terça-feira, 8 de julho de 2008

Crítica - Wall-E

Eu não sei ao certo se sou eu quem sou conservador, ou melhor, retrógrado demais ou se foi a qualidade das animações que realmente caiu, e muito, de uns tempos para cá. Sinceramente, creio que a preocupação com a qualidade gráfica das produções atuais fez com que a criatividade do roteiro das mesmas fosse praticamente esquecida de uns tempos para cá, fazendo com que as obras perdessem bastante de sua qualidade artística. Não que eu não goste de animações como “Ratatouille”, “Wallace & Gromit – A Batalha dos Vegetais”, “Procurando Nemo“, “Shrek”, “Jimmy Neutron – O Menino Gênio” ou até mesmo “Os Incríveis”, muito pelo contrário, gosto muitíssimo das mesmas, mas ainda assim acredito que nenhuma destas chegue aos pés de um “O Rei Leão”, ou uma “Branca de Neve e os Sete Anões”, ou um “O Estranho Mundo de Jack”. Surpreendentemente, em 2008, os estúdios Disney-Pixar conseguiram, em apenas 5 minutos de projeção, criar uma animação mais criativa e divertida do que todas as outras animações feitas nestes últimos 14 anos. Me refiro ao curta “Presto”, cuja criatividade, simplicidade e sagacidade das piadinhas embutidas no roteiro, nos remete aos bons tempos de “Tom & Jerry”, “Pica-Pau” e é claro, “Mickey & Donald”. Mais surpreendente ainda é a animação que nos é apresentada logo em seguida que, além de ser extremamente criativa, divertida e emocionante (conseguiu arrancar lágrimas até mesmo deste que vos escreve, que, segundo algumas pessoas, é um niilista coração de pedra), une aspectos das animações antigas (criatividade e humor inteligente), com aspectos das animações recentes (parte gráfica perfeita) e debates existenciais. Estou falando de “Wall-E”, a melhor e mais bem feita (em todos os sentidos) animação que já tive a oportunidade de assistir nos últimos 14 anos, conforme o leitor poderá constatar a seguir.



Ficha Técnica:
Título Original: Wall-E
Gênero: Animação
Tempo de Duração: 97 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2008
Site Oficial: www.disney.com.br/cinema/walle
Estúdio: Walt Disney Pictures / Pixar Animation Studios
Distribuição: Walt Disney Studios Motion Pictures
Direção: Andrew Stanton
Roteiro: Andrew Stanton
Produção: Jim Morris
Música: Thomas Newman
Desenho de Produção: Ralph Eggleston
Edição: Stephen Schaffer
Elenco (vozes): Ben Burtt (Wall-E / M-O), Elissa Knight (Eva), Jeff Garlin (Capitão), Fred Willard (Shelby Forthright), John Ratzenberger (John), Kathy Najimy (Mary) e Sigourney Weaver (Auto).


Sinopse: No ano de 2.815 d.C. o planeta Terra, mediante o desleixo de seus habitantes, encontra-se em uma situação caótica, coberto de lixo, fazendo com que a vida em sua superfície torne-se impossível de se proliferar. A fim de reverter tal situação, os terráqueos abandonaram o planeta e designaram a missão de limpá-lo ao robô Wall-E. Completamente isolado no mundo, Wall-E tem uma vida enfadonha e sem propósito, até que conhece Eve, uma robô que mudará o curso de seu destino para sempre e irá ajudá-lo a provar que ainda existe a possibilidade de se viver na superfície terrestre.


Wall-E - Trailer


Crítica:


Wall-E” inicia-se com uma belíssima música e um fantástico close da Via Láctea. Logo as câmeras nos direcionam à Terra e temos uma visão aérea do corpo celeste. O ano é 2.815 d.C., o planeta encontra-se abandonado e coberto de lixo, seus únicos habitantes são os insetos e um pequeno e desengonçado robô que tem como incumbência a tarefa de limpar todo o lixo da Terra. É aí que tomamos ciência de que a belíssima música que abre o filme estava sendo reproduzida e ouvida pelo robô com o único intuito de conferir mais alegria à vida solitária da triste e pobre máquina.


A animação vai se desenrolando, Wall-E vai sendo cada vez mais bem desenvolvido e aproveitado pelo roteiro que foca, acima de tudo, na tristeza que o mesmo sente devido à sua vida solitária, rotineira e depressiva. O único ser com quem ele se relaciona é uma barata, que é vista por ele como um animal de estimação, um cão, ou um gato, ou qualquer outro animal capaz de lhe fazer companhia.


Como o leitor pôde perceber, em apenas dez minutos de projeção já se é capaz de notar toda a criatividade e perspicácia do roteiro que, além de criar pequenas peculiaridades que contribuem, e muito, para o desenvolvimento do protagonista (a barata de estimação é a maior prova disso), consegue mesclar com maestria características de Charles Chaplin e Woody Allen ao personagem-título.


É isso mesmo, para desenvolver Wall-E os roteiristas do filme utilizaram várias características destes dois gênios do Cinema. Repare, por exemplo, no jeito simplório e desajeitado com que o simpático robô manuseia uma raquete de tênis, nos remetendo à imediata lembrança do maior ícone da história do Cinema mudo. Repare também nas feições do protagonista, no olhar depressivo deste, idênticos ao do intelectual de ascendência judia.


Wall-E” é um filme que já valeira cada centavo cobrado por seu ingresso apenas pelo protagonista que, além de tremendamente cativante e perfeitamente bem desenvolvido pelo roteiro, fôra desenhado com uma competência fora do comum. E os responsáveis pelos efeitos visuais merecem todos os elogios existentes em nosso (e em todos os outros, diga-se) vocabulário. É incrível a perfeição com que o robô (e os demais personagens) fôra desenhado, tanto que chegamos a acreditar que Wall-E não é um desenho, mas sim um personagem real.


Tão bem produzida e desenvolvida quanto é Eve, o par romântico de nosso robozinho melancólico. E falando em par romântico, é incrível ver a sutileza com que o mesmo é desenvolvido pelo roteiro. Francamente, creio ser impossível não nos cativarmos com o casal que, desde já digo, possui uma das melhores químicas entre personagens já vista no Cinema deste início de século.


Outro ponto fortíssimo da animação reside na análise que a mesma realiza sobre a dependência humana perante o conforto que a alta tecnologia nos proporciona, tornando-nos seres sedentários ao extremo, além, é claro, “escravos” das máquinas. Para demonstrar isso, o longa opta, brilhantemente, por fazer referências (e porque não dizer, homenagens) ao sensacional “2001 – Uma Odisséia no Espaço”.


Perdido (e fascinado, diga-se) com tanta perfeição, é até estranho que eu tenha conseguido encontrar um defeito no filme, mas a verdade é que o mesmo cai bastante no intróito de seu segundo ato quando dá a entender que se transformará em uma aventura descerebrada e opta, terrivelmente, por parar de desenvolver seus personagens de modo tão cativante como vinha fazendo até então. Felizmente o roteiro abandona tal idéia durante o desenrolar da película e decide abordar, durante o seu terceiro ato, o tema existencial entre homem-tecnologia, conforme fôra supracitado.


Um filme fabuloso e, com o prévio perdão pela utilização da palavra meiga e piegas ao extremo, fofíssimo.


Avaliação Final: 9,0 na escala de 10,0.


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