terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos

Por Daniel Esteves de Barros.
Avaliação: *** (Bom Filme).





Ficha técnica:
Título Original: The Hobbit: The Battle of the Five Armies.
Gênero: Aventura / Fantasia / Ação.Tempo de Duração: 144 minutos.
Ano de Lançamento: 2014.
Site Oficial: http://www.br.warnerbros.com/filme-warner/o-hobbit---a-batalha-dos-cinco-exercitos
Países de Origem: Estados Unidos da América / Nova Zelândia.
Direção: Peter Jackson.Roteiro: Frank Walsh, Philippa Boyens, Peter Jackson e Guilherme del Toro, baseado em obra de J. R. R. Tolkien.
Elenco: Martin Freeman (Bilbo Bolseiro), Richard Armitage (Thorin Escudo-de-Carvalho), Luke Evans (Bard / Girion), Ian McKellen (Gandalf), Orlando Bloom (Legolas), Aidan Turner (Kili), Evangeline Lilly (Tauriel), Graham McTavish (Dwalin), Billy Connolly (Dain), Manu Bennett (Azog), Dean O'Gorman (Fili), Lee Pace (Thranduil), Cate Blanchett (Galadriel), Christopher Lee (Saruman), Hugo Weaving (Elrond), Ken Scott (Balin), Mikael Persbrandt (Beorn), Sylvester McCoy (Radagast), James Nesbitt (Bofur), Velho Bilbo (Iam Holm), Stephen Fry (Prefeito da Cidade do Lago), Bret McKenzie (Lindir), Benedict Cumberbatch (Smaug (voz) / Necromancer (voz)), Ryan Cage (Alfrid), Peter Hambleton (Gloin), Adam Brown (Ori), William Kircher (Bifur), Lawrence Makoare (Bolg), Jed Brophy (Nori), Stephen Hunter (Bombur), John Bell (II) (Bain), Mark Hadlow (Dori) e John Callen (II) (Oin).

Sinopse: Após ser expulso da montanha de Erebor, o dragão Smaug ataca com fúria a cidade dos homens que fica próxima ao local. Após muita destruição, Bard (Luke Evans) consegue derrotá-lo. Não demora muito para que a queda de Smaug se espalhe, atraindo os mais variados interessados nas riquezas que existem dentro de Erebor. Entretanto, Thorin (Richard Armitage) está disposto a tudo para impedir a entrada de elfos, anões e orcs, ainda mais por ser tomado por uma obsessão crescente pela riqueza à sua volta. Paralelamente a estes eventos, Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) e Gandalf (Ian McKellen) tentam impedir a guerra (Adoro Cinema).

The Hobbit: The Battle of the Five Armies – Trailer:


Crítica:

Sempre segui uma teoria de que tudo o que vai, acaba voltando. Algo meio que nos moldes do Eterno Retorno nietzschiano. Mas não, fiquem tranquilos, não falarei de Nietzsche pela triliosésima vez em minha vida.

Acontece que comecei este blog numa madrugada entre 31 de outubro e 01 de novembro de 2007, se não me falha a memória. Dali pra frente, escrevi para alguns sites, ganhei uma grana bacana fazendo o que mais gosto de fazer na vida (além de me entupir de whisky escocês e de sexo casual), criei um domínio próprio para o Cine-Phylum, parei de escrever para me dedicar à faculdade e, por fim, uma vez graduado em Letras, voltei para cá. Para as origens do Blogspot. Assim, todo gratuito, sem merchan, sem marketing, sem prazo máximo pra publicação (tanto que entrego o presente texto demasiadamente atrasado), sem compromisso algum. A crítica pela crítica, tal como a bebida pela bebida e o sexo pelo sexo. Do jeito que eu gosto. Do jeito que tem que ser.

Mas chega de asneiras e tergiversações (sim, os mais do que desnecessários termos rebuscados e textos carregados de preciosismos linguísticos serão mantidos por pura arrogância e prepotência de minha parte), vamos ao Hobbit.

Não por acaso, decidi voltar a escrever sobre Cinema tomando como objeto de análise a obra fílmica em questão: o desfecho da segunda trilogia fantástica dirigida por Peter Jackson. Acontece que optei por começar a redigir críticas cinematográficas justamente quando assisti a O Retorno do Rei, o desfecho da primeira trilogia fantástica dirigida por Peter Jackson, no Natal de 2003.

A diferença é que, ao contrário de O Senhor dos Anéis, O Hobbit, a todo o instante, em suas três tentativas, mostrou-se decepcionante. Menos decepcionante neste derradeiro episódio do que nos demais, é verdade, mas, ainda assim, decepcionante.

Os longas protagonizados por Frodo eram épicos, bem construídos, resumidos (isso, claro, se você leu os livros, mais do que detalhados, assinados por Tolkien e está acostumado a passar horas e horas consumindo cultura pop, pois, do contrário, certamente achou O Senhor dos Anéis uma experiência audiovisual bastante exaustiva), trabalhavam otimamente a linguagem cinematográfica (eram travellings e plongées pra tudo o que é lado), reflexivos ao extremo (o que mais me agradava naqueles filmes) e – cinematograficamente mais importante do que tudo isso – definiu a Sétima Arte digitalmente praticada na década passada.

Na contramão, os longas protagonizados pelo tio de Frodo, Bilbo, erram em excesso justamente pela pretensão de chegar aos pés da Saga do “Um Anel”. O fato é que Jackson não tem em mãos um material tão rico quanto o que tivera outrora. O livro O Hobbit é uma literatura voluntária e convenientemente simples – algo que podemos constatar já em um primeiro contato com a sua estrutura narrativa – que o cineasta neozelandês opta por engordar do modo mais dispensável o possível, conseguindo assim a façanha de tornar uma adaptação cinematográfica mais entediante e aborrecida do que a obra literária na qual se inspirou.

Foi assim com “... Uma Jornada Inesperada”, carregado de subtramas desnecessárias e que sequer eram citadas no livro (destaque para o Necromante e as cenas protagonizadas por Radagast), foi assim ainda mais com “... A Desolação de Smaug” – filme que poderia ser tranquilamente limado em uns quarenta minutos de duração, sem com que os outros, aproximadamente, cento e quarenta, abandonados na sala de edição, fizessem grande falta à narrativa da trilogia – e foi assim também, ainda que em menor tom, com “... A Batalha dos Cinco Exércitos”.

Começamos com o desfecho do confronto com o terrível dragão Smaug. Afinal, por que cargas d’água deixaram pra colocar um ponto final naquele conflito no início deste episódio? Francamente, diante da batalha do subtítulo, o desenlace envolvendo o monstro foi, na melhor das hipóteses, um terrível anticlímax, algo que não teria sido caso tal subtrama tivesse se encerrado em “... A Desolação de Smaug”.

E a subtrama envolvendo o trio Saruman, Galadriel e Elrond? Qual a necessidade daquilo? Quer dizer que toda aquela estória foi trabalhada desde o primeiro capítulo e tomou preciosos minutos do espectador (sendo que, salvo engano, nenhum dos três personagens sequer são citados no livro) a troco de nada? Com o único escopo de apresentar os três mesclando os seus poderes mágicos a habilidades de combate que mais parecem estar ligadas a artes marciais?

Falar o quê então dos inúmeros Deus ex-machina? Se Gandalf sempre aparecia, inesperadamente, nos filmes anteriores para salvar a pátria, aqui, a função foi distribuída praticamente para todo o elenco. Sempre que um membro da comitiva flerta com a morte, surge um estraga prazeres no meio do nada e interrompe a paquera, seja desferindo um golpe de espada mortal contra o inimigo, seja se jogando em cima deste e derrubando-o no chão, seja tirando a atenção dele no confronto.

Mas nada supera as águias. Sim, as mesmas águias que também se mostraram Deus ex-machina ao final de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, reassumem tal função da forma mais inconveniente o possível aqui. Aliás, é importante ressaltar que, ao contrário dos dois capítulos anteriores, que falhavam principalmente em função de sua desnecessária longa duração, este “... A Batalha dos Cinco Exércitos” falha justamente por encerrar-se de forma abrupta. Acontece que é justamente quando o “pega pra capar” ocorrido nas redondezas de Erebor começa a esquentar mais do que nunca e a tomar proporções épicas, adivinhe só, surgem as águias e... enfim... sem spoilers.

É fato, no entanto, que, apesar dos pesares, esta sexta visita cinematográfica à Terra-Média, comandada por Peter Jackson, mostra-se uma diversão satisfatória e que faz valer o preço do ingresso. O diretor parece ter refeito as pazes com as tomadas aéreas e com os planos abertos que registram magistralmente a grandeza dos confrontos de seu universo, além do eficiente emprego do slow motion nos momentos em que este é realmente pertinente. Destaco aqui as cenas de luta protagonizadas por Legolas e que acabaram virando memes nas redes sociais, uma vez que o elfo parece ter incorporado uma mescla de Zelda, Kratos (God of War), Chun-Li (Street Fighter), Homem-Aranha, Daiane dos Santos e mais uma dezena de personagens de games/quadrinhos/filmes/atletas repletas de habilidades olímpicas pouco vistas em nosso cotidiano.

Já as batalhas são o ponto alto e, por mais que em muitos momentos a coreografia soe um tanto o quanto repetitiva, não há como não vibrarmos com a parede de ferro que os anões formam ao levantarem os seus escudos, ou com a disciplina élfica ao organizar metodicamente as linhas de arqueiros, ou com uma certa luta (não revelarei quem participa deste confronto) plasticamente perfeita que ocorre sobre um lago congelado, ou, principalmente, com o perigo oferecido pelas gigantescas bestas que guerreiam ao lado dos orcs (aliás, o único ponto negativo aqui foi a pouca utilização dos monstros de O Ataque dos Vermes Malditos (e sim, essa piadinha foi voluntariamente infame) por Peter Jackson. Digo, eles abrem buracos no chão, assustam todo mundo, fazem o 3D valer um pouco a pena, e tchau? Só isso?).

Ponto também para o roteiro, que parece ter aprendido com George R. R. Martin e o seu ótimo As Crônicas de Gelo e Fogo (Game of Thrones, para o pessoal que está acostumado somente com a televisão) e nos prega algumas surpresas bastante convenientes. Logo, é mais do que excelente constatarmos que o roteiro de O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos se preocupa bem menos em nos entregar um final feliz e redondinho do que o roteiro de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei se importava.

É mister então advertir o leitor para que, caso ainda não tenha assistido à produção em questão, não vá aos cinemas esperando um lindo desfecho repleto de amores concretizados, comemorações gloriosas por parte dos protagonistas, personagens marcados por características que exclusivamente os restrinja à dicotomia entre bem e mal (importante também ressaltar que “... A Batalha dos Cinco Exércitos” é o único capítulo da franquia que realmente se preocupa em retratar o modo como a ganância pelo tesouro afeta a personalidade de suas figuras dramáticas. Longe de ilustrar isso da forma tão primorosa como “... A Sociedade do Anel” o fazia, já de início, com a figura do um anel, mas ainda assim é muito digno de nota e fortalece demais a estrutura narrativa deste épico), dentre outros detalhes levemente moralistas que permeavam O Senhor dos Anéis, embora prejudicassem o seu resultado final apenas irrelevantemente.

Mesmo que este derradeiro episódio da aventura protagonizada por Bilbo Bolseiro fique claramente aquém à trilogia encabeçada por seu sobrinho, não deixa de ser uma justa despedida (será?) de Peter Jackson à Terra-Média. Algo que, convenhamos, poderia ter sido infinitamente pior, no fim das contas.

Bom, o tour cinematográfico pelo universo de Tolkien (aparentemente) acaba aqui, mas o Cine-Phylum – pra alegria de alguns, tristeza de outros e indiferença da grande maioria esmagadora – volta após o seu período de maior inércia. Esperem por novas críticas em breve. Abraços!