quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Star Wars - Episódio I - A Ameaça Fantasma - *** de *****

Pois é, sei muito bem que este primeiro episódio da saga “Star Wars” está longe de ser um clássico absoluto da Sétima Arte, ao contrário dos episódios IV, V e VI que são um marco na história da mesma, mas decidi postar a crítica deste longa (e as dos outros dois episódios que acompanham esta nova trilogia filmada nos anos de 1.999, 2.002 e 2.005) na subseção de “filmes clássicos” acreditando ser interessante manter as análises de todos os seis filmes bem próximas uma da outra. Quanto à atitude que me levou a analisar todos os seis filmes, esta reflete a quatro fatores. Primeiro: adquiri recentemente a tão falada edição comemorativa de 30 anos de lançamento do quarto episódio da série e decidi, é claro, assisti-la o quanto antes, só que para isso achei que seria interessante assistir aos episódios iniciais, fazendo-o na ordem cronológica, e não na ordem de lançamento; segundo: a animação “Star Wars – Guerras Clônicas” estréia nos cinemas do Brasil muito em breve (próximo dia 15), nada mais conveniente então do que entrarmos no mágico clima “Guerra nas Estrelas”; terceiro: nunca critiquei nenhum dentre os seis filmes da saga em toda a minha vida; quarto e último: sou fã incondicional da saga e torna-se vergonhoso, na condição de crítico de Cinema, nunca ter analisado a mesma, portanto, é uma obrigação moral a minha fazê-lo agora.

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Ficha Técnica:
Título Original:
Star Wars - Episode 1: The Phantom Menace
Gênero: Aventura/Ficção Científica
Tempo de Duração: 131 minutos
Ano de Lançamento (EUA):
1999
Site Oficial: www.starwars.com/episode-i
Estúdio: LucasFilm Ltda.
Distribuição: 20th Century Fox Film Corporation
Direção: George Lucas
Roteiro: George Lucas
Produção: Rick McCallum
Música: John Williams
Direção de Fotografia: David Tattersall
Desenho de Produção: Gavin Bocquet
Direção de Arte: Phil Harvey, Fred Hole, John King, Rod McLean e Ben Scott
Figurino: Trisha Biggar
Edição: Ben Burtt e Paul Martin Smith
Efeitos Especiais: Industrial Light & Magic
Elenco: Liam Neeson (Qui-Gon Jinn), Ewan McGregor (Obi-Wan Kenobi), Natalie Portman (Padmé), Jake Lloyd (Anakin Skywalker), Ian McDiarmid (Senador Palpatine/Darth Sidious), Pernilla August (Shmi Skywalker), Keira Knightley (Rainha Amidala), Oliver Ford Davies (Sio Bibble), Hugh Quarshie (Capitão Panaka), Ashmed Best (Jar Jar Bink) (voz), Anthony Daniels (C3PO), Kenny Bater (R2D2), Frank Oz (Yoda) (voz), Terence Stamp (Chanceler Finis Valorum), Andrew Secombe (Watto) (voz), Ray Park (Darth Maul), Samuel L. Jackson (Mace Windu), Sofia Coppola (Saché) e Dominic West.

Sinopse: Após sofrer um forte boicote econômico por parte da gananciosa Federação Comercial, o planeta Naboo solicita a ajuda do bravo cavaleiro Jedi Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) e seu jovem aprendiz Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) para resolver o impasse. Contudo, as negociações não saem justamente como eles esperavam e uma guerra é instaurada contra o planeta Naboo. Os dois Jedi recebem então uma outra missão, escoltar a jovem Rainha Amidala (Keira Knightley) e sua auxiliar Padmé (Natalie Portman) a Coruscant, capital da Federação, para solicitar ao Chanceler Finis Valorum (Terence Stamp) o fim de tal guerra sem propósito. Porém, após tentar trespassar o bloqueio espacial que a Federação realizou ao planeta Naboo, a nave real é atingida e o grupo se vê obrigado a realizar uma parada no planeta Tatooine, onde eles encontram o garoto Anakin Skywalker (Jake Lloyd), única pessoa capaz de conseguir as peças necessárias para que a nave seja devidamente reparada e possa seguir a viagem.

Star Wars - Episode I - The Phantom Menace - Trailer:

Crítica:

“Star Wars – Episódio I – A Ameaça Fantasma” foi um longa que teve tudo, absolutamente tudo, para se tornar um grande marco na história da Sétima Arte. Temos aqui um competente elenco, um grande orçamento (US$ 115mi), uma sensacional equipe responsável pelos efeitos visuais e, acima de tudo, um roteiro que conta com personagens para lá de interessantes de serem devidamente abordados e explorados. Sem contar, é claro, a magia contida por trás de toda a obra (ocasionada pela trilogia que teve seu início nos fins da década de 70), algo que seria capaz (e foi) de arrastar milhões de fãs para os cinemas do mundo inteiro, a fim de testemunharem como toda a saga começou. Enfim, era um longa que tinha tudo para entrar para a história do Cinema, mas não entrou. Por qual motivo? Duas palavras: George Lucas.

Sim, ele mesmo, o tão aclamado patrono de todos os nerds, o grande responsável pelo mais importante blockbuster da história do Cinema (me refiro, certamente, ao episódio de número 4 da saga: “Uma Nova Esperança”) e por uma das mais bem sucedidas e aclamadas trilogias já lançadas pela Sétima Arte. Enfim, o maior responsável pelo insucesso deste primeiro episódio (e até mesmo dos outros dois episódios posteriores, diga-se a verdade) é, justa e ironicamente, o maior responsável pelo sucesso da saga anterior, George Lucas, o pai da série.

“___ Mas onde foi que Lucas falhou?” ___ Me pergunta o leitor. “___ Naquilo que ele menos sabe fazer” ___ Respondo eu ___ “Na condução do elenco”. As falhas de Lucas como diretor de atores soavam gritantes até mesmo nos episódios anteriores da saga, mas ainda assim, não se mostravam tão visíveis como se mostram aqui. Atores talentosíssimos como Liam Neeson (este ainda se salva em algumas cenas), Ewan McGregor, Natalie Portman, Samuel L. Jackson e Keira Knightley tiveram quase toda a sua competência desperdiçada devido a atuações fracas, sem o menor carisma e expressividade.

Para citar um exemplo, repare no semblante de Natalie Portman ao (tentar) demonstrar um ar de preocupação relacionada à crise que seu planeta estava passando no presente momento. Uma hora depois, repare no mesmo semblante, da mesma Natalie Portman, ao (tentar) demonstrar satisfação total por ter resolvido tal crise que tanto a atormentava no início da projeção. Pois é, eu sei, não há mudança alguma. Mas não, a inexpressividade de todo o elenco (isso inclui tanto os atores primários, como secundários e, até mesmo terciários, para não dizer também os figurantes e extras) não é o maior defeito do longa no que diz respeito à atuações. Temos um problema ainda mais grave aqui: a entonação das vozes de todos (e eu disse todos, sem exceções) os atores.

Sempre gostei muito de assistir a um filme no idioma original do mesmo, para que pudesse, desta maneira, analisar o tom de voz que os atores empregaram a fim de compor os seus respectivos personagens e as situações pelas quais estes estão passando. Contudo, nunca imaginei que, em toda a minha vida, pudesse utilizar isto um dia a fim de defini-lo como maior qualidade, ou maior defeito (como é o caso com este longa) de uma determinada obra cinematográfica. Sinceramente, não há como não notar, e é claro, se irritar veementemente, com a falta de dicção dos atores em várias cenas do longa.

Vide, por exemplo, a seqüência onde a personagem de Pernilla August diz a seu filho Anakin Skywalker (sim, ele mesmo): “___ Any, estou tão orgulhosa de você! Você trouxe esperança a quem não mais a tinha!”. O problema é que, uma frase que deveria ter sido proferida da maneira mais vigorosa o possível, acabou soando tão insossa quanto se a mesma personagem dissesse ao filho: “___ Any, vá dormir que já é tarde e amanhã você deve acordar cedo!”. Mas antes o tom de voz mono tônico fosse apenas um defeito correspondente ao elenco secundário do filme, isso seria uma verdadeira benção. Note a cena em que a personagem de Natalie Portman (uma das peças mais importantes não só deste longa, como da trilogia inteira) diz a seguinte frase: “___ Peço, ou melhor, imploro com todas as forças que nos ajudem!”. Francamente, um pedido de ajuda com uma entonação de voz daquelas não seria capaz nem ao menos de convencer uma criança com os bolsos cheios de dinheiro a comprar um doce, quiçá incentivar seres tão orgulhosos quanto os suplicados, no caso, a oferecerem ajuda.

Não bastasse as falhas supracitadas, a direção de Lucas não falha apenas no que diz respeito à condução do elenco. Sem demonstrar a menor capacidade para criar ângulos satisfatórios com a câmera, ou acompanhar as seqüências de ação realizando travellings que as tornaria muito mais convincentes e realistas, ou ainda conduzir o filme de uma maneira que fosse capaz de fugir do convencional, George Lucas nos apresenta a uma direção verdadeiramente falha e incompetente do ponto de vista geral, merecendo, incontestavelmente, o prêmio Framboesa de Ouro® de pior diretor que concorreu em 2.000.

Além da direção patética de Lucas e das atuações nada convincentes por parte de todo o elenco (salvo Liam Neeson que salva-se em muitas cenas), o longa investe em um humor recheado de gags previsíveis e totalmente desnecessárias que, durante muitas cenas, acabam até mesmo quebrando um clima de tensão que o filme está tentando conferir ao seu público durante as suas seqüências de ação. Pior ainda é constatarmos que tais gags vêem de um personagem nem um pouco inerente à trama, refiro-me, é claro, ao insuportavelmente irritante Jar Jar Bink.

Na verdade, confesso ter exagerado ligeiramente quando mencionei que Bink é “insuportavelmente irritante”. Não creio que Bink seja um personagem tão irritante quanto a maioria esmagadora das pessoas que assistem ao filme o considera, mas que ele incomoda muito, isso incomoda. Principalmente se prestarmos atenção na falta de uma justificativa realmente convincente para que o personagem se torne inerente à trama. Parece que o único propósito de Jar Jar no longa foi realmente o de servir de subterfúgio para os produtores explicarem o alto custo gasto com os efeitos visuais deste, já que a criatura fora o primeiro personagem 100% digital que a Sétima Arte já nos apresentou (fato que foi muito ressaltado e comentado durante a época).

E aproveitando o ensejo, uma vez que mencionei os efeitos visuais do longa, talvez seja esta a melhor ocasião para listar as qualidades do mesmo que, sim, são muitas. Falemos um pouco mais sobre os efeitos visuais do filme, sobretudo os que compõem a criatura Jar Jar Binks que, sim, é perfeita, em especial se levarmos em conta a inovação que a mesma trouxe para o Cinema, possibilitando com que mais tarde outros personagens 100% digitais pudessem ser confeccionados, como é o caso de Gollum, da excelente trilogia: “O Senhor dos Anéis”.

Para se comentar sobre a criatura Jar Jar, deve-se esquecer que esta foi criada anteriormente ao Gollum e que, naturalmente, não é tão bem animada quanto o anti-herói da saga de Peter Jackson. Bink é bem animado, seus movimentos são todos naturais, mas a algo de errado com o semblante da criatura: a falta de brilho em seus olhos. Entretanto, devemos levar em conta que fora a primeira criatura 100% digital criada pelo Cinema, e só isto já basta para que o personagem seja totalmente respeitado por nós (me refiro do ponto de vista técnico, já que do ponto de vista artístico a criatura não têm nenhuma função na trama).

Os demais efeitos visuais também são muito bem empregados e, ao contrário da maioria dos filmes do gênero, eles não são utilizados apenas com o intento de cobrir os buracos no roteiro ou a falta de uma estória verdadeiramente decente. Aqui, a grande maioria dos efeitos visuais são utilizados a fim de conferir mais dinamicidade e realismo às seqüências de aventura (estas que são muito má dirigidas por Lucas, conforme consta supracitado). Vide a clássica corrida de pods, por exemplo, que apesar de perder muita tensão graças à câmera pesada de Lucas, se mostra bastante emocionante devido ao uso extremamente de efeitos visuais que a engrandece e a torna uma das cenas mais marcantes de toda a saga.

A fotografia e a direção de arte são outros aspectos que engrandecem, e muito, o filme. Não há como não se cativar com a beleza plástica que é o reino subaquático de Gunga City, ou com a suntuosidade dos palácios contidos na capital do planeta Naboo, ou as paisagens áridas de Tatooine, o saguão onde ocorre a luta entre Qui-Gon Jinn, Obi-Wan Kenobi e Darth Maul, e, principalmente, com a maravilha gráfica que é o planeta Coruscant (principalmente quando se tem a visão noturna do planeta, a capital da Federação. Aliás, a fotografia e a direção de arte que nos apresentam a Coruscant deveriam ser comentadas individualmente, já que o planeta está recheado de cenários deslumbrantes, como é o caso da pista de pouso, da sala de reuniões do Conselho Jedi e, especialmente, a sala onde ocorre a Assembléia entre os Senadores que representam os planetas ligados à Federação. Não restam duvidas de que, visualmente, “A Ameaça Fantasma” é um filme perfeito e tanto a sua direção de arte quanto a sua fotografia merecem ocupar um lugar entre as 50 melhores de todos os tempos.

George Lucas, por mais incrível que isso possa parecer, também colabora um pouco para que o filme se torne agradável. Se por um lado Lucas se mostra incompetente na condução de câmeras, por outro lado o diretor se mostra sabiamente oportunista no que diz respeito à maneira como ele utiliza os efeitos visuais do longa a fim de nos proporcionar seqüências de ação absurdamente fantásticas, dentre as quais menciono a já citada corrida de pods e a batalha final, ocorrida no planeta Naboo (esta, aliás, uma seqüência fantástica, que confere um ritmo incrível ao filme).

No entanto, é como roteirista que Lucas quase se redime de todas as suas falhas como diretor. Injustamente criticado por sua estória aparentemente fraca, o roteiro deste “A Ameaça Fantasma” cumpre muito bem o seu propósito, que nada mais é do que simplesmente iniciar a saga. Para isso, era necessário que uma estória altamente complexa e bem desenvolvida nos fosse apresentada (como a trama contida nos episódios IV, V e VI)? Certamente que não. Bastava apenas o roteiro nos introduzir ao “mundo Star Wars” completando algumas informações que acabaram ficando incompletas ou vagas com o desfecho da trilogia anterior, tais como: o que vem a ser a tão comentada Força? Qual é a origem de Anakin Skywalker? Por que um jovem tão humilde e repleto de valores morais viria a se tornar o vilão mais temido da história do Cinema (esta questão, na realidade, será melhor desenvolvida nos dois episódios posteriores a este)? Como Obi-Wan Kenobi conheceu Anakin Skywalker? Como o conselho Jedi se organizava? “___ E o roteiro concebido por Lucas consegue responder as questões supra?” ___ Me pergunta o leitor. Eu respondo que não apenas consegue as responder, como o faz de um modo bastante natural e convincente e, de quebra, conta com uma trama dinâmica que, mesmo estando longe de ser tão grandiosa como a dos demais episódios da saga, se revela suficientemente divertida.

Em suma, este primeiro episódio da saga “Star Wars” se revela uma experiência suficiente e individualmente divertida, apesar de empalidecer muito perante os demais episódios da saga. Lucas se mostra extremamente incompetente na direção do longa, sobretudo na condução do elenco, mas consegue conceber seqüências de aventura (em especial as lutas com sabres de luz, estas que, devido à falta de tecnologia na época, não eram tão empolgantes na trilogia anterior, se tornam o ponto alto do filme em questão) que tornam a experiência bastante dinâmica e agradável e, principalmente, divertida. O longa se revela narrativamente interessante, uma vez que cumpre o seu papel de nos introduzir no mundo “Guerra nas Estrelas” e é de uma beleza visual estonteantemente arrebatadora.

Avaliação Final: 7,0 na escala de 10,0.

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