terça-feira, 19 de maio de 2009

Anjos & Demônios - *** de *****

Serei honesto e sucinto aqui: nunca li livro algum escrito por Dan Brown e nem ao menos assisti a “O Código da Vinci” (e posso dizer com certeza que não perdi nada com isso, muito pelo contrário. Perderia algo se deixasse, por exemplo, de ler um livro escrito por Schopenhauer ou de assistir a um filme dirigido por Bresson) e nem me interessa faze-los durante algum dos longos dias que ainda me restam de vida. O motivo? Simples, várias das pessoas mais estúpidas, alienadas e descartáveis que conheci em toda a minha existência são fãs inveteradas de Dan Brown e, consequentemente, do filme que teve a sua origem baseada no livro que lhe concebeu toda essa fama superestimada (e é óbvio que não menciono isso generalizando ninguém, até mesmo porque, conheço também muitas pessoas inteligentes e notáveis que também são fãs incondicionais de Dan Brown). Levando tudo isso em conta, por que eu iria perder o meu precioso tempo com tamanha bobagem, se posso dedicá-lo à filosofia alemã, ou seja, à filosofia responsável pelo surgimento dos dois sistemas econômicos mais fortes já criados: o comunismo e o nazismo (que, sejamos francos, só não derrotaram o capitalismo pois foram poucos os países que tiveram a audácia de adota-los)? Mas no fim das contas eu até que considerei “Anjos & Demônios” um filme interessante, apesar de ser unicamente bom e nada mais.



Ficha Técnica:
Título Original: Angels & Demons.
Gênero: Suspense.
Tempo de Duração: 138 minutos.
Ano de Lançamento: 2009.
Site Oficial: http://www.anjosedemoniosofilme.com.br/
País de Origem: Estados Unidos da América.
Direção: Ron Howard.
Roteiro: David Koepp e Akiva Goldsman, baseado em livro de Dan Brown.
Elenco: Tom Hanks (Robert Langdon), Ewan McGregor (Camerlengo Patrick McKenna), Ayelet Zurer (Vittoria Vetra), Nikolaj Lie Kaas (Assassino), Stellan Skarsgard (Comandante Richter), Pierfrancesco Favino (Inspetor Olivetti), Armin Mueller-Stahl (Cardeal Strauss), Thure Lindhardt (Chartrand), David Pasquesi (Claudio Vincenzi), Cosimo Fusco (Padre Simeon), Victor Alfieri (Tenente Valenti), Franklin Amobi (Cardeal Lamasse), Curt Lowens (Cardeal Ebner), Bob Yerkes (Cardeal Guidera), Marc Fiorini (Cardeal Baggia), Howard Mungo (Cardeal Yoruba), Rance Howard (Cardeal Beck), Steve Franken (Cardeal Colbert), Gino Conforti (Cardeal Pugini), Elya Baskin (Cardeal Petrov), Carmen Argenziano (Silvano Bentivoglio) e Thomas Morris (Urs Weber).

Sinopse: O professor de simbologia Robert Langdon (Tom Hanks), depois de decifrar o código DaVinci, é chamado pelo Vaticano para investigar o misterioso desaparecimento de quatro cardeais. Agora, além de enfrentar a resistência da própria igreja em ajudá-lo nos detalhes de sua investigação, Langdon precisa decifrar charadas numa verdadeira corrida contra o tempo porque a sociedade secreta por trás do crime em andamento tem planos de explodir o Vaticano. (Roberto Cunha).

Fonte Sinopse: Adoro Cinema

Angels & Demons – Trailer:


Crítica:

Dan Brown é considerado um terrível engodo de acordo com a opinião de inúmeros críticos literários espalhados pelo mundo todo. Seus livros, segundo tais jornalistas, são dotados de muita criatividade e conseguem cumprir o objetivo de entreter o seu público alvo, mas suas estórias geralmente acabam dando origem a situações que beiram o absurdo. Isso sem contar, é claro, que as obras de sua autoria são escritas com uma incompetência estilística fora do comum, além de contarem com uma pobreza literária terrível. Pois conforme mencionei na pré-crítica deste filme, não li, e nem pretendo ler, qualquer um de seus livros que seja, mas se tomar por base este “Anjos & Demônios”, posso dizer que a descrição tecida pelos meus colegas de profissão da outra vertente artística encaixa-se perfeitamente nesta obra cinematográfica.

Criatividade é algo que não falta no filme “Anjos & Demônios”, muito pelo contrário, eu diria que até sobra. Sim, sobra, pois o roteiro, com o prévio perdão pela gíria que virá a ser empregada, “viaja na maionese”. Não, em momento algum “viajar na maionese” precisa ser necessariamente encarado como um defeito do longa, ao menos não desse longa em questão. A trama é, de fato, muito original, embora muitas vezes extrapole as margens do que tomamos por verossímil. A produção se mostra gritantemente artificial em alguns pontos, mas não há como não nos cativarmos com a mesma, nem que seja apenas para ver até quando o roteiro conseguirá sustentar-se com uma trama tão “viajada” (estou empregando gírias demais nesse texto, não?) quanto esta daqui.

Mas se por um lado a trama é “viajada” demais (leia-se (exclusivamente neste caso), criativa em excesso), por outro lado o diretor Ron Howard se perde visivelmente durante a condução da mesma. Além do cineasta raramente movimentar a sua câmera no decurso do filme, quando ele finalmente decide o fazer realiza um trabalho digno de lamentações, uma vez que perde completamente o foco daquilo que está tentando filmar (algo que deve ser execrado ao máximo neste caso, pois estamos diante de uma obra de suspense e o jogo de movimentação de câmeras pode, ou não (como acontece aqui), ser fundamental para conferir à trama a intensidade a qual a mesma precisa para funcionar corretamente).

E não só a mão pesada de Howard atrapalha no desenvolvimento do filme, como também a insegurança do diretor. Aliás, sua direção se revela tão insegura aqui que, na certeza que o próprio cineasta parece ter de que não está conseguindo criar um clima de suspense imprescindível à obra, acaba empregando uma trilha sonora para lá de maniqueísta para tal. A propósito, há muito tempo não assistia a uma tergiversação tão grande para que se fosse adotado tão evidentemente o emprego de cantos gregorianos a todo o instante. A trilha sonora de “Anjos & Demônios” acaba, infelizmente, revelando-se incomoda, artificial e inconveniente, e, francamente, se o “troféu” Framboesa de Ouro abrangesse tal quesito, o mais novo filme de Ron Howard deveria, obrigatoriamente, ser indicado à premiação.

As atuações também são patéticas. Tom Hanks encarna o seu personagem conferindo ao mesmo uma boa (e apenas boa) dose de carisma, mas faltou muita empolgação ao ator, que também encontra-se extremamente fora de forma (não tanto quanto este que vos escreve, mas encontra-se) para encarnar um personagem tão ativo quanto o Professor Langdon. Ayelet Zurer, por sua vez, revela-se como a grande fragilidade do elenco. A atriz encarna a sua personagem com uma inexpressividade que há muito tempo eu não via no Cinema. Além de insossa, Zurer aparenta ser extremamente antipática e não convence em momento algum (bem como a sua personagem). Ewan McGregor é o grande destaque dentre os atores. Utilizando um tom de voz altamente terno, o ator transfere ao seu personagem a sutileza que lhe é cogente e faz com que o

seu camerlengo realmente se mostre um típico padre católico. E não é culpa do ator se o roteiro opta por (e se você ainda não assistiu a esse filme, aconselho que pule para o próximo parágrafo e pare de ler este aqui imediatamente) transformar Patrick McKenna em um moço bom demais, fazendo com que todo o espectador que tenha algum conhecimento em literatura policial/suspense desconfie logo de cara que ele é o grande vilão da estória (a culpa é sempre dos que aparentam ser bonzinhos, um grande clichê do gênero), fazendo com que a mesma revele-se muito previsível.

E já que critiquei o modo como o roteiro desenvolve o personagem de Ewan McGregor no final do parágrafo acima, farei a mesma coisa com os demais personagens neste parágrafo. Não restam dúvidas de que a grande falha do filme reside no desenvolvimento de seus personagens. O Professor Langdon aparece aqui mais como uma releitura do excepcional e inesquecível Sherlock Holmes do que qualquer outra coisa. Seja pelo excesso de racionalidade que o personagem de Tom Hanks demonstra, seja pelo fato dele formar conclusões corretas rápido demais, a criação de Brown aparece aqui mais como uma cópia moderna da criação de Sir Arthur Conan Doyle. Fraco também é o desenvolvimento da Dra. Vetra. A princípio, ela aparece como uma importantíssima física e, repentinamente, desponta como uma grande conhecedora de história católica, sem mais, nem menos. Mas pior mesmo é o assassino do filme (cujo nome nem me lembro, e também não faço muita questão de me lembrar). Encarando as pessoas sempre com um olhar ameaçador e dando sorrisinhos a fim de provocar os seus oponentes, o personagem se revela extremamente inverossímil, principalmente em uma cena em que tem totais condições de matar o protagonista e, sabe-se lá o porquê, não o faz. E é claro que, para obter êxito em suas missões, o assassino mata todos que vê pela frente, salvo os protagonistas que sempre são poupados por ele.

Mas não pense que “Anjos & Demônios” é um filme ruim. De forma alguma, está muito longe disso. Além da trama ser deveras criativa (conforme já fora mencionado) e contar com uma abundância em detalhes (o filme dá um show de história católica e Dan Brown realmente mostra que sabe do que está tratando, seja quando o assunto se foca no Vaticano, seja quando se foca em seitas como a Illuminati), ela se revela suficientemente inteligente (apesar de excessivamente absurda em diversos momentos) e interessante para nos prender até o seu último segundo, sem nem ao menos nos preocuparmos com os 140 minutos de projeção. E não bastasse a estória contar com tantas qualidades como as mencionadas há pouco, ela ainda se revela bastante inteligente quando enfoca o eterno conflito entre ciência/religião, utilizando para tal dois grandes representantes da mesma: o recente LHC e o Vaticano.

Longe de poder ser rotulada como um amontoado de argumentos anti-católicos, assim como fora considerada a obra literária que lhe serviu de inspiração, “Anjos & Demônios” chega aos cinemas contando com uma trama inteligente, bem arquitetada e divertida, apesar de absurda, megalomaníaca e inverossímil em diversos pontos. Em outras palavras, o filme parece fazer questão de ratificar tudo aquilo que os críticos de literatura vem falando há anos sobre o trabalho do superestimado Dan Brown.

Avaliação Final: 6,0 na escala de 10,0.

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