quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Star Wars - Episódio III - A Vingança dos Sith - **** de *****

Lembro-me que quando fui assistir a este terceiro episódio no cinema (desta vez sozinho, como eu gosto) meu fanatismo pela saga “Star Wars” havia sido reduzido consideravelmente (foi em 2.005, eu estava com 21 anos na ocasião), principalmente em virtude do impacto que a trilogia “O Senhor dos Anéis” havia causado em mim e também pelo fato de, na época, os meus gostos cinematográficos estarem completamente voltados aos filmes cult de Arte, sendo assim, ao invés de passar algumas horas assistindo a um blockbuster eu preferia muito mais aproveitar o tempo assistindo a um Kubrick, ou um Bergman, ou um Fellini. Felizmente venci o preconceito que possuía na época e, atualmente, apesar de preferir muito mais os chamados cult de Arte, valorizo, e muito, os blockbusters. Tendo em vista isso, vejo-me capaz agora de avaliar este longa como o mesmo realmente deve ser avaliado: como um ótimo filme comercial.


Ficha Técnica:
Título Original: Star Wars: Episode 3 - Revenge of the Sith
Gênero: Aventura / Ficção Científica
Tempo de Duração: 146 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2005
Estúdio: Lucasfilm Ltd.
Distribuição: 20th Century Fox Film Corp.
Direção: George Lucas
Roteiro: George Lucas
Produção: Rick McCallum
Música: John Williams
Fotografia: David Tattersall
Desenho de Produção: Gavin Bocquet
Direção de Arte: Ian Gracie, Phil Harvey, David Lee e Peter Russell
Figurino: Trisha Biggar
Edição: Roger Barton e Ben Burtt
Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic

Elenco: Hayden Christensen (Anakin Skywalker / Darth Vader), Ewan McGregor (Obi-Wan Kenobi), Ian McDiarmid (Chanceler Supremo / Imperador Palpatine / Darth Sidious), Natalie Portman (Senadora Amidala / Padmé Naberrie-Skywalker), Samuel L. Jackson (Mace Windu), Christopher Lee (Conde Dooku / Darth Tyranus), Anthony Daniels (C-3PO), Kenny Baker (R2-D2), Peter Mayhew (Chewbacca), Frank Oz (Yoda - voz), Jimmy Smits (Senador Bail Organa), Genevieve O'Reilly (Senador Mon Mothma), Ahmed Best (Jar Jar Binks), Jay Laga'aia (Capitão Typho), Joel Edgerton (Owen Lars), Oliver Ford Davies (Governador Whitesun-Lars), Temuera Morrison (Comandante Cody / Comandante Thire / Comandante Bly), Keisha Castle-Hughes (Rainha Apailana), Rebecca Jackson Mendoza (Rainha de Alderaan), Bruce Spence (Tion Medon), Kee Chan (Senador Male-Dee), Ling Bai (Senadora Bana Breemu), Warren Owens (Senador Fang Zar), Rena Owen (Senadora Nee Alavar), Christopher Kirby (Senador Giddean Danu), Matt Sloan (Plo Koon), Rohan Nichol (Capitão Antilles), Matthew Wood (General Grievous - voz), James Earl Jones (Darth Vader - voz) e George Lucas (Barão Papanoida).

Sinopse: Após salvar o Senador Palpatine, que fora seqüestrado pelos exércitos rebeldes, Anakin Skywalker se torna ainda mais íntimo deste. Entretanto, o jovem aprendiz de Obi-Wan Kenobi não sabe que o Senador almeja tomar o poder absoluto e utilizá-lo como principal ferramenta para tal.

Star Wars: Episode 3 – Revenge of the Sith – Trailer:


Crítica:

A sensação que este “A Vingança dos Sith” deixou nos fãs da saga “Star Wars” durante o seu lançamento nos cinemas foi provavelmente a mesma sensação de angústia que “O Retorno do Rei” deixou nos fãs da saga “O Senhor dos Anéis” ou “A Última Cruzada” deixou nos fãs da trilogia “Indiana Jones” (que recentemente fora estendida com um interessante quarto episódio). Afinal de contas, os milhões de fãs que a mesma possui já não poderiam mais lotar as salas de cinema do mundo todo a fim de se reencontrar com o mundo mágico criado por George Lucas em uma aventura inédita. Mas ao menos serve de consolo o fato destes fãs saberem que a saga, a partir do momento que este terceiro episódio estreasse nos cinemas do mundo todo, estaria completa e que, agora, todas as pontas existentes entre a antiga e a atual trilogia encontravam-se, finalmente, completamente amarradas.

É uma tarefa muito árdua, no entanto, amarrar todas as pontas de ambas as trilogias de um modo realmente convincente e satisfatório. Pode-se confirmar isto neste “A Vingança dos Sith” onde, ironicamente, as maiores falhas e os maiores acertos do mesmo residem, justamente, na tentativa do roteiro criar elos entre uma trilogia e outra. Vide o maior erro do roteiro, por exemplo, que consiste em mostrar o principal motivo que teria levado Anakin Skywalker a abraçar o lado escuro da Força. Após ter uma visão, durante um sonho seu, onde sua esposa Padmé Amidala (que agora encontra-se grávida) perde a vida após dar a luz a um filho seu, o jovem Padawan passa a buscar medidas desesperadas a fim de evitar que tal fato seja concretizado. Ao saber da situação em que o jovem se encontra, o Senador Palpatine, Chanceler Supremo da Federação e Mestre dos Lords Sith (uma espécie de Jedi que utiliza a Força apenas para benefício próprio), propõe a Skywalker que este se una a ele no combate contra os Jedi e em troca, o político ensinará ao jovem os poderes do lado escuro da Força que poderão salvar a vida de Padmé. Francamente, uma lastimável e artificial solução que o roteiro encontrou para fazer com que o jovem muda-se completamente de posição ideológica.

Por outro lado, o mesmo roteiro que apresenta uma solução tão simplória e artificial para a mudança de caráter repentina de Skywalker, se revela extremamente satisfatório ao trabalhar os demais pontos que fizeram com que o aprendiz de Obi-Wan Kenobi sofresse tal mutação ideológica. Uma vez que o episódio anterior já cumprira a excelente tarefa de desenvolver Anakin de maneira bastante convincente, este terceiro episódio opta inteligentemente por não tentar desenvolver o personagem ainda mais. Ao invés disso, o roteiro toma a brilhante decisão de desenvolver o Senador Palpatine e o jogo psicológico que este realiza em Anakin, fazendo-o mudar completamente de lado (e sinceramente, se o roteiro não tivesse tomado tal atitude, a mudança de lado do protagonista soaria extremamente artificial e o filme se revelaria extremamente falho).

Conforme pudemos testemunhar em “Ataque dos Clones”, Anakin Skywalker era um jovem talentoso, mas extremamente arrogante e precipitado. Neste “A Vingança dos Sith” a sua impaciência aumenta cada vez mais levando em conta a insistência do Conselho Jedi em não conferir a ele o título de Cavaleiro Jedi (os membros do Conselho têm dúvidas quanto a Anakin em virtude à arrogância do rapaz e aos fortes laços que este tem com o Chanceler Palpatine, algo que, indiretamente, quebra a independência dos Jedi para com os políticos) e designar-lhe missões que realmente ponham em teste as suas inúmeras habilidades. Aproveitando-se da impaciência do aprendiz de Obi-Wan Kenobi e do gênio vaidoso deste, Palpatine trabalha, através de argumentos convincentes, a mente do jovem rapaz e o incentiva a auxiliá-lo a tomar o poder absoluto. A maneira como o roteiro desenvolve Palpatine, suas táticas de persuasão (salvo as que envolvem Padmé que, conforme fora citado, soam artificiais) e seus diálogos é, não menos, do que excelente. Tudo foi cuidadosamente arquitetado pelo roteiro, para que a maior parte das alterações de caráter de Anakin não soassem artificiais.

O grande trunfo do roteiro, no entanto, consiste na virada espetacular que este dá na estória, a partir do início de seu segundo ato. A sensação que temos quando Palpatine põe em prática a sua “Ordem 66” (cuja descrição não irei fazer a fim de não estragar algumas surpresas) é a de que Lucas utilizou magistralmente os dois episódios anteriores (e, francamente, as pessoas que afirmam que este terceiro episódio tornou os outros dois desnecessários, simplesmente não sabem o que estão falando) a fim de mover estrategicamente todas as suas peças pelo tabuleiro e, quando chegasse o momento oportuno, utilizaria este terceiro episódio para dar o xeque-mate. E é justamente isto o que ocorre, cada peça movida nos longas anteriores teve importância vital para a conclusão desta trama, para o clássico desfecho da mesma. Simplesmente fascinante. Tão fascinante quanto à tristeza que nos assola ao ver a Ordem Jedi sendo completamente destruída.

As seqüências de aventura também são outra característica do filme que alternam entre altos e baixos. Logo no início somos apresentados à dupla de Jedis de “Ataque dos Clones”, Anakin e Obi-Wan, em uma missão de extrema importância: libertar o Senador Palpatine, que fora raptado pelo temível Conde Dookan. É exatamente nesta cena que podemos, pela primeira vez em toda a trilogia, notar a habilidade de Lucas na movimentação de câmeras. Pela primeira vez nesta trilogia vemos o “padrinho de todos os nerds” (como é conhecido o diretor) acompanhando as seqüências de ação de uma maneira realmente incrível. Note o modo como Lucas acompanha as naves espaciais durante a batalha, a movimentação com a câmera é perfeita e dá muita credibilidade à cena em si. Outro aspecto que conta muitos pontos a favor desta cena é a direção de arte que constrói, de maneira estupenda, uma nave espacial gigantesca fantástica. Tal seqüência parece ter sido sublimemente montada por Lucas a fim de homenagear as antigas batalhas intergalácticas contra um dos símbolos máximos da série, a Estrela-da-Morte, ocorridas na trilogia anterior.

Contudo, nem todas as cenas envolvendo aventura são tão magistrais quanto a seqüência acima citada (milagre eu não ter escrito “supracitada”, não?). Vide o duelo de sabres de luz travado entre Anakin Skywalker e Conde Dookan, apenas para citar um exemplo. Em virtude do que vimos no filme anterior, esperava-se uma luta bem mais consistente, empolgante, e isso acaba não ocorrendo. Temos aqui uma luta interessante, bem coreografada, mas que deveria ter sido mais bem trabalhada, principalmente do ponto de vista emocional, do que acabou sendo. Outra luta decepcionante é a ocorrida entre Obi-Wan Kenobi e o General Grievous, principalmente se levarmos em conta o interesse que a mesma nos desperta ao ficarmos sabendo que o segundo combatente, por possuir quatro braços, irá utilizar quatro sabres de luz simultaneamente, tornando a tarefa de derrotá-lo praticamente impossível ao destemido Jedi. No entanto, Kenobi derrota-o muito facilmente, o que torna a seqüência pouco emocionante. Por outro lado, as demais seqüências de ação envolvendo sabres de luz são fantásticas, em especial a mirabolante e empolgante luta entre Obi-Wan Kenobi e Anakin Skywalker, agora Lord Darth Vader. Simplesmente um dos mais empolgantes duelos já proporcionados pelo Cinema e que, infelizmente, devido à baixa tecnologia da época e orçamento nem tão estrondoso quanto o utilizado nos filmes atuais, viria a se repetir de um modo bem menos interessante durante o quarto episódio da saga. Devo destacar também a luta entre Mace Windu e Lord Darth Sidious cujos cuidados com o resultado final foram tantos que acabaram envolvendo 102 movimentos e três grandes salas para ser filmada.

A direção de arte, como já era de se esperar (uma vez que esta se revela o ponto alto de toda a trilogia), é, não menos, do que estupenda, e mais: é empregada aqui de maneira ainda mais eficiente do que havia sido empregada nos filmes anteriores. Repare na beleza plástica que é Coruscant à noite, ou no salão de ópera onde Anakin tem uma das conversas mais importantes do filme com o Senador Palpatine, ou no verde natural estonteante do Planeta Utapau e ainda na beleza vulcânica do Planeta Mustafar (a propósito, a direção de arte majestosa do cenário aqui engrandece ainda mais a magnífica e dramática luta de sabres entre Obi-Wan Kenobi e Darth Vader).

Os demais aspectos técnicos do longa também não decepcionam. A fotografia, como sempre, é belíssima e dá ainda mais realce aos fabulosos cenários criados pela estupenda direção de arte, a trilha-sonora engrandece ainda mais as seqüências de aventura, suspense e drama do filme e o figurino também é sensacional, bastante diversificado e riquíssimo em detalhes, algo que fertiliza ainda mais a magia por trás do longa.

As atuações, no entanto, decepcionam e, se comparadas a “O Ataque dos Clones”, empalidecem consideravelmente. Se por um lado Ian McDiarmid realiza um trabalho supremo ao assumir a pele do Senador Palpatine e do Lord Darth Sidious (sinceramente, não vejo melhor ator para cumprir tal função), por outro lado o excelente Christopher Lee aparece muito pouco e os demais atores, nem de longe, conseguem criar uma atuação tão marcante quanto a que ele realizou no longa anterior. Ewan McGregor, se revela um bom ator neste longa, mas falha em algumas cenas onde precisaria fazer uma entonação de voz mais dramática. Natalie Portman só atua de maneira definitivamente convincente ao final do filme, que é justamente quando o roteiro confere uma carga dramática muito mais forte a sua personagem. Nas demais cenas, a atriz jerusalense não adota uma carga dramática forte o bastante para fazer com que a sua personagem se aproxime do público.

E quanto à atuação de Hayden Christensen? Bem, digamos que esta merece um parágrafo único para ser comentada de forma mais aprofundada. Christensen realiza uma atuação bastante irregular no longa e, assim como as cenas de aventura e as artimanhas utilizadas pelo roteiro a fim de amarrar a trama, seu trabalho aqui alterna constantemente entra altos e baixos (só que, neste caso ao menos, devo dar mais ênfase à palavra “baixos” que à palavra “altos”). Note, por exemplo, a maneira artificial como ele emprega um tom de voz ridiculamente grave e sombrio quando diz: “___ Eu lhe ofereço o meu empenho em troca de vossos ensinamentos!”. Por outro lado, o ator canadense emprega, durante muitas cenas, a expressão de uma pessoa realmente frustrada, cujas esperanças naquilo que julgava ser o certo a se fazer se revelam cada vez mais nulas, escassas e minguantes. Contudo, faltou a Christensen mais talento, mais expressividade, mais dramatização em sua composição, faltou algo que realmente convencesse o público de que ele é Darth Vader, ele é a alma de toda a trilogia.

Preparando a finalização deste texto, comentarei sobre outro ponto que também alterna entre altos e baixos (sim, mais um, este filme definitivamente se revelou uma montanha russa artística): os diálogos. Ao mesmo tempo em que temos diálogos extremamente inteligentes do tipo “O Bem é apenas um ponto de vista” (algo que Lucas, voluntaria ou involuntariamente, extraiu de filosofia nieztschiana) e “Era para você trazer equilíbrio à Força, não jogá-la na escuridão”, Lucas quase joga seu roteiro no lixo com absurdos do tipo: “Não, você vai tentar me matar!” (resposta de Skywalker a Kenobi quando o segundo diz que irá matá-lo). Para piorar a situação, o tom de voz empregado por Christensen a fim de declamar tal oração é tão artificial que torna a cena ainda mais ridícula do que ela já seria por si só. Ah, e é claro que não poderíamos ficar sem o clássico e clichê “Nããããããããããão!” proferido da maneira mais piegas o possível pelo protagonista.

Resumindo, “A Vingança dos Sith” é um filme que alterna entre altos e baixos, mas o saldo final acaba sendo incontestavelmente positivo. Utilizando algumas táticas incríveis a fim de preencher as lacunas deixadas em aberto na unificação da trilogia antiga com esta nova, Lucas se revela um roteirista de mão cheia, mas que erra gravemente algumas vezes, quando tenta, por exemplo, criar um motivo para que Anakin Skywalker opta-se por pender ao lado escuro da Força envolvendo a sua amada esposa. As seqüências de aventura são, em sua maioria, muito boas, mas decepcionam completamente o público em alguns casos. As atuações em sua maioria são boas (e nada além de boas), salvo Hayden Christensen que se mostra completamente irregular durante o filme inteiro. A parte técnica deste terceiro episódio é irretocável e o longa encerra a saga com maestria, servindo como uma perfeita ponte que dá liga as duas trilogias.

Ah, e como não poderia deixar de ser, encerrarei definitivamente este texto realizando um rápido comentário sobre a trilogia inteira. Diria, antes de tudo, que nenhum dos três episódios se revela dispensável, desnecessário ou fraco (conforme muitas pessoas dizem), muito pelo contrário, cada um possui a sua função. O primeiro trata de oferecer ligeiras explicações sobre vários pontos que viriam a ser abordados futuramente, tais como: o que vem a ser a Força, como fora a infância de Anakin Skywalker, como Obi-Wan Kenobi passou a treiná-lo e muitas outras coisas que ficariam completamente vagas sem este primeiro episódio. “Ataque dos Clones”, por sua vez, encarregou-se de explorar os personagens principais da trilogia, amarrar algumas pontas deixadas, propositadamente, em aberto pelo primeiro filme, iniciar (ainda que de maneira artificial) o importante romance entre Anakin e Padmé, e, acima de tudo, dar início à demonstração das falhas de caráter apresentadas pelo aprendiz de Obi-Wan Kenobi, fato que o levaria ao destino que teria de traçar em um futuro não muito distante. O terceiro episódio, finalmente, se revela o ponto alto da trama e preenche todas as lacunas deixadas em aberto pelos dois longas anteriores. A trilogia nova realmente não faz jus à antiga, mas ainda assim se mostra altamente importante para uma melhor compreensão daquela, além, é claro, de se revelar uma ótima experiência cinematográfica se fizermos um balanço geral da mesma.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.

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