131 minutos.
Ano de Lançamento (EUA): 1983.
Site Oficial: www.starwars.com/episode-vi
Estúdio: LucasFilm Ltda.
Distribuição: 20th Century Fox Film Corporation.
Direção: Richard Marquand.
Roteiro: George Lucas e Lawrence Kasdan, baseado em estória de George Lucas.
Produção: Howard G. Kazanjian.
Música: John Williams.
Direção de Fotografia: Alan Hume.
Desenho de Produção: Norman Reynolds.
Direção de Arte: Fred Hole e James L. Schoppe.
Figurino: Aggie Guerard Rodgers e Nilo Rodis-Jamero.
Edição: Sean Barton, Duwayne Dunham e Marcia Lucas.
Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic.
Elenco: Mark Hamill (Luke Skywalker), Harrison Ford (Han Solo), Carrie Fisher (Princesa Leia Organa), Billy Dee Williams (Lando Calrissian), David Prowse (Darth Vader), James Earl Jones (Darth Vader - Voz), Ian McDiarmid (Imperador Cos Palpatine), Alec Guinness (Obi-Wan Kenobi), Anthony Daniels (C3PO), Kenny Baker (R2D2/Paploo), Peter Mayhew (Chewbacca), Sebastian Shaw (Anakin Skywalker), Frank Oz (Yoda) e Michael Pennington (Moff Jerjerrod).

Sinopse: Após ter sido raptado pelo caçador de recompensas Borba Fett, Han Solo (Harrison Ford) é levado como refém até o gangster Jabba, o Hutt. Luke Skywalker (Mark Hamill) e seus amigos partem em uma missão com o objetivo de resgatar o importante general. Enquanto isso, o Imperador Cos Palpatine (Ian McDiarmid) e Lorde Darth Vader (atuação: David Prowse, voz: James Earl Jones) lideram o projeto de construção de uma nova “Estrela da Morte” (estação espacial super poderosa que havia sido destruída pelos soldados da Aliança Rebelde em “Uma Nova Esperança”) ainda mais poderosa que a anterior. Em uma desesperada e arriscada tentativa de defesa, os líderes da Aliança Rebelde nomeiam Lando Calrissian (Billy Dee Williams) para comandar um ataque à nova estação espacial imperial e Luke Skywalker se prepara para o grande desafio de sua vida: enfrentar e derrotar Darth Vader e Cos Palpatine, tornar-se um verdadeiro cavaleiro Jedi e encerrar com esta guerra de uma vez por todas, trazendo paz e liberdade ao universo.

Return of the Jedi – Trailer:



Crítica:

“O Retorno de Jedi” se inicia com a tentativa frustrada, organizada por Luke, Leia, Lando, Chewbaca, R2-D2 e C3PO, de salvar Han Solo das garras de Jabba, o Hutt. Durante este resgate mal-sucedido, o filme brinda o espectador com figurinos, maquiagem e efeitos visuais simplesmente vislumbrantes. Nunca, em toda a trilogia, os realizadores se mostraram capazes de aproveitar todas as qualidades técnicas da obra a fim de criar uma diversificação tão ampla de criaturas quanto às que nos são apresentadas no início deste último episódio, no reduto de Jabba e os responsáveis pelos efeitos visuais e pela maquiagem se revelam extremamente competentes ao darem um ar ainda mais realista às bizarras criaturas.

Outro ponto forte inserido em tal seqüência inicial reside na criatividade que o roteiro e a direção tiveram ao construí-la. Preste atenção, por exemplo, na riqueza de detalhes utilizada para compor as coreografias e os números de dança realizados na residência de Jabba. Observe também os acordes musicais tocados, remetendo-nos à lembrança de um gênero no melhor estilo free jazz. Tudo aparenta ter sido minuciosamente bem pensado, escrito e executado. O resultado não poderia ter sido melhor.

A entrada de Luke Skywalker em cena também colabora muito para que esta ganhe muito ritmo, uma vez que os poderes de Jedi do jovem protagonista ampliaram-se consideravelmente e a evolução técnica da obra, principalmente no que diz respeito aos efeitos visuais desta, faz com que as seqüências de luta com sabre de luz se tornem muito mais reais e empolgantes e contem com movimentos muito mais ousados que os dos episódios anteriores.

Mas se por um lado tal seqüência revela-se extremamente interessante, analisando-a apenas como entretenimento, por outro lado a mesma revela-se fraca e parcialmente desnecessária do ponto de vista narrativo. Justifico tal afirmativa tomando por base que, apesar de nos mostrar o resgate do general Han Solo (que primeiramente se revela frustrado, mas com a entrada de Luke em cena toma um outro rumo), os minutos iniciais do filme fogem completamente da proposta principal da trilogia que é narrar a guerra estelar entre o Império Intergaláctico e a Aliança Rebelde.

Evidentemente, é uma excelente pedida presenciarmos em um blockbuster (ainda mais um com as proporções de um “Star Wars”) cenas de ação fantásticas regadas com impecáveis efeitos visuais, além, é claro, de contar com uma atriz formosíssima (bem, ao menos, na época, ela era muito formosa, gostosérrima (me desculpem pela vulgaridade, garotas, mas estou sendo sincero), para falar a verdade), do naipe de uma Carrie Fisher, trajando vestimentas apertadíssimas e minúsculas, mas sejamos francos, para que uma seqüência destas dure longos vinte minutos, é necessário, ao menos, que esta tenha um propósito muito maior dentro da trama do que simplesmente mostrar o resgate de um dos protagonistas da mesma, algo que poderia ter sido realizado em cerca de cinco minutos.

Outro defeito presente em tal seqüência é o modo desonroso como Bobba Fett, que havia se revelado um importante e interessante personagem até então, sai de cena: o mesmo é derrotado por Han Solo através de um golpe de sorte e o que já era ridículo consegue piorar ainda mais devido ao fato de o longa utilizar tal cena como alívio cômico. Aliás, a maneira como este “O Retorno de Jedi” se “desfaz” de muitos de seus personagens é um dos maiores defeitos do mesmo. Note, por exemplo, a seqüência que ilustra a morte de um certo personagem, cuja identidade manterei em segredo, que havia cativado imensamente o público. Ele simplesmente diz: “___ Estou velho, preciso descansar.”, e pronto, sai de cena, sem mais nem menos, da maneira menos sutil o possível.

O roteiro, escrito por George Lucas e Lawrence Kasdan, optou, desta vez, por explorar menos os seus protagonistas, inclusive o próprio Darth Vader, e devo reconhecer que esta fora uma sábia decisão, uma vez que o desenvolvimento dos personagens principais já havia sido realizado com maestria nos longas anteriores. Sendo assim, não há nada mais conveniente então, do que o roteiro tomar a inteligente decisão de focar-se, principalmente, em amarrar as pontas deixadas em aberto pelos dois episódios anteriores, deixando os seus protagonistas em segundo plano (salvo o Imperador Cos Palpatine que, pela primeira vez na trilogia, é abordado de uma maneira demasiadamente ampla e torna-se um dos personagens principais deste episódio final), e é justamente isto o que ocorre aqui.

Mas o roteiro conta com diversas falhas e estas, infelizmente, não se resumem aos minutos iniciais do longa, conforme já consta citado neste texto. A artificial revelação sobre o grau de parentesco entre Luke e Leia é o exemplo mais claro disso. Francamente, poucas revelações soaram tão artificiais, desnecessárias e formulaicas na história do Cinema quanto à cena em que Luke revela a Leia que possui um forte grau de parentesco com esta.

A direção de Richard Marquand, que em sua totalidade se revela muito boa, também comete alguns deslizes imperdoáveis e torna os defeitos que já vinham do roteiro ainda mais alarmantes. Vide os alívios cômicos. Em sua grande maioria, são todos infantis, desnecessários, tolos. Ao menos desta vez o casal Leia e Han se mostra mais maduro e Marquand dirige o romance entre ambos de maneira convincente e nada irritante. Sem dúvida alguma foi a melhor química entre ambos durante toda a saga.

As seqüências de aventura foram extremamente bem distribuídas pelo roteiro e estas colaboram, e muito, para que o filme jamais se torne cansativo e/ou visivelmente longo (salvo a seqüência inicial, conforme já fora comentado). Contudo, o roteiro se esquece de algo importantíssimo ao criar tais cenas: deve-se sempre dar prioridade ao qualitativo e relegar o quantitativo ao segundo plano. “O Retorno de Jedi” é o episódio da saga que conta com mais cenas de ação, contudo, nenhuma destas chega aos pés da perseguição espacial entre Han Solo e as naves imperiais dentro de uma tempestade de asteróides no episódio anterior, ou, principalmente, do ataque que a Aliança Rebelde realiza à estação espacial “Estrela da Morte” no episódio original. Parte desse defeito deve-se ao diretor Richard Marquand que, apesar de criar ângulos satisfatórios enquanto dirige tais cenas, não se mostra capaz de dar a estas a mesma sensação de urgência e perigo imediato que os diretores George Lucas e Irvin Kershner conseguiram fazer com maestria nos, respectivamente, quarto e quinto episódios.

Mesmo com todos os defeitos já relatados neste texto, não há como negar que “O Retorno de Jedi” é um ótimo filme e conta com muito mais qualidades do que defeitos. A maior qualidade do longa, muito provavelmente, fica por conta da maneira como este consegue amarrar algumas pontas deixadas pelos episódios anteriores de maneira natural. Certamente, a morte de muitos personagens (dois em especial) aqui soa extremamente artificial e parece ser mais uma jogada do roteiro, como se este tivesse a obrigação de dar fim a tais personagens e, seja pela falta de tempo, criatividade, ou até mesmo, força de vontade, o faz de modo nada convincente. Ainda assim, os roteiristas Lucas e Kasdan se preocupam em criar um desfecho extremamente interessante à trama e aos seus respectivos protagonistas.

A dinâmica desenvolvida entre Luke Skywalker e Darth Vader também é outro ponto extremamente forte e relevante deste episódio final, principalmente depois da revelação ocorrida em “O Império Contra-Ataca”. E se no longa anterior a luta entre ambos já se mostrava extremamente tensa e dramática, imagine só neste “O Retorno do Rei” o impacto emocional que a mesma causa, principalmente quando sabemos que ali, um dos dois irá encontrar o seu trágico fim, além, é claro, desta vez estarmos cientes do grau de parentesco entre ambos, uma vez que no longa anterior Vader faz a revelação a Luke somente após a luta ter se encerrado.

E a carga dramática entre Vader e Skywalker certamente não reside apenas no dramático combate final entre ambos (que se revela a melhor luta de sabres de luz de toda a trilogia, apesar de não chegar aos pés da maioria das seqüências de ação dos dois episódios anteriores), muito pelo contrário. O âmago de tal química encontra-se nos diálogos entre o mocinho e o vilão da estória. O primeiro, tenta convencer o outro de que ainda há bondade nele e há a possibilidade deste voltar a atuar pelo lado iluminado da Força, ao passo que o segundo, tenta desesperadamente compenetrar o jovem Jedi a seguir o lado escuro da Força e derrotar o Imperador de uma vez por todas, assumindo o controle total do império ao seu lado.

Falando no imperador Cos Palpatine, a aparição deste também aumenta, e muito, o peso dramático do filme. Nos longas anteriores víamos Palpatine apenas através de hologramas, neste episódio de encerramento, presenciamos o mesmo em carne e osso, durante muitas cenas do filme e pode apostar, apesar deste não possuir traços tão marcantes quanto os de Vader, ele se revela tão assustador quanto o seu subordinado. Outra característica marcante de Palpatine reside na oratória deste. Sempre disposto a persuadir às pessoas a seguirem os seus ideais ao invés de simplesmente descarregar seus poderes nestas, o imperador apela a Luke para que este se junte a ele utilizando sempre diálogos extremamente convincente, como por exemplo a cena em que mostra ao rapaz as terríveis baixas que a Aliança Rebelde está sofrendo no confronto direto com o Império e que a única possibilidade de salvá-los é justamente unindo-se ao lado escuro da Força. O imperador também desempenha um papel muito importante para o destino final de Vader e Skywalker e colabora para que o combate entre ambos tenha um resultado final tão dramático quanto teve no longa anterior.

Apesar de ficar bem aquém aos outros dois episódios da saga, “O Retorno de Jedi” conta com um roteiro que se preocupa em amarrar, de maneira fascinante (salvo em um outro caso onde se mostra extremamente artificial ao fazê-lo), as pontas que os seus antecessores deixaram em aberto e desenvolve a química entre Luke Skywalker e Darth Vader de um modo épico. O imperador Cos Palpatine, que antes só nos era apresentado via hologramas, aparece em carne e osso neste episódio final e ganha uma abordagem digna de líder de Darth Vader. Os aspectos técnicos do filme são fantásticos, a direção de arte cria cenários inesquecíveis e os efeitos visuais são os melhores de toda a trilogia, além, é claro, de possibilitarem com que as lutas de sabre de luz sejam mais realistas e empolgantes que as dos filmes anteriores. O longa, no entanto, se revela falho em muitos de seus aspectos, sobretudo pelo início desnecessariamente longo, pelos alívios cômicos pífios e, principalmente, por não contar com seqüências de aventura realmente marcantes, como os episódios anteriores conseguiram fazer. Um ótimo filme, mas não há como negar que a saga “Star Wars” merecia um desfecho bem mais digno.

Avaliação Final: 8,0 na escala de 10,0.

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