Por Daniel
Esteves de Barros.
Avaliação: ***** (Obra-Prima).
Avaliação: ***** (Obra-Prima).
Ficha técnica:
Título Original: Mad Max: Fury Road.
Gênero: Ação / Ficção Científica.
Tempo de Duração: 120 minutos.
Ano de Lançamento: 2015.
Site Oficial: http://wwws.br.warnerbros.com/madmaxfuryroad/
Países de Origem: Austrália e Estados Unidos da América.
Direção: George Miller.
Roteiro: George Miller.
Elenco: Tom Hardy (Max Rockatansky), Charlize Theron (Imperatriz Furiosa), Hugh Keays-Byrne (Immortan Joe), Nicholas Hoult (Nux), Rosie Huntington-Whiteley (Splendid), Zoë Kravitz (Toast), Riley Keough (Capable), Nathan Jones (Rictus Erectus), Josh Helman (Slit), Megan Gale (Valkyrie), Angus Sampson (Organic Mechanic), Abbey Lee (The Dag), Richard Norton (Imperator) e John Howard (People Eater).
Sinopse: Após ser capturado por Immortan Joe, um guerreiro das estradas chamado Max (Tom Hardy) se vê no meio de uma guerra mortal, iniciada pela Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) na tentativa se salvar um grupo de garotas. Também tentanto fugir, Max aceita ajudar Furiosa em sua luta contra Joe e se vê dividido entre mais uma vez seguir sozinho seu caminho ou ficar com o grupo (Adoro Cinema).
Mad Max: Fury Road – Trailer:
Título Original: Mad Max: Fury Road.
Gênero: Ação / Ficção Científica.
Tempo de Duração: 120 minutos.
Ano de Lançamento: 2015.
Site Oficial: http://wwws.br.warnerbros.com/madmaxfuryroad/
Países de Origem: Austrália e Estados Unidos da América.
Direção: George Miller.
Roteiro: George Miller.
Elenco: Tom Hardy (Max Rockatansky), Charlize Theron (Imperatriz Furiosa), Hugh Keays-Byrne (Immortan Joe), Nicholas Hoult (Nux), Rosie Huntington-Whiteley (Splendid), Zoë Kravitz (Toast), Riley Keough (Capable), Nathan Jones (Rictus Erectus), Josh Helman (Slit), Megan Gale (Valkyrie), Angus Sampson (Organic Mechanic), Abbey Lee (The Dag), Richard Norton (Imperator) e John Howard (People Eater).
Sinopse: Após ser capturado por Immortan Joe, um guerreiro das estradas chamado Max (Tom Hardy) se vê no meio de uma guerra mortal, iniciada pela Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) na tentativa se salvar um grupo de garotas. Também tentanto fugir, Max aceita ajudar Furiosa em sua luta contra Joe e se vê dividido entre mais uma vez seguir sozinho seu caminho ou ficar com o grupo (Adoro Cinema).
Mad Max: Fury Road – Trailer:
Crítica:
O protagonista de uma trama é aquele personagem que faz com
que todas as subtramas vivenciadas pelas demais figuras dramáticas sofram
determinadas consequências em função de suas ações. Em O Poderoso Chefão, por exemplo, as
decisões de Don Vito Corleone afetam diretamente todos os coadjuvantes que
estão inseridos no roteiro. Em 2001: Uma
Odisseia no Espaço, o protagonista já é um pouco mais complexo e não assume
uma forma necessariamente humana, mas sim uma figura geométrica que, em tese,
personifica a busca pela perfeição que a humanidade tanto trilhou ao longo de
sua existência. Logo, o monolito negro é quem dá as cartas na obra-prima de
Stanley Kubrick e incide de forma praticamente direta nas demais subtramas do
longa, incluindo, claro, o próprio conflito entre Dave e Hal 9000. Mas e na
saga Mad Max? Quem é o protagonista?
O personagem-título? Se considerarmos apenas a produção original, pode-se dizer
inquestionavelmente que sim. Todavia, e se levarmos em conta o rumo que a série
tomou a partir de seu segundo episódio?
Particularmente, acredito que o protagonista dos três
últimos ‘Mad Max’ seja o próprio
mundo pós-apocalíptico concebido por George Miller. Em raríssimos casos na
Sétima Arte, podemos testemunhar filmes que ilustrassem com tamanha primazia o
modo como o meio acaba interferindo no estilo de vida de uma série de
indivíduos (e por mais que A Cúpula do
Trovão seja uma obra extremamente medíocre, ela também se mostra capaz de
ilustrar muito bem tal determinante). Que me desculpem os fãs de A Caçada Continua (eu sou um deles,
aliás), mas é exatamente em Estrada da
Fúria que Miller consegue, mais do que nunca, registrar este “atípico
protagonista” da maneira mais pertinente o possível.
Assistir a Mad Max:
Estrada da Fúria sob a perspectiva de seu cineasta é como observarmos uma
daquelas curiosas fazendas de formiga, com a diferença de que, aqui, cada um de
seus “insetos” faz o que pode para aliar-se a determinados clãs e sobreviver da
forma que lhe for cabível. Sobrevivência essa que o personagem-título deixa claro,
logo nos segundos iniciais da projeção, ser o seu único instinto. Miller nos
presenteia então com um mundo mergulhado em um niilismo onde o desespero e os
instintos primitivos se põem muito à frente de quaisquer valores morais ou
sociais. Trata-se de um universo em que a valorização do id se sobrepõe à do superego.
Julgar então quem são os “mocinhos” e quem são os “bandidos” se torna uma
tarefa, no mínimo, injusta, por mais que a nossa tendência a torcer pelo lado
mais “fraco” da corda (expliquei isso rapidamente ao escrever sobre Planeta dos Macacos: A Origem) nos
faça ansiar pela vitória dos perseguidos (Max, Furiosa e cia.) e não dos
perseguidores.
Por mais que Max Rockatansky não seja lá um exemplo de herói
a ser seguido, sabemos que o sujeito que atira na perna de uma jovem grávida
pelas costas, que ameaça uma mulher amputada para conseguir roubar o caminhão
que ela, por sinal, também acabara de roubar e que se mostra disposto a
abandonar um grupo de garotas no deserto, à mercê do homem que as mantinha em
cativeiro exercendo a função de meras reprodutoras, é o mesmo sujeito que, nos
minutos iniciais, precisa engolir um lagarto mutante vivo para se sustentar, é
perseguido com extrema violência por uma horda, bem no meio do deserto, é
“coisificado” à condição de “bolsa de sangue” e, conforme disse pouco mais
acima, deixa claro, em uma de suas primeiras falas de narrativa em off do script, que contém um propósito de vida bastante humilde em relação
às condições que o meio lhe impôs: sobrevier.
Enfim, falemos então daquela que é o maior destaque de Estrada da Fúria: a direção de George
Miller. Impressionante que, aos 70 anos (completados no último 03 de março), o
cineasta australiano consiga dirigir uma fita de ação infinitamente mais
trabalhosa e com muito mais eficiência do que Joss Whedon (que completa 51
primaveras no próximo dia 23, ou seja, o sujeito é consideravelmente mais jovem
que Miller) o fez no apenas ok Vingadores: Era de Ultron. Quase tão
impressionante quanto isso é constatarmos que o diretor não rodava um filme live-action há 17 anos e, do nada, surge
com este que é um dos melhores trabalhos de sua carreira (se não “O” melhor
trabalho).
Ao contrário do que esta nova geração de diretores de filmes
de ação prega, o cineasta setentão se mostra capaz de rodar uma produção
megalomaníaca e alucinante em todos os seus três atos sem se ver obrigado, para
tal, a apelar para trucagens baratas, tais como: filmar uma atriz gostosa
correndo a todo o instante, empregar uma câmera insuportavelmente sacolejante,
adotar uma montagem que se veja obrigada a fazer um corte a cada vinte
nanosegundos e utilizar uma edição sonora ensurdecedora. Não, espera um pouco.
A edição sonora aqui é extremamente ensurdecedora, mas, quer saber? Isso é
fenomenal!
Mad Max: Estrada de
Fúria, definitivamente, não seria Mad
Max: Estrada da Fúria se não fosse aquela barulheira toda (alguém aí duvida
que o Oscar de Melhores Efeitos Sonoros de 2016 ficará com a película em
questão?), que registra, do modo mais empolgante que se possa imaginar, acidentes
automobilísticos surreais, explosões, tiroteios, motores de carros possantes,
caminhões e motocicletas perfeita e “ensurdecedoramente” sincronizados! Tá bom
ou quer mais? Que tal então se parte da trilha-sonora diegética (aliás, a
trilha-sonora, por si só, já é um espetáculo à parte e injeta ainda mais
adrenalina e tensão às sequências de ação) fosse composta por batucadas em
tambores e solos estridentes de uma guitarra que cospe fogo e é manuseada por
um músico cego from hell que a toca
de costas para uma parede de amplificadores instalada em cima de um veículo que
rasga os desertos da Namíbia em altíssima velocidade (aliás, você PRECISA ler este
artigo excepcional do site Judão!)?! É como se a gangue comandada pelo “vilão”
Immortan Joe chegasse à seguinte conclusão: “se neste mundo distópico nós não temos uma rádio rock pra sintonizar,
trazemos com a gente o nosso próprio guitarrista personalizado”. O fato é
que isto acabou rendendo a maior “viajada na maionese” que uma fita de ação
comercial como esta poderia ter rendido.
Falando em “viajar na maionese”, criatividade é o que não
falta por aqui, neste universo perturbado. Felizmente, contamos com uma direção
de arte competente o bastante para acompanhar e delinear todas as alucinações
de seu realizador. Logo, prepare-se para ver no cinema (apesar que esta crítica
já tá tão atrasada que o leitor já deve, tal como eu, ter assistido ao longa em
questão umas quatro vezes) um Carnaval de genialidades: repleto de carros
sucateados e mesclados com peças de tanques de guerra, rodas de trator aro -
sei lá – 30 polegadas, espinhos de aço capazes de dar inveja a qualquer Sonic
da vida, lanças gigantes instaladas nas traseiras dos veículos para suspender
“soldados” que arremessam granadas, enfim, todo o tipo de alucinações que você
poderia ter imaginado em uma produção cinematográfica deste porte, mas que
somente um diretor de Cinema tão inventivo e eclético quanto este notável cidadão
de Brisbane poderia nos proporcionar.
O quê? Eu falei de diretor? Pois voltemos então a falar de
George Miller pra encerrar logo esta crítica que, como de costume, já
ultrapassou as aconselháveis mil palavras.
Sabe o que pode ser mais bacana do que ver o peculiar
desfile de carros ainda mais peculiares filmados aqui? Assistir a tudo isso
sendo devidamente destruído. E com George Miller por trás das câmeras, a
destruição é pra valer mesmo. Sabe quando um carro se arrebenta na tela? Pois
é, com George Miller, old school que
ele só, o carro se arrebenta pra valer mesmo, não é só uma sucessão efeitos
visuais, não! É Cinema comandado por um realizador de verdade mesmo!
Aliás, é incrível notarmos a coragem deste senhor que, de
velho, tem bem menos do que eu ou você. Miller não só não tem medo de realizar
planos fechados pra acompanhar a ação bem de perto, do modo mais frenético o
possível, como também prova que sabe alterar perfeitamente, sem quebrar o
clima, entre tomadas aéreas que ilustram a imensidão do deserto e planos
aproximados que registram alucinadamente as “batalhas” travadas quase que
ininterruptamente, ao longo dos mais de 120 minutos de projeção.
Tais tomadas aéreas, por sinal, são a melhor técnica que o
cineasta encontra para definir o seu mundo devastado como o grande e inquestionável
protagonista da trama. Se os conflitos entre “mocinhos” e “bandidos” parecem
ser impetuosos e grandiosos de perto, sempre que o diretor filma o deserto por
meio de planos mais abertos, eles se mostram automaticamente pífios, como se,
repetindo o que eu disse mais acima, estivéssemos de fato observando uma
fazenda de formigas na qual estes pequenos animais, carentes de recursos,
veem-se obrigados a se entregarem ao desespero e à digladiação inevitável.
No mais, Estrada da
Fúria é comandado por seu realizador como se fosse um videoclipe
desenfreado de mais de duas horas de duração, e é a primeira vez que escrevo
isso em uma crítica contando como ponto positivo. Ao contrário de outros
diretores repletos de estilismos e maneirismos geralmente desnecessários, como
é o caso de Danny Boyle e do finado Tony Scott, Miller é competente o bastante
a ponto de dirigir o longa inteiro como se estivesse filmando uma convulsão das
mais intensas, mas sem ter que recorrer a efeitos exagerados para tal. Apenas
pra dar um exemplo, ele consegue fazer com que pessoas e carros voem e explodam
durante uma tempestade de areia sem se ver obrigado a alterar a taxa padrão de frames por segundo ou utilizar uma
fotografia (aliás, o modo como John Selae fotografa o deserto aqui, com tons
alaranjados durante o dia e tons azuis escuros durante as cenas noturnas, também
ajuda a destacar ainda mais a força do “protagonista” da trama) exageradamente
dessaturada para chegar a um resultado que atinja o mínimo de intensidade.
Ah, e antes que eu me vá, permita-me iniciar uma polêmica
por aqui (eu quase já não dou motivos pro leitor discordar de mim, né?): Tom Hardy
funciona muito melhor como Mad Max do que Mel Gibson e não se fala mais nisso!
Hardy conta com um tom de voz mais seco, grave e áspero (daí a importância de
se assistir a um filme em seu idioma original), além de conseguir incorporar
momentos de fúria com maior naturalidade do que Gibson o fazia. Quanto à
Charlize Theron (que segue impressionantemente linda mesmo com quarentão nas
costas, com a cara pintada de graxa, o cabelo todo raspado e um “braço amputado”),
esta consegue encarnar de forma bastante orgânica uma mulher que, através de
suas expressões faciais fechadas e um tom de voz levemente rude e contido,
passa ao público a ambiguidade de uma personagem forte, aguerrida e intensa,
mas amargurada – em razão da vida que lhe foi imposta – e sedenta por redenção
(como fica claro em um diálogo entre ela e o personagem-título).
Eu ainda ia parabenizar a produção pelas referências feitas
a obras literárias distópicas excepcionais, como Admirável Mundo Novo (os gêmeos de meia-vida (na obra-prima de
Huxley, 96 pessoas são geradas através de um único óvulo e vivem somente até os
50 anos de idade) e o Maverick V8 sendo idolatrado como uma relíquia divina,
enquanto que no livro dos anos 1930 era o Ford T que assumia este papel) e pelo
conteúdo feminista inserido em sua narrativa (e olha que sou um sujeito
misógino, ou melhor, que se passa por misógino pra pagar de bad ass, quando, na verdade, eu amo as
mulheres), sendo que o modo como uma das “reprodutoras” chuta o cinto de
castidade que acabara de remover do corpo não é apenas a cena mais cômica de
todo o filme, como também deveria tornar-se um ícone em todas as passeatas do
tipo feitas a partir de então. Mas deixa pra lá. Esta crítica já excedeu em
mais de 100% a quantidade de palavras recomendadas e, sinceramente, ainda assim
não me vi capaz de expressar sequer 20% do que realmente penso a respeito deste
filme.
Já que não posso me estender muito mais, resumo aqui os meus
pensamentos finais sobre Mad Max: Estrada
da Fúria: não somente é a minha fita de ação predileta dentre todas as
quais eu assisti nos últimos dez anos, como também conta com um cineasta
veterano que consegue realizar um feito que só Stanley Kubrick havia o
realizado com tamanha maestria até então: criar uma série de personagens
humanos minimamente interessantes (no caso de 2001, a apatia de suas figuras dramáticas diante de um estilo de
vida pós-moderno enfadonho as tornam sim personagens humanos minimamente
interessantes) e, ainda assim, atribuir sabiamente a protagonização do filme a
um personagem relativamente inerte, mas inoxerável, simbólico e determinante
por si só.
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