sábado, 16 de maio de 2009

O Equilibrista - **** de *****

Pela primeira vez em minha vida... não, esperem um momento... pela segunda vez em minha vida critico um documentário. A primeira vez foi um pequeno texto (lembram-se daquele formato de 25 linhas o qual utilizava para escrever as minhas opiniões antigamente?) que fiz sobre o ótimo “Some Kind of Monster”, que narra a crise pela qual os quatro músicos que formam o Metallica passou antes da gravação do CD “St. Anger” (que, ao contrário da grande maioria dos headbangers, considero-o ótimo). Escrevi o texto, mas não cheguei a publicá-lo (ou será que o publiquei na época em que escrevia para o Papo Cinema? Provavelmente não), destarte, esta é a primeira vez que disponibilizo uma crítica de minha autoria direcionada a um filme do gênero documentário (sim, acabei de comprar uma caixa de rojões e estou disparando-os contra o céu e correndo pelas ruas cantando e chorando de felicidade). Vamos ao texto.

Ficha Técnica:
Título Original:
Man on Wire.
Gênero: Documentário.
Tempo de Duração: 90 minutos.
Ano de Lançamento:
2008.
Site Oficial: http://manonwire.com
Países de Origem:
Estados Unidos da América e Inglaterra.
Direção: James Marsh.
Elenco:
Philippe Petit, Jim Moore, Annie Allix, Jean-Louis Blondeau, David Forman, Barry Greenhouse, Jean François Heckel e Alan Welner, Paul McGill (Philippe Petit), Ardis Campbell (Annie), David Demato (Jean Louis), David Roland Frank (Alan).

Man on Wire – Trailer:

Crítica:

Documentário geralmente é sinônimo de filme frio e banhado de entrevistas e/ou depoimentos que visam relatar um fato comum (“Some Kind of Monster”), ou um fato político (“Um Táxi Para a Escuridão”), ou então defender uma tese (“Supersize-me – A Dieta do Palhaço”), ou até mesmo adotar um caráter amplamente investigativo, trabalhando como uma forma de fonte de informação alternativa que nos traz à tona fatos que são ocultados do público em geral (“S.O.S. Saúde”). O quê? Ah, sim, claro, existem muitos outros formatos de documentário, mas por ora, fiquemos apenas com estes, tudo bem?

Vez ou outra, no entanto, surgem algumas obras deste gênero que acabam sendo difíceis de se encaixar em qualquer uma dessas subcategorias (se é que posso alcunhá-las de subcategorias). “O Equilibrista”, por exemplo, não trata de um acontecimento político qualquer, nem defende tese alguma, muito menos traz à tona fatos que são escondidos do público e nem se assume como relato do cotidiano de uma pessoa (ou de um grupo delas, como é o caso do recente “Flight 666, que, infelizmente, ainda não assisti, o que é lamentável vindo de um fã incondicional de Iron Maiden, como é o caso deste que vos escreve). Do que o filme trata então? E o mais importante, o que faz com que ele seja digno de toda a fama que acumulou durante a corrida pelo Oscar® (tanto que faturou o prêmio de Melhor Documentário deste ano)?

A primeira questão proposta no parágrafo acima é facílima de ser respondida. O filme trata da aventura de um indivíduo cujo propósito existencial resumia-se a cruzar dois pontos distintos equilibrando-se apenas em um cabo de aço que é ligado entre ambos os locais. O problema é que ele decidia realizar tais feitos em lugares altíssimos, cujo risco de morte era mais elevado do que a minha pressão arterial (piadinha sem graça essa, não? Mas o que seria de um crítico de Cinema sem as suas piadinhas sem graça?) e, no ápice de sua carreira (e por que não dizer, loucura?), o protagonista Philippe Petit decide cruzar as torres gêmeas que formavam o recém extinto World Trade Center. E é justamente isso o que o filme aborda: os bastidores de tal travessia insana.

E quanto à segunda questão? Ah, essa já se mostra material o suficiente para se redigir uma crítica inteira. O que faz de “O Equilibrista” um documentário digno de toda a fama que vem recebendo? Primeiramente, creio que seja o fato de a “trama” focar-se justamente no World Trade Center, edifício este que pode ser considerado o símbolo máximo do atentado que se revelou o divisor de águas entre as Eras Pré e Pós 11 de Setembro. É interessante ratificarmos, através desta obra, a ingenuidade estadunidense quanto à sua segurança interna que, no final das contas, não era tão invulnerável quanto muitos julgavam ser (note o modo como Philippe se infiltra no prédio e chega ao último andar do mesmo).

Mas acima de tudo, creio que o sucesso desta fita, bem como o grande destaque da mesma, resida, de fato, no modo cativante como ela desenvolve os seus personagens, bem como o quão empenhados e persistentes estes se mostram a fim de tornarem o seu sonho uma visível realidade. Indo na contramão da grande maioria dos documentários, “O Equilibrista” opta, felizmente, por não adotar a frieza característica do gênero (e isto é, certamente, o que a obra nos oferece de melhor) e tenta desenvolver os seus personagens da maneira mais encantadora o possível, através de entrevistas e depoimentos honestos. Como não se identificar com o protagonista na cena em que testemunhamos os “esforços” por ele empregados a fim de destacar uma página de uma revista em um consultório dentário? Como não sentirmos na pele a aflição pela qual ele passa quando corre sério risco de ser apanhado pelos guardas do World Trade Center, quando se esconde debaixo de uma lona no último andar do edifício? E é claro, como não nos perturbarmos quando presenciamos Philippe andando sobre um cabo de aço em uma altura de 321 metros?

Todos esses são pontos que transformam “O Equilibrista” em um documentário bem diferente do que o que estamos acostumados a testemunhar e, se o fato de poder assistir a um homem andando sobre um cabo de aço a 321 metros de altura do chão não acrescenta absolutamente nada em nossas vidas, a fé e a perseverança por ele empregadas (e por sua equipe também) acrescentam, e muito.

Destaque para as “atuações” (se é que posso as chamar assim) de Philippe Petit e dos demais “atores” (se é que posso os chamar assim, também) que conferem um tom de naturalidade incrível a obra (e como não se identificar com o protagonista visto a expressividade, o carisma e o entusiasmo dele?). Ponto positivo também para a direção simplesmente fantástica de James Marsh que, além de conferir à obra a sensibilidade necessária para que ela funcione corretamente, ainda emprega muitas técnicas do tipo “takes aéreos”, “travellings” e “deep focus”.

Ponto negativo para a fotografia que, desnecessariamente, abusa do preto e branco em cenas onde não há necessidade para o uso de tal.

Avaliação Final: 8,5 na escala de 10,0.

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