terça-feira, 7 de abril de 2009

Katyn - ***** de *****

Não tive a oportunidade de assistir a “Katyn” antes da cerimônia do Oscar® 2008, uma vez que o mesmo concorreu à estatueta de Melhor Filme estrangeiro e perdeu para o austríaco “Os Falsários” (que, infelizmente, também não tive a oportunidade de assistir). O filme só será lançado no Brasil no próximo dia 10 (fruto da falta de investimento no mercado cinematográfico estrangeiro que, convenhamos, produz muito mais obras-primas que o Cinema hollywoodiano) e, na primeira oportunidade que tive, pude conferir o mesmo depois de algum tempo de espera. O resultado? Uma pequena obra-prima. Vejamos mais abaixo.


Ficha Técnica:
Título Original: Katyn.
Gênero: Drama.
Tempo de Duração: 118 minutos.
Ano de Lançamento: 2007.
Nacionalidade: Polônia / Rússia / Alemanha.
Direção: Andrzej Wajda.
Roteiro: Andrzej Wajda, Wladyslaw Pasikowski e Przemyslaw Nowakowski, baseado em estória de Andrzej Mularczyk.
Elenco: Artur Zmijewski (Andrzej), Maja Ostaszewska (Anna), Andrzej Chyra (Tenente Jerzy), Danuta Stenka (Róza), Jan Englert (General), Magdalena Cielecka (Agnieszka), Agnieszka Glinska (Irena), Pawel Malaszynski (Tenente Piotr), Maja Komorowska (Mãe de Andrzej), Wladyslaw Kowalski (Professor Jan), Oleg Drach (Comisário), Oleg Savkin (Oficial da NKVD), Sergey Garmash (Major Popov), Antoni Pawlicki (Tadeusz), Agnieszka Kawiorska (Ewa) e Joachim Paul Assböck (Obersturmbannführer Brunon Müller).

Sinopse: Polônia, 1940. Um gigantesco grupo de soldados e civis poloneses são massacrados na floresta de Katyn sob ordem dos soviéticos. Milhares de famílias encarnam então a agonia de verem pessoas muito próximas delas serem assassinadas. A nação inteira submerge em uma aura de desesperança e sofrimento, imaginando que jamais conseguirá sair de tal situação.

Katryn - Trailer:

Crítica:

“Katyn” inicia-se com uma tensa sequência que retrata um grupo de civis poloneses fugindo desesperadamente durante a Segunda Guerra Mundial. Os nazistas haviam invadido a Polônia e, junto deles, os soviéticos, uma vez que Hitler e Stalin juntaram forças para dominar a terra natal de Karol Józef Wojtyła, ponto inicial da campanha de ambos (no que se refere à política externa, é claro). Após a invasão, pessoas corriam para todos os lados, com o único propósito de salvarem a própria vida. E é aqui que evoco aquela frase que havia mencionado em minha crítica sobre “Um Ato de Liberdade”: “o bom filme apenas mostra algo ao espectador, ao passo em que o grande filme transmite a esse o que está sendo mostrado, e de um modo que o faça sentir na pele”. “Katyn” faz justamente isso, não apenas mostra o mais famoso massacre da história da Polônia, como também nos faz sentir o drama pelo qual o país passou durante o ocorrido, como se estivéssemos dentro da estória, presenciando tudo bem de perto. E Quem seria o grande responsável por tal sucesso? O diretor Andrzej Wajda, que também assina o roteiro ao lado de Wladyslaw Pasikowski e Przemyslaw Nowakowski, sendo que a estória é de responsabilidade de Andrzej Mularczyk.

Mas o que é preciso um diretor realizar para conseguir fazer com que compartilhemos plenamente o que está sendo exibido na telona? Impossível dizer objetivamente. Cada cineasta emprega um recurso diferente e, no caso de Wajda, ele opta pela utilização de travelins e, principalmente, closes nos rostos de seus atores, para focar bem as suas expressões carregadas de pouca, ou nenhuma, esperança. Há então um perfeito “casamento” entre direção e atuações, sendo que a primeira se responsabiliza pelo elo mantido em meio à segunda e nós, espectadores. Wajda cobra de seu elenco apatia nos olhares, o diretor capta tal sentimento com a sua câmera, e, finalmente, transmite perfeitamente ao público, que consegue se penetrar completamente na trama. Parte desta “penetração” bem sucedida cabe também à fotografia, que adota tons escuros na medida em que a estória passa a os exigir, conferindo então uma atmosfera estertorante à produção, algo que se revela inerente ao excelente resultado final da mesma.

O roteiro também toma sabias decisões, apesar dos pequenos erros que comete (que serão comentados daqui a pouco) como, por exemplo, a forma a qual opta por retratar a agonia que se instaurou em meio ao povo polonês diante de tal massacre. Quem for aos cinemas com a expectativa de conferir um novo “A Lista de Schindler” saíra consideravelmente decepcionado. Ao contrário do magistral filme dirigido por Steven Spielberg, “Katyn” adota uma prudente decisão e, ao invés de mostrar pessoas morrendo a todo o instante, foca-se na melancolia, na ansiedade, e no desespero dos parentes das vítimas do massacre. Afinal de contas, o que é pior: levar um tiro na cabeça ou saber que terá de enfrentar uma vida inteira pela frente sem um pai, sem um marido ou sem um irmão? Qual é a pior baixa da guerra: os soldados e civis que são mortos, ou as crianças que ficam órfãs, as esposas que ficam viúvas e os pais que perdem os seus filhos? A excelente produção polonesa opta pela segunda alternativa e nos brinda com uma trama simplesmente incomparável.

Mas o mesmo roteiro que transforma “Katyn” em um filme bem acima da média, comete alguns ligeiros equívocos durante a sua execução. Na primeira hora de projeção, por exemplo, o filme foca-se demais em Anna (Maja Ostaszewska) e Andrzej (Artur Zmijewski) e a sensação que temos é a de que a obra irá adotar uma infeliz característica contida na grande maioria dos “disasters movies”: o egoísmo. Muitíssimos filmes à lá “Guerra dos Mundos” e “Fim dos Tempos” narram uma catástrofe capaz de aniquilar a humanidade inteira, no entanto, o alto grau de parcialidade que os mesmos conferem durante a criação de seus protagonistas faz com que esqueçamos completamente do restante da raça humana e passemos a nos preocupar somente com os personagens que estão sendo retratados. O mesmo parece acontecer durante alguns minutos de “Katyn”, quando este dedica-se demasiadamente à família de Andrzej, esquecendo-se das demais famílias que estão passando pela mesmíssima situação. Com o passar de alguns minutos, no entanto, o roteiro segue a sábia e sazonada escolha de retratar outras famílias, colocando assim o “fantasma” do massacre em primeiro plano, revelando-se uma obra cinematográfica indispensavelmente imparcial.

Avaliação Final: 8,8 na escala de 10,0.

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